sábado, março 22, 2003
GUERRA: Não comentámos ainda a guerra porque a evolução de uma guerra é errática e dificilmente comentável. A informação disponível é escassa, instável e discrepante. Mas não decidimos ir nadar à tarde enquanto Bagdad rebenta. Evidentemente, seguimos o desenvolvimento dos acontecimentos e queremos que a guerra termine quanto antes. Estamos certos que isto vai acontecer depressa. As rendições de soldados iraquianos aumentam. O regime iraquiano não vai durar muito. Os milhões de mortos desta guerra, que se prognosticaram, são totalmente absurdos (além de uma forma de argumentação particularmente desleal). Mas vítimas são vítimas e há um Direito Internacional humanitário e da guerra a respeitar e que não deixará de ser respeitado. É tempo de pensar no Médio Oriente, na ONU, na segurança internacional, nas ameaças a essa segurança e no que deve ser o sistema de segurança no século XXI. Queremos pensá-lo aqui na Coluna. Sem falsos argumentos, sem repetir os velhos clichés, sem precipitações ideológicas. Nunca nos apresentámos aqui cheios de certezas. Dissemos que a guerra era inevitável e que não havia outra alternativa à deposição de Saddam e ao seu desarmamento. Convém começar a pensar no que se segue. PL
MANIF: As multidões avançam nas ruas. Ouçamos os gritos:
«a responsabilidade moral mais básica de um governante, que é a de encarar a guerra apenas e sempre como último
dos últimos recursos". Pergunto: mas isto não feito? A guerra é e foi aqui o último recurso.
« Esta guerra só pode trazer maior instabilidade e desespero ao Médio Oriente. Ariel Sharon e a sua coligação de extrema direita aproveitarão o clima e a protecção da actual administração norte-americana para prosseguir a sua política de sistemática violação das resoluções da ONU» (palavras de Maria João Pires). Com Saddam fora do poder, vamos ver se o conflito israelo-árabe não será mais facilmente resolúvel. Não jogávamos sueca com Sharon mas acontece que ele foi eleito. Directamente.
« esta é uma guerra contra a Carta da Nações Unidas, uma guerra ilegítima e contra a ideia de um Mundo
regulado por normas de direito internacional por todos partilháveis» (frase da porta-voz das associações para a paz no Iraque). Quais são os valores que estas associações partilham com Saddam Hussein? Está aberto o concurso.
«esta não é uma guerra dos iraquianos contra o seu ditador, mas uma guerra cinicamente feita em seu nome». Não sei quem disse isto mas estou rendido às evidências. Dêem-nos mais.
«a coligação (forças aliadas) não tem respeito pelo direito internacional e pela resolução da ONU» (Ferro Rodrigues dixit ). Mas não era Ferro Rodrigues membro de um Governo que apoiou a intervenção militar no Kosovo sem mandato das Nações Unidas? E não foi aquela intervenção militar legítima?
«se fosse actualmente chefe de governo não apoiaria os Estados Unidos nesta intervenção no Iraque» (Mr. Guterres). Eu, se fosse socialista e ouvisse isto, perdia imediatamente o tino. Guterres já se esqueceu que foi ele que se demitiu? PL
«a responsabilidade moral mais básica de um governante, que é a de encarar a guerra apenas e sempre como último
dos últimos recursos". Pergunto: mas isto não feito? A guerra é e foi aqui o último recurso.
« Esta guerra só pode trazer maior instabilidade e desespero ao Médio Oriente. Ariel Sharon e a sua coligação de extrema direita aproveitarão o clima e a protecção da actual administração norte-americana para prosseguir a sua política de sistemática violação das resoluções da ONU» (palavras de Maria João Pires). Com Saddam fora do poder, vamos ver se o conflito israelo-árabe não será mais facilmente resolúvel. Não jogávamos sueca com Sharon mas acontece que ele foi eleito. Directamente.
« esta é uma guerra contra a Carta da Nações Unidas, uma guerra ilegítima e contra a ideia de um Mundo
regulado por normas de direito internacional por todos partilháveis» (frase da porta-voz das associações para a paz no Iraque). Quais são os valores que estas associações partilham com Saddam Hussein? Está aberto o concurso.
«esta não é uma guerra dos iraquianos contra o seu ditador, mas uma guerra cinicamente feita em seu nome». Não sei quem disse isto mas estou rendido às evidências. Dêem-nos mais.
«a coligação (forças aliadas) não tem respeito pelo direito internacional e pela resolução da ONU» (Ferro Rodrigues dixit ). Mas não era Ferro Rodrigues membro de um Governo que apoiou a intervenção militar no Kosovo sem mandato das Nações Unidas? E não foi aquela intervenção militar legítima?
«se fosse actualmente chefe de governo não apoiaria os Estados Unidos nesta intervenção no Iraque» (Mr. Guterres). Eu, se fosse socialista e ouvisse isto, perdia imediatamente o tino. Guterres já se esqueceu que foi ele que se demitiu? PL
MUDANÇAS: Não é preciso ler Morgenthau, Kissinger ou George Kennan para saber que os americanos têm oscilado na sua política externa entre isolacionismo e voluntarismo. Estão aí dois séculos de História americana para resolver as nossas dúvidas e comprovar esta conclusão. Por exemplo, a intervenção dos americanos na Nicarágua, e genericamente em toda a América Latina, é explicável pelos isolacionistas, embora o voluntarismo wilsoniano a rejeite. Já a participação americana nas muitas guerras europeias do último século (e não estou só a pensar nas guerras mundiais porque os americanos intervieram nos conflitos balcânicos), tendo um óbvio sentido voluntarista, é dificilmente compatível com visões isolacionistas, para as quais os Estados Unidos não se devem envolver em conflitos internacionais onde não haja interesses americanos em jogo. A guerra ao Iraque tem um objectivo político claro: acabar com o longo tirocínio de Saddam e instaurar um regime de liberdades e regras democráticas no Iraque. É por isso que esta intervenção militar é estranha a uma certa tradição republicana, bem representada por Pat Buchanan e pela sua American Conservative, que, não por acaso, contesta esta guerra com os motivos isolacionistas de sempre. É também por isso que esta guerra assinala, como há muito temos vindo a dizer aqui na Coluna, uma significativa mudança de posições. Somos nós, e não as turbas pacifistas, que queremos democracia e liberdade em zonas do mundo onde não existe essa mesma democracia e liberdade. Expulsar Saddam do poder é um primeiro passo. Mas não vai e não pode ser o único. A Esquerda, que pôs o seu lamentável anti-americanismo à frente daquilo que era uma das suas principais convicções (a crença a democracia como valor universal) deveria preocupar-se com isto; deveria preocupar-se com o que vai ser o Médio Oriente quando a guerra terminar. A guerra já começou. E não vai acabar porque hordas de turistas políticos e muita gente confusa resolvem manifestar-se nas ruas. Vai acabar quando Saddam fizer as malas. Num mundo de verdadeira legalidade internacional, não há lugar para ele. PL
BUSY: Caros leitores: Trabalhos jornalísticos e literários impedem-me de actualizar o blog no fim-de-semana. Segunda-feira responderei aos muitos mails e questões. Nota: a TSF decidiu convocar os fautores dos fachoblogs para a antena: esta noite, às 22, estarei em directo a comentar a guerra, e amanhã o JPC fará o mesmo. Thanks. E um aviso: se quiserem mesmo arriscar, comprem um arraial de comprimidos que aliviem as penas físicas e morais causadas pelo filme do Botelho. PM
sexta-feira, março 21, 2003
ESCLARECIMENTO: Tenho tanto apreço por José Pacheco Pereira que ele é dos poucos comentadores que, escrevendo sobre televisão, eu critico na minha coluna «Olho Vivo» no Público. A maior parte dos comentadores ou não leio ou ignoro: o lugar-comum, a escrita preguiçosa ou ideologicamente fechada, o mau português -- nada disso me motiva qualquer reflexão. Mas JPP escreve bem, tem ideias, defende-as galhardamente e gosta de debate. Ele é debate.
No seu artigo de hoje, «A guerra não é uma estética», JPP menciona o aparecimento de poemas sobre a guerra na Coluna Infame. Eu sou, de alguma, forma, responsável por esse surgimento, por causa da mensagem que enviei há dias sugerindo ironicamente que às sessões de propaganda com poetas e «poetas» lendo poemas pacifistas, se respondesse com uma colectânea -- a editar em Coimbra -- com poemas «favoráveis» à guerra. Única condição: que fossem bons poemas.
A mensagem, ao contrário dos meus artigos, foi escrita à pressa e telegraficamente, como convém às mensagens. Eu pretendia contrariar ironicamente o lugar-comum, isto é, aquilo com que se vai concordando pela repetição sem se entender. Eu, desde que escrevo o «Olho Vivo», gosto de contrariar os lugares-comuns.
As sessões de «poetas» e poetas com poesia pacifista pareceu-me um epifenómeno de propaganda esteticamente desagrádável. Pensei: se fazem estas sessões, ao menos que sejam bons poemas pacifistas. Receio que muitos dos poemas e dos «poetas» nessas sessões, realizadas por todo o mundo, eram má poesia. Propaganda, portanto. Além disso, identificavam poesia com pacifismo, o que é uma mentira histórica, no JPP concorda comigo.
Daí a minha mensagem, que dizia o contrário do que eu pretendia dizer para dizer o que eu pretendia dizer: era irónica. Longe de mim que se organizasse uma colectânea (e que se editasse em Coimbra!) com poemas de «guerra» desde Homero! Também posso dizer, como JPP, que já vi mortos de guerra e que é uma experiência dilacerante. Não quero voltar a vivê-la.
Mas a estetização da «guerra» não é pior do que a estetização da «paz» com má poesia. O que estava em questão na minha mensagem era o facto singelo de a poesia para a paz poder ser muito má, prestando assim um péssimo serviço à paz e aos povos de todo o mundo. À poesia.
Agora que expliquei a minha mensagem -- e explicar uma pequena ironia obriga a grande trabalhos e muitos palavras -- peço aos bloguistas infames que não tomem literalmente o que era uma ironia. Não editem (nem no blog nem em Coimbra!) a colectânea belicista, mesmo que sejam todos bons, os poemas! Limitem-se a criticar os maus poemas pacifistas que forem lidos nas televisões ou em sessões e manifestações! Mas só os maus!
Quanto à estetização...
... nisso tenho de discordar do meu caro amigo JPP. A guerra, como ele diz, é estetizada desde sempre e continua a sê-lo nas televisões, nos filmes, nas fotografias, nos jornais, nos poemas, na arte toda. O mesmo com a paz. O próprio artigo de hoje de JPP estetiza a paz e a guerra. Não se pode fugir disso: cada mostração mediática ou artística da guerra ou da paz pode ser, e é, consciente ou inconscientemente, apreciada esteticamente por cada um, incluindo o autor.
O que me parece mal é a glorificação da guerra -- e tanto faz que seja pela arte como pela propaganda. O que há de condenável em Marinetti (neste domínio) será ele glorificar a guerra pela guerra. Não admira que desse em fascista e em académico, aliás, em académico fascista, ou fascista académico (pffff....).
Picasso estetizou Guernica para condená-la. E suponho que a Ilíada é uma glorificação do homem, da vida, e não da guerra. O que é mau não é estetizar a guerra, porque isso até JPP faz no seu artigo de hoje -- para condená-la. O que está errado, para mim, é gostar da guerra e utilizar a arte para a promover.
Caro JPP, caros bloguistas: posso voltar às ironias? Os textos são mais curtos.
Eduardo Cintra Torres
No seu artigo de hoje, «A guerra não é uma estética», JPP menciona o aparecimento de poemas sobre a guerra na Coluna Infame. Eu sou, de alguma, forma, responsável por esse surgimento, por causa da mensagem que enviei há dias sugerindo ironicamente que às sessões de propaganda com poetas e «poetas» lendo poemas pacifistas, se respondesse com uma colectânea -- a editar em Coimbra -- com poemas «favoráveis» à guerra. Única condição: que fossem bons poemas.
A mensagem, ao contrário dos meus artigos, foi escrita à pressa e telegraficamente, como convém às mensagens. Eu pretendia contrariar ironicamente o lugar-comum, isto é, aquilo com que se vai concordando pela repetição sem se entender. Eu, desde que escrevo o «Olho Vivo», gosto de contrariar os lugares-comuns.
As sessões de «poetas» e poetas com poesia pacifista pareceu-me um epifenómeno de propaganda esteticamente desagrádável. Pensei: se fazem estas sessões, ao menos que sejam bons poemas pacifistas. Receio que muitos dos poemas e dos «poetas» nessas sessões, realizadas por todo o mundo, eram má poesia. Propaganda, portanto. Além disso, identificavam poesia com pacifismo, o que é uma mentira histórica, no JPP concorda comigo.
Daí a minha mensagem, que dizia o contrário do que eu pretendia dizer para dizer o que eu pretendia dizer: era irónica. Longe de mim que se organizasse uma colectânea (e que se editasse em Coimbra!) com poemas de «guerra» desde Homero! Também posso dizer, como JPP, que já vi mortos de guerra e que é uma experiência dilacerante. Não quero voltar a vivê-la.
Mas a estetização da «guerra» não é pior do que a estetização da «paz» com má poesia. O que estava em questão na minha mensagem era o facto singelo de a poesia para a paz poder ser muito má, prestando assim um péssimo serviço à paz e aos povos de todo o mundo. À poesia.
Agora que expliquei a minha mensagem -- e explicar uma pequena ironia obriga a grande trabalhos e muitos palavras -- peço aos bloguistas infames que não tomem literalmente o que era uma ironia. Não editem (nem no blog nem em Coimbra!) a colectânea belicista, mesmo que sejam todos bons, os poemas! Limitem-se a criticar os maus poemas pacifistas que forem lidos nas televisões ou em sessões e manifestações! Mas só os maus!
Quanto à estetização...
... nisso tenho de discordar do meu caro amigo JPP. A guerra, como ele diz, é estetizada desde sempre e continua a sê-lo nas televisões, nos filmes, nas fotografias, nos jornais, nos poemas, na arte toda. O mesmo com a paz. O próprio artigo de hoje de JPP estetiza a paz e a guerra. Não se pode fugir disso: cada mostração mediática ou artística da guerra ou da paz pode ser, e é, consciente ou inconscientemente, apreciada esteticamente por cada um, incluindo o autor.
O que me parece mal é a glorificação da guerra -- e tanto faz que seja pela arte como pela propaganda. O que há de condenável em Marinetti (neste domínio) será ele glorificar a guerra pela guerra. Não admira que desse em fascista e em académico, aliás, em académico fascista, ou fascista académico (pffff....).
Picasso estetizou Guernica para condená-la. E suponho que a Ilíada é uma glorificação do homem, da vida, e não da guerra. O que é mau não é estetizar a guerra, porque isso até JPP faz no seu artigo de hoje -- para condená-la. O que está errado, para mim, é gostar da guerra e utilizar a arte para a promover.
Caro JPP, caros bloguistas: posso voltar às ironias? Os textos são mais curtos.
Eduardo Cintra Torres
UMA TENDÊNCIA: Gostaria de dizer-vos que subscrevo inteiramente, sem reservas e com muita empatia o post sobre a guerra. Quanto ao resto: o JPP diz o que diz baseando-se no que a Coluna é, não no que deveria ou poderia vir a ser. Não gostei uma vez dum post que me pareceu mais da ordem do after dinner joke; mas acho que foi encontrado um equilíbrio equilibrado e que desequilibrá-lo nada traria de melhor ao blog – deixemos à esquerda a tarefa nobre, generosa e séria de construir mundos melhores. Nós cá estaremos para os gozar (os mundos, claro). (Luís M. Serpa)
Caro Luís: Começa a formar-se uma tendência no nosso feedback. Mas esclareço: não queremos ser respeitáveis. Os Infames são provocadores, por vezes antipáticos e arrogantes, e no seu quotidiano dizem «foda-se» a torto e a direito (é aliás necessário para se ter carteira profissional de jornalista). After dinner jokes? Acontece, dependendo do jantar. E prometemos, claro, não contribuir para um mundo melhor. PM
Caro Luís: Começa a formar-se uma tendência no nosso feedback. Mas esclareço: não queremos ser respeitáveis. Os Infames são provocadores, por vezes antipáticos e arrogantes, e no seu quotidiano dizem «foda-se» a torto e a direito (é aliás necessário para se ter carteira profissional de jornalista). After dinner jokes? Acontece, dependendo do jantar. E prometemos, claro, não contribuir para um mundo melhor. PM
GAIJAS: O nosso auto-proclamado «leitor nacionalista» deixa a sua opinião:
Respondendo ao desafio hoje lançado, aqui vos deixo a minha humilde opinião de leitor fiel da vossa coluna: mantenham-se infames e francos como até aqui, e continuem a dar a merecida atenção às "gajas"-caviar do bloco. E falem de livros, falem muito de livros. Já agora, não sendo pedir muito, continuem a publicar as minhas humildes contribuições e, naturalmente, as do Eurico de Barros e de outros democratas. Merci. (Saudações ao Dr. Pacheco Pereira, que foi meu professor sem que me tenha conseguido doutrinar...) (Pedro Guedes)
Caro Pedro: Infames seremos sempre, mesmo se baixarmos um pouco o tom, o que não está ainda decidido. E acolheremos todas as tendências da direita - nacionalista incluída - e algumas tendências canhotas escritas em português (o que se tem revelado raro). E embora o termo «gajas» seja utilizado ironicamente (mas explicar as ironias é cansativo), o tema «mulheres» é, para os Infames, o mais nobre dos temas. Que se lixe o Iraque. PM
Respondendo ao desafio hoje lançado, aqui vos deixo a minha humilde opinião de leitor fiel da vossa coluna: mantenham-se infames e francos como até aqui, e continuem a dar a merecida atenção às "gajas"-caviar do bloco. E falem de livros, falem muito de livros. Já agora, não sendo pedir muito, continuem a publicar as minhas humildes contribuições e, naturalmente, as do Eurico de Barros e de outros democratas. Merci. (Saudações ao Dr. Pacheco Pereira, que foi meu professor sem que me tenha conseguido doutrinar...) (Pedro Guedes)
Caro Pedro: Infames seremos sempre, mesmo se baixarmos um pouco o tom, o que não está ainda decidido. E acolheremos todas as tendências da direita - nacionalista incluída - e algumas tendências canhotas escritas em português (o que se tem revelado raro). E embora o termo «gajas» seja utilizado ironicamente (mas explicar as ironias é cansativo), o tema «mulheres» é, para os Infames, o mais nobre dos temas. Que se lixe o Iraque. PM
ESTAREMOS, COMO SEMPRE, ATENTOS: Agora que as hostilidades no terreno começaram, e que nos próximos tempos vamos assistir a toda a propaganda escrita e visual sobre as baixas civis, etc, não me parece bom sinal o vosso blog alhear-se do assunto. A intervenção pode ser discutida de forma inteligente, sem censuras que apenas dão à esquerdalhada maior conforto moral para acusar os aliados de todos os disparates que estamos habituados. Não é a altura para ficarmos de consciência pesada, até porque não há razão para isso. Ainda ontem o presidente do maior país árabe (Egipto), Mubarak, dizia por outras palavras que o Saddam fez a cama em que se vai deitar e que foi ele o principal responsável por esta situação. Mas vocês é que sabem... (Jorge Bento)
Caro Jorge: Nenhuma «censura», como já explicámos. E não estamos «alheados» do assunto, apenas não discutimos o que perdeu, por agora, a relevância em termos de discussão. A guerra moderna está rodeada de propaganda e contra-informação, e não queremos fazer posts precipitados ou infundados sobre factos ou pseudo-factos. Não temos a «consciância pesada», muito pelo contrário. Por mais que isso choque os nossos críticos, este é mesmo um dos momentos em que estamos mais seguros da razão que nos assiste. PM
Caro Jorge: Nenhuma «censura», como já explicámos. E não estamos «alheados» do assunto, apenas não discutimos o que perdeu, por agora, a relevância em termos de discussão. A guerra moderna está rodeada de propaganda e contra-informação, e não queremos fazer posts precipitados ou infundados sobre factos ou pseudo-factos. Não temos a «consciância pesada», muito pelo contrário. Por mais que isso choque os nossos críticos, este é mesmo um dos momentos em que estamos mais seguros da razão que nos assiste. PM
NÃO CRITIQUEM OS NOSSOS HOBBIES: Querem que publiquemos os mails contra nós que recebemos? Ok, aqui vai um arremedo de Natália Correia:
Se alguém acreditar
que estes três
de gajas falam
que nos venham já contar
o que, 'taditos, não calam.
são delicados,
miúdos
um é loiro
os outros não
sabem tã’pouco da vida,
escrevem prosa atrevida,
truca-truca?
Só com a mão!
vão lá mentir pr'outro lado
qu’aqui ninguém vos engole
infame, infame é a vida
não é o vosso blog_mole!
Gajos giros como vós
a gente espera que cresçam,
quando mudarem de voz
apareçam, queridos, apareçam!
(Alt Esse) (sic)
Petrarca, arruma as botas... Só um reparo: críticas a essa actividade de confraternização conhecida pelos amigos como Cinco contra Um serão consideradas ataques pessoais à Coluna Infame, e recorreremos ao Tribunal dos Direitos do Homem. PM
Se alguém acreditar
que estes três
de gajas falam
que nos venham já contar
o que, 'taditos, não calam.
são delicados,
miúdos
um é loiro
os outros não
sabem tã’pouco da vida,
escrevem prosa atrevida,
truca-truca?
Só com a mão!
vão lá mentir pr'outro lado
qu’aqui ninguém vos engole
infame, infame é a vida
não é o vosso blog_mole!
Gajos giros como vós
a gente espera que cresçam,
quando mudarem de voz
apareçam, queridos, apareçam!
(Alt Esse) (sic)
Petrarca, arruma as botas... Só um reparo: críticas a essa actividade de confraternização conhecida pelos amigos como Cinco contra Um serão consideradas ataques pessoais à Coluna Infame, e recorreremos ao Tribunal dos Direitos do Homem. PM
E ASSOBIOS: Meus caros, também eu aprecio acima de tudo as vossas considerações, filosóficas e políticas, 'hardcore'. Não só por muitas vezes ecoarem as minhas, mas principalmente pelo cuidado e mestria com que são expostas. No entanto penso sinceramente que os comentários culturais, recomendações várias, bitaites e assobios, só enriquecem o blog. E afinal, não ocupam tanto espaço como isso... Ou seja, continuem o interessante mix de assuntos. Eu pretendo de um diário, mesmo digital, que ele flutue em todo o oceano mental do seu autor. Mas é vossa a decisão de transformar o blog num ensaio mais temático. (Hugo M V)
Caro Hugo: Obrigado pelo contributo. Gostamos especialmente, tem razão, de «bitaites e assobios». E se tornamos isto académico eu passo a escrever uma vez por mês, dado o baile que levo dos outros doutos Infames em matérias universitárias. Estamos a somar os votos, depois comunicaremos ao povo (ok, ok, à burguesia). PM
Caro Hugo: Obrigado pelo contributo. Gostamos especialmente, tem razão, de «bitaites e assobios». E se tornamos isto académico eu passo a escrever uma vez por mês, dado o baile que levo dos outros doutos Infames em matérias universitárias. Estamos a somar os votos, depois comunicaremos ao povo (ok, ok, à burguesia). PM
CONSCIÊNCIA: Nos últimos tempos tenho despendido algum tempo a ler o vosso weblog, e como direitista que sou não poderia ficar mais deleitado com as palavras do caro Pacheco Pereira, que merecem ser sublinhadas. Há uma questão que gostaria de vos colocar, visto que já a coloquei a diversos esquerdistas e nenhum me respondeu satisfatoriamente: Que raio é a chamada consciência de esquerda, de que os jovens "intelectuais" esquerdistas tanto falam hoje em dia? As respostas que recebi vão desde "uma esquerda mais intelectual" a "um consciência social crítica". (Miguel Câmara)
Caro Miguel: Estamos cá para agradar (e desagradar). Ainda bem que nos lê. Tínhamos ideia de que a esquerda não gostava muito do termo «consciência», intolerável resquício cristão. Quem usa a palavra «consciência», se bem me lembro, são os comunistas renovadores, que querem com isso significar Vamos Bazar Daqui Antes que se Faça Tarde. Mas desde que ouvimos um esquerdista proclamar a «alma da esquerda», tudo é possível. Quando os rapazes entram em desespero, até o Papa são capazes de citar. PM
Caro Miguel: Estamos cá para agradar (e desagradar). Ainda bem que nos lê. Tínhamos ideia de que a esquerda não gostava muito do termo «consciência», intolerável resquício cristão. Quem usa a palavra «consciência», se bem me lembro, são os comunistas renovadores, que querem com isso significar Vamos Bazar Daqui Antes que se Faça Tarde. Mas desde que ouvimos um esquerdista proclamar a «alma da esquerda», tudo é possível. Quando os rapazes entram em desespero, até o Papa são capazes de citar. PM
APANHADOS: Pedro Bacelar de Vasconcelos disse na TSF que esta guerra é uma infâmia. Assim sendo, tendo sido descobertos, mandámos regressar os porta-aviões. PM
FEEDBACK: Foi no fim da sessão de hoje da Mexia Mini Tour 2003: uma desconhecida leitora da Coluna, que aliás se disse de esquerda, contou-me que lê e aprecia o nosso blog, e pediu para não nos tornarmos «demasiado sérios». Depois, recebemos este mail:
Solicitaram feed-back, na sequência de um texto crítico de J. Pacheco Pereira. Realmente, a C.I. tem uma componente humorística, provocatória, juvenil, seja lá como for que se lhe chame. Eu dou portanto algum desconto ao interpretar certas fórmulas. Foi com este espírito que encarei a "colectânea de poesia guerreira" (que P. Pereira refere). Pensei: "estes tipos nunca viram mortos de porra de guerra nenhuma"; mas não enfatizei muito o facto, achei até piadética a provocação ao ambiente geral "pacifista", abaixo os mauzões senhores da guerra que parece respirar-se nalguns locais. Sobre "uma abordagem mais madura": a abordagem mais verde também tem méritos, menor tendência a seguir os caminhos já traçados. Há apenas talvez que ter alguma ponderação sobre o trajecto futuro das frases que escrevemos. Quando se publica (jornais, internet, whatever), deve estar-se preparado para perder um bocado o controlo sobre o produto resultante. Passa a haver o texto e as leituras dele... colectânea de poesia guerreira, pois... acho que P. Pereira tem razão (quanto aos perigos da estetização da guerra). Mas que diabo, um homem não é de pau, qualquer um é capaz de exprimir pensamentos não totalmente fundamentáveis. Há que ter confiança nas instituições, para evitar abusos lá está o vosso hilariante provedor. Interessa-me o conteúdo da C.I., independentemente de concordar ou não, nem sempre estou muito preocupado com isso, gosto de ler suspendendo a valoração. Agora, a música que vós e alguns leitores referis não me diz muito, realmente aqui sim, sinto existir um fosso geracional. (Artsu Taraz)
Caro Artsu Taraz (alguma relação com o Tarek Aziz?): Obrigado pelos comentários. Gostámos francamente de saber que há quem nos leia independentemente das nossas opiniões. É um elogio. Estamos conscientes dos perigos e dos ganhos, e por isso queremos a vossa opinião. Quando tivermos mais respostas ao nosso pedido proclamaremos a Linha Justa, em homenagem ao tio Mao e ao nosso (agora) querido Durão. Quanto à música, não é apenas geracional, porque aqui na Coluna também há divisões. Assim sendo, e contrariando as puerilidades em dó dos Pedros Infames, o João dissertará aqui, para a semana, sobre as obras juvenis de Dvorak. Não perdem pela demora. PM
Solicitaram feed-back, na sequência de um texto crítico de J. Pacheco Pereira. Realmente, a C.I. tem uma componente humorística, provocatória, juvenil, seja lá como for que se lhe chame. Eu dou portanto algum desconto ao interpretar certas fórmulas. Foi com este espírito que encarei a "colectânea de poesia guerreira" (que P. Pereira refere). Pensei: "estes tipos nunca viram mortos de porra de guerra nenhuma"; mas não enfatizei muito o facto, achei até piadética a provocação ao ambiente geral "pacifista", abaixo os mauzões senhores da guerra que parece respirar-se nalguns locais. Sobre "uma abordagem mais madura": a abordagem mais verde também tem méritos, menor tendência a seguir os caminhos já traçados. Há apenas talvez que ter alguma ponderação sobre o trajecto futuro das frases que escrevemos. Quando se publica (jornais, internet, whatever), deve estar-se preparado para perder um bocado o controlo sobre o produto resultante. Passa a haver o texto e as leituras dele... colectânea de poesia guerreira, pois... acho que P. Pereira tem razão (quanto aos perigos da estetização da guerra). Mas que diabo, um homem não é de pau, qualquer um é capaz de exprimir pensamentos não totalmente fundamentáveis. Há que ter confiança nas instituições, para evitar abusos lá está o vosso hilariante provedor. Interessa-me o conteúdo da C.I., independentemente de concordar ou não, nem sempre estou muito preocupado com isso, gosto de ler suspendendo a valoração. Agora, a música que vós e alguns leitores referis não me diz muito, realmente aqui sim, sinto existir um fosso geracional. (Artsu Taraz)
Caro Artsu Taraz (alguma relação com o Tarek Aziz?): Obrigado pelos comentários. Gostámos francamente de saber que há quem nos leia independentemente das nossas opiniões. É um elogio. Estamos conscientes dos perigos e dos ganhos, e por isso queremos a vossa opinião. Quando tivermos mais respostas ao nosso pedido proclamaremos a Linha Justa, em homenagem ao tio Mao e ao nosso (agora) querido Durão. Quanto à música, não é apenas geracional, porque aqui na Coluna também há divisões. Assim sendo, e contrariando as puerilidades em dó dos Pedros Infames, o João dissertará aqui, para a semana, sobre as obras juvenis de Dvorak. Não perdem pela demora. PM
ARMA SECRETA: Eu também gosto do Eliot e do Clint Eastwood e não gosto do D. Januário. Aproveito para lembrar que a Torgal criatura que, esta semana, na mesquita de Lisboa, se desfez em tolices sobre a guerra, é Bispo das Forças Armadas e de Segurança, com o posto de brigadeiro e respectivas prebendas. E que aqui há uns tempos a Torgal criatura disse que nunca benzeria tropas portuguesas que partissem para combate. Se eu já não fosse ateu, a Torgal criatura tinha-me transformado num. E não se pode meter a Torgal criatura num Hércules e mandá-la de páraquedas sobre o Iraque, para ir espalhar a sua mensagem de paz às vítimas de Saddam, metendo-lhe nas mãos uma Bíblia e não uma G-3, já que combates não é com ele? (Eurico de Barros)
Caro Eurico: somos contra o uso dessa arma secreta neste conflito. A Convenção de Berna é o nosso farol, e defendemos que há limites para a crueldade, mesmo numa guerra. PM
Caro Eurico: somos contra o uso dessa arma secreta neste conflito. A Convenção de Berna é o nosso farol, e defendemos que há limites para a crueldade, mesmo numa guerra. PM
quinta-feira, março 20, 2003
FINALMENTE: Saudamos a aparição de um reforço left-wing para a blogosfera e agradecemos a simpática designação de fachoblog, que faremos por merecer. É o Cruzes Canhoto, e ainda não temos a certeza se é da facção Caviar ou da facção SOREFAME. Mas havemos de descobrir, e de polemizar saudavelmente. Bem vindos. Gostava apenas de explicar aos autores do Cruzes que a nossa não-discussão sobre a guerra (depois de imensos posts sobre o assunto) obedece ao princípio da não-repetição e também da inutilidade (agora interessa discutir o resultado da guerra e as suas consequências). Continuaremos a ler todos os posts sobre o assunto, e talvez voltemos a falar nisso, mas durante os próximos dias não. PM
CHE E DECO: Da terra de um nosso herói recente, um mail em duas partes:
Escrevo desde terras de S.M. Britânica onde, graças à tecnologia moderna, me vou mantendo a par das notícias do nosso quintal. Cheguei ao vosso blog (acho que é assim que se diz) não por causa do Pacheco Pereira (por quem aliás não nutro particular afeição) mas por sugestão do meu amigo Francisco Mendes da Silva. A César... Confesso que sempre que acedi a newsgroups, comentários ou fórums das mais diversas inspirações na Internet a única conclusão a que cheguei, para além de confirmar a natureza iminentemente primária dos internautas, foi que a Internet é de facto a mais democrática e (talvez por isso) mais caótica forma de comunicação inventada até hoje. Ainda ando a tentar perceber se isso é bom ou mau. Aquilo que me chamou a atenção em primeiro lugar foi o estilo elevado da prosa (e alguma poesia) que passeia por estas páginas e, não nego, alguma afinidade com a ideologia dominante (nalgum sítio havia de ser) da maioria das participações. O que não gostei foi das constantes citações de salão, alguns galicismos e anglicismos a despropósito e, já agora, as preferências musicais de alguns dos participantes. (Fernando Albino)
Caro Fernando: Obrigado pelos comentários e elogios, em especial a referência à «prosa elevada», que figurará na badana do meu próximo livro de novelas eróticas. Os pecados que aponta - citações, anglicismos e pop - são inteiramente meus, e penitencio-me do incómodo que possam causar. Mas é como ter asma ou sinusite: não posso fazer nada contra senão tentar viver com essas terríveis limitações.
Por forma a obviar a esse tipo de faux-pas, na vida como na arte, a minha proposta é que se crie à imagem do "Dear Mary" no Spectator uma rúbrica (podia-se chamar "Cara Coluna") em que os leitores exponham as suas dúvidas sobre bons-costumes (políticos). Eu proponho a seguinte dúvida para começar as hostilidades (salvo seja): O meu colega de gabinete, Inglês mas de
ascendência Irlandesa e Católico e, por conseguinte, com bom fundo, é um admirador confesso de Blair e anda a ler uma biografia do Che-Guevara (ainda não consegui ver o nome do autor, apenas a capa bastante vermelha da dita publicação). Como é que lhe posso dar a entender, subtil mas eficazmente, que a direita também tem os seus encantos e heróis? Ajude-me p.f. Coluna. Para finalizar, não sabendo se é contra os princípios constitutivos da Coluna falar de futebol ou não, ainda assim gostava de ouvir opiniões sobre a polémica convocação pelo 100% italo-brasileiro seleccionador nacional L. F. Scolari do agora luso-brasileiro Deco para a "equipa de todos nós".(Fernando Albino)
Caro Fernando: Não estamos cientes dos «encantos» da direita, a não ser conhecer bons restaurantes. Mas talvez os tories tenham mais interesse que os nossos. Aqui na Coluna os heróis são sobretudo escritores e artistas, embora desponte sempre uma lágrima ao canto do olho pelo Ronnie e pelo grande Winston. A direita «heróica» (os fascismos) e a direita tradicionalista (monarquico-religiosa) cultiva obsessivamente essas figuras míticas e quasi-divinas. Ora nós lemos biografias, e uma biografia não é feita de heroísmos constantes: todos os armários têm esqueletos que bastem. Deixamos o culto dos heróis a essa direita e à esquerda radical, que da trilogia barbuda da saudosa URSS até ao amigo da Humanidade Che Guevera, está sempre pronta para a mitologia mais descabelada, mesmo quando os Regis Debray, em poucos anos, passam do Castro à «mediologia». É bem, é bem. Deixe o seu colega ler a biografia do Che, mas esconda um exemplar do livro de Stephane Courtois na secretária dele: pode ser que o encontre numa hora morta e que lhe sirva como antídoto sobre os lutadores das «causas nobres» e dos seus mui nobres métodos de «persuasão». Quanto ao Deco, já aqui o escrevemos: somos sempre pela defesa do consumidor. PM
Escrevo desde terras de S.M. Britânica onde, graças à tecnologia moderna, me vou mantendo a par das notícias do nosso quintal. Cheguei ao vosso blog (acho que é assim que se diz) não por causa do Pacheco Pereira (por quem aliás não nutro particular afeição) mas por sugestão do meu amigo Francisco Mendes da Silva. A César... Confesso que sempre que acedi a newsgroups, comentários ou fórums das mais diversas inspirações na Internet a única conclusão a que cheguei, para além de confirmar a natureza iminentemente primária dos internautas, foi que a Internet é de facto a mais democrática e (talvez por isso) mais caótica forma de comunicação inventada até hoje. Ainda ando a tentar perceber se isso é bom ou mau. Aquilo que me chamou a atenção em primeiro lugar foi o estilo elevado da prosa (e alguma poesia) que passeia por estas páginas e, não nego, alguma afinidade com a ideologia dominante (nalgum sítio havia de ser) da maioria das participações. O que não gostei foi das constantes citações de salão, alguns galicismos e anglicismos a despropósito e, já agora, as preferências musicais de alguns dos participantes. (Fernando Albino)
Caro Fernando: Obrigado pelos comentários e elogios, em especial a referência à «prosa elevada», que figurará na badana do meu próximo livro de novelas eróticas. Os pecados que aponta - citações, anglicismos e pop - são inteiramente meus, e penitencio-me do incómodo que possam causar. Mas é como ter asma ou sinusite: não posso fazer nada contra senão tentar viver com essas terríveis limitações.
Por forma a obviar a esse tipo de faux-pas, na vida como na arte, a minha proposta é que se crie à imagem do "Dear Mary" no Spectator uma rúbrica (podia-se chamar "Cara Coluna") em que os leitores exponham as suas dúvidas sobre bons-costumes (políticos). Eu proponho a seguinte dúvida para começar as hostilidades (salvo seja): O meu colega de gabinete, Inglês mas de
ascendência Irlandesa e Católico e, por conseguinte, com bom fundo, é um admirador confesso de Blair e anda a ler uma biografia do Che-Guevara (ainda não consegui ver o nome do autor, apenas a capa bastante vermelha da dita publicação). Como é que lhe posso dar a entender, subtil mas eficazmente, que a direita também tem os seus encantos e heróis? Ajude-me p.f. Coluna. Para finalizar, não sabendo se é contra os princípios constitutivos da Coluna falar de futebol ou não, ainda assim gostava de ouvir opiniões sobre a polémica convocação pelo 100% italo-brasileiro seleccionador nacional L. F. Scolari do agora luso-brasileiro Deco para a "equipa de todos nós".(Fernando Albino)
Caro Fernando: Não estamos cientes dos «encantos» da direita, a não ser conhecer bons restaurantes. Mas talvez os tories tenham mais interesse que os nossos. Aqui na Coluna os heróis são sobretudo escritores e artistas, embora desponte sempre uma lágrima ao canto do olho pelo Ronnie e pelo grande Winston. A direita «heróica» (os fascismos) e a direita tradicionalista (monarquico-religiosa) cultiva obsessivamente essas figuras míticas e quasi-divinas. Ora nós lemos biografias, e uma biografia não é feita de heroísmos constantes: todos os armários têm esqueletos que bastem. Deixamos o culto dos heróis a essa direita e à esquerda radical, que da trilogia barbuda da saudosa URSS até ao amigo da Humanidade Che Guevera, está sempre pronta para a mitologia mais descabelada, mesmo quando os Regis Debray, em poucos anos, passam do Castro à «mediologia». É bem, é bem. Deixe o seu colega ler a biografia do Che, mas esconda um exemplar do livro de Stephane Courtois na secretária dele: pode ser que o encontre numa hora morta e que lhe sirva como antídoto sobre os lutadores das «causas nobres» e dos seus mui nobres métodos de «persuasão». Quanto ao Deco, já aqui o escrevemos: somos sempre pela defesa do consumidor. PM
GOD BLESS: Chega um homem a casa e tem mais mails num dia que em certas semanas. Bem hajam. Vamos tentar responder. Alguns dos mails contestam as nossas opiniões sobre a guerra, bem como a nossa decisão de não fazer posts sobre a guerra nos próximos dias. Reparem: nós decidimos deixar de discutir a questão da legalidade e da motivação da guerra (nos arquivos há imensos posts sobre isso), e não temos vocação para comentar marcas de caças e de misséis e coisas assim. Não vamos, como é claro, deixar de comentar reflexos políticos da guerra noutros domínios, sobretudo no separar de águas na política europeia e portuguesa. Obrigado de qualquer modo pelos comentários e sugestões sobre esse e outros assuntos. PM
ASSIM / SE VÊ / A FORÇA DA J.A.D.: Os deputados do Bloco, dentro do folclore de que tanto gostam, exibiram as suas camisolas contestatárias no parlamento (sim, ela também). Próximo passo: t-shirt molhada. Vá lá, dr. Mota Amaral... PM
PERSONAL STATEMENT: Aproveito a sugestão do nosso amigo João Miguel Tavares e agradeço muito a Pacheco Pereiro as suas palavras sobre a coluna. Deixem-me também dizer que, embora a Coluna Infame tenha um triunvirato é, evidentemente, ao esforço e talento do Pedro Mexia que devemos o muito eco que temos tido no último mês. Vamos ver se equilibramos as contas no futuro para o Pedro tirar uma férias e começar a dormir a horas decentes. PL
AOS NEÓFITOS: A Coluna Infame é um blog conservador mantido por João Pereira Coutinho (JPC), Pedro Lomba (PL) e Pedro Mexia (PM). Comentamos o nosso quintal e o mundo, os filmes, os livros, os artigos, os valores, as ideias e mesmo (até ordens em contrário) a evolução da indumentária feminina no capitalismo tardio. Gostamos do Eliot e do Clint Eastwood, não gostamos dos baladeiros e do D. Januário. Colaborações, dúvidas, escândalos e pequenas somas em dinheiro para colunainfame@hotmail.com. Aproveitamos para lembrar o povo que há um leque de outros blogs interessantes, que comentámos brevemente em posts anteriores (dêem uma vista de olhos pelo arquivo). Prevalece, por qualquer razão, a «vast right-wing conspiracy», mas daqui deixamos o apelo para que se apresentem a serviço os próceres de Bernstein e Rosa Luxemburgo, de Lenine e Habermas, de Rawls e Keynes, de Mendés-France e Gramsci, de Danton e Janita Salomé. A política regressou, viva a política. PM
A COLUNA, UM BLOG SÉRIO? O afluxo de leitores hardcore, como Pacheco Pereira e outros que nos dão a honra da sua visita, põe-nos um problema: desde o princípio este sempre foi também um blog, digamos, humorístico, e sempre postou provocações, paródias e juvenília. Tanto discutimos o Isaiah Berlin e o Scorsese, como a deputada giraça do Bloco e assuntos conexos. Uma nova vaga de leitores pode não estar interessada nesse tipo de posts, e preferir claramente uma abordagem mais «madura». Gostávamos de ter algum feed-back dos nossos visitantes sobre os conteúdos da Coluna. Como dizia o dealer do filme, mi casa es su casa: aqui pensamos pela nossa cabeça mas escrevemos para os nossos leitores. E não queremos alienar audiências só por falarmos, entre outras coisas, em «gajas», como me disse, com desaprovadora amizade, a Inês Pedrosa. Speak your minds. Queremos ser sérios, mas não respeitáveis. Afinal este blog chama-se Coluna Infame. PM
NÃO SOMOS FUTURISTAS: Ficamos, como é óbvio, muito agradecidos a Pacheco Pereira pela referência de hoje ao nosso blog. Tentaremos estar à altura da crescente atenção que ele tem suscitado. Mas, como é disso que trata o texto, aproveitamos para dizer (e esta é uma excepão rápida à declaração do post anterior) que os poemas sobre a guerra - uma secção proposta por Eduardo Cintra Torres - não eram poemas «a favor» da guerra (desta ou doutra), nem sequer de estetização da guerra (não há Marinettis na Coluna), mas apenas a tentativa de demonstrar que não se pode instrumentalizar «a poesia» para uma causa política, porque «a poesia» tem, felizmente, muitas moradas. Apenas isso. Sabe Deus que nós - e eu em particular - somos dados à «estetização» de quase tudo. Mas não da guerra. E gostávamos que esse ponto ficasse claro. PM
EM GUERRA: Bush confirmou há minutos que a guerra está em curso. Até à vitória das forças aliadas A Coluna Infame não fará qualquer post sobre a guerra. Os episódios recentes são com certeza bastante relevantes e importantes, mas este não é o momento para os discutir. E o futuro do Iraque será discutido depois da queda do regime. Por isso, pedimos aos nossos leitores que não mandem mais mails sobre a guerra, e pedimos desculpa aos que mandaram mails sobre esse assunto mas que não chegaram (e não chegarão) a ser publicados. O mesmo pedimos aos nossos adversários: escreverão com certeza o que bem entenderem, mas não entrem em diálogo directo com a Coluna sobre a guerra até que as hostilidades cessem. Não vamos manter uma discussão mais ou menos teórica sobre uma guerra que se tornou entretanto uma realidade, enquanto e tropas americanas, britânicas e de outras nações combatem pela segurança e pela liberdade. Em contrapartida, agradecemos mails, dúvidas e provocações sobre outros temas, novos ou reincidentes. Também prosseguiremos com o tema Conservadores e Liberais, e outros que entretanto se justifiquem. PM
Acabou de expirar o prazo dado pelos Estados Unidos a Saddam para abandonar o Iraque. Assim sendo, a guerra pode começar a qualquer momento. Queremos por isso - e face a alguns equívocos - explicitar a nossa opinião sobre este ataque. Não somos a favor da guerra, de nenhuma guerra: a guerra é um mal necessário para deter um mal maior. Acreditamos que o regime iraquiano constitui uma ameaça para o mundo, porque não cumpriu as resoluções das Nações Unidas que impunham que se desarmasse de armas de destruição maciça. Por isso, e dado o falhanço da diplomacia, acreditamos que Saddam tem de ser desarmado à força. É nesse contexto que apoiamos uma intervenção militar americana, que infelizmente não foi votada pelo Conselho de Segurança. Este mostrou-se incapaz de lidar com os perigos com que o novo século nos ameaça, tendo prevalecido não apenas as naturais alianças regionais, mas sobretudo os sentimentos puramente negativos, de bloqueio e de boicote, de alguns países, com a França à cabeça. Consideramos essa atitude lamentável, e cremos que terá consequências num progressivo afastamento dos EUA face à Europa, uma vez que não pode confiar no seu eixo dirigente. E isso é grave, na medida em que a Europa não só não possui uma política externa e de defesa, como não tem sequer os meios de se defender (a NATO é outra das vítimas desta crise). As últimas semanas foram, estamos convencidos, uma página negra para a ideia de Europa e para a indispensável solidariedade com quem partilha os nossos valores civilizacionais (e com quem temos dívidas históricas relevantes). Esperemos que esta crise não represente uma cisão euro-americana, que seria catastrófica, e totalmente imerecida para os países que souberam honrar os seus laços de amizade e a sua aliança. Quanto à guerra, é evidente que gostávamos que fosse curta, com o menor número de vítimas civis iraquianas e de militares ocidentais. Esta guerra pretende derrubar o regime de Saddam Hussein, porque sem isso não é possível desarmar o Iraque de armas perigosas. Esta não é uma guerra contra o Iraque ou o seu povo, primeira vítima de Saddam. Confiamos na vitória relativamente rápida e inequívoca dos americanos e britânicos, tal como aconteceu na Afeganistão, quando as Cassandras do costume chegaram a prever uma guerra longuíssima e com «milhões» de mortos (não nos esquecemos). Depois da vitória, esperemos que a América saiba encontrar a melhor solução em termos políticos, étnicos e económicos, de modo a que o país possa evoluir para a paz e a liberdade, mesmo se não necessariamente em democracia (para a qual não cremos que existam condições objectivas). É importante que a queda do regime iníquo de Saddam provoque ondas de choque para os outros regimes tirânicos da região, mesmo aqueles tidos por amigos do Ocidente. É importante passar a mensagem de que o Ocidente não se vergará perante o terrorismo de organizações ou de Estados, nem perante ameaças veladas ou explícitas. É também importante que o passo seguinte seja um avanço decisivo na questão israelo-árabe, no sentido da criação de um Estado palestiniano democrático que viva em paz com um Estado israelita democrático. A resolução desse conflito é fulcral para a pacificação não apenas do Médio Oriente, mas também para evitar um «choque de civilizações» a todos os títulos indesejável. Não choraremos lágrimas por Saddam. Confiamos num futuro melhor para o Iraque e para a região, embora sem irrealismos optimistas. A queda do regime iraquiano será um evento feliz para o mundo, como foi a queda dos talibã. O pacifismo e a diplomacia impotente não resolveram a questão. A violência é nesse caso o único caminho. Não hesitamos um segundo sobre o nosso lado neste conflito, nem sobre o resultado final que desejamos. Historicamente, a guerra foi muitas vezes necessária para defender a segurança e a liberdade. Confiamos que seja esse o caso. Como há meio século, estamos de alma e coração pelos valores liberais contra a barbárie. Que a vitória não deixe dúvidas aos muitos inimigos da liberdade.
A Coluna Infame
A Coluna Infame
quarta-feira, março 19, 2003
INCONFIDÊNCIA: Numa confraternização de direitistas há sempre, a certa altura, a fatal pergunta: «e gajas»? Mas, como diz o outro, não me acredito que a esquerda converse apenas sobre os comitês de fábrica. PM
DIETA: Um leitor a quem não precisamos de recomendar leituras:
O erro foi meu, claro: quem me manda politizar o que não é politizável? Por vezes (muito raramente) menciono Cioran aos socialistas («Les abouliques, laissant les idées telles quelles, devraient seuls y avoir accés. Quand les affairres s'en emparent, la douce pagaille quotidienne s'organise en tragédie). Mas como, ou porquê, opôr o que me é querido? Como falar de Knut Hamsun, de Celan, como ousar Beckett? Borges é mais fácil, claro, mas seria um desperdício, indecente. Já agora: aceito o desafio. Digamos: «In a last attempt to obtain relief he moved from where they had been so long together to a single room on the far bank. (...) Relief he had hoped would flow from unfamiliarity. [Ohio Impromptu] Ou então: «Birth was the death of him [A Piece of Monologue]. E ainda: “I suppose I mean those things worth having when all the dust has – when all my dust has settled. I close my eyes and try and imagine them”. [Krapp’s Last Tape). Leiamos isto aos esquerdistas, prenhes de esperança como bébés rosados. Bof. O nosso mundo não é melhor que o deles, mas nós somos tolerantes, não somos relativistas. Eles são relativistas, mas não são tolerantes. Desculpe: um whisky espera-me ao canto da rua do canto. Leio-vos amanhã, como de costume. (Luis M. Serpa)
Comentário: Caro Luís, espero que tenhamos descodificado bem o seu texto (vinha em parte em informatiquês). Beckett é um pessimista radical, como é óbvio, e a esquerda nunca é verdadeiramente pessimista (só em momentos de melancolia pós-coito, quando perdem eleições burguesas ou quando a contra-revolução desfralda a bandeira). Beckett mostra-nos como somos, e os crentes na Humanidade lidam muito mal com isso. Citar Cioran aos socialistas? Des perles aux cochons, meu amigo. Com esse é que os esquerdistas esperneiam mesmo, até porque não lhe podem negar o génio da prosa e do aforismo. Os outros que cita (Hamsun, Celan, Borges), tudo do melhorio. Com essa dieta, uns whiskies não lhe farão mal. PM
O erro foi meu, claro: quem me manda politizar o que não é politizável? Por vezes (muito raramente) menciono Cioran aos socialistas («Les abouliques, laissant les idées telles quelles, devraient seuls y avoir accés. Quand les affairres s'en emparent, la douce pagaille quotidienne s'organise en tragédie). Mas como, ou porquê, opôr o que me é querido? Como falar de Knut Hamsun, de Celan, como ousar Beckett? Borges é mais fácil, claro, mas seria um desperdício, indecente. Já agora: aceito o desafio. Digamos: «In a last attempt to obtain relief he moved from where they had been so long together to a single room on the far bank. (...) Relief he had hoped would flow from unfamiliarity. [Ohio Impromptu] Ou então: «Birth was the death of him [A Piece of Monologue]. E ainda: “I suppose I mean those things worth having when all the dust has – when all my dust has settled. I close my eyes and try and imagine them”. [Krapp’s Last Tape). Leiamos isto aos esquerdistas, prenhes de esperança como bébés rosados. Bof. O nosso mundo não é melhor que o deles, mas nós somos tolerantes, não somos relativistas. Eles são relativistas, mas não são tolerantes. Desculpe: um whisky espera-me ao canto da rua do canto. Leio-vos amanhã, como de costume. (Luis M. Serpa)
Comentário: Caro Luís, espero que tenhamos descodificado bem o seu texto (vinha em parte em informatiquês). Beckett é um pessimista radical, como é óbvio, e a esquerda nunca é verdadeiramente pessimista (só em momentos de melancolia pós-coito, quando perdem eleições burguesas ou quando a contra-revolução desfralda a bandeira). Beckett mostra-nos como somos, e os crentes na Humanidade lidam muito mal com isso. Citar Cioran aos socialistas? Des perles aux cochons, meu amigo. Com esse é que os esquerdistas esperneiam mesmo, até porque não lhe podem negar o génio da prosa e do aforismo. Os outros que cita (Hamsun, Celan, Borges), tudo do melhorio. Com essa dieta, uns whiskies não lhe farão mal. PM
BENDITO PAPELINHO: Aqui na Coluna temos, como todo o direitista que se preze, um carinho pela abstenção, um tara pelo voto em branco e uma vocação para o voto nulo. Mas reparem que em momentos como este é bom termos votado naqueles dois partidos dos quais realmente não gostamos. É isso ou os Sovietes. PM
COMO SERIA O MULTI Sobre o esfarrapadíssimo argumento do «unilateralismo», o Claudio Tellez propõe esta entrada de dicionário:
Unilateralismo s.m. 1. Ações tomadas pelos Estados Unidos da América em conjunto com ou apoiados por: Inglaterra, Espanha, Portugal, Bulgária, Kuwait, Australia, Japão, Hungria, Colômbia, República Tcheca, Polônia, Israel, Dinamarca, Itália, Letônia, Lituânia, El Salvador, Estônia, Romênia, Eslováquia, Eslovênia, Albânia, Croácia, Nicarágua, Macedônia e outros países 2. Qualquer medida que contrarie os interesses econômicos dos russos e dos franceses 3. Desculpa utilizada pela ONU para livrar-se de suas responsabilidades.
Ah, o «Direito Internacional»... PM
Unilateralismo s.m. 1. Ações tomadas pelos Estados Unidos da América em conjunto com ou apoiados por: Inglaterra, Espanha, Portugal, Bulgária, Kuwait, Australia, Japão, Hungria, Colômbia, República Tcheca, Polônia, Israel, Dinamarca, Itália, Letônia, Lituânia, El Salvador, Estônia, Romênia, Eslováquia, Eslovênia, Albânia, Croácia, Nicarágua, Macedônia e outros países 2. Qualquer medida que contrarie os interesses econômicos dos russos e dos franceses 3. Desculpa utilizada pela ONU para livrar-se de suas responsabilidades.
Ah, o «Direito Internacional»... PM
DEUSES E SEMIDEUSES: Para infelicidade de um dos Infames - que detesta música pop - mais contributos sobre o género:
A propósito da britpop. Há uma longa tradição de bandas inglesas a fazerem aquilo a que se convencionou chamar "crítica social", algumas delas com uma inteligência e finura que não associamos à cultura popular. Alguém já mencionou os Kinks de Mr. Ray Davies (obviamente!), mas apetece-me chamar a atenção para o semi-deus Morrissey (provavelmente o melhor vocalista de sempre, pelo menos, no que diz respeito a sua capacidade tremenda de conferir o tom certo às suas palavras melancólicas e, por vezes, sarcásticas (atente-se à fabulosa Pretty Girls Make Graves: "she`s too rough and I`m too delicate"); para os magníficos Pulp de Different Class e His and Hers (mais atentos aos subúrbios de Sheffield e à Working Class que por lá ruminava: as Deborahs e as Lydias); aos deliciosos The Divine Comedy de Mr.Hannon, infelizmente entrados na decadência progressiva com o último álbum Regeneration a imitar mal os também divinos Radiohead. De Mr.Hannon aconselho vivamente a compra de Promenade, um álbum semi-esquecido que esconde pérolas como The Booklovers (uma especial para o Pedro Mexia), Summerhouse e, claro, a conhecida Tonight We Fly. Podia continuar "on and on", mas queria deixar uma dúvida: lendo os escritores contemporâneos do outro lado da Mancha, não deixo de ficar desiludido com os tão aclamados Martin Amis, David Lodge e A.S Byatt. Que escritores ingleses são dignos de figurar na lista de melhores escritores contemporâneos? E será que Morrissey, Jarvis Cocker e Neil Hannon são melhores comentadores da vida social inglesa que os autores que mencionei? Por vezes, penso que sim. PS: A propósito, que é feito da promessa de dedicar o fim-de-semana ao tema "Conservadores e liberais"? De um leitor atento. (José Barros)
Comentário: Caro José: O Morrissey? Semi-deus é pouco. O velho Moz é uma das minhas mais doentias obsessões. Se o senhor fundasse uma religião, desfiliava-me da minha. E se não fosse homossexual, vegetariano e magro, seria meu irmão gémeo (mas são três características esmagadoras, helás). Como qualquer pessoa que me ature sabe, sobre o Moz eu discorro até ao romper da aurora: o mais genial dos lamurientos, o mais divertido dos intratáveis, o mais bizarro dos tímidos, o mais violento dos frustrados, o mais sexual dos castos, o mais pessimista dos ironistas, o mais egocêntrico dos eremitas, o mais nosso confidente dos inconfidentes. Wanna start a fan club? Os Pulp (Sarcasmo & Festival da Canção) já aqui incensei, mas faltou realmente The Divine Comedy de Mr. Hannon (o grande paródico pós-moderno, o literato polite, o Casanova com escrúpulos). Que bandas, senhores... Não me parece no entanto que esses songwriters (com excepção de Mr. M) sejam necessariamente melhores do que os escritores que refere. Repare: o Lodge e a Byatt são especialistas na crítica social a académicos (e o primeiro também brinca deliciosamente com as angústias dos católicos), e o Amis Jr. nunca é menos que divertidíssimo a retratar uma sociedade de famosos e libidinosos (e The Information é um must sobre as maldades do meio literário). Nisso, não têm rival no Reino. Não serão autores da categoria de um Naipaul, entre os ingleses vivos, nem mesmo talvez de Ian Mc Ewan, Julian Barnes e Salman Rushdie, para não falar nos rips imprescindíveis, como Greene ou Waugh, mas quem nos dera tal variedade... PS: Conservadores e Liberais não está esquecido, e teremos um dia só para pôr essa correspondência em dia. Peço desculpa pelo atraso. PM
A propósito da britpop. Há uma longa tradição de bandas inglesas a fazerem aquilo a que se convencionou chamar "crítica social", algumas delas com uma inteligência e finura que não associamos à cultura popular. Alguém já mencionou os Kinks de Mr. Ray Davies (obviamente!), mas apetece-me chamar a atenção para o semi-deus Morrissey (provavelmente o melhor vocalista de sempre, pelo menos, no que diz respeito a sua capacidade tremenda de conferir o tom certo às suas palavras melancólicas e, por vezes, sarcásticas (atente-se à fabulosa Pretty Girls Make Graves: "she`s too rough and I`m too delicate"); para os magníficos Pulp de Different Class e His and Hers (mais atentos aos subúrbios de Sheffield e à Working Class que por lá ruminava: as Deborahs e as Lydias); aos deliciosos The Divine Comedy de Mr.Hannon, infelizmente entrados na decadência progressiva com o último álbum Regeneration a imitar mal os também divinos Radiohead. De Mr.Hannon aconselho vivamente a compra de Promenade, um álbum semi-esquecido que esconde pérolas como The Booklovers (uma especial para o Pedro Mexia), Summerhouse e, claro, a conhecida Tonight We Fly. Podia continuar "on and on", mas queria deixar uma dúvida: lendo os escritores contemporâneos do outro lado da Mancha, não deixo de ficar desiludido com os tão aclamados Martin Amis, David Lodge e A.S Byatt. Que escritores ingleses são dignos de figurar na lista de melhores escritores contemporâneos? E será que Morrissey, Jarvis Cocker e Neil Hannon são melhores comentadores da vida social inglesa que os autores que mencionei? Por vezes, penso que sim. PS: A propósito, que é feito da promessa de dedicar o fim-de-semana ao tema "Conservadores e liberais"? De um leitor atento. (José Barros)
Comentário: Caro José: O Morrissey? Semi-deus é pouco. O velho Moz é uma das minhas mais doentias obsessões. Se o senhor fundasse uma religião, desfiliava-me da minha. E se não fosse homossexual, vegetariano e magro, seria meu irmão gémeo (mas são três características esmagadoras, helás). Como qualquer pessoa que me ature sabe, sobre o Moz eu discorro até ao romper da aurora: o mais genial dos lamurientos, o mais divertido dos intratáveis, o mais bizarro dos tímidos, o mais violento dos frustrados, o mais sexual dos castos, o mais pessimista dos ironistas, o mais egocêntrico dos eremitas, o mais nosso confidente dos inconfidentes. Wanna start a fan club? Os Pulp (Sarcasmo & Festival da Canção) já aqui incensei, mas faltou realmente The Divine Comedy de Mr. Hannon (o grande paródico pós-moderno, o literato polite, o Casanova com escrúpulos). Que bandas, senhores... Não me parece no entanto que esses songwriters (com excepção de Mr. M) sejam necessariamente melhores do que os escritores que refere. Repare: o Lodge e a Byatt são especialistas na crítica social a académicos (e o primeiro também brinca deliciosamente com as angústias dos católicos), e o Amis Jr. nunca é menos que divertidíssimo a retratar uma sociedade de famosos e libidinosos (e The Information é um must sobre as maldades do meio literário). Nisso, não têm rival no Reino. Não serão autores da categoria de um Naipaul, entre os ingleses vivos, nem mesmo talvez de Ian Mc Ewan, Julian Barnes e Salman Rushdie, para não falar nos rips imprescindíveis, como Greene ou Waugh, mas quem nos dera tal variedade... PS: Conservadores e Liberais não está esquecido, e teremos um dia só para pôr essa correspondência em dia. Peço desculpa pelo atraso. PM
terça-feira, março 18, 2003
OS NOSSOS LEITORES SABEM TUDO: Mesmo sobre pop foleira:
Resposta a um grito da alma: os Modern Talking estão vivos e recomendam-se. Acabam de lançar um novo álbum - «Victory» -, número 1instantâneo no Top Ten alemão, do qual extraíram um «single», também ele de sucesso, «Julie». Deram um concerto de Natal à borla, de beneficência, e votam na CDU! Site oficial aqui Quem é amigo, quem é? (Eurico de Barros)
Comentário: Envelhecer (relativamente) é ter saudades mesmo do que é foleiro. E já agora, em quem votará a Suzy Quatro? PM
Resposta a um grito da alma: os Modern Talking estão vivos e recomendam-se. Acabam de lançar um novo álbum - «Victory» -, número 1instantâneo no Top Ten alemão, do qual extraíram um «single», também ele de sucesso, «Julie». Deram um concerto de Natal à borla, de beneficência, e votam na CDU! Site oficial aqui Quem é amigo, quem é? (Eurico de Barros)
Comentário: Envelhecer (relativamente) é ter saudades mesmo do que é foleiro. E já agora, em quem votará a Suzy Quatro? PM
ESMAGADOR: O Claudio Tellez manda-nos este texto de um dos maiores intelectuais brasileiros, que não apenas nos deixa vexados como nos faz rever toda a nossa posição sobre a guerra. Somos, como se sabe, muito sensíveis ao poderio intelectual alheio, e este texto obriga a repensar tudo. Chama-se «Obrigado, grande líder George W. Bush.
Obrigado por mostrar a todos o perigo que Saddam Hussein representa. Talvez muitos de nós tivéssemos esquecido de que ele utilizou armas químicas contra seu povo, contra os curdos, contra os iranianos. Hussein é um ditador sanguinário, uma das mais claras expressões do mal hoje. Entretanto essa não é a única razão pela qual estou lhe agradecendo. Nos dois primeiros meses de 2003, o sr. foi capaz de mostrar muitas coisas importantes ao mundo, e por isso merece minha gratidão. Assim, recordando um poema que aprendi na infância, quero lhe dizer obrigado. Obrigado por mostrar a todos que o povo turco e seu Parlamento não
estão à venda, nem por 26 bilhões de dólares. Obrigado por revelar ao mundo o gigantesco abismo que existe entre a decisão dos governantes e os desejos do povo. Por deixar claro que tanto José María Aznar como Tony Blair não dão a mínima importância e não têm nenhum respeito pelos votos que receberam. Aznar é capaz de ignorar que 90% dos espanhóis estão contra a guerra, e Blair não se importa com a maior manifestação pública na Inglaterra nestes 30 anos mais recentes. Obrigado porque sua perseverança forçou Blair a ir ao Parlamento com um dossiê falsificado, escrito por um estudante há dez anos, e apresentar isso como "provas contundentes recolhidas pelo serviço secreto britânico". Obrigado por fazer com que Colin Powell se expusesse ao ridículo, mostrando ao Conselho de Segurança da ONU algumas fotos que, uma semana depois, foram publicamente contestadas por Hans Blix, o inspetor responsável pelo desarmamento do Iraque. Obrigado porque sua posição fez com que o ministro de Relações
Exteriores da França, sr. Dominique de Villepin, em seu discurso contra a guerra, tivesse a honra de ser aplaudido no plenário, honra que, pelo que eu saiba, só tinha acontecido uma vez na história da ONU, por ocasião de um discurso de Nelson Mandela. Obrigado porque, graças aos seus esforços pela guerra, pela primeira vez as nações árabes, geralmente divididas, foram unânimes em condenar uma invasão, durante encontro no Cairo. Obrigado porque, graças à sua retórica afirmando que "a ONU tem uma chance de mostrar sua relevância", mesmo países mais relutantes terminaram tomando posição contra um ataque. Obrigado por sua política exterior ter feito o ministro de Relações Exteriores da Inglaterra, Jack Straw, declarar em pleno século 21 que "uma guerra pode ter justificativas morais" e, ao declarar isso, perder toda a credibilidade. Obrigado por tentar dividir uma Europa que luta pela sua unificação; isso foi um alerta que não será ignorado. Obrigado por ter conseguido o que poucos conseguiram neste século: Unir milhões de pessoas, em todos os continentes, lutando pela mesma idéia, embora essa idéia seja oposta à sua. Obrigado por nos fazer de novo sentir que, mesmo que nossas palavras não sejam ouvidas, elas pelo menos são pronunciadas, e isso nos dará mais força no futuro. Obrigado por nos ignorar, por marginalizar todos aqueles que tomaram uma atitude contra sua decisão, pois é dos excluídos o futuro da Terra. Obrigado porque, sem o sr., não teríamos conhecido nossa capacidade de mobilização. Talvez ela não sirva para nada no presente, mas será útil mais adiante. Agora que os tambores da guerra parecem soar de maneira irreversível, quero fazer minhas as palavras de um antigo rei europeu a um invasor: "Que sua manhã seja linda, que o sol brilhe nas armaduras de seus soldados, porque durante a tarde eu o derrotarei". Obrigado por permitir a todos nós, um exército de anônimos que passeiam pelas ruas tentando parar um processo já em marcha, tomarmos conhecimento do que é a sensação de impotência, aprendermos
a lidar com ela e a transformá-la. Portanto, aproveite sua manhã e o que ela ainda pode trazer de glória. Obrigado porque não nos escutastes e não nos levaste a sério. Pois saiba que nós o escutamos e não esqueceremos suas palavras. Obrigado, grande líder George W. Bush. Muito obrigado.
Assinado: Paulo Coelho. Parabéns à esquerda por este aliado. Um «mago» dá sempre jeito. PM
Obrigado por mostrar a todos o perigo que Saddam Hussein representa. Talvez muitos de nós tivéssemos esquecido de que ele utilizou armas químicas contra seu povo, contra os curdos, contra os iranianos. Hussein é um ditador sanguinário, uma das mais claras expressões do mal hoje. Entretanto essa não é a única razão pela qual estou lhe agradecendo. Nos dois primeiros meses de 2003, o sr. foi capaz de mostrar muitas coisas importantes ao mundo, e por isso merece minha gratidão. Assim, recordando um poema que aprendi na infância, quero lhe dizer obrigado. Obrigado por mostrar a todos que o povo turco e seu Parlamento não
estão à venda, nem por 26 bilhões de dólares. Obrigado por revelar ao mundo o gigantesco abismo que existe entre a decisão dos governantes e os desejos do povo. Por deixar claro que tanto José María Aznar como Tony Blair não dão a mínima importância e não têm nenhum respeito pelos votos que receberam. Aznar é capaz de ignorar que 90% dos espanhóis estão contra a guerra, e Blair não se importa com a maior manifestação pública na Inglaterra nestes 30 anos mais recentes. Obrigado porque sua perseverança forçou Blair a ir ao Parlamento com um dossiê falsificado, escrito por um estudante há dez anos, e apresentar isso como "provas contundentes recolhidas pelo serviço secreto britânico". Obrigado por fazer com que Colin Powell se expusesse ao ridículo, mostrando ao Conselho de Segurança da ONU algumas fotos que, uma semana depois, foram publicamente contestadas por Hans Blix, o inspetor responsável pelo desarmamento do Iraque. Obrigado porque sua posição fez com que o ministro de Relações
Exteriores da França, sr. Dominique de Villepin, em seu discurso contra a guerra, tivesse a honra de ser aplaudido no plenário, honra que, pelo que eu saiba, só tinha acontecido uma vez na história da ONU, por ocasião de um discurso de Nelson Mandela. Obrigado porque, graças aos seus esforços pela guerra, pela primeira vez as nações árabes, geralmente divididas, foram unânimes em condenar uma invasão, durante encontro no Cairo. Obrigado porque, graças à sua retórica afirmando que "a ONU tem uma chance de mostrar sua relevância", mesmo países mais relutantes terminaram tomando posição contra um ataque. Obrigado por sua política exterior ter feito o ministro de Relações Exteriores da Inglaterra, Jack Straw, declarar em pleno século 21 que "uma guerra pode ter justificativas morais" e, ao declarar isso, perder toda a credibilidade. Obrigado por tentar dividir uma Europa que luta pela sua unificação; isso foi um alerta que não será ignorado. Obrigado por ter conseguido o que poucos conseguiram neste século: Unir milhões de pessoas, em todos os continentes, lutando pela mesma idéia, embora essa idéia seja oposta à sua. Obrigado por nos fazer de novo sentir que, mesmo que nossas palavras não sejam ouvidas, elas pelo menos são pronunciadas, e isso nos dará mais força no futuro. Obrigado por nos ignorar, por marginalizar todos aqueles que tomaram uma atitude contra sua decisão, pois é dos excluídos o futuro da Terra. Obrigado porque, sem o sr., não teríamos conhecido nossa capacidade de mobilização. Talvez ela não sirva para nada no presente, mas será útil mais adiante. Agora que os tambores da guerra parecem soar de maneira irreversível, quero fazer minhas as palavras de um antigo rei europeu a um invasor: "Que sua manhã seja linda, que o sol brilhe nas armaduras de seus soldados, porque durante a tarde eu o derrotarei". Obrigado por permitir a todos nós, um exército de anônimos que passeiam pelas ruas tentando parar um processo já em marcha, tomarmos conhecimento do que é a sensação de impotência, aprendermos
a lidar com ela e a transformá-la. Portanto, aproveite sua manhã e o que ela ainda pode trazer de glória. Obrigado porque não nos escutastes e não nos levaste a sério. Pois saiba que nós o escutamos e não esqueceremos suas palavras. Obrigado, grande líder George W. Bush. Muito obrigado.
Assinado: Paulo Coelho. Parabéns à esquerda por este aliado. Um «mago» dá sempre jeito. PM
ANDA TUDO A VER A TVI: No Blog de Esquerda (where else?) o Ricardo de Araújo Pereira (o Deco do PC) escreve um texto, como sempre divertido, mas nada agressivo, sobre alguns textos editados na Coluna Infame. Porque é que sublinho o «nada agressivo»? Porque apesar de ser um texto bem-humorado, e apesar de não nos conhecermos bem, o Ricardo avisou-me previamente, por mail, de que ia mandar o texto para o B de E. Pois é, caros amigos: a questão não é de esquerda nem de direita, mas de gente leal e educada e dos outros eteceteras. Quanto ao que o Ricardo diz, dois esclarecimentos. 1) Acho que ficou claro que publicámos aquele mail do PNR para mostrarmos qual a posição da extrema-direita, face a esta guerra e face aos EUA: são contra. Com as posições extrema-direita, como se prova, nós não temos nada a ver. 2) Quanto aos poemas «pedófilos», creio que o Ricardo afinal vê alguma tv, e aposto que é a TVI: para ele já tudo é pedofilia, tirando talvez a gerontofilia. Os gregos não praticavam a «pedofilia»: praticavam a pederastia, isto é, sexo homossexual com adolescentes. Se gostar de adolescentes (neste caso mulheres) é pedofilia, podemos aqui na Coluna Infame repetir aquele brado heróico: nós também somos. Pedofilia, meus caros, é sexo com crianças pré-púberes. Já basta a tv a querer insunuar que é a mesma coisa sexo com uma criança de 6 e com um/a adolescente de 16. E, em todo o caso, a rubrica sugerida pelo Eduardo Cintra Torres visava apenas desmistificar a ideia de que «os poetas» pensam todos o mesmo nesta ou noutras matérias, de que «a poesia» defende uma só ideia do mundo. Quando a verdade é que há poemas contra e a favor de tudo (incluindo o uso de capachinho). Just that. Ricardo: café para a semana? PM
DEFESA DA HONRA: Ó Statler, «gauche caviar», os manos Silva??? Tiro na água, caro velhote. Os autores do Blog de Esquerda são esquerdistas puros e duros (ok, um mais puro e o outro mais duro), leitores de lápis na mão do barbudo, malta da Abril em Maio e do Sindicato dos Metalúrgicos. Quem nos dera - aos Infames - que a esquerda pateta pusesse os olhos neles: lesse bons livros, assumisse as suas convicções (mesmo as mais radicais), escrevesse bom português, tivesse ideias dignas desse nome, e assim por diante. Se o ZM e o Manel são da esquerda caviar, ó Statler, que palavra é que nos sobra para descrever, sei lá, o Mega Ferreira? PM
EXÍLIO: Ao que parece, Saddam não vai aceitar o exílio na única cidade que o acolhe. É que o cavalheiro não sabe italiano, e ia sentir-se mal ao pé de tantos cardeais. PM
FIL: Liguei a rádio, ao acordar, e a TSF estava a dar a sua rubrica «Momentos com História», com uns saborosos soundbytes da oratória do PREC. Mas esperem... Jorge Coelho??? Ah, não, era a manif do PS na FIL (Força Internacionalista Leninista, está bem de ver). PM
GAFFE PRESIDENCIAL: No discurso de W. houve um ponto bastante interessante - e bastante contraditório - que julgávamos que ninguém tinha notado. Errado: os Marretas deram por isso. É que as referências sucessivas ao assunto «rendição» pareceram estranhas. Não saberá Bush que os franceses não participam nesta guerra? PM
MAIS PUBLICIDADE: Caros amigos da Coluna Infame: vai iniciar-se hoje a «Mexia Mini-Tour 2003». Para quem queira e possa, fica o calendário detalhado.
18 Março
18.30
Culturgest
Leitura/debate (Os Livros em Volta)
com Fernando Pinto do Amaral, Luís Quintais, Jorge Gomes Miranda, Jaime Rocha e Clara Rowland
20 Março
17.00
Universidade Católica
Encontro literário
com Agustina Bessa-Luís
21 Março
21.30
FNAC Colombo
Leitura/debate (Dia Internacional da Poesia)
com Pedro Tamen, Luís Represas e Mafalda Veiga
22 Março (data ainda por confirmar)
22.00
Livraria Ler Devagar
Conferência sobre Teixeira de Pascoaes
(leitura de poemas por Joana Seixas)
Prometo que não se farão posters de corpo inteiro.
Finalmente, o meu quarto livro de poemas, «Eliot e Outras Observações» (Gótica) terá o seu lançamento dia
31 Março
18.30
FNAC Colombo
Apresentação do Prof. Fernando J.B. Martinho.
Uma oportunidade para esclarecimentos ao vivo, encontros infames, convites monetários, ofertas de emprego, propostas de casamento, tiros à queima-roupa. Fica o convite. PM
18 Março
18.30
Culturgest
Leitura/debate (Os Livros em Volta)
com Fernando Pinto do Amaral, Luís Quintais, Jorge Gomes Miranda, Jaime Rocha e Clara Rowland
20 Março
17.00
Universidade Católica
Encontro literário
com Agustina Bessa-Luís
21 Março
21.30
FNAC Colombo
Leitura/debate (Dia Internacional da Poesia)
com Pedro Tamen, Luís Represas e Mafalda Veiga
22 Março (data ainda por confirmar)
22.00
Livraria Ler Devagar
Conferência sobre Teixeira de Pascoaes
(leitura de poemas por Joana Seixas)
Prometo que não se farão posters de corpo inteiro.
Finalmente, o meu quarto livro de poemas, «Eliot e Outras Observações» (Gótica) terá o seu lançamento dia
31 Março
18.30
FNAC Colombo
Apresentação do Prof. Fernando J.B. Martinho.
Uma oportunidade para esclarecimentos ao vivo, encontros infames, convites monetários, ofertas de emprego, propostas de casamento, tiros à queima-roupa. Fica o convite. PM
segunda-feira, março 17, 2003
HUMOR E FASCISMO: Tem toda a razão o Filipe Moura sobre a relevância do artigo do Villaverde, que aqui comentaremos. Só uma explicação, Filipe: tendo sido o meu percurso político dentro da minha família política (e da minha família tout court) um repúdio crescente das ideologias anti-democráticas e fascizantes, não é difícil perceber porque perco o humor quando me chamam «fascista» (além de tudo o que já escrevemos aqui no blog, dos autores que citamos, da nossa posição sobre a guerra, etc, etc, etc). Eu assumo frontalmente todas as minhas opiniões, mesmo as mais contestáveis. E entre as minhas opiniões está, claramente, a rejeição de todas as doutrinas antidemocráticas, entre as quais o fascismo. Os fascistas, Filipe, usam «conservador» como insulto. PM
DESMANCHA PRAZERES: A Cimeira e depois, por um leitor sem consoantes dobradas:
Depois da queda do muro de Berlim, a esquerdalhada teve um fim de semana de pesadelo. Ver o “líder do mundo livre” ( já hoje dois camaradas me fuzilaram com os olhos quando usei esta figura de estilo à frente deles) aterrar nos Açores e ser recebido pelo Durão Barroso, é pior que engolir um elefante. Depois de tanto esforço dos senhores Freitas (fazer-se passar por esquerdista não é tarefa fácil), Soares (descer a Avenida a pé rodeado por bandeiras do PC, também não deve ser fácil) e Louçã (foi aos Açores com um grupelho de tocadores de tambor e não conseguiu ver o sr. Bush, é azar!) contra os senhores da guerra, ter que gramar com o perigoso belicista, fundamentalista religioso, puritano, cowboy etc, que ainda vem dar um ultimato ao amigo Saddam nos Açores! Não pode ser, é demais…antes viver na Coreia do Norte…..Depois da fuga de Saramago para o exílio, quem será o próximo esquerdista a abandonar o país e a exilar-se? É uma chatice estar sempre a arranjar ditadores novos que assumam o combate contra os imperialistas. Quem virá a seguir? Kim Yung Il? O Saddam, tenho que reconhecer, tinha mais pinta. Vida ingrata. (Jorge Bento)
Comentário: Numa coisa o sr. Revel tem razão: a esquerda alia-se a quem quer que seja contra os Estados Unidos. Repare que os EUA, malvados sejam, lhes espatifaram as experiências «científicas» na Nova Europa. É normal que estejam zangados. PM
Depois da queda do muro de Berlim, a esquerdalhada teve um fim de semana de pesadelo. Ver o “líder do mundo livre” ( já hoje dois camaradas me fuzilaram com os olhos quando usei esta figura de estilo à frente deles) aterrar nos Açores e ser recebido pelo Durão Barroso, é pior que engolir um elefante. Depois de tanto esforço dos senhores Freitas (fazer-se passar por esquerdista não é tarefa fácil), Soares (descer a Avenida a pé rodeado por bandeiras do PC, também não deve ser fácil) e Louçã (foi aos Açores com um grupelho de tocadores de tambor e não conseguiu ver o sr. Bush, é azar!) contra os senhores da guerra, ter que gramar com o perigoso belicista, fundamentalista religioso, puritano, cowboy etc, que ainda vem dar um ultimato ao amigo Saddam nos Açores! Não pode ser, é demais…antes viver na Coreia do Norte…..Depois da fuga de Saramago para o exílio, quem será o próximo esquerdista a abandonar o país e a exilar-se? É uma chatice estar sempre a arranjar ditadores novos que assumam o combate contra os imperialistas. Quem virá a seguir? Kim Yung Il? O Saddam, tenho que reconhecer, tinha mais pinta. Vida ingrata. (Jorge Bento)
Comentário: Numa coisa o sr. Revel tem razão: a esquerda alia-se a quem quer que seja contra os Estados Unidos. Repare que os EUA, malvados sejam, lhes espatifaram as experiências «científicas» na Nova Europa. É normal que estejam zangados. PM
SE ELE É FÃ DO DAVID HAMILTON, EU TAMBÉM SOU: O libertário libertino ataca de novo:
Cinema «hardcore», não obrigado, mesmo que seja o novo «hard» de Leste - sejam vanguardas húngaras, experimentais checos ou rectaguardas lituanas. Já dei para esse departamento na minha juventude liceal, nomeadamente durante as greves e as RGAs «furadas» do Camões, quando se ia ver desde o Bergman ao Londres até à Ginger Lynn ao Capitólio. (Alguém aí conhece a moça, ou são todos novos demais?...) O cinéfilo sofisticado que se preza deverá referir-se a outras paragens, nomeadamente a essa referência «cult» do «softcore» europeu chamado David Hamilton, agora tornado matéria perigosa devido à súbita popularidade da «caça ao pedófilo». Mas que diabo, é preciso viver perigosamente. Pelo que recomendo, em vídeo ou DVD, as seguintes pérolas de erotismo adolescente «hamiltoniano»: «Bilitis» (1977), «Laura, les Ombres de l'Été» (1979), «Tendres Cousines» (1980), «Premiers Désirs» (1983) e «Une Été à Saint-Tropez» (1984). Alguns destes filmes passaram em Portugal nos tempos em que dizer que se gostava de «Lolita», «Candy», «Morte em Veneza» ou «Pretty Baby» não dava direito a busca do apartamento pela PJ e «gordas» no «24 Horas» e TVI à porta no dia seguinte. Hamilton abusa um bocado da vaselina nas lentes para obter o «flou» erótico, mas perdoa-se-lhe essa bizarria estilística. E há ainda os álbuns de fotografia, a actividade primeira de David Hamilton. A diferença que vai entre ele e o odioso Larry Clark é a mesma que entre o Waldorf Astoria e a Pensão da Coxa. (Eurico de Barros)
Comentário: «Viver perigosamente?». Ai o grande facho... A Ginger Lynn? Tenho uma vaga ideia, a minha adolescência (mente, Pinóquio, mente) foi mais Chasey Lane. E confesso que possuo (salvo seja) um livro de fotografias de David Hamilton, mas fui ao engano: muito soft focus para mim. Claro que se alguém da PJ estiver a ler este blog, declaro que a frase anterior é totalmente inventada, e que eu desconheço em absoluto esse livro chamado Twenty Five Years of an Artist de capa branca com 316 págs editado pela Aurum Press em 1992 com fotos de raparigas underage. Obrigado. PM
Cinema «hardcore», não obrigado, mesmo que seja o novo «hard» de Leste - sejam vanguardas húngaras, experimentais checos ou rectaguardas lituanas. Já dei para esse departamento na minha juventude liceal, nomeadamente durante as greves e as RGAs «furadas» do Camões, quando se ia ver desde o Bergman ao Londres até à Ginger Lynn ao Capitólio. (Alguém aí conhece a moça, ou são todos novos demais?...) O cinéfilo sofisticado que se preza deverá referir-se a outras paragens, nomeadamente a essa referência «cult» do «softcore» europeu chamado David Hamilton, agora tornado matéria perigosa devido à súbita popularidade da «caça ao pedófilo». Mas que diabo, é preciso viver perigosamente. Pelo que recomendo, em vídeo ou DVD, as seguintes pérolas de erotismo adolescente «hamiltoniano»: «Bilitis» (1977), «Laura, les Ombres de l'Été» (1979), «Tendres Cousines» (1980), «Premiers Désirs» (1983) e «Une Été à Saint-Tropez» (1984). Alguns destes filmes passaram em Portugal nos tempos em que dizer que se gostava de «Lolita», «Candy», «Morte em Veneza» ou «Pretty Baby» não dava direito a busca do apartamento pela PJ e «gordas» no «24 Horas» e TVI à porta no dia seguinte. Hamilton abusa um bocado da vaselina nas lentes para obter o «flou» erótico, mas perdoa-se-lhe essa bizarria estilística. E há ainda os álbuns de fotografia, a actividade primeira de David Hamilton. A diferença que vai entre ele e o odioso Larry Clark é a mesma que entre o Waldorf Astoria e a Pensão da Coxa. (Eurico de Barros)
Comentário: «Viver perigosamente?». Ai o grande facho... A Ginger Lynn? Tenho uma vaga ideia, a minha adolescência (mente, Pinóquio, mente) foi mais Chasey Lane. E confesso que possuo (salvo seja) um livro de fotografias de David Hamilton, mas fui ao engano: muito soft focus para mim. Claro que se alguém da PJ estiver a ler este blog, declaro que a frase anterior é totalmente inventada, e que eu desconheço em absoluto esse livro chamado Twenty Five Years of an Artist de capa branca com 316 págs editado pela Aurum Press em 1992 com fotos de raparigas underage. Obrigado. PM
PTA E PSD: Cinema e política, por um leitor da Coluna:
Lamento informar-vos que também eu, um comitted in a serious relationship (isto é, casado à quase 3 anos e à espera do primeiro rebento) considero admirável o novo PTA, que muito honra a magnífica obra deste cineasta. Não é um Magnólia, é certo, mas é um excelente filme, que nos transporta para um mundo na fronteira entre o real e o fantástico. A minha querida Emily continua resplandescente (deve ser a mais bonita das mulheres não bonitas do cinema actual) e confesso que fui surpreendido pela positiva pelo Adam Sandler, de quem até agora só tinha visto filmes de treta para atrasados mentais. Num prisma diferente, tenho que vos contrariar novamente, ao considerar o filme The Hours como bastante bom, com 3 interpretações extraordinárias (ok, dou-vos razão quanto ao facto da história intermédia ser um pouco fraquinha, apenas justificável pelo desfecho do filme) e claramente o melhor de entre os candidatos à estatueta dourada... No geral, espero que continuem o bom trabalho da Coluna, um dos poucos sítios onde se pode ler opiniões de direita, infelizmente banidas da comunicação social portuguesa. Já agora, uma pequena provocação política: para vocês, tendo em conta a prática, podemos considerar que temos actualmente um governo de direita? Como classificam ideologicamente o PSD? (Nuno Peralta)
Comentário: Lá se foi a minha pretensa tese empírica. Acho que me vou dedicar à Sociologia. Obrigado pela opinião sobre a Coluna. Quanto ao governo (que hoje faz um ano), considero que é um governo de direita, francamente mais à direita que os de Cavaco, não só por causa da coligação mas também porque a esquerda está mais à esquerda, o que acentua as oposições ideológicas. E, claro, por causa da escolha de barricada na guerra do Iraque. Sem esquecer as políticas mais claramente de direita no governo: Finanças, Defesa ou Trabalho (grande parte das outras pastas são um fracasso evidente). Se o PSD é de direita? Sociologicamente com certeza, visto que a quase totalidade de eleitores do partido é conservadora ou liberal ou de centro-direita. A história interna do partido é mais complexa, e tradicionalmente contou com alguns sectores sociais-democratas, e não apenas por causa do pacto MFA / Partidos. Hoje em dia, porém, muitos deles transitaram para o PS ou abandonaram a política (de Helena Roseta a Magalhães Mota). Há ainda pessoas no PSD com complexos de esquerda, desde o nacional-porschista dr. Balsemão, passando por Miguel Veiga e até mesmo Pacheco Pereira, que foge do termo «direita» como o diabo da cruz. O PSD tem sobretudo - refiro-me aos seus quadros - tecnocratas liberais, a maioria deles com uma formação política débil e bastante carreiristas. Parece-me que o PSD é de certo modo uma aberração em termos de desenho parlamentar, uma vez que é o único grande partido europeu sem uma linha ideológica assumida (pense nos partidos colegas do PPE e veja a diferença). Num certo sentido, uma fusão do PP com o PSD traria alguns benefícios ideológicos, até porque a recente deriva esquerdista do PS não lhe permiti aspirar a uma luta séria pelo eleitorado do centro, e o aparecimento de um partido à direita (mesmo se residual), criará um bode expiatório de todas as piores tentações direitistas, a que o PP nem sempre foi imune, como bem sabemos. Se queremos um sistema político moderno, só faz sentido haver três partidos: um partido conservador-liberal, um partido socialista, e um partido folclórico. Nesse sentido, PCP e PP estão, a prazo, condenados, e o BE será cada vez mais importante (e um dia até é capaz de conseguir pescar algumas centenas de votos de gente sem mestrado). Quero no entanto referir, que esta é a minha posição pessoal, e que os outros dois Infames têm um estima um pouco mais elevada, ao que julgo, pelo partido da setinha. O Pedro e o João que se pronunciem, se acharem bem. PM
Lamento informar-vos que também eu, um comitted in a serious relationship (isto é, casado à quase 3 anos e à espera do primeiro rebento) considero admirável o novo PTA, que muito honra a magnífica obra deste cineasta. Não é um Magnólia, é certo, mas é um excelente filme, que nos transporta para um mundo na fronteira entre o real e o fantástico. A minha querida Emily continua resplandescente (deve ser a mais bonita das mulheres não bonitas do cinema actual) e confesso que fui surpreendido pela positiva pelo Adam Sandler, de quem até agora só tinha visto filmes de treta para atrasados mentais. Num prisma diferente, tenho que vos contrariar novamente, ao considerar o filme The Hours como bastante bom, com 3 interpretações extraordinárias (ok, dou-vos razão quanto ao facto da história intermédia ser um pouco fraquinha, apenas justificável pelo desfecho do filme) e claramente o melhor de entre os candidatos à estatueta dourada... No geral, espero que continuem o bom trabalho da Coluna, um dos poucos sítios onde se pode ler opiniões de direita, infelizmente banidas da comunicação social portuguesa. Já agora, uma pequena provocação política: para vocês, tendo em conta a prática, podemos considerar que temos actualmente um governo de direita? Como classificam ideologicamente o PSD? (Nuno Peralta)
Comentário: Lá se foi a minha pretensa tese empírica. Acho que me vou dedicar à Sociologia. Obrigado pela opinião sobre a Coluna. Quanto ao governo (que hoje faz um ano), considero que é um governo de direita, francamente mais à direita que os de Cavaco, não só por causa da coligação mas também porque a esquerda está mais à esquerda, o que acentua as oposições ideológicas. E, claro, por causa da escolha de barricada na guerra do Iraque. Sem esquecer as políticas mais claramente de direita no governo: Finanças, Defesa ou Trabalho (grande parte das outras pastas são um fracasso evidente). Se o PSD é de direita? Sociologicamente com certeza, visto que a quase totalidade de eleitores do partido é conservadora ou liberal ou de centro-direita. A história interna do partido é mais complexa, e tradicionalmente contou com alguns sectores sociais-democratas, e não apenas por causa do pacto MFA / Partidos. Hoje em dia, porém, muitos deles transitaram para o PS ou abandonaram a política (de Helena Roseta a Magalhães Mota). Há ainda pessoas no PSD com complexos de esquerda, desde o nacional-porschista dr. Balsemão, passando por Miguel Veiga e até mesmo Pacheco Pereira, que foge do termo «direita» como o diabo da cruz. O PSD tem sobretudo - refiro-me aos seus quadros - tecnocratas liberais, a maioria deles com uma formação política débil e bastante carreiristas. Parece-me que o PSD é de certo modo uma aberração em termos de desenho parlamentar, uma vez que é o único grande partido europeu sem uma linha ideológica assumida (pense nos partidos colegas do PPE e veja a diferença). Num certo sentido, uma fusão do PP com o PSD traria alguns benefícios ideológicos, até porque a recente deriva esquerdista do PS não lhe permiti aspirar a uma luta séria pelo eleitorado do centro, e o aparecimento de um partido à direita (mesmo se residual), criará um bode expiatório de todas as piores tentações direitistas, a que o PP nem sempre foi imune, como bem sabemos. Se queremos um sistema político moderno, só faz sentido haver três partidos: um partido conservador-liberal, um partido socialista, e um partido folclórico. Nesse sentido, PCP e PP estão, a prazo, condenados, e o BE será cada vez mais importante (e um dia até é capaz de conseguir pescar algumas centenas de votos de gente sem mestrado). Quero no entanto referir, que esta é a minha posição pessoal, e que os outros dois Infames têm um estima um pouco mais elevada, ao que julgo, pelo partido da setinha. O Pedro e o João que se pronunciem, se acharem bem. PM
INGRATIDÃO: A imprensa tem mantido um incompreensível silêncio sobre um ponto do discurso de Bush nos Açores. A guerra, os aliados, o desarmamento, tudo muito bem, mas nem uma palavra de reconhecimento ao Valete Fratres, ao Blogue dos Marretas, ao Intermitente à Coluna Infame? Bush, ingrato. Vamos oferecer-nos ao Villepin. PM
EXCESSOS DE LINGUAGEM: Parece-me bastante óbivo porque é que os políticos estão obrigados a um controlo de linguagem enquanto (por exemplo) nós na Coluna Infame não estamos. Porque os políticos - nomeadamente os deputados - foram eleitos, representam o povo português, e são um orgão de soberania, enquanto A Coluna Infame são três amigos que escrevem o que lhes apetece num site na net. Duh... PM
APELO: Continuamos a pedir insistentemente polémicas com adeptos da democracia burguesa. Isto de estar sempre a discutir com marxistas pode implicar danos neurológicos sérios. PM
AMOSTRA: É sempre assim. Quando ouço o Fórum da TSF fico convencido que as eleições em Portugal são forjadas. PM
INFORMEM O HAVEL: Um amigo meu (e uma das grandes figuras da cultura lisboeta) é um adepto dos filmes x-rated, sobre os quais perora com a maior seriedade. Entre outras outros detalhes, diz-me, convicto, que aprecia particularmente as moçoilas checas, húngaras e lituanas. Há portanto defensores acérrimos da Nova Europa. PM
AI QUE BEM ESCOLHIDO: O cinema mais perto da minha casa exibe exclusivamente um género menos cotado entre os cinéfilos (mas muito cotado entre adolescentes e sexagenários). Como se chama essa mítica sala? Em homenagem ao dito género chama-se, imaginem, Cinebolso. Simplesmente genial. PM
CONFISSÃO DE UM SINDICALIZADO: Tenho que confessar que quando fui pagar as quotas ao Sindicato (dos Jornalistas), me trataram com uma extrema simpatia. Mesmo depois de eu ter dito o meu nome. Será que no Sindicato não lêem jornais? PM
AVISO: Os nossos amigos Marretas referem-se de novo, e libidinosamente, à deputada JAD. Preparem-se, companheiros, para as diatribes morais da esquerda púdica, e para uma carga de porrada do Miguel. PM
UMA PROVOCAÇÃO AO VOZ DO DESERTO: Religiões unem-se contra a guerra. Então os calvinistas também são pacifistas? Se o JC (Jean Calvin, claro) cá viesse, dava-lhe o badagaio. Tiago, por favor, explica-nos. PM
E AGORA, OS GREGOS: Mais poemas Infames sobre a guerra, desta vez dos Gregos (who knew something about it):
Ora aqui vão uns poemas de guerra com 2300 anos para ilustração dos «camaradinhas». Bem hajam pelo vosso site, já que nos jornais deste país só se lê trampa esquerdista (com algumas raras excepções que confirmam a regra). (Delfos)
É belo para um homem valente morrer, caindo
nas primeiras filas, a combater pela pátria.
E, de tudo, o mais triste é abandonar a cidade
e os campos férteis, para ir mendigar,
vagueando com a mãe querida e o idoso pai,
os filhos pequeninos e a legítima esposa.
Será odioso àquele a quem se dirigir,
cedendo à necessidade e à penúria horrenda,
envergonha a sua estirpe, deturpa a bela figura,
acompanham-no a desonra e a infâmia.
Se, pois. não há para o vagabundo cuidado algum,
nem respeito pela sua linhagem.
lutemos com ardor por esta terra, morramos
por nossos filhos, sem pouparmos a vida.
Ó jovens, permanecei em combate ao lado uns dos outros,
não comeceis com a fuga vergonhosa ou com o medo.
Mas criai no vosso espírito um ânimo excelso e valente,
deixai o amor à vida, ao combater com os homens.
Não fujais, abandonando os mais velhos, que já não têm
os joelhos prontos, os pobres anciãos.
É vergonha que caia nas primeiras filas
e fique estendido um homem mais velho,
já de cabeça branca e barba grisalha,
exalando o espírito valente no pó,
segurando nas mãos as partes ensanguentadas
- coisa vergonhosa e ímpia de se ver –
e o corpo nu. Aos jovens tudo fica bem,
enquanto estão na flor esplendorosa da amável juventude.
Quando vivo, admiram-no os homens, amam-no
as mulheres; e é belo, se cai nas primeiras filas.
Fique cada um em seu posto, de pernas bem abertas,
os pés ambos fincados no solo, mordendo o lábio com os dentes.
Triteu (Esparta, Séc. VII a.C.)
Até quando estareis inactivos? Quando tereis, ó jovens,
um ânimo valente? Não vos envergonhais dos vizinhos,
por tão grande desleixo? Julgais permanecer em paz,
quando a guerra avassala a terra toda?
Que cada um, ao morrer, lance ainda mais um dardo,
pois é honra e glória para um homem combater
pela pátria, pelos filhos e pela legítima esposa,
contra o inimigo. A morte chegará, quando a fiarem
as Parcas. Vamos para a frente,
de espada desembainhada e colocando o peito valente
sob o escudo, logo que se acenda a luta.
Pois não é destino dos homens fugir à morte,
ainda que a sua linhagem descenda dos imortais.
Muitas vezes, ao que regressa ileso da refrega e do silvar dos dardos,
se lhe depara em casa o destino fatal.
Mas esse não é querido ao povo, não deixa saudades,
não o lamenta o grande nem o pequeno, se algo sofrer.
Mas todo o povo sente a falta dum valente que morreu,
e recebe honras de semi-deus, enquanto vive.
Olham para ele como uma fortaleza,
pois sozinho comete feitos que só muitos poderiam.
Calino (Éfeso, Séc. VII a.C.)
Comentário: Estes poemas, suponho, foram tirados do livro de versões do grego antigo chamado Hélade, da responsabilidade de Maria Helena da Rocha Pereira. Erudição nossa? Not quite. É que tínhamos esse livro aberto, para citar alguns poemas, e um dos poemas até era o mesmo. Não há dúvidas que os bons espíritos se encontram. Delfos, bem haja. PM
Ora aqui vão uns poemas de guerra com 2300 anos para ilustração dos «camaradinhas». Bem hajam pelo vosso site, já que nos jornais deste país só se lê trampa esquerdista (com algumas raras excepções que confirmam a regra). (Delfos)
É belo para um homem valente morrer, caindo
nas primeiras filas, a combater pela pátria.
E, de tudo, o mais triste é abandonar a cidade
e os campos férteis, para ir mendigar,
vagueando com a mãe querida e o idoso pai,
os filhos pequeninos e a legítima esposa.
Será odioso àquele a quem se dirigir,
cedendo à necessidade e à penúria horrenda,
envergonha a sua estirpe, deturpa a bela figura,
acompanham-no a desonra e a infâmia.
Se, pois. não há para o vagabundo cuidado algum,
nem respeito pela sua linhagem.
lutemos com ardor por esta terra, morramos
por nossos filhos, sem pouparmos a vida.
Ó jovens, permanecei em combate ao lado uns dos outros,
não comeceis com a fuga vergonhosa ou com o medo.
Mas criai no vosso espírito um ânimo excelso e valente,
deixai o amor à vida, ao combater com os homens.
Não fujais, abandonando os mais velhos, que já não têm
os joelhos prontos, os pobres anciãos.
É vergonha que caia nas primeiras filas
e fique estendido um homem mais velho,
já de cabeça branca e barba grisalha,
exalando o espírito valente no pó,
segurando nas mãos as partes ensanguentadas
- coisa vergonhosa e ímpia de se ver –
e o corpo nu. Aos jovens tudo fica bem,
enquanto estão na flor esplendorosa da amável juventude.
Quando vivo, admiram-no os homens, amam-no
as mulheres; e é belo, se cai nas primeiras filas.
Fique cada um em seu posto, de pernas bem abertas,
os pés ambos fincados no solo, mordendo o lábio com os dentes.
Triteu (Esparta, Séc. VII a.C.)
Até quando estareis inactivos? Quando tereis, ó jovens,
um ânimo valente? Não vos envergonhais dos vizinhos,
por tão grande desleixo? Julgais permanecer em paz,
quando a guerra avassala a terra toda?
Que cada um, ao morrer, lance ainda mais um dardo,
pois é honra e glória para um homem combater
pela pátria, pelos filhos e pela legítima esposa,
contra o inimigo. A morte chegará, quando a fiarem
as Parcas. Vamos para a frente,
de espada desembainhada e colocando o peito valente
sob o escudo, logo que se acenda a luta.
Pois não é destino dos homens fugir à morte,
ainda que a sua linhagem descenda dos imortais.
Muitas vezes, ao que regressa ileso da refrega e do silvar dos dardos,
se lhe depara em casa o destino fatal.
Mas esse não é querido ao povo, não deixa saudades,
não o lamenta o grande nem o pequeno, se algo sofrer.
Mas todo o povo sente a falta dum valente que morreu,
e recebe honras de semi-deus, enquanto vive.
Olham para ele como uma fortaleza,
pois sozinho comete feitos que só muitos poderiam.
Calino (Éfeso, Séc. VII a.C.)
Comentário: Estes poemas, suponho, foram tirados do livro de versões do grego antigo chamado Hélade, da responsabilidade de Maria Helena da Rocha Pereira. Erudição nossa? Not quite. É que tínhamos esse livro aberto, para citar alguns poemas, e um dos poemas até era o mesmo. Não há dúvidas que os bons espíritos se encontram. Delfos, bem haja. PM
PUNCH, LOVE OR DRUNK? Com uma excepção, as pessoas com quem falei até agora sobre Punch-Drunk LoveLove dividem-se em dois grupos: os currently without a boyfriend/girlfriend, que gostaram todos muito, e os comitted in a serious relationship, que não gostaram nada. Porque será, meus amigos? Explicações para colunainfame@hotmail.com. PM
MEXIA, O ESQUERDISTA: Sempre que vejo Manuel Monteiro na tv, atrás dele está alguém da minha família. Felizmente, não tenho 5000 parentes. PM
MAIS INFÂMIAS: Em conversa telefónica com um notório Infame, provoquei: «muita malta rasgou as vestes com o seu último artigo». Resposta: «então espere a reacção deles quando lerem o próximo». Ah, fadista... PM
ORA ESPIGAS: O Nuno Centeio aproveita os comentários no Blog de Esquerda para nos atacar. Já tínhamos prometido que não respondíamos, porque preferimos discutir com a esquerda articulada do que com os católicos palermas. Mas fica aqui o esclarecimento: não censuramos nenhum mail recebido por nos ser politicamente adverso. A verdade é que quase não recebemos mails contrários argumentativos (só hate mail e raspanetes), porque as pessoas preferem escrever as suas opiniões desenvolvidamente no Blog de Esquerda, e estão no seu direito. E no que diz respeito a essas opiniões temos exaustivamente respondido e polemizado, até talvez em excesso. O Nuno diz que temos «medo». Medo, nós? Medo de quê e de quem? De expressar opiniões infames e minoritárias não é com certeza, como se tem visto diariamente nestas páginas, e da capacidade intelectual alheia também não, porque então teríamos medo é dos manos Silva, que nessa matéria não têm até agora rival nos blogs, pelo menos à esquerda. Mas é precisamente com o Blog de Esquerda que trocamos galhardetes quotidianos... Mas esperem lá, o Nuno deve pensar que temos medo... do Nuno, e da poderosa e sofisticada argumentação que exibe no seu blog. A piedade (cristã) exige que não o desenganemos. Dos pobres de espírito será o Reino dos Céus. PM
CATCH ME IF YOU CAN: Será que na FNAC lêem a Coluna Infame? Explico a dúvida. Ontem à tarde, na loja do Chiado, passei com veloz repugnância, como sempre, pelo expositor da política, que exibia obras de um vasto espectro que ia do PS Alegre ao MRPP. E preparava-me para, ali ao lado, comprar uma obra actualizada sobre depressão (nem sabem as coisas que um recenseador tem de gramar), quando vejo, na secção de História... mas pode lá ser... oh maravilha fatal da nossa idade... o livro Modern Times, do nosso estimado Paul Johnson. Precipitei-me pelo corredor, atropelando uma bloquista com treze furos na cara, e corri com o livro dali para fora. O exemplar, diga-se de passagem, estava danificado, um rasgão notório nas páginas feito decerto por um mestrando do Prof. Rosas, incomodado com o facto de haver várias opiniões sobre os mesmos eventos. Em circunstâncias normais o meu fetichismo preciosista não me deixaria adquirir tal carcaça, mas desta vez nem pensei duas vezes: sei lá quando encontro outro Paul Johnson na FNAC. Provavelmente só daqui a anos e anos, quando Ana Gomes, na sequência de um golpe palaciano, for aclamada como Presidente da República Socialista Portuguesa. PM
LADISM E AMERICAN BURRITO: Tyler acrescenta:
"Defender"? "do outro lado da mancha"? Nem por isso meu caro, nem por isso, sou mesmo de Olhão (Restauração? 1808? ring any bells? E também com costela açoreana… terceirense, quasi-lajense!) e nada new-labourista, muito pelo contrário. Mas gosto da música e acho graça às saídas do Gallagher mais velho, que quer que lhe faça? Obviamente que aproveitei apenas para picá-lo um bocadinho... Só queria mesmo averiguar se algum daqueles que se auto-denominam infames não haviam entrado no comboiozinho (no gender-fender-bender trocadalho intended here) do luso-seguidismo anti-oasis, mas enfim... Já vi que nessas ondas mais britpopeiras o amigo tem mais afinidades com o closet (des)complex, que a mim me cheira tão a grosseiro e óbvio como os piercings bloquistas, mas que se há de fazer... Desses recalcamentos ou curiosidades sexuais reprimidas, sinceramente, nada sei nem quero mesmo saber (imagine se provo e depois gosto... deixem-me ser conservador nessa vertente), pois eu é mais ladism forever mesmo... Verve & Oasis, bandas de gente com barba por fazer e sem base, que esses pseudo-pseudos de blures, suedes e placebos nunca me entraram, talvez por lhes denotar uma descarada ausência de honestidade intelecto-musical, penso eu de que... Mas gostos são gostos. Para não pensar que tou apenas numa de provocação, aproveito para referir que que adorei o bitaite "mau gosto visual desde as pétalas em American Beauty", porque nesse caso estou com o Robert Altman e não abro. Estou também com aquela menina que recusou o papel para levar com as pétalas em cima... falha-me o nome... aquela virgem suicida / spider girl de nome adinamarquesado, enfim, WAR ever, o que quero dizer é que considero o American Burrito a fraude do século,
além do pequeno pormenor desse "clássico" (segundo Spielberg...) ser a versão mainstream (no sentido "REMAKE" mesmo) do Happiness do Solundz, o qual goza com isso brutalmente em Storytelling, via sequência dos sacos de plástico (que já eram pastiches muy descarados dos spots do VH1). Carry on. (Tyler)
Comentário: Caro Tyler, o equívoco quanto à residência ficou certamente a dever-se ao seu vasto conhecimento da cultura popular inglesa. Mas realmente esquecemo-nos que há revistas e net. Seja como for, Olhão parece-nos bem. Realmente não sou um fã de Oasis e Verve (embora não tenha nada contra), e prefiro os Placebo e os Suede, embora não, como sugere, por vontar de «provar» (ó meus amigos...). Acho piada ao estilo & atitude, e musicalmente é dinâmico e directo, just that. As minhas bandas inglesas favoritas são, se não me esqueço de ninguém, os Tindersticks, os Radiohead e os Pulp. Confesso que o ladism, na versão inglesa de pub e Maxim, não faz o meu género (dizem que a poesia afecta a masculinade: é capaz, é capaz). O Solundz, como diz, tem uma verrina e uma maldade com que o Sam Mendes apenas sonha acordado. Pensava que eu era o único anti-American Beauty no pedaço, ainda bem que não estou sozinho. Quanto a ter-se esquecido do nome da nossa querida Kirsten Dunst, como castigo vai ler, por esta ordem, poemas de José Jorge Letria e um romance catequético do Manuel Tiago. É bem feito. PM
"Defender"? "do outro lado da mancha"? Nem por isso meu caro, nem por isso, sou mesmo de Olhão (Restauração? 1808? ring any bells? E também com costela açoreana… terceirense, quasi-lajense!) e nada new-labourista, muito pelo contrário. Mas gosto da música e acho graça às saídas do Gallagher mais velho, que quer que lhe faça? Obviamente que aproveitei apenas para picá-lo um bocadinho... Só queria mesmo averiguar se algum daqueles que se auto-denominam infames não haviam entrado no comboiozinho (no gender-fender-bender trocadalho intended here) do luso-seguidismo anti-oasis, mas enfim... Já vi que nessas ondas mais britpopeiras o amigo tem mais afinidades com o closet (des)complex, que a mim me cheira tão a grosseiro e óbvio como os piercings bloquistas, mas que se há de fazer... Desses recalcamentos ou curiosidades sexuais reprimidas, sinceramente, nada sei nem quero mesmo saber (imagine se provo e depois gosto... deixem-me ser conservador nessa vertente), pois eu é mais ladism forever mesmo... Verve & Oasis, bandas de gente com barba por fazer e sem base, que esses pseudo-pseudos de blures, suedes e placebos nunca me entraram, talvez por lhes denotar uma descarada ausência de honestidade intelecto-musical, penso eu de que... Mas gostos são gostos. Para não pensar que tou apenas numa de provocação, aproveito para referir que que adorei o bitaite "mau gosto visual desde as pétalas em American Beauty", porque nesse caso estou com o Robert Altman e não abro. Estou também com aquela menina que recusou o papel para levar com as pétalas em cima... falha-me o nome... aquela virgem suicida / spider girl de nome adinamarquesado, enfim, WAR ever, o que quero dizer é que considero o American Burrito a fraude do século,
além do pequeno pormenor desse "clássico" (segundo Spielberg...) ser a versão mainstream (no sentido "REMAKE" mesmo) do Happiness do Solundz, o qual goza com isso brutalmente em Storytelling, via sequência dos sacos de plástico (que já eram pastiches muy descarados dos spots do VH1). Carry on. (Tyler)
Comentário: Caro Tyler, o equívoco quanto à residência ficou certamente a dever-se ao seu vasto conhecimento da cultura popular inglesa. Mas realmente esquecemo-nos que há revistas e net. Seja como for, Olhão parece-nos bem. Realmente não sou um fã de Oasis e Verve (embora não tenha nada contra), e prefiro os Placebo e os Suede, embora não, como sugere, por vontar de «provar» (ó meus amigos...). Acho piada ao estilo & atitude, e musicalmente é dinâmico e directo, just that. As minhas bandas inglesas favoritas são, se não me esqueço de ninguém, os Tindersticks, os Radiohead e os Pulp. Confesso que o ladism, na versão inglesa de pub e Maxim, não faz o meu género (dizem que a poesia afecta a masculinade: é capaz, é capaz). O Solundz, como diz, tem uma verrina e uma maldade com que o Sam Mendes apenas sonha acordado. Pensava que eu era o único anti-American Beauty no pedaço, ainda bem que não estou sozinho. Quanto a ter-se esquecido do nome da nossa querida Kirsten Dunst, como castigo vai ler, por esta ordem, poemas de José Jorge Letria e um romance catequético do Manuel Tiago. É bem feito. PM
domingo, março 16, 2003
PORTUGAL E A GUERRA: O que se passou hoje é bastante claro. Os Açores era um bom ponto de encontro em termos geográficos, e as Lajes é uma base importante, e foi por isso que a Cimeira decorreu nos Açores. Portugal, como é óbvio, foi apenas o anfitrião, até porque não tem papel no mundo para ser mais do que isso. Cumprimos: estivemos do lado dos nossos aliados, e não deixámos a Espanha açambarcar o atlantismo. Quanto aos que cumularam o PM com mimos de «estalajadeiro», «criado», e quejandos, é a linguagem que a casa gasta. Afinal, muitos destes esquerdistas que falam em «lacaios do Império» até sabem alguma coisa sobre o tema «lacaios» e sobre a realidade «Império». Esses esquerdistas, na verdade, não estão indignados, estão apenas desempregados. PM
GUERRA: A cimeira das Lajes foi, como se esperava, uma pré-declaração de guerra. A paciência não é eterna, e Bush até insistou excessivamente num acordo negociado: foi a França que anunciou que vetaria todo e qualquer acordo. Agora, se Saddam não abandonar o Iraque - e não o fará - a guerra é inevitável. E não continuem a repetir que se trata de uma guerra «unilateral»: mais de vinte países apoiam a acção militar. Esperamos que os profetas da desgraça se enganem mais uma vez, como se enganaram no ataque ao Afeganistão, e que a guerra seja o mais curta possível, com o menor número possível de vítimas civis. A guerra é obviamente contra Saddam e o seu regime, e não contra o Iraque. Alea jacta est. PM
TOPONÍMIA: O Rossio foi repabtizado pelos esquerdófilos a Praça da Paz. Propomos que a Av. da Liberdade se passe a chamar Avenida do Encontro de Culturas. PM
CHOMSKY, OPUS 862: Ao nosso leitor Manuel Pinheiro, que se indigna com a recepção sempre entusiaste de Chomsky na nossa imprensa, temos que dizer que esse entusiasmo não é exactamente uma surpresa, pois não? E aproveitamos para o alertar para um debate sobre Chomsky onde estarão presentes Infames. Depois damos mais informações. PM
RISCO E BECKETT: Mais um contributo esclarecido:
No debate (que não o é bem) entre liberalismo e conservadorismo, parece-me que um conceito importante é o de risco: um liberal sabe que a liberdade implica um certo risco, mas está disposto a aceitá-lo; um conservador é avesso ao risco. É aliás aí que eu vejo a ponte entre o socialismo e o conservadorismo: ambos partilham a aversão ao risco – se bem que proponham remédios diferentes. Em contrapartida, conservadores e liberais partilham o pragmatismo, ou, em termos mais correctos, o empirismo: as ideias elaboram-se a partir da observação do mundo. Para um socialista, é o contrário: as ideias (e os ideais com elas) fazem-se antes, ou fora, do mundo – e o facto de o mundo ser avesso às ideias socialistas não colhe: é o mundo que está errado, há que mudá-lo. A necessidade de recorrer às vanguardas iluminadas está presente na ideologia de esquerda desde Platão. Sou, claro, um liberal, ainda que sem a bagagem teórica que gostaria de ter: [assim que houver espaço no cartão recorro à vossa bibliografia]. Mas sou um adepto fanático do Beckett: potente argumento para não se ser conservador, não é? (Luís M. Serpa)
Comentário: Caro Luís, tem razão quanto ao empirismo e ao pragmatismo, embora tenhamos de reconhecer que os conservadores têm por vezes uma certa tendência para a idealização. Em matéria de risco, não sei se estamos de acordo, porque os conservadores não recusam o risco: limitam-se a achar o risco menos excitante que os liberais. Em todo o caso, estamos de acordo na caracterização do(s) socialismo(s): a aversão ao risco, o «teorismo», as vanguardas. Querer mudar o mundo, nos termos radicais em que certo socialismo o propõe, é evidentemente um distúrbio das capacidades cognitivas. Finalmente, Beckett: para além de o desafiar para criarmos o clube dos Adeptos Fanáticos de Beckett, não creio que Beckett possa ser lido em chave ideológica. Era um homem avesso a esse tipo de manifestações, e que eu saiba só tomou quatro posições políticas na vida, três delas sensatas (esteve na Resistência, e assinou um manifesto pela libertação de Arrabal e, se não me engano, Havel) e uma perfeitamente admissível (Miterrand à presidência). O que se pode dizer é que a desolação do seu universo é de um pessimismo radical, e que amanhãs que cantam em Beckett não é imaginável. Claro que Beckett não era um conservador, mas creio que um conservador só pode sentir afinidades com - nomeadamente - o teatro de Beckett. PM
No debate (que não o é bem) entre liberalismo e conservadorismo, parece-me que um conceito importante é o de risco: um liberal sabe que a liberdade implica um certo risco, mas está disposto a aceitá-lo; um conservador é avesso ao risco. É aliás aí que eu vejo a ponte entre o socialismo e o conservadorismo: ambos partilham a aversão ao risco – se bem que proponham remédios diferentes. Em contrapartida, conservadores e liberais partilham o pragmatismo, ou, em termos mais correctos, o empirismo: as ideias elaboram-se a partir da observação do mundo. Para um socialista, é o contrário: as ideias (e os ideais com elas) fazem-se antes, ou fora, do mundo – e o facto de o mundo ser avesso às ideias socialistas não colhe: é o mundo que está errado, há que mudá-lo. A necessidade de recorrer às vanguardas iluminadas está presente na ideologia de esquerda desde Platão. Sou, claro, um liberal, ainda que sem a bagagem teórica que gostaria de ter: [assim que houver espaço no cartão recorro à vossa bibliografia]. Mas sou um adepto fanático do Beckett: potente argumento para não se ser conservador, não é? (Luís M. Serpa)
Comentário: Caro Luís, tem razão quanto ao empirismo e ao pragmatismo, embora tenhamos de reconhecer que os conservadores têm por vezes uma certa tendência para a idealização. Em matéria de risco, não sei se estamos de acordo, porque os conservadores não recusam o risco: limitam-se a achar o risco menos excitante que os liberais. Em todo o caso, estamos de acordo na caracterização do(s) socialismo(s): a aversão ao risco, o «teorismo», as vanguardas. Querer mudar o mundo, nos termos radicais em que certo socialismo o propõe, é evidentemente um distúrbio das capacidades cognitivas. Finalmente, Beckett: para além de o desafiar para criarmos o clube dos Adeptos Fanáticos de Beckett, não creio que Beckett possa ser lido em chave ideológica. Era um homem avesso a esse tipo de manifestações, e que eu saiba só tomou quatro posições políticas na vida, três delas sensatas (esteve na Resistência, e assinou um manifesto pela libertação de Arrabal e, se não me engano, Havel) e uma perfeitamente admissível (Miterrand à presidência). O que se pode dizer é que a desolação do seu universo é de um pessimismo radical, e que amanhãs que cantam em Beckett não é imaginável. Claro que Beckett não era um conservador, mas creio que um conservador só pode sentir afinidades com - nomeadamente - o teatro de Beckett. PM
QUE BELOS REGIMES: O nosso leitor nacionalista ataca de novo:
Ao contrário da Clara Pinto Correia, indico a fonte (edição online do Rivarol, ponto de encontro de muitas correntes do nacionalismo francês) e não traduzo para português, já que o idioma, nisso terão certamente razão, não é dos mais estimulantes. "Voici une liste des pays qui ont été bombardés par les Etats-Unis d’Amérique depuis la fin de la Deuxième Guerre mondiale, dressée par l’historien William Blum: Chine 1945-46 Corée 1950-53 Chine 1950-53 Guatemala 1954 Indonésie 1958 Cuba 1959-60 Guatemala 1960 Congo 1964 Pérou 1965 Laos 1964-73 Vietnam 1961-73 Cambodge 1969-70 Guatemala 1967-69 Grenade 1983 Libye 1986 El Salvador 1980 Nicaragua 1980 Panama 1989 Irak 1991-99 Soudan 1998 Afghanistan 1998 Yougoslavie 1999. Dans combien d’entre eux ces bombardements ont-ils fait directement émerger un gouvernement démocratique, respectueux des Droits de l’Homme? [Dans cette liste est omise la Somalie, opération «Restaurer l’espoir» de 1992-93.] (Pedro Guedes)
Comentário: Caro Pedro, obrigado pela sugestão nacionalista. Quanto à guerra, nós aqui na Coluna não somos adeptos do «angelismo» em política internacional, nem da exportabilidade generalizada da democracia. Mas pense nessa lista e veja se consegue dizer alguma coisa positiva sobre esses regimes. PM
Ao contrário da Clara Pinto Correia, indico a fonte (edição online do Rivarol, ponto de encontro de muitas correntes do nacionalismo francês) e não traduzo para português, já que o idioma, nisso terão certamente razão, não é dos mais estimulantes. "Voici une liste des pays qui ont été bombardés par les Etats-Unis d’Amérique depuis la fin de la Deuxième Guerre mondiale, dressée par l’historien William Blum: Chine 1945-46 Corée 1950-53 Chine 1950-53 Guatemala 1954 Indonésie 1958 Cuba 1959-60 Guatemala 1960 Congo 1964 Pérou 1965 Laos 1964-73 Vietnam 1961-73 Cambodge 1969-70 Guatemala 1967-69 Grenade 1983 Libye 1986 El Salvador 1980 Nicaragua 1980 Panama 1989 Irak 1991-99 Soudan 1998 Afghanistan 1998 Yougoslavie 1999. Dans combien d’entre eux ces bombardements ont-ils fait directement émerger un gouvernement démocratique, respectueux des Droits de l’Homme? [Dans cette liste est omise la Somalie, opération «Restaurer l’espoir» de 1992-93.] (Pedro Guedes)
Comentário: Caro Pedro, obrigado pela sugestão nacionalista. Quanto à guerra, nós aqui na Coluna não somos adeptos do «angelismo» em política internacional, nem da exportabilidade generalizada da democracia. Mas pense nessa lista e veja se consegue dizer alguma coisa positiva sobre esses regimes. PM
KINKS 1 BEATLES 0: Um mail sobre cultura popular e ideologia:
Tema bastante improvável, esse da britpop. Mas mais improvável ainda é a opinião acerca dos Beatles, principalmente porque vinda de um confesso amante de pop descomprometida, feita de melodias intemporais e de boas doses de "onde é que eu já ouvi isto?". E, dito isto, permito-me partilhar com a Coluna uma reflexão acerca da única banda que conheço em cujas letras encontro a "disposição conservadora" de que nos fala Oakeshott: os KINKS do grande RAY DAVIES. Numa década, a de 60, em que qualquer indigente de guitarra na mão, fosse ele americano, britânico ou malaio, escrevia sobre a autoestrada 66, as paisagens psicadélicas, a revolução, o amor universal e, de uma maneira geral, os amanhãs qe cantam, Ray Davies confessava que o seu maior prazer era e seria sempre a pint diária que bebia com o pai no pub do bairro. Com efeito, na escrita de Ray (e, 30 anos depois, na do Damon Albarn da fase pré-queda do cabelo e pré-pacifista-amigo-do-Ken Livingstone) é clara a tendência conservadora de quem prefere disfrutar das pequenas alegrias do presente a ansiar por orgásmicas utopias. Vê-se isso em temas como "Waterloo Sunset" ou "Sunny Afternoon". Para além de que o sentimento de perda é uma constante na música dos Kinks. A prová-lo estão canções com títulos como "Where Have All The Good Times Gone" (o título mais politicamente incorrecto dos sixties) e, acima de tudo, um álbum inteirinho com o nome de "Village Green Preservation Society", onde a Inglaterra ideal não é uma hipótese futura, mas um passado que não volta, a Inglaterra dos bowler hats, da strawberry jam e dos steam-powered trains. Ray canta, em "This Is Where I Belong", "I can´t think of a place I´d rather be, the whole world doesn´t mean that much to me". Mais elucidativo só mesmo o nome da filha do líder dos Kinks: Victoria. (Francisco Mendes da Silva)
Comentário: Now we're talking. Caro Francisco, os Kinks são outra história, e esses sim muito cá de casa. A minha opinião sobre os Beatles é assumidamente Infame: são canções boas para trautear, isto é, canções boas sem letra (as letras do Beatles provocam-me cólicas renais incontroláveis). Mr. Ray Davies é outro campeonato. Nunca o tinha visto nessa perspectiva oakeshottiana, mas faz todo o sentido. Os Blur, como o Francisco diz, pareceram-me os herdeiros dos Kinks na crítica social sofisticada (por oposição à crítica social selvagem - embora genial - dos Pulp), mas agora o Damon passou-se, há que dizê-lo. Os Kinks são realmente bardos do quotidiano, e isso para mim é muito mais interessante do que canções charradas sobre a fraternidade. A propósito, a ex-sra. Davies, Chrissie Hynde, disse a semana passada, creio que num concerto, que esperava que os americanos fossem derrotados pelo Iraque. Não critico a senhora, bem pelo contrário: era tão bom que os nossos amigos esquerdistas assumissem sempre as suas opiniões de modo tão honesto... E agora vou ouvir «Waterloo Sunset», se me dá licença. God save the Queen. PM
Tema bastante improvável, esse da britpop. Mas mais improvável ainda é a opinião acerca dos Beatles, principalmente porque vinda de um confesso amante de pop descomprometida, feita de melodias intemporais e de boas doses de "onde é que eu já ouvi isto?". E, dito isto, permito-me partilhar com a Coluna uma reflexão acerca da única banda que conheço em cujas letras encontro a "disposição conservadora" de que nos fala Oakeshott: os KINKS do grande RAY DAVIES. Numa década, a de 60, em que qualquer indigente de guitarra na mão, fosse ele americano, britânico ou malaio, escrevia sobre a autoestrada 66, as paisagens psicadélicas, a revolução, o amor universal e, de uma maneira geral, os amanhãs qe cantam, Ray Davies confessava que o seu maior prazer era e seria sempre a pint diária que bebia com o pai no pub do bairro. Com efeito, na escrita de Ray (e, 30 anos depois, na do Damon Albarn da fase pré-queda do cabelo e pré-pacifista-amigo-do-Ken Livingstone) é clara a tendência conservadora de quem prefere disfrutar das pequenas alegrias do presente a ansiar por orgásmicas utopias. Vê-se isso em temas como "Waterloo Sunset" ou "Sunny Afternoon". Para além de que o sentimento de perda é uma constante na música dos Kinks. A prová-lo estão canções com títulos como "Where Have All The Good Times Gone" (o título mais politicamente incorrecto dos sixties) e, acima de tudo, um álbum inteirinho com o nome de "Village Green Preservation Society", onde a Inglaterra ideal não é uma hipótese futura, mas um passado que não volta, a Inglaterra dos bowler hats, da strawberry jam e dos steam-powered trains. Ray canta, em "This Is Where I Belong", "I can´t think of a place I´d rather be, the whole world doesn´t mean that much to me". Mais elucidativo só mesmo o nome da filha do líder dos Kinks: Victoria. (Francisco Mendes da Silva)
Comentário: Now we're talking. Caro Francisco, os Kinks são outra história, e esses sim muito cá de casa. A minha opinião sobre os Beatles é assumidamente Infame: são canções boas para trautear, isto é, canções boas sem letra (as letras do Beatles provocam-me cólicas renais incontroláveis). Mr. Ray Davies é outro campeonato. Nunca o tinha visto nessa perspectiva oakeshottiana, mas faz todo o sentido. Os Blur, como o Francisco diz, pareceram-me os herdeiros dos Kinks na crítica social sofisticada (por oposição à crítica social selvagem - embora genial - dos Pulp), mas agora o Damon passou-se, há que dizê-lo. Os Kinks são realmente bardos do quotidiano, e isso para mim é muito mais interessante do que canções charradas sobre a fraternidade. A propósito, a ex-sra. Davies, Chrissie Hynde, disse a semana passada, creio que num concerto, que esperava que os americanos fossem derrotados pelo Iraque. Não critico a senhora, bem pelo contrário: era tão bom que os nossos amigos esquerdistas assumissem sempre as suas opiniões de modo tão honesto... E agora vou ouvir «Waterloo Sunset», se me dá licença. God save the Queen. PM
EURICO, NÃO ESTÁS SÓ: Aqui reproduzimos o mail de um leitor que pertence a uma outra direita, que não a nossa, mas que tem evidentemente liberdade de expressão:
Começo por fazer minhas as palavras de Eurico de Barros, transcritas num vosso post anterior e de cujos textos regulares de opinião no DN sinto saudades. Aproveito a propósito para vos lançar o desafio de sugerirem aos leitores da Coluna o site das ideias de Pat Buchanan (afinal de contas, há pouca “direita” americana que valha a pena ler). Também eu sou contra esta guerra petroleira. Também eu sou contra a guerra, mas pelo lado politicamente incorrecto da direita a sério, da direita nacionalista que recusa todo e qualquer centrismo. Tal convicção não me impede de gostar da poesia de guerra, género onde não falta qualidade e diversidade, apesar do esquecimento conveniente da imprensa escrita e da crítica, para além da esmagadora maioria dos editores, mais interessados em divulgar os não menos bélicos e sempre emocionantes escritos de Mao, do Che ou do Dr. Kumba (neste último caso, justifica-se um apoio público à edição da obra). O próprio Pedro Mexia poderia ir divulgando na Coluna alguma da poesia de guerra que já terá certamente encontrado nas suas incursões “reaccionárias” pelas estantes da Librairie Francaise, o que quanto mais não fosse, deixaria em pé mais alguns cabelos ao Dr. Prado Coelho (mais de pé, só se sugerissem umas visitas pela net à italianíssima Libreria di Ar)... Aproveito pois para vos enviar dois poemas portugueses escritos na frente de combate e escolhidos de forma praticamente aleatória em “O Corpo da Pátria - Antologia Poética da Guerra do Ultramar 1961-1971” (Ed. Pax - Colecção Metrópole e Ultramar, nº 68, Braga, 1971). A obra em causa, difícil de encontrar, mas que ainda se apanha em alguns alfarrabistas generosos, está dividida em duas partes: a poesia da frente e a poesia da retaguarda. E é sempre tão bom reler o Rodrigo Emílio e os seus “Poemas de Braço ao Alto”...
Rodrigo Emílio
"Moçambique 61/Aerograma"
Porque a Pátria assim decreta
Feriu-me a seta
De lado a lado.
A mim que sou poeta
Sagrou-me e vestiu-me ela se soldado.
E não contam assombros.
Ainda que eu arda
Sei que A transporto aos ombros
Desta farda.
Mas já o sol descerra.
E entanto, tanto faz.
Aqui a paz chama-se guerra,
chama-se guerra esta paz.
E por cá ando
Por aqui estou
Somando a quanto fui
O que hoje sou.
-------------------------------------------
João Conde Veiga
"Regresso"
Não fugi da guerra, não fui para Paris,
não fugi da terra, não traí o Povo,
eu fui ao combate debaixo do sol
e voltei de novo.
Posso aquecer-me com o sol mais quente
que me enche as veias, vinho de raiz,
não se vai á guerra e volta de novo
Sem se sentir dentro a voz de um país.
E posso olhar, olhar descansado,
as belas moçoilas bordando ao luar
sinais de esconjuro para o namorado
um dia voltar.
E posso falar, falar compassado,
com o velho homem que me disse um dia:
- Se eu tivesse agora a tua idade
era eu quem ia!
Num outro plano, confirmei hoje o que já suspeitava: a Coluna é bem mais interessante de ler ao sábado do que o Expresso. Começa a justificar-se uma edição em papel... ou não? Pelo menos uma ZonaNon “à droite”, tribuna do pensamento livre e descomprometido das modas de Abril. (Pedro Guedes)
Comentário: Fica a sugestão «de braço ao alto», de dois poetas que aliás conheço pessoalmente (nada como conhecer a extrema-direita para se ser democrata). Não é essa a faceta do Rodrigo que mais aprecio, francamente, mas fica aqui o poema. O nosso desacordo quanto à guerra é coerente ideologicamente, de parte a parte. Na Coluna somos pela liberdade de expressão de todas as tendências (excepto democratas-cristãos). Quanto à edição em papel, é uma sugestão simpática, mas não creio que haja nenhum editor suficientemente Infame. E nós, ao contrário do que pensam os nossos amigos da esquerda, não temos capitalistas nossos amigos. PM
Começo por fazer minhas as palavras de Eurico de Barros, transcritas num vosso post anterior e de cujos textos regulares de opinião no DN sinto saudades. Aproveito a propósito para vos lançar o desafio de sugerirem aos leitores da Coluna o site das ideias de Pat Buchanan (afinal de contas, há pouca “direita” americana que valha a pena ler). Também eu sou contra esta guerra petroleira. Também eu sou contra a guerra, mas pelo lado politicamente incorrecto da direita a sério, da direita nacionalista que recusa todo e qualquer centrismo. Tal convicção não me impede de gostar da poesia de guerra, género onde não falta qualidade e diversidade, apesar do esquecimento conveniente da imprensa escrita e da crítica, para além da esmagadora maioria dos editores, mais interessados em divulgar os não menos bélicos e sempre emocionantes escritos de Mao, do Che ou do Dr. Kumba (neste último caso, justifica-se um apoio público à edição da obra). O próprio Pedro Mexia poderia ir divulgando na Coluna alguma da poesia de guerra que já terá certamente encontrado nas suas incursões “reaccionárias” pelas estantes da Librairie Francaise, o que quanto mais não fosse, deixaria em pé mais alguns cabelos ao Dr. Prado Coelho (mais de pé, só se sugerissem umas visitas pela net à italianíssima Libreria di Ar)... Aproveito pois para vos enviar dois poemas portugueses escritos na frente de combate e escolhidos de forma praticamente aleatória em “O Corpo da Pátria - Antologia Poética da Guerra do Ultramar 1961-1971” (Ed. Pax - Colecção Metrópole e Ultramar, nº 68, Braga, 1971). A obra em causa, difícil de encontrar, mas que ainda se apanha em alguns alfarrabistas generosos, está dividida em duas partes: a poesia da frente e a poesia da retaguarda. E é sempre tão bom reler o Rodrigo Emílio e os seus “Poemas de Braço ao Alto”...
Rodrigo Emílio
"Moçambique 61/Aerograma"
Porque a Pátria assim decreta
Feriu-me a seta
De lado a lado.
A mim que sou poeta
Sagrou-me e vestiu-me ela se soldado.
E não contam assombros.
Ainda que eu arda
Sei que A transporto aos ombros
Desta farda.
Mas já o sol descerra.
E entanto, tanto faz.
Aqui a paz chama-se guerra,
chama-se guerra esta paz.
E por cá ando
Por aqui estou
Somando a quanto fui
O que hoje sou.
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João Conde Veiga
"Regresso"
Não fugi da guerra, não fui para Paris,
não fugi da terra, não traí o Povo,
eu fui ao combate debaixo do sol
e voltei de novo.
Posso aquecer-me com o sol mais quente
que me enche as veias, vinho de raiz,
não se vai á guerra e volta de novo
Sem se sentir dentro a voz de um país.
E posso olhar, olhar descansado,
as belas moçoilas bordando ao luar
sinais de esconjuro para o namorado
um dia voltar.
E posso falar, falar compassado,
com o velho homem que me disse um dia:
- Se eu tivesse agora a tua idade
era eu quem ia!
Num outro plano, confirmei hoje o que já suspeitava: a Coluna é bem mais interessante de ler ao sábado do que o Expresso. Começa a justificar-se uma edição em papel... ou não? Pelo menos uma ZonaNon “à droite”, tribuna do pensamento livre e descomprometido das modas de Abril. (Pedro Guedes)
Comentário: Fica a sugestão «de braço ao alto», de dois poetas que aliás conheço pessoalmente (nada como conhecer a extrema-direita para se ser democrata). Não é essa a faceta do Rodrigo que mais aprecio, francamente, mas fica aqui o poema. O nosso desacordo quanto à guerra é coerente ideologicamente, de parte a parte. Na Coluna somos pela liberdade de expressão de todas as tendências (excepto democratas-cristãos). Quanto à edição em papel, é uma sugestão simpática, mas não creio que haja nenhum editor suficientemente Infame. E nós, ao contrário do que pensam os nossos amigos da esquerda, não temos capitalistas nossos amigos. PM
ELOGIO DOS FEIOS: Façamos então o elogio dos Feios. Ou, em linguagem politicamente correcta, das Pessas Esteticamente Alternativas (P.E.A.). Tenho, como é evidente, um particular carinho todo biográfico pelas P.E.A. E parece-me que neste momento estão em grande, particularmente os homens. Pensemos, no cinema, em John C. Reilly e Philip Seymour Hoffman. O primeiro aparece em todo o lado (Gangs, The Hours, Chicago), e o segundo tem uma curta mas saborosa participação no filme de P.T.A. (o qual não se enquadra na categoria P.E.A.). Aliás, os dois entravam em Magnolia, uma das obras-primas da década. Reilly é quase sempre um coitado: marido enganado, homem sem sorte ou destreza, pateta. Hofman tem outra agressividade, talvez pelo seu físico (a propósito, ele não é meu irmão), mas quem se esquece da sua personagem arriscadíssima nesse filme transgressor que era Happiness? As P.E.A. trazem um certo realismo ao cinema (sem cair nos exageros de Mike Leigh), uma vez que o mundo está cheio de P.E.A., que são em geral rasuradas do cinema. É muito bom que os cineastas se apercebam da centralidade destas figuras para uma cinematografia, mesmo se por enquanto lhes atribuam sobretudo papéis secundários. De Charles Laughton e Edward G. Robinson em diante, as P.E.A. provaram a sua valia no cinema americano, e é interessante que em plena ditadura estética consigam papéis em que possam demonstrar o seu talento. (Nas mulheres, a questão ainda não é tão nítida). Como P.E.A., quero deixar o agradecimento a Hollywood por não se esquecer da nossa classe martirizada e dar voz aos que na nossa sociedade não têm voz. Quem disse que o capitalismo oprime as minorias? PM
I KNEW IT: Eu sabia. O Paul Thomas Anderson não me ia deixar ficar mal. Punch-Drunk Love é, como eu esperava, um filme delicioso, e uma reinvenção do termo «comédia romântica». A candura weird deste filme, o seu romantismo nerd, são tocantes e francamente divertidos. O filme está pontuado por detalhes preciosos, por vezes sem qualquer significado, mas de uma vitalidade refrescante (a cadeira que se parte, p. ex.). Mais uma vez P.T. revela a sua faceta «religiosa» ou «mística» ou o que lhe queiram chmar: uma fé absurda em presságios, amuletos, coincidências. Adam Sandler (que conheço dos filmes atrozes) é um Jerry Lewis ainda mais bizarro, e Emily Watson prova uma vez mais como uma actriz pode ser «radiosa» sem ser exactamente bonita. É uma obra menor? Com certeza, mas também o são After Hours de Scorsese ou Prova d' Orchestra de Fellini, e no entanto parecem-me ambos indispensáveis na filmografia dos respectivos cineastas. São miniaturas que condensam os temas, e o tom, e a moralidade dos artistas que os fazem. Punch-Drunk Love é uma preciosidade porque é totalmente livre, totalmente pessoal, ao mesmo tempo que confirma um universo e uma mitologia. E P.T. soma quatro filmes bons em quatro filmes realizados. Não me lembro de outro cineasta da sua geração de quem se possa dizer o mesmo. PM