sábado, fevereiro 08, 2003

WE ARE NOT ALONE: Estamos menos sozinhos na blogosfera portuguesa. Agora chegou o não muito eufónico mas muito recomendável Picuinhices. O povo / unido / jamais será vencido. PM
BLOGUISTAS DE ESQUERDA, PROF. ROSAS, PROF. DIOGO: Por favor, não continuem a chamar «fascistas» ou «nazis» aos americanos. Sobretudo neste momento. Leiam os jornais: os verdadeiros fascistas e nazis estão com Saddam, de alma e coração. PM
AVENIDA DA LIBERDADE: Quando passo pela Avenida da Liberdade gosto muito de ver o centro de trabalho do PCP entre o Wall Street Institute e a Fashion Clinic. PM
LIVRO DO MÊS: De Dina Gusmão, Guilherme de Melo - Um Homem sem Pressa. Comentários? É melhor não. PM
DOGMAS: O dogma da infalibilidade papal não se estende, certamente, a questões de política externa. Respeitamos e entendemos a opinião de João Paulo II, mas discordamos (embora seja engraçado ver gente que abomina o Papa citá-lo a toda a hora). Também não acreditamos na infalibilidade de Vasco Pulido Valente, apesar da profunda admiração que nutrimos pela sua prosa; no artigo de ontem, não tem razão. PM

sexta-feira, fevereiro 07, 2003

SERVIÇO DE URGÊNCIA: George Clooney (um dos actores actuais com mais classe, e possível sucessor de Cary Grant, if he works hard) comparou George W. Bush a Tony Soprano. Bem, se Bush fosse o Tony Soprano o problema iraquiano resolvia-se mais rapidamente do que o tempo que leva a dizer strapatone de prosciuto alla spoggiatura dantela. PM
A IDEOLOGIA FRANCESA: Consideração à parte merece o post do Manel sobre a França. As farpas são sobretudo dirigidas ao JPC, que responderá se quiser. Mas como eu também já verberei os parisienses, mais quatro notas: 1) Não me considero, de modo algum, anti-francês, como uma rápida inspecção da minha biblioteca demonstrará. Mas se há uma coisa pior que a pesporrência de uma potência é a posporrência de uma ex-potência. O anti-americanismo da França é demencial, e já o sabíamos muito antes de Revel; o próprio De Gaulle o cultivava. Aliás, para que é que os americanos desembarcaram na Normandia? Os franceses estavam a dar tão bem conta do recado. 2) Somos, como bem diz o Manel, adeptos da «impureza» na política (como na vida), porque a impureza das acções corresponde à imperfeição da natureza humana, ao instinto de sobrevivência, e a outras minudências. Não condenamos na França o que censuramos noutros países; mas assim como não defendemos os evidentes traços de discurso religioso e moralista dos americanos, ainda menos podemos suportar o moralismo «humanitário» dos povos supostamente mais «sofisticados», «letrados» e «subtis». 3) Quanto ao que é a França recomendo o livro de Bernard-Henry Lévy L' Idéologie Française. Não porque subscreva as teses aí defendidas, mas porque é curioso que um homem de esquerda (embora muito, muito caviar) perceba que a França revolucionária tem, como seu poderoso negativo, a França reaccionária, essa de De Maistre, Bonald, Drumont, Maurras, Drieu La Rochelle et j'en passe. Conhecemos essa França, vemos, ouvimos e lemos. Mas somos estranhos a essa tradição, e talvez por isso encontremos tão poucos modelos na França política. 4) A Revolução Francesa. Não somos contra boa parte dos valores da Revolução Francesa, que aliás, como o Manel refere, foram fundamentos também da Revolução (e da nação) Americana. Não somos dos que pretendem ajustar contas com a Revolução. Apenas contestamos que os valores da liberdade tenham alguma coisa a ver com a prática do Terror. O bébé é, neste caso, coisa muito diferente da água do banho. PM
SOIGNE TA GAUCHE: Várias intervenções do e no Blog de Esquerda interpelaram-nos directamente. Vejamos:

Powell: não fazemos posts de tudo o que acontece, quer porque não tenhamos nada de original ou significativo para dizer (a tragédia do Columbia, p. ex.), quer porque não há tempo para comentar tudo (it's a hobby, remember). Mas já que perguntam, a intervenção de Powell demonstrou o ridículo do suposto belicismo de Administração americana como um todo; há certamente membros do governo estado-unidense com o dedo mais leve no gatilho, mas Powell não é certamente um deles. A sua intervenção na ONU foi sóbria e factual, e de modo nenhum pregou o unilateralismo. Quanto a «smoking guns», é evidente que não existem, mas o ónus da prova é do Iraque. Uma central nuclear não se esconde debaixo do tapete, mas um laboratório de armas químicas mete-se à vontade numa insuspeita carrinha. A não-cooperação configura já uma violação da Resolução 1441. Com ou sem «smoking gun». Mas vale a pena dizer isto: se estivêssemos convencidos de que não havia armas de destruição em massa no Iraque (existentes ou em preparação), não estaríamos a favor da intervenção americana. Os nossos amigos de esquerda seriam a favor de uma intervenção (multilateral) mesmo se se provasse que existem essas armas? Sabemos a resposta.

Subserviência: Já explicamos a nossa posição face à guerra, aos EUA, a Bush. Insistir na nossa «subserviência» não tem sentido, porque não aderimos às razões americanas, apenas achamos que nós (Europa) temos boas razões (nossas) para estar de acordo.

Ivan, o Terrível: O leitor do Blog «Ivan Terráqueo» tem apoplexias ao ler a Coluna Infame. Opiniões de direita à solta? Onde estás, Otelo, quando precisamos de ti? Apenas três precisões: 1) Nunca fomos do MRPP; é favor endereçar a piada para a Rua de Santana à Lapa. 2) Temos muito que melhorar em termos técnicos, incluindo um fórum. Se aguentar as apoplexias, continue a visitar-nos e verá. 3) A direita não é nem foi clandestina em Portugal, mas na imprensa legível só O Independente se situa claramente à direita, mais três ou quatro colunistas do DN, e dois no PÚBLICO. Aqui na Coluna, como podemos dizer o que realmente pensamos, sem tacticismos de nenhuma espécie, somos apenas um espaço diferente, e nalguns posts congratulámo-nos com a quantidade e qualidade do feed-back que recebemos. Se elogiámos alguém, elogiámos os nossos leitores (dá-nos licença, não dá?). Quanto aos outros blogs conservadores, agradecemos indicações sobre o seu paradeiro. Temos procurado, e parece-nos que em Portugal é uma realidade quase inexistente. Esperemos que isso mude, porque para consensos patetas basta o fórum da TSF. PM
CABEÇAS LIMPAS: E os e-mails não param. Onde andava toda esta gente que, da noite para o dia, apareceu em força, com uma profundidade cultural e política que coloca qualquer comentador conceituado no canto do ringue? Não restam dúvidas: desde 1974 que houve, em Portugal, um silenciamento vergonhoso de todos aqueles que, avessos ao socialismo dócil e ao comunismo «respeitável», se colocam à direita da moda e pugnam pela liberdade, pela tradição, pela ordem e pela prudência, virtudes que definem o ideário conservador. O problema, tememos bem, começa por ser essencialmente histórico: Portugal sempre dependeu da pior direita francesa, herdeira de Maurras e da ignóbil Action Française, muito amante da violência, do radicalismo e da xenofobia. Isto definiu - e define - a direita francesa - e Portugal apanhou por tabela. Não mais. Existe um riquíssimo património conservador, a começar no campo cultural e a terminar na arena política, que interessa revisitar. Sem complexos. Sem medos. De cabeça limpa. JPC
POBRE MINISTRO: A vida de um Ministro da República não é fácil. Monteiro Diniz, um homem pacato, disse adeus. E fala-se em Laborinho Lúcio para os Açores. Em 1997, os nossos adoráveis deputados constituintes, cheios de energia e dedicação à causa pública, resolveram mudar o estatuto constitucional deste ministro. Na prática, destruiram-no porque lhe retiraram a competência ministerial, sem a qual o cargo se torna uma pura e inútil excrescência. Desde então, o Estado sustenta nas regiões dois ministros para assinar diplomas regionais e controlar a sua constitucionalidade. Isso significa que a presença de um ministro nas regiões deixou de fazer sentido. Se o cargo é mais técnico do que político, não podemos arranjar na cidade um gabinetezito para alojar estes ministros? Aliás, como estão, não será melhor acabar com eles? PL
PROVA ORAL: Apresentando um projecto sobre dentistas, Joana Amaral Dias alertou para a importância da saúde oral. Joana, consigo, é quando quiser. PM
OS OITO: Coragem não falta a Pacheco Pereira, que no PÚBLICO disse exactamente o que pensamos sobre o assunto. Se os jornais fossem sempre assim, nem era preciso haver blogs. PM
SPECIAL GUEST STAR: Conhecemos o nome de Nelson Ascher através do blog de Andrew Sullivan e aqui citámos o poemeto sobre Paulin e Companhia. Nelson, brasileiro a viver em Paris, é colunista da Folha de S. Paulo, exprimindo o que diz ser «uma opinião minoritária em meu pais» (não custa a acreditar). Tivemos o gosto de receber dois mails de Nelson Archer, e no segundo envia-nos dois artigos publicados na Folha. Com uma sólida fundamentação histórica e política, Ascher é de uma enorme clareza e lucidez, afastando-se da todas as retóricas balofas próprias de alguma imprensa sul-americana (para não falar da europeia). São infelizmente grandes demais para serem transcritos aqui (em breve haverá novidades tecnológicas), mas deixamos duas passagens com alguma extensão e bastante significativas.

Faz um ano agora que, através de seus representantes autoproclamados, mas nunca realmente desautorizados ou repudiados, o mundo árabe-islâmico iniciou uma guerra contra os EUA. Isso aconteceu sem declaração oficial ou provocação prévia: foram os americanos, aliás, que resistiram anos a fio a todo tipo de provocação. O primeiro ato do que não é exagero chamar de Terceira Guerra Mundial consistiu numa chacina, tão sádica quanto militarmente inútil, de civis inocentes. A razão profunda do desvario que levou agressores oriundos de uma região que já estava em crise e decadência séculos antes da independência do país agredido a imaginarem que tinham uma chance em um zilhão de vencer será tema de discussão por muito tempo. Simplificando uma situação complexa, pode-se dizer que têm sido quatro os atores desse drama: o islã, os EUA, a Europa e, para variar, os judeus. Defini-los precisamente é uma missão impossível e tampouco há correlação óbvia entre a importância político-militar e a simbólica de qualquer um deles. Até o momento, porém, cada qual teve seu papel. O traço comum a todas as abordagens que buscaram "compreender" ou relativizar os atentados foi a concentração quase que exclusiva nos EUA: sua política internacional, seus interesses, unilateralismo, arrogância, imperialismo, crimes históricos, o apoio a Israel, seu racismo e truculência, Hiroshima, Vietnã, o massacre dos índios, a escravidão, Hollywood, hambúrgueres, Madonna e Michael Jackson. (...) As interpretações históricas que pressupõem agentes racionais explicam mal esta conflagração. O fundamentalismo islâmico ou, para quem preferir, o islamofascismo, não é produto de pobreza, subdesenvolvimento ou imperialismo. O fracasso econômico e político do mundo árabe-islâmico é que tem raízes numa ordem social irreformável e na cultura que lhe subjaz. Essa raízes, sublinhe-se, não são raciais, etnolinguísticas, nem estão nos genes: são culturais, sociais, históricas, religiosas, políticas. Podem, consequentemente, ser mudadas, mas não antes de uma profunda revolução. Se os fanáticos de 11/9 tinham uma mensagem, era a seguinte: "Nós não mudaremos jamais, mudem vocês, cães infiéis, ou morram!". Apesar disso, o governo americano evitou dizer que seu inimigo era o fundamentalismo muçulmano, o islamismo político ou o nacionalismo árabe, chamando cautelosamente a confrontação de "guerra contra o terror". George Bush incluiu em seu "eixo do mal", além de um país árabe, o Iraque, um país islâmico não-árabe, o Irã, e um terceiro que não é nem um nem outro, a Coréia do Norte. Esta fórmula, na qual muitos não viram mais do que "simplismo" maniqueísta, evidencia a intenção, diplomaticamente calculada, de não hostilizar cerca de 1/5 da humanidade. Se bem que não nos encontremos, portanto, numa "guerra contra o terror", nem por isso é irrelevante a questão do terrorismo. Primeiro, porque ataques suicidas e difíceis de serem associados com certeza absoluta a um grupo ou país abolem, por um lado, o princípio da dissuasão ("deterrence") que, durante a Guerra Fria, salvou a humanidade da aniquilação "mutuamente assegurada", tornando, por outro, inevitáveis as guerras preventivas ("preemption"). Segundo, revelam claramente as metas irracionais dos islamofascistas. O terrorismo islâmico e seu padrinho, o terror nacionalista palestino, diferenciam-se de todos os outros movimentos semelhantes por recorrerem sistemática e preferencialmente ao assassinato em massa e indiscriminado de não-combatentes. (...) Eis aqui uma das razões que explicam o fenômeno mais surpreendente do ano que passou: a mal disfarçada satisfação com que os meios intelectuais, jornalísticos e políticos da Europa, bem como uma boa fatia de sua opinião pública, reagiram aos atentados. Convém lembrar que, enquanto na Guerra Fria os EUA investiram pesadamente em suas Forças Armadas, a Europa Ocidental, protegida da ameaça soviética pelo guarda-chuva nuclear americano, usou a verba assim liberada em políticas sociais. Há dois modos de interpretar essa opção das elites européias: ou elas, arrependidas de seu egoísmo ancestral, tornaram-se altruístas e generosas, ou agiram por interesse próprio e sob pressão. (...) De todas as reviravoltas contemporâneas, porém, a mais significativa para o futuro é a abertura do fosso entre a Europa e os EUA: a explicitação não só de seus interesses divergentes como da incompatibilidade, que só tende a crescer, entre seus modelos. Diante de tal fosso, toda conversa acerca de comunidade internacional, Justiça internacional, multilateralismo etc. tornou-se ociosa e obsoleta. Está de volta, se é que um dia havia ido embora, o caos internacional (...). A modernidade, como se sabe, implica uma aceleração desenfreada do ritmo da história. Assim, para que um ano atrás, em plena era do jato, se cumprisse o mesmo papel, um lapso de menos de duas horas foi o suficiente. (Folha de S. Paulo, 11 de Setembro de 2002).

O ano de 2002 foi um ano de terrorismo intensivo e violência mundo afora: cerca de 200 turistas mortos na explosão de uma discoteca em Bali e outras tantas vítimas, majoritariamente cristãs, linchadas na Nigéria; ataques no Paquistão a um consulado americano, a engenheiros navais franceses, a organizações e templos cristãos; alvos cristãos atacados nas Filipinas e uma sinagoga bombardeada na Tunísia, vitimando turistas alemães; a destruição de um hotel e o lançamento de mísseis terra-ar portáteis contra um jato comercial israelense no Quênia; vários atentados contra a Índia; a tomada de reféns num teatro em Moscou por rebeldes tchetchenos; o ataque a um petroleiro francês perto da costa do Iêmen. O maior número de atentados, porém, ocorreu contra a população civil de Israel e, embora 90% deles tenham sido evitados, os bem-sucedidos resultaram em centenas de mortos e milhares de feridos e mutilados. Há várias coisas em comum entre essas ações: elas foram todas perpetradas por muçulmanos e quase sempre movidas pelo fanatismo religioso; além disso, a maioria se dirigiu contra "alvos moles", ou seja, civis indefesos, e nenhum ataque de envergadura ocorreu nos EUA ou na Europa Ocidental. Tal ausência resultou não da falta de tentativas, mas de boa prevenção. Seja como for, é difícil escapar à constatação de que, desde 11 de setembro de 2001, vigora um estado de guerra no planeta. A principal objeção daqueles que relutam em lançar mão de expressões bélicas consiste em procurar equacionar o fenômeno em termos de criminalidade: tratar-se-ia antes de um caso de polícia que de exércitos. O equívoco desse raciocínio reside em julgar que só o conflito entre nações pode ser qualificado de guerra, mas é um fato que conflagrações desse tipo são relativamente recentes, enquanto, através da história, o grosso das guerras foi travado por tribos, etnias, seitas, castas, grupos sociais etc. (...) Pelo contrário, são as diferenças culturais, de civilização e visão de mundo que estão na raiz até mesmo dos problemas econômicos envolvidos. A idéia geral de Huntington e sobretudo sua polêmica frase-chave, segundo a qual "o islã tem fronteiras sangrentas", provaram-se nada menos que proféticas. (...) A motivação confessional existe de um lado apenas, e o que se vê entre os agredidos é uma imensa dificuldade de acreditar que seja essa a motivação dos atacantes. Daí a busca inútil de causas de todo tipo, exceto as religiosas. Quantos americanos ou europeus, afinal, reconhecem-se na expressão "cruzadistas" que os militantes islâmicos lhes reservam? E, salvo no caso dos hindus do Estado indiano de Gujarat, que retaliaram contra uma atrocidade muçulmana anterior, e pouquíssimos eventos inócuos e marginais, não houve atentados ou ataques antiislâmicos em parte alguma, nem nos Estados Unidos nem no resto do Ocidente, nem mesmo em Israel: nada de muçulmanos trucidados ou bombas nas mesquitas. Os únicos atos de terror antimuçulmano foram perpetrados por seus próprios correligionários, em países islâmicos como a Argélia. Talvez seja, portanto, mais adequado entender a situação como o confronto entre duas visões de mundo: de um lado, uma pré-moderna, religiosamente enraizada; de outro, uma que é pós-iluminista e, no que diz respeito à política, pós-religiosa. Se bem que nenhum dos ataques acima tenha se aproximado da gravidade do megaatentado inaugural, é este que lhes dá sentido, garantindo que sejam tomados, não como ocorrências isoladas, mas sim como ações de uma mesma conflagração cuja origem se encontra na crise generalizada do mundo islâmico e, de modo muito mais agudo, no seu núcleo, os países árabes. É nessas nações mal-formadas, pessimamente administradas, em franca regressão socioeconômica e nas quais o insucesso de um nacionalismo equivocado abriu as comportas do fundamentalismo religioso, que elites autoritárias e corruptas associaram-se primeiro a uma intelectualidade oportunista e, agora, a um clero sequioso de poder e sangue para, inventando uma sequência paranóica de inimigos externos, dirigir contra estes a ira de suas populações frustradas. Como o islã não passou por nada semelhante à reforma do cristianismo ou à secularização do Ocidente e como o século 20 poupou os árabes da devastação da guerra total, seus porta-vozes recorrem a uma retórica bélica que, entre povos mais experientes, causa antes pasmo que horror. Que o governo dos EUA, respaldado pela opinião pública local, veja o 11 de setembro e a Al Qaeda como manifestações da crise atual das nações muçulmanas e da disfuncionalidade das sociedades árabes praticamente assegura que, com ou sem guerra, o Iraque será ocupado pelos americanos. (...) (Folha de S. Paulo, 29 de Dezembro de 2002).

É uma honra para a Coluna ter um representante do excelente jornalismo brasileiro entre os seus leitores, sobretudo do género que não se vem («goza», dizem eles) com Porto Alegre e quejandos. Valeu, Nelson. PM
LISTAS: Rui F. Santos contribui também para a nossa já saudosa rubrica Completamente a Favor e Completamente Contra. Eis:

Completamente a Favor

Britt Ekland
Maria Grazia Cuccinota
Malu Mader
PJ O'Rourke
Albert Camus
Barry Goldwater
Winston Churchill
«Dunhill»
«Zino Davidoff»
«SG Gigante»
Jorge Luis Borges
John Frankenheimer
Frank Sinatra
António Lobo Antunes
Foie-Gras
Israel
Francesinhas


Comentário: A Britt ainda mexe? Quanto à Cuccinota (Il Postino), ó meu amigo... Os outros, bem, são quase todos gente da casa (embora não sejamos fumadores).

Completamente Contra

Comunistas reformadores
José Saramago
Autoridade Palestiniana
Subsídios do ICAM
Impostos
Treinadores de futebol com bigode
Pinto Balsemão, José Eduardo Moniz e Almerindo Marques


Comentário: o Almerindo até tem estado bem. Quanto aos treinadores, não se esqueça da frase «fazer coisas bonitas».

Mandem mais listas. Lists are politics. PM
CORREIO: Mais e-mails, de leitores «antigos» e recentes.

(...) neste país não se encontram espiritos que se consigam abstrair do Fado Português (leia-se: tendência para suavizar de forma saudosa todas as posições que seja obrigatório tomar, as quais impliquem determinação e possível contrariedade do pensamento geral), pelo que me congratulo com o vosso diário informativo (é o que leio quase todos os dias juntamente com o Blog de Esquerda, o PÚBLICO, o New York Times e o Haaretz). Creio portanto ter uma noção um pouco abrangente da realidade que nos rodeia, sendo esta uma das razões porque partilho as minhas opiniões com o vosso blog (sim, agora estou a dar-vos graxa porque me parecem ser mínimamente inteligentes sem roçar o pseudo-intlectualismo, tão folclórico nos partidos de esquerda). (...) Keep on with the good work.

(Ester Andrade)

Até que enfim que surge um weblog digno de menção numa nação assaz centrista e vermelhusca e cansativa pela falta de elites, falta de senso, falta de inteligência. Perdemos a «revolução conservadora» e nem nos atrevemos ainda hoje em pensar
construir um sistema político capaz e sério, que torne com o maniqueísmo, util e necessário: conservadores de um lado, vilões de outro. Por mim, relapso e contumaz leitor de Von Hayek, Von Misses, Kristoll, Burke, Tocqueville, adepto de Thatcher, Reagan, Churchill, Strauss, até Nixon (vejam lá a tentação....) e demais «freedom champions» espero que Portugal consiga pelo
menos ser triunfante na prospecção de novos valores culturais conservadores e de direita. Apesar de termos alguns na forja e no passado, urge tentar executar em Portugal uma nova «revolução conservadora», a nível de mentalidades e ideais. Uma «revolução conservadora» que defenda as elites, a liberdade, a lei e a ordem, a nação (em oposição à Bruxelas Socialista), a responsabilidade, o
municipalismo.


(Rui F. Santos)

Comentário: não se esqueça do Rei, Rui, não se esqueça do Rei...

Esperando não abusar da vossa paciência, envio mais um pensamento ocioso: Colin Powell perdeu tempo nas Nações Unidas, pois é cada vez mais claro que alguns (infelizmente muitos) simplesmente não querem acreditar. O mais bizarro é descobrir as supostas provas necessárias para convencer aqueles que não querem ser convencidos. Aparentemente, Washington falhou por não ter apresentado fotografias de elementos da Al-Qaeda em Bagdad. Talvez numa polaróide em que todos eles estivessem alinhados, qual equipa de futebol, à frente de um palácio presidencial, com o sorridente Saddam a fazer de treinador. Ou então, pode ser que um
dia desses a CIA apanhe um familiar de um terrorista a envergar roupa com os dizeres: «O meu irmão foi planear atentados para o Iraque e tudo o que recebi foi esta t-shirt merdosa».”Talvez então haja luz verde param terminar a carreira de um democrata tão popular que até consegue 99 por cento nas eleições.


(Leonardo Ralha)

quinta-feira, fevereiro 06, 2003

PROPAGANDA: Querem dominar os temas do dia, e ter um canudo que prova a vossa superioridade? Pois bem, este ano a universidade de Harvard propõe seminários sobre «Globalization and Human Values». Os prof's? Gente como o delirante Noam Chomsky, o historiador marxista engajado Howard Zinn, a estrela pop antiglobalização Naomi Klein e a profundíssima ensaísta política Arundhati Roy, entre outras «luminárias» (palavras do site que anuncia o curso). Público alvo? « (..) students who hope to make a positive difference in a troubled world». Em suma: um curso intensivo de propaganda. PM
AINDA O 11 DE SETEMBRO: Dois leitores do Blog de Esquerda indignaram-se com o que aqui escrevi sobre a esquerda e o 11 de Setembro.Quatro pontos: 1) É evidente que não sei o que sentiram todos os comunistas e bloquistas, apenas os seus mais destacados e mediáticos elementos; e aí, como aliás um dos leitores do Blog de Esquerda confirma, a reacção foi fraca ou inexistente. 2) Não vi essa esquerda repudiar as interpretações grotescas e doentiamente paranóicas que alguns fizeram (Diana Andringa, o «jornalista» francês que a Frenesi traduziu, etc). 3) Não somos donos de nenhuma emoção, nem sequer da indignação; mas nós aqui na Coluna Infame identificamo-nos sem ambiguidades com a civilização ocidental - e por isso também americana - e sentimos com particular horror os ataques que lhe são feitos, como nos é mais penoso ver morrer o vizinho do lado do que o Sr. Fabrício em Loulé. 4) Não duvidamos dos leitores do Blog e de outros esquerdistas de boa vontade; mas também sabemos que há uma certa esquerda que nunca chorará nenhum atentado ou derrota infligidos ao Ocidente. PM
CRAVEIRINHA: José Craveirinha foi um caso raro: um poeta a sério mesmo na época em que na literatura africana predominava a «merda estalinista» (Rui Knopli dixit), um nacionalista e combatente pela independência de Moçambique que amava Portugal e a língua portuguesa. Fazem falta escritores assim, mesmo na «metrópole». PM
NO DETAILS, PLEASE: Sim, bem sabemos, a «comunicação social» despoletou o caso da pedofilia, e assim fez o que a Justiça ou o poder político não fizeram. Mas chega de excesso de pormenores: se nos dizem que o sr. X abusou sexualmente de um/a menor, ficamos com uma ideia do que se passou; para quê então as descrições, feitas pelas crianças, de «pilinhas» e arredores, e isto metido ali, mais não sei o quê na boca, etc, etc? Senhores jornalistas: o excesso de informação não é informação nenhuma. PM
NOVA EUROPA: Os países que sabem o que é a opressão percebem a necessidade de deter Saddam e, consequentemente, de apoiar a política americana. Os pusilânimes de Paris e Berlim estão cada vez mais sozinhos. PM
O VALOR DA RAÇA: Não deixa de ser impressionante a quantidade de e-mails que a Coluna tem recebido (colunainfame@hotmail.com). Primeira impressão: temos leitores cultos, combativos e, mais importante ainda, perfeitamente isolados num país onde o pensamento politicamente correcto se instalou com particular violência. Prometemos ler tudo e responder a (quase) tudo. No fundo, no fundo, esta Coluna é vossa.
ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA: O inefável Saramago, sobre quem é inútil dissertar, acha que a investigação espacial é uma perfeita «inutilidade». As frases do senhor arrepiam, sobretudo se as colocarmos no contexto devido: o acidente dramático do Columbia. Aquilo que repugna não é apenas a profunda indiferença do cavalheiro à vida humana - indiferença perfeitamente compatível com o estalinista que Saramago sempre foi (recordar 1975). Aquilo que repugna, e repugna profundamente, é a visão que Saramago tem do mundo e dos homens. Para o Nobel da Literatura, não é sequer legítimo que a Humanidade, através da investigação e da ciência, procure um melhor entendimento da nossa condição, melhorando-a. Na visão arcaica de Saramago, os homens deviam ainda moer o grão à mocada e conduzir as carroças da aldeia, perfeitamente indiferentes à ciência do "imperialismo". Sim, a exacta ciência que Saramago nunca recusou quando sentiu em perigo a vista, ou a vida. JPC
VIVE LA FRANCE! Um conhecimento cursivo de história moderna permite concluir uma coisa muito simples e assaz temível: a França, desde 1789, tem contribuido decisivamente para as principais catástrofes que se abateram sobre este pobre e massacrado continente. Promoveu as campanhas napoleónicas, teve um comportamento irresponsável na Primeira Guerra, uma profunda cobardia na Segunda e uma carreira sinuosa no período de Guerra Fria. Isto, que devia fazer pensar Paris, não incomoda grandemente Jacques Chirac e o grupo de comediantes que, após as eleições, se instalou no Eliseu. Pelo contrário: a França - a exacta França que convida Mugabe com honras de Estado - alinhou com a China ao exigir mais inspecções no Iraque. Todos sabíamos que a França sofria de terríveis complexos de inferioridade e de uma patológica cegueira política. Mas faltava ainda o passo decisivo: alinhar com uma ditadura sinistra e subscrever a visão política e diplomática de Pequim. JPC
MAIL TIME: Mais algumas opiniões de leitores.

Claro que o problema, ou pelo menos um deles, é saber porque é que a direita deixou a esquerda monopolizar o bem e o bom – e um blog de esquerda pode simplesmente chamar-se «blog de esquerda», e um blog de direita é «infame». Outro problema é saber de que falamos quando falamos de «direita» e de «esquerda»: uma clivagem possível seria «conservadores» (a esquerda clássica, os sindicatos, a direita tradicionalista e nacionalista) e «progressistas» (liberais, centristas, alguma esquerda). Mas agora é tarde para aventuras semânticas. (...)

Não é agradável ouvir o Lula a defender o free-trade? Já agora: se Chirac está tão preocupado com a sorte dos iraquianos, dos zimbabweanos (suponho que é isso que o leva a convidar o Mugabe, esse símbolo – que digo eu - esse paradigma da renascença africana) porque é que não defende a abolição do PAC? Porque é que não defende a abertura dos mercados agrícolas europeus?

«Todos os jornalistas são de esquerda», dizia-me há muito anos um amigo; «mesmo os que são de direita». Temos em Portugal algumas excepções a esta regra, recentemente confirmada por uma sondagem aos jornalistas suiços (75% deles diz-se de esquerda. Na população, as percentagens invertem-se: só 25% se diz de esquerda). Mas porque diabo é que temos de comprar todos os jornais (enfim, quase todos) para os ler? Não poderiam juntar-se num só jornal? Vistas as coisas, talvez não: o que seria do meu pequeno-almoço sem a quotidiana leitura da inefável Bolinha Semiótica? Mas porque diabo é que ele escreve todos os dias e o José Manuel Fernandes não? E o Pacheco Pereira só uma vez por semana?

E já agora, porque carga d´água é que os esquerdistas continuam a acreditar que vão «contra a corrente»?


(Luís M. Serpa)

Vou começar mal, recorrendo a uma «frase feita». No vosso site sinto-me «como peixe na água». Subscrevo inteira e incondicionalmente o vosso «estatuto editorial». Sou um fã de longa data do Andrew Sullivan (...) [seguem-se elogios]. Defino-me como uma conservador-liberal ou um liberal-conservador (não me peçam para explicar; apenas digo que o Oakeshott e o Berlin são muito cá de casa...) Mas, francamente, não gostei da vossa resposta a uma leitora (não conheço o teor da sua missiva), com referências a Derrida, misturadas com Wittgenstein. Já agora, porque não juntar-lhe Foucault ou Saussure? Ou Mallarmé? (...) O Wittgenstein ainda vá que não vá, agora Derrida? Como conservador, com costela liberal, acho que quem admira Oakeshott, Nozick, Hayek, Berlin, Kekes, Von Mises ou Aron (estou a mistura tudo deliberadamente) não pode fazer uso do pós-modernismo e desconstrutivismo de inspiração Derridiana ou Foucaultiana para se «safar» a uma crítica. Vá lá, meus caros, «you can do better than that...». Seria bom não voltar a usar nomes que, na minha modesta opinião, se podem inscrever na categoria criada por Hitchens (o Chris, não o Peter): «Electric Chair of Philosophy at the École Abnormale»... (...) Um grande abraço e parabéns pelo Blog (e, já agora, o que é um blog?).

(Carlos do Carmo Carapinha)

Parece-me de todo incrível que num país dito democrático (assim como na UE), se faça tamanho alarido por alguns governantes de alguns países demonstrarem a sua posição face ao cada vez mais inevitavél conflito com o Iraque. Estarei eu a ficar torpe ou não defenderam a Alemanha e França (assim como os fantasmagóricos signatários da Carta para a Paz) a sua posição de reclamação de tempo indeterminado para se encontrar uma solução pacífica para o Iraque? Não vivemos nós no pleno exercício da democracia? Ou esta só é válida quando objecto percursor da vontade de alguns? (...) Creio que desde há muito a nossa presença de espirito nacional se pode traduzir numa falta de vontade lacónica e num marasmo espásmico de seguidismo do pseudo-humanismo-de-esquerda. Nunca se poderá encontrar no sentimentalismo barato da igualdade a solução para o progresso e o desenvolvimento (cujo advento final é o bem estar geral). Tem o governo actual a vontade de operar modificações com o intuíto de melhorarmos a nossa perspectiva futura (...). A dicotomia direita / esquerda (e aqui só considero os bloquistas por achar o PCP um altar idealista de tempos idos, cuja existência apenas se deveu ao regime politico vivido à época), não faz sentido quando operada num país de tradicional falta de tempero (...). Estamos mesmo condicionados a não sair da mediania, a extrapolar conceitos, por isso me congratulo com os vossos blogs (o vosso e o da esquerda, embora ainda os ache demasiado étereos...). Espero que continuem a dar que falar na imprensa

(Ester Andrade)

Só duas breves respostas, ao leitor Carlos Carapinha: um blog é um «web log» (diário da net), site de comentários, desabafos, citações, links, etc. Quanto ao Derrida: é evidente que não se trata de um autor «muito cá de casa», mas foi para não citarmos apenas os nossos mestres. Além do mais, a direita lê a esquerda, e o inverso nem sempre é verdade. De resto, o Chomsky, por exemplo, sempre que fala do que sabe (linguística) é um autor conservador. PM
MARCHAR, MARCHAR: Dia 15 de Fevereiro é Dia Internacional da Esquerda de Passeata, como dizia Nelson Rodrigues. Contra a guerra vão marchar, em todo o mundo (isto é, naquelas partes do mundo onde há liberdade de expressão, isto é, nos países ocidentais). Como gostamos de sardinhadas, a Coluna vai nesse sábado funcionar, trazendo aqui testemunho de mestrandos, artistas plásticos, sindicalistas, padres canhotos, travestis, apresentadores de tv, raparigas realmente feias, saudosistas do Maio, notáveis romancistas, fumadores de charros e amigos da Humanidade. Vai ser a apoteose da Esquerda Passeante. Vamos estar atentos aos seus slogans, cartazes e outros indicadores. Como gostamos de os ver passear... PM
REFERENDO NA MADEIRA: Vicente Jorge Silva tem razão, sempre era uma maneira de acabar com a retórica separatista-chantagista do Dr. Jardim. Mas um referendo deve ter um motivo substancial, e esse é não é um motivo subtancial. Tão simples como isso. PM
REGRAS DO JOGO: Se os membros do PC aceitam o voto de braço no ar, o centralismo democrático e essa tralha toda, que tem o PSD, ou seja quem for, de vir a impôr-lhes um funcionamento diferente? Coisa diferente é a manutenção de partidos-fantasma, que só utilizam os tempos de antena ou que nem sequer se apresentam a sufrágio, que têm menos votos do que assinaturas fundadoras, etc. A pluralidade de opiniões deve ser preservada. Mas que sector da opinião representam o POUS, o PSN, o PDA, e assim por diante? A interferência e a indiferença são pecados irmãos. Corrija-se por lei a democracia, mas sem ser mais papista que o Papa. PM

quarta-feira, fevereiro 05, 2003

MAIL: Continuamos espantados com a afluência de mails. Vamos discutir entre nós a política editorial quanto ao correio, nomeadamente as citações e as respostas. O que vai passar por um melhoramento gráfico do site, para o qual já se ofereceu um leitor (maravilha fatal da nossa idade). Estejam atentos. Keep on blogging, keep on writing. PM
AND NOW, FOR SOMETHING COMPLETELY DIFFERENT: Somos contra a rotatividade aos saltos dos deputados do Bloco. Mas será que preferíamos mesmo Miguel Portas a Joana Amaral Dias?
RUMORES: Se metade, ou um terço, dos nomes que se ouvem nas redacções dos jornais tiverem de facto alguma ligação aos casos de pedofilia, Portugal atingiu o mais baixo patamar do nojo. Os Ballets Rose estão bem vingados. PM
INFORMAÇÕES DISPENSÁVEIS: A notícia de que a Polícia Judiciária está a esvaziar celas para acolher os senhores que se seguem no processo da Casa Pia. PL

DURÃO E A EXTREMA-ESQUERDA: Na sua recente conversa com Berlusconi, Durão Barroso afirmou, segundo os jornais, que quem não é de extrema-esquerda aos 18 anos, não tem coração, e quem é aos 40, não tem juízo. Eu, que aos 18 anos não de era de extrema-esquerda, e não tenho ainda 40 anos, fiquei trémulo de dúvidas. Faltar-me-ia coração na idade da pubescência? E o que me acontecerá quando dobrar os 40? E já agora: como fica aos 40 uma pessoa que foi de extrema-esquerda aos 18? É que, olhando para os que foram de extrema-esquerda aos 18 (José Manuel Fernandes, Pacheco Pereira, Durão Barroso), não se poderá dizer que, quanto mais de extrema-esquerda aos 18, mais de direita aos 40? PL

SCRUTON SOBRE O CONSERVADORISMO: Os nossos leitores que se declararam adeptos de Oakeshott, Berlin, Strauss e outra gente boa, leiam este texto de Roger Scruton. PL
SOLUÇÃO FINAL: De Leonardo Ralha, jornalista d' O Independente (e também romancista) recebemos o seguinte: Envio-vos um pensamento ocioso que me assaltou após ouvir logo pela manhã mais uns quantos «defensores do Direito Internacional» na rádio: será que Hans Blix e a sua equipa de inspectores conseguiriam descobrir provas conclusivas da Solução Final caso fossem hóspedes de Hitler no início de 1942? Caro Leonardo: como sabe, alguns destes defensores do «Direito Internacional» acham que não existiu nenhuma Solução Final ou, se existiu, que não teve assim tanta importância. PM
SADDAMIZADOS: A eurodeputada comunista Ilda Figueiredo esteve, com cgtp's e outros amigos da Humanidade, em Bagdad. Aos microfones da TSF declarou que o Iraque não é um estado tão policial como dizem. E o guia oficial sorriu. PM
CHAMA-ME TARZAN: O mesmo leitor também me acusa de ser - fazia três semanas que não ouvia esta - «arrogante». Pois é, quando a gente não se agacha custa-vos mais, não custa? PM
CRY WOOLF: Acabo de receber um mail de um leitor. Para além de denunciar uma gralha minutos após ter sido «postada» (obrigado), chama-nos «jovens lobos de direita», e detecta a influência de VPV. My, my, só elogios... PM
DOS LEITORES: Publicamos aqui, em versões editadas, algumas opiniões dos nossos leitores.

Se os critérios de alinhamento ideológico se desvaneceram, como se lê na crónica de Prado Coelho no PÚBLICO, porque é que persistem, apesar dos exemplos que abundam de Mexia e outros, em teimar, redutoramente, corresponder a direita a ideias ou posições liberais, economicistas e tecnocráticas, no sentido canhestro que se denota ? O que é que essa esquerda pensa que tem na barriga ? (Ruy Rey)

Venho por este meio felicitar alguém pelo primeiro rasgo de lucidez que tenho visto nos últimos anos. Vivendo em Portugal, um país de pseudo-intelectuais de esquerda, sentia um grande vazio quando tentava encontrar uma contra corrente... Diziam-me tratar-se de um complexo de Antes-25-de-Abril (daí todo o appareil intelectual virado à esquerda), mas por amor de Deus... Não há complexo que um bom freudiano não dê cabo. Por isso venho agradecer o vosso bom senso e coragem para remar contra o establishment. Tenho tido várias discussões (e confesso que algumas já bem «regadas», o que a maior parte dos «Chicos de moda» crê imperdoável) mas a falta de consistência das opiniões de esquerda deixa-me perplexa. Devo confessar que as minhas relações com o PCP nunca foram das mais brilhantes (quase fui considerada persona non grata no PCP do Porto aquando de um trabalho que fazia na faculdade sobre partidos politicos, só porque perguntei porque não tinha Marx considerado que seria contrário ao engenho humano a prevista ruptura de stocks devido à extrema produtividade por ele sancionada...), mas fui educada a tentar ver os pontos dos outros. No entanto, devo afirmar que as ideias de esquerda são demasiado vagas e etéreas para que se possam considerar de todo viáveis. Afirmo sempre que o problema é que assentam em pressupostos incorrectos ao considerar todos os Homens iguais (como venho e sou de uma vasta família, tenho demasidos exemplos de como colocar todos no mesmo plano seria contrário mesmo à vontade de cada um). Mas enfim, ainda bem que se encontram tão boas considerações em tão poucas linhas. Espero que continuem assim por muito mais tempo. (Ester Andrade)

Acho incrível que o lado esquerdista se preocupe tanto com o resultado das eleições em Israel. Será que eles não se habituam a que em democracia o que vale é a vontade do povo e não a direcção de alguns iluminados que sem qualquer presunção sabem o que é melhor para todos? Porque é que não têm coragem de exigir que se faça o mesmo nos ditos países socialistas (ou será que teriamos o mesmo discurso de um já avançado comunista aquando da cimeira em Sevilha que dizia incrédulo que se havia tão pouco apoio popular era porque o povo não sabia o que era melhor para ele...). Como podem elogiar a posição de um Chirac face à guerra no Iraque quando não tem outros motivos que os acordos petroliferos (basta ver porque é que o PM Eduardo dos Santos tem um castelo no sul de França para a reforma...). Basta de tentarem tapar a realidade com sonhos de igualdade (esta é contrária ao próprio género humano, somos todos diferentes); porque é que não aceitam que somos seres racionais e que temos de pensar e tomar as decisões que achamos melhor? Mas as mesmas têm de partir de nós. (Ester Andrade, Prémio Leitora mais Assídua).

A Coluna, começando bem, está a melhorar e a aguçar o sentido de humor. As polémicas com o Blog de Esquerda, para além do aspecto cómico, avivam imenso a discussão, e conferem um dinamismo diferente ao blog. Quanto aos colunistas (...) [seguem-se elogios]. Continuem, pois vale a pena ler A Coluna (quem disse que a direita não pensa?). (Nuno Estevens)

terça-feira, fevereiro 04, 2003

CAROS INFAMES: O nosso mail já vibra, como um gato em transes de mimo e preguiça. Prometemos responder a todas as cartas mais pessoais - pelo menos as que tenham mais de uma linha e não incluam referências às nossas mães - e publicar algumas contribuições. Mas lembrem-se que este blog é apenas uma devoção, roubada a outras tarefas, e nem sempre sobre tempo para tudo. Mas aos fins-de-semana, quando não escrevemos «posts», será «mail-time». Vale a pena, no entanto, adiantar um comentário geral aos mails: há por aí bastante gente, que não conhecemos e que provavelmente não se conhece, que tem resistido bravamente a décadas de lavagem ao cérebro e condicionamento mental. Como diz o outro: porfiai. PM
JCM: Entre os vários testemunhos sobre a morte de João César Monteiro, gostava de salientar o de Teresa Villaverde, que classificou JCM como «o mais livre dos cineastas». É inteiramente justo, e muito mais pertinente do que lhe chamar «polémico», «provocatório» ou salientar, em trinta anos de obra, um «eu quero que os espectadores se fodam», dito na televisão. O grande equívoco do discurso palerma sobre JCM foi o de supôr que uma personalidade artística se deve avaliar por uma personalidade humana. E com esse surge o segundo erro: o de definir uma arte por referência ao seu público. Em primeiro lugar, é importante dizer que um artista vale pelas obras, não por ser perfeito ou disforme, polido ou intratável, branco ou vermelho. Se a confusão ideológica é grave, a confusão entre o homem (comum) que é o artista e a sua arte é criminosa. No futuro, ninguém quer saber disso. O que fica é a arte, isto é, o trabalho. E por isso não se pode amarrar o juízo de uma obra à sua recepção, e se isso é verdade para a recepção crítica, o que dizer da recepção do público, essa entidade imprecisa e ditadora. A obra de João César Monteira ficará como um dos pontos mais altos do cinema português porque sempre seguiu uma «moral» que foi teorizada, há algumas décadas, por André Breton: a beleza será convulsiva. César Monteiro era um esteta, mas sem a amabilidade que esta expressão sugere; pelo contrário, havia nele um enraizamento em tudo o que na vida era real, sujo, aderente, palpável, viscoso, inóspito. O abjeccionismo misturado com o lirismo, Holderlin e Quim Barreiros, também a ilustrar um povo pouca coisa, mas que não abdica dos seus pequenos sonhos de bairro, do cigarro, da queca a trouxe-mouxe, de um nadinha de música para alegrar ou entristecer a alma. César Monteiro era também um mestre da língua: não conheço nenhum filme (e poucos livros) que se deliciem na língua portuguesa como A Comédia de Deus: provérbios, frases-feitas, pregões, anedotas, bordões, e o palavrão do qual tinha, como poucos, a arte. Também não conheço muitas cenas como, nesse mesmo filme, a rapariga a prender o cabelo, ao espelho, ou a rapariga a ler o soneto de Camões na casa-de-banho, uma beleza que só encontrei em Bresson. E a música, como podia ser aquilo que o pintam quem ouvia - e amorosamente escolhia para os seus filmes - aquela música, de Mozart a Monteverdi. E Lisboa, como não existe em nenhum outro filme. E, finalmente, a coragem quase pornográfica de se expôr, não apenas criar uma «persona» (João de Deus), mas de fazer de si mesmo o palco de um filme, como só Allen ou Moretti, e nenhum deles tão radicalmente. À Flor do Mar continua a ser o meu filme português preferido, e dos outras obras (tirando as curtas e as duas primeiras longas, que não conheço) como esquecer a pureza de Silvestre ou o Murnau no Pátio das Cantigas de Recordações da Casa Amarela? Não gosto de O Último Mergulho (que tem, ainda assim, momentos admiráveis), e Le Bassin de J.W. é uma hipótese de filme, ou de vários filmes. Mas vi (sim, vi) Branca de Neve, a belíssima e tristíssima desconstrução do amor romântico de Walser, isto é, de César. Nunca como nesse filme me vi quase sozinho contra todos os filisteus, os ignorantes, os burgueses tontos com quem discuti. Nunca como nesse filme foi para mim claro que a arte é, de certo modo, para os artistas, e o resto são criaturas estatísticas e embrutecidas. Lembro-me de ver algumas vezes César Monteiro: numa esplanada, na Cinemateca, numa livraria vestido de sobretudo no pino do Verão. Lembro-me quando, há um ano atrás, me disseram que não tinha muito mais tempo de vida, da revolta por morrerem os que fazem falta, enquanto os idiotas das bilheteiras andam por aí. Lembro-me de ter escrito, aqui para este blog, um texto a defender Branca de Neve quando a RTP teve a coragem de o passar. João César Monteiro era um admirável cineasta, um brilhante escritor, o mais brutal dos sofredores e o mais terno dos violentos. Quando dizemos que estamos mais «pobres», não sabemos o que dizemos. Mas desta vez, sei bem, ó tão bem, o que quero dizer com isso. PM
A FEIRA PARLAMENTAR: A notícia do último Independente sobre o subsídio de reintegração recebido por ex-deputados é, para sermos simples, vergonhosa (alguns ex-parlamentares chegaram a receber 50 mil euros). Lembra-nos o Nelson Rodrigues - «às vezes o mais difícil é ver o óbvio». O óbvio é que se não há profissionais da política, não tem de haver prebendas e subsídios de reintegração. Muitos dos galardoados, de resto, nunca deixaram totalmente as suas actividades profissionais para se dedicarem à política. PL
LIFE IS A CABARET, MY DEAR: Um mail negativo, enfim. Uma leitora diz que praticamos a «viliteracia», i.e., a interpretação deliberadamente distorcida das palavras dos outros. Mas será que existe um sentido autêntico das palavras, não-interpretável? Freud, Wittgenstein, Derrida e outros acham que não. O mundo - e por maioria de razão o discurso - é matéria de interpretação. É disso que se faz a crítica (literária, por exemplo) e a política. Que a leitora acredite sempre na versão prima facie das palavras só nos leva a temer que a sua vida seja um desastre. Quanto à sua outra observação, a de que somos o Cabaret da Coxa da política, bem, nesta altura sermos falados já cumpre o objectivo. Mas não se iluda: o que nós queremos vir a ser é o Brideshead Revisited. PM
JCM: Um método infalível para distinguir autores que importam dos outros: a incapacidade demonstrada pela «comunicação social» de produzir um discurso minimamente articulado. Dados biográficos, banalidades, clichés. Ah, é tão mais fácil falar dos «escândalos»... PM
O EIXO: Schroeder tem as mais baixas sondagens do pós-guerra na Alemanha, e agora sofreu uma pesada derrota. Chirac ganhou as presidenciais contra um candidato de extrema-direita e tem a justiça à perna. «Velha Europa»? Velhíssima. PM
JCM IN MEMORIAM: Temos sete ou oito artistas que nos redimem da nossa miséria cultural. Agora, perdemos um dos maiores. PM

segunda-feira, fevereiro 03, 2003

OCCHI AZURRI: Os PC's são uma raça surpreendente, e às vezes de uma tonteria antológica. No Expresso (que infelizmente já só se pode aceder na net pagantibus) o novo reitor da Universidade de Coimbra responde que ser comunista não teve influência nenhuma na sua eleição, que é um facto neutro como «ter olhos azuis». É de supor que não votaria no entanto em alguém que tivesse os olhos, digamos, castanhos. PM
PEDOFILIA: Não damos opiniões sobre processos judiciais. As polícias e os tribunais que façam o seu papel. Não criticamos a solidariedade de amigos e familiares; é uma atitude compreensível e positiva. Mas, por favor, as pessoas em situação mais lúcida não nos venham flaar em «bons pais», «bons maridos», «pilares da comunidade». Essa é a matéria de que são feitos muitos pedófilos, assassinos em série, monstros da vida quotidiana ou das barbáries políticas. Por amor de Deus, leiam Hannah Arendt. PM
MAIS QUATRO PARA O PNR: Esclarecedoras as declarações dos quatro «monteiristas» que se desfiliaram do PP. Jorge Ferreira, por exemplo, critica o facto de o partido se ter integrado no «sistema». Temo que se esteja a referir à democracia. PM
CROCODILOS: A seguir ao 11 de Setembro, alguns ocidentais ficaram chocados com a festa na rua de alguns árabes. Mas isso não teve nada de anormal, sabemos do que a casa gasta (v. a actual satisfação com a queda do vaivém Columbia). Ver, na altura e ainda hoje, senhoras e senhores do Bloco ou do PC fingir, de olhos enxutos, que o 11 de Setembro os chocou, isso sim, é repugnante. PM
DITADURAS: É evidente que a boa prestação de Durão Barroso sobre a guerra teve também os seus lados menos felizes: uma certa falta de coragem para afirmar a verdadeira posição de Portugal em caso de guerra declarada e a profissão de fé contra as ditaduras (ser contra as ditaduras não significa que se vá atacar todas militarmente, como é óbvio). Mas fica um facto: um homem de direita pode afirmar, em 2003, que é contra todas as ditaduras (aqui na Coluna não nos lembramos de uma só que escape); mas quantos homens de esquerda seriam capazes de se afirmar, em 2003, contra todas as ditaduras, por exemplo, a daquele senhor de barbas e charutos? PM
SADDAMIZADOS III: A terceira menção Saddamizado do dia vai para Luís Fazenda, esse Cícero moderno. Disse o senhor deputado que o Bloco de Esquerda é contra a guerra ao Iraque com ou sem mandato das Nações Unidas. Isto distingue quem é contra a guerra por questões, discutíveis, de direito internacional, e quem é contra a guerra simplesmente porque é feita pela América, ou pelo Ocidente. Para essas luminárias, só guerras contra o Ocidente têm justificação. Saddam aprovaria. PM
SADDAMIZADOS II: A segunda menção vai para os jornalistas, entre os quais alguns portugueses, que se propõem dar-nos «o outro lado», perguntando a opinião de iraquianos anónimos, na rua. Será preciso ter um mestrado em Ciências da Comunicação para explicar aos senhores jornalistas que numa ditadura a opinião de rua a cara descoberta vale zero? Lembra aquela famosa anedota que se contava da Rússia soviética: inqueiridos por estrangeiros e jornalistas sobre as suas condições de vida, diziam os moscovitas: «Não nos podemos queixar». PM
SADDAMIZADOS: Na nova rubrica, Saddamizados, vamos fazer jus a este neologismo cunhado pela imprensa conservadora americana e entre nós já usado por Vasco Graça Moura no DN. «Saddamizados» são todos aqueles que, sendo (legitimamente) contra a guerra, escondem (ou nem escondem muito) a sua ternura pelo ditador de Bagdad. Exemplo mais recente: Tony Benn, o decano dos radicais do Labour inglês, que fez uma conferência de imprensa contra a guerra em directo da capital iraquiana. Imaginem que fazia o mesmo, mas a partir de um país que a esquerda realmente detestasse. Ó inclemência, ó martírio. O primeiro prémio Saddamizado vai para Tony Benn. Por essas e por outras é o que é outro Tony que manda no partido. PM
NOVIDADES: Já deram, com certeza, pelas novidades. Já temos links, que remetem imediatamente para blogs e sites de que gostamos e para os textos que comentamos (evitando assim longas transcrições). Também temos recebido mails, quase todos, senão todos, favoráveis, do género «até que enfim», e entraremos em diálogo. Aliás, com o entusiasmo de termos feedback, publicámos indevidamente a carta de Manuel Poças, a quem pedimos desculpa. Para facilitar, daqui em diante, e como fazem outros blogs, publicaremos excertos de mails que nos enviem e nos pareçam interessantes, pedindo aos leitores o favor de referirem no mail se não autorizarem a reprodução. Vamos evidentemente citar perguntas e contributos, e não elogios ou insultos. Entretanto, quase todos os mails referiam a questão da assinatura. A unanimidade de opiniões (contra) fez-nos pensar. Mas quando um leitor disse que parecíamos o Gollum do Senhor dos Anéis, a falar no plural, ficámos K.O. Novas regras, portanto: quando se tratar da Coluna como um todo (funcionamento do siute, etc), utilizaremos o plural, mesmo que o texto seja assinado, mas nas entradas diárias o autor usará o singular e identifica-se com as iniciais (JPC, PL e PM). Obrigado pelas opiniões. Não caíram em saco roto. Entretanto, a Coluna foi mais uma vez referida na imprensa, desta vez na rubrica de Isabel Coutinho, no Mil Folhas. Gostámos de ver que a Isabel se diverte (embora divertir seja aqui mais uma estratégia que um conteúdo), e que não acha que a honra das donzelas está em perigo com estes cripto-fascistas. Passe cá as suas noites sempre que quiser, Isabel. É muito bem-vinda. PM
O BLOCO E OS REIS MAGOS: Há um livro do historiador francês Lucien Jaume (Le discours jacobin et la democratie) que qualquer frenético bloquista devia ler (o nosso amigo Manuel do Blog de Esquerda pode comprá-lo em Paris sem dificuldade). O que era a democracia para os jacobinos? Era um absoluto discurso da virtude colectiva e da democracia totalitária. Como os homens desaparecem mas as ideias não, o Bloco de Esquerda é o melhor representante desta tradição política. Ouvimo-lo no sábado anunciar uma moção de censura ao Governo por causa da guerra contra o Iraque. O Bloco é livre de fazer o que quiser e ninguém esperaria outra coisa de tão extremosos pacifistas. Mas havia um detalhe significativo naquele anúncio que não escapa: o Bloco censurará o Governo haja ou não aprovação da intervenção pelas Nações Unidas. O Bloco rejeita a guerra mas rejeita também as Nações Unidas. Ou seja, o Bloco rejeita tudo o que não é igual a ele (ai, ai Robespierre). E, fiando-se numa impalpável reprovação popular do conflito, vai ameaçando com o varapau da moção de censura. O problema do Bloco é intelectual: nunca admite a possibilidade de não ter razão. O seu gosto em moralizar a política é tão grande que quem não pensa como é eles é, fatalmente, um bárbaro, um irracional ou um desonesto. É por isso que apreciamos a existência do Bloco. Eles são um pouco como os reis magos. Perseguem incansavelmente a luz. PL
NOVOS RENOVADORES: Aconteceu o que já se esperava: os monteiristas vão sair em grupo do CDS. Continuam «a acreditar nas mesmas ideias e nos mesmos valores» (o que quer isto dizer?) mas, não só detestam Portas, como são críticos de uma presença protocolar e acomodada do CDS no Governo. Monteiro não põe de parte a ideia de criar um partido novo (o nome é ainda sigiloso mas aqui na Coluna já lhe demos várias sugestões com interesse) e é possível que esta saída se destine a isso mesmo. Lições da História? Para sermos francos, nenhuma. Há um grupúsculo de personalidades que resolve abandonar um partido porque não consegue convencer os seus militantes. Há um clube de amigos que, estranhamente, se dá mal com a militância partidária, a não ser quando se encontra na liderança. E há uma simples pergunta que nunca foi respondida devidamente: o que seria o CDS de Monteiro no Governo? Uma superficial análise das suas intervenções públicas mais ou menos recentes (a imprensa costuma solicitar avidamente os seus serviços) leva-nos ao vácuo e à irrelevância (por exemplo, as propostas de Monteiro para a revisão constitucional). A saída dos monteiristas não tem por isso qualquer significado. É o fim de um grupo que foi um dia juvenil mas não se deu bem com a maioridade. PL