terça-feira, junho 10, 2003

A Coluna Infame termina aqui a sua jornada. Começámos em Outubro de 2002, fascinados pelo fenómeno blogger, e convencidos de que era útil travar deste modo novo o combate cultural contra a hegemonia intelectual da esquerda. Desde essa data, o número de blogs mais que duplicou, e muitos deles defendem os mesmos valores que nós. Facto inédito, a «não-esquerda» domina mesmo a blogosfera portuguesa. Paralelamente, cresceu o interesse dos media por este fenómeno. Para além de uma pequena legião de talentos anónimos, cultos e inteligentes, os blogs começaram também a atrair figuras públicas. A blogosfera (política em particular) passou a ser um assunto de conversa. Estamos reconhecidos a todos os que se referiram à Coluna como um blog de referência, e, evidentemente, aos muitos que nos leram e escreveram. Despedimo-nos com um registo de cerca de 80.000 pageviews, o que era para nós impensável há apenas nove meses. Por aqui passaram também as artes e as letras, as observações quotidianas, os fascínios e embirrações. E, claro, uma boa dose de polémica. Esta última foi, porém, longe demais, e não nos eximimos das nossas culpas nessa matéria. Depois dos acontecimentos recentes que levaram à cisão conhecida, entenderam os dois outros autores ser inviável prosseguir, tendo em conta os conflitos gerados, a acrimónia, e o próprio feedback negativo que recebemos. Obrigado a todos os que fizeram, de um modo ou de outro, esta Coluna, incluindo os nossos adversários (mas não inimigos). Globalmente, saímos com a noção de que fizemos o nosso melhor, mesmo com os erros inevitavelmente cometidos. Não faltam, felizmente, blogs de qualidade. Naveguem e descubram-nos. Nós continuaremos atentos à blogosfera.

A Coluna Infame

segunda-feira, junho 09, 2003

ÁGUA NA FERVURA: Amigos, nestes dias desagradáveis embora não necessariamente traumáticos, quero agradecer em meu nome e em nome da Coluna os mails de apoio e incentivo que temos recebido no nosso correio. A Coluna Infame está suspensa, conforme o Pedro Mexia já avisou. Vamos pensar agora no futuro, com lucidez, cabeça fria e sem complexos. As hipóteses estão todas em aberto. Vamos ponderar. Não escondo que o que se passou abriu uma ferida. Mas a epopeia acabou e, pelo menos da minha parte, a vontade de continuar é grande. E outra coisa: a lealdade e a integridade, meus amigos, vêem-se em coisas mais importantes do que os blogs. Não dramatizem e não julguem em demasia. Não estou a dizer que tudo foi exemplarmente feito. Não foi. (Assim se vive e assim se cresce). Mas sejamos razoáveis e clarividentes com tudo o que se passou. Mudemos de página. Entretanto, leiam o meupipi para desopilar. Eu vou aproveitar para saber o que se tem passado no Fórum Social Português. Até já. PL
CAROS AMIGOS: A política não é a coisa mais importante do mundo. Nem os blogs. Ao contrário do que escrevi no meu último post, e devido a dados novos, a minha participação na Coluna está suspensa. E a própria manutenção da Coluna será repensada nos próximos dias. Assim que houver decisões, os nossos leitores serão informados. Há outros (excelentes) blogs para ler: vão por exemplo aos links dos Marretas e escolham. Obrigado. PM

domingo, junho 08, 2003

FIM-DE-CONVERSA: Foi um fim-de-semana aziago para a Coluna Infame e, para encerramento de conversa, para sairmos desta queda, tenho umas notas soltas que quero deixar aqui:

1. Sobre o João Pereira Coutinho. Perder o João é uma grande tristeza para a Coluna Infame. Vamos sentir muito a falta dele. O João é um amigo, um cronista de grande talento, com uma capacidade de escrita avassaladora, um magnífico estilista que muito admiro. Sem ele, a Coluna fica seguramente mais pobre. Podemos pensar que as coisas podiam ter sido de outra forma porque as coisas podem ser sempre de outra forma. Se o Daniel não tivesse feito aquela provocação barata, se o João não tivesse perdido a cabeça, se eu e o PM não tivéssemos reagido, precipitando a saída dele...Mas não adianta pensar nisso agora. Todos fizémos o que achámos que deveríamos fazer. Temos de seguir em frente. A hora é para continuar, não para remoer doentiamente em chão mais do que pisado. Vamos continuar. Mesmo que mais pequenos e mais solitários.

2. Sobre a amizade. Não discuto e, muito menos, desfaço amizades em meios públicos ou semi-públicos como este. Não é o meu estilo. Acredito que as coisas mais importantes das nossas vidas pedem vergonha, recato, timidez. Ontem, registámos com tristeza que a Coluna Infame teve mais de 800 visitas e quase 1200 page views. Quanto mais popular se torna a blogosfera, mais idiotas inúteis atrai. Sabendo que este blog estava em chamas, uma horda de pirómanos resolveu vir cá pela primeira vez para ver o fogo. Sobre a amizade que tenho com o JPC, não direi uma palavra neste blog. Já falámos, como duas pessoas no meio das quais se intrometeu um comboio em marcha. Quero apenas dizer que até uma coisa tão bela como a amizade nos obriga, por vezes, a posições desconfortáveis. Para citar uma coisa que o João escreveu recentemente: «amigos sinceros são inimigos sinceros». É essa sinceridade que faz da amizade uma experiência pura e virtuosa. Tudo o que eu penso sobre esta assunto está num livro do Andrew Sullivan «Love Undetectable» cuja leitura aproveito para recomendar.

3. Sobre o Daniel Oliveira. Conheço o Daniel há pouco tempo. Tivémos algumas conversas. O Daniel encontra-se numa área ideológica que não é a minha e exibe, com frequência, alguns dos piores tiques intelectuais dessa área. Mas há exemplares bem mais primários no grémio bloquista a que o Daniel pertence. Eu fui também visado no post do Daniel que provocou toda esta polémica. Disse o Daniel que eu «gosto de conviver». Digo-vos que esta piada sem jeito e sem sucesso me passou ao lado. Nem sei se era um insulto. Porque a verdade é um pouco essa: escrevo nos blogs, neste blog, para me divertir. Se o jornalismo já me parece uma corrida de 100 metros ao pé do fundismo exigente dos livros, que pessoalmente, mais aprecio, os blogs são apenas uma brincadeira. Não exageremos a sua importância. Não coçemos tanto a borbulha.

4. Sobre a extrema-direita. Na esquerda onde o Daniel passeia politicamente, é muito comum colocar um adversário na extrema-direita. Sim, as palavras têm peso, têm significado. Mas pergunto-me se há ali mesmo palavras? Quando bloquistas e comunistas usam a palavra 'fascismo', 'extrema-direita', não estão a usar palavras. Na boca de toda esta gente, como no poema de Sophia, estes vocábulos transformam-se em «cuspo». Vejam: tinha 15 anos quando alguém me disse que eu era de «extrema-direita». Lembro-me bem: o Baptista Bastos visitou o meu liceu e eu ataquei-o injustamente, infantilmente. Ganhei uma fama de «reaccionário», «de fascista», direitista extremo. Fui ver quem eram os autores da boataria. Percebi que eram carroçeiros e criaturas com mentalidade totalitária. Não liguei muito. Tem sido assim.

5. Sobre a Coluna Infame. Como já disse, a Coluna vai continuar. Sem o estilo inconfundível do João. Continuará comigo e com o Pedro Mexia. Continuará com quem quiser associar-se a este blog de ideias e polémica. João, um abraço. Aos nossos leitores, adiante. PL
NOTA PESSOAL: Não é segredo para ninguém que a Coluna está a atravessar uma crise, a primeira em nove meses de existência. Uma crise séria, que gerou imensas e divergentes reacções noutros blogs e em mails. Este é evidentemente um momento triste para nós. Mas a verdade é que cada um dos três participantes da Coluna escreveu o que achou por bem, assumindo as consequências dos respectivos posts, e não altera o que escreveu. Somos todos adultos, e os adultos responsabilizam-se pelos seus actos. A crispação na blogosfera (na qual eu não sou, como é óbvio, inocente) traz em si mesma a semente da sua destruição. Lamento sinceramente a saída do JPC deste blog, embora no post anterior o João tenha sugerido a criação do seu próprio blog, o que sempre é um consolo para os nossos leitores que muito justamente o apreciam. E sobre este caso, nada mais. Peço que entendam: não vamos responder a todos os mails e blogs que põem o caso em termos de psicodrama pessoal. A divergência foi editorial, e pela minha parte não passa disso. Outras questões são do plano estritamente pessoal. E as amizades não se discutem em público. A Coluna prossegue dentro de momentos. Obrigado. PM