FIM-DE-CONVERSA: Foi um fim-de-semana aziago para a Coluna Infame e, para encerramento de conversa, para sairmos desta queda, tenho umas notas soltas que quero deixar aqui:
1. Sobre o João Pereira Coutinho. Perder o João é uma grande tristeza para a Coluna Infame. Vamos sentir muito a falta dele. O João é um amigo, um cronista de grande talento, com uma capacidade de escrita avassaladora, um magnífico estilista que muito admiro. Sem ele, a Coluna fica seguramente mais pobre. Podemos pensar que as coisas podiam ter sido de outra forma porque as coisas podem ser sempre de outra forma. Se o Daniel não tivesse feito aquela provocação barata, se o João não tivesse perdido a cabeça, se eu e o PM não tivéssemos reagido, precipitando a saída dele...Mas não adianta pensar nisso agora. Todos fizémos o que achámos que deveríamos fazer. Temos de seguir em frente. A hora é para continuar, não para remoer doentiamente em chão mais do que pisado. Vamos continuar. Mesmo que mais pequenos e mais solitários.
2. Sobre a amizade. Não discuto e, muito menos, desfaço amizades em meios públicos ou semi-públicos como este. Não é o meu estilo. Acredito que as coisas mais importantes das nossas vidas pedem vergonha, recato, timidez. Ontem, registámos com tristeza que a Coluna Infame teve mais de 800 visitas e quase 1200 page views. Quanto mais popular se torna a blogosfera, mais idiotas inúteis atrai. Sabendo que este blog estava em chamas, uma horda de pirómanos resolveu vir cá pela primeira vez para ver o fogo. Sobre a amizade que tenho com o JPC, não direi uma palavra neste blog. Já falámos, como duas pessoas no meio das quais se intrometeu um comboio em marcha. Quero apenas dizer que até uma coisa tão bela como a amizade nos obriga, por vezes, a posições desconfortáveis. Para citar uma coisa que o João escreveu recentemente: «amigos sinceros são inimigos sinceros». É essa sinceridade que faz da amizade uma experiência pura e virtuosa. Tudo o que eu penso sobre esta assunto está num livro do Andrew Sullivan «Love Undetectable» cuja leitura aproveito para recomendar.
3. Sobre o Daniel Oliveira. Conheço o Daniel há pouco tempo. Tivémos algumas conversas. O Daniel encontra-se numa área ideológica que não é a minha e exibe, com frequência, alguns dos piores tiques intelectuais dessa área. Mas há exemplares bem mais primários no grémio bloquista a que o Daniel pertence. Eu fui também visado no post do Daniel que provocou toda esta polémica. Disse o Daniel que eu «gosto de conviver». Digo-vos que esta piada sem jeito e sem sucesso me passou ao lado. Nem sei se era um insulto. Porque a verdade é um pouco essa: escrevo nos blogs, neste blog, para me divertir. Se o jornalismo já me parece uma corrida de 100 metros ao pé do fundismo exigente dos livros, que pessoalmente, mais aprecio, os blogs são apenas uma brincadeira. Não exageremos a sua importância. Não coçemos tanto a borbulha.
4. Sobre a extrema-direita. Na esquerda onde o Daniel passeia politicamente, é muito comum colocar um adversário na extrema-direita. Sim, as palavras têm peso, têm significado. Mas pergunto-me se há ali mesmo palavras? Quando bloquistas e comunistas usam a palavra 'fascismo', 'extrema-direita', não estão a usar palavras. Na boca de toda esta gente, como no poema de Sophia, estes vocábulos transformam-se em «cuspo». Vejam: tinha 15 anos quando alguém me disse que eu era de «extrema-direita». Lembro-me bem: o Baptista Bastos visitou o meu liceu e eu ataquei-o injustamente, infantilmente. Ganhei uma fama de «reaccionário», «de fascista», direitista extremo. Fui ver quem eram os autores da boataria. Percebi que eram carroçeiros e criaturas com mentalidade totalitária. Não liguei muito. Tem sido assim.
5. Sobre a Coluna Infame. Como já disse, a Coluna vai continuar. Sem o estilo inconfundível do João. Continuará comigo e com o Pedro Mexia. Continuará com quem quiser associar-se a este blog de ideias e polémica. João, um abraço. Aos nossos leitores, adiante. PL