sábado, maio 24, 2003
MEU AMIGO SOCIALISTA, É MESMO VOCÊ: Gosto de proteger os meus santos e, portanto, segui com atenção o que o Ricardo foi escrevendo sobre Nelson Rodrigues. Comecei descansado. O RAP começou por admitir a excelência da prosa de Nelson Rodrigues, apesar de a achar demasiado ruidosa e contagiante. Depois, e embora não pratique, o RAP não deixou de considerar «encantador» o reaccionarismo do escritor brasileiro. Digo-vos que não esperaria outra coisa do RAP; mas eis que chegamos às acções políticas, às posições públicas de Nelson Rodrigues e o Ricardo, um aparente moderado, um profissional da ironia, desata uma busca obsessiva por tudo quanto pudesse provar a colaboração de Nelson Rodrigues com a ditadura militar brasileira. Numa súbita, feral transfiguração, o Ricardo ganhou seriedade ideológica e vasculhou muito até encontrar entrevistas a Nelson Rodrigues filho (o rebento esquerdista do dramaturgo), opiniões de académicos e excertos da biografia de Nelson Rodrigues, escrita por Ruy Castro. Resultado: Nelson Rodrigues não foi um democrata e colaborou miseravelmente com os militares brasileiros no poder. Não pretendo contrariar o RAP porque também li a biografia de Ruy Castro e sei da proximidade pessoal - mais pessoal do que política - de Nelson Rodrigues a alguns daqueles militares, principalmente Médici e Figueiredo. Só não percebo até onde o RAP quis chegar com tão persistente investigação. Quis mostrar que Nelson Rodrigues é menos credível por ter ido à bola com ditadores? Quis mostrar que Nelson contemporizava com uma ditadura, ao mesmo tempo que denunciava nas suas crónicas a colossal estupidez totalitária do eixo soviético? Quis arrasar pela base a nossa proclamada devoção ao escritor brasileiro? Confesso-vos que não percebi. Para mim, Nelson Rodrigues é uma referência literária e intelectual porque escreve como eu gostava de escrever e foi de uma implacável solidão num país intelectualmente dominado por vulgatas de baixo coturno. Se Nelson Rodrigues foi ou não amigo de ditadores fardados, é coisa que pouca me interessa. Sei - e isto também está no Ruy Castro - que Nelson Rodrigues era vigorosamente contrário a qualquer forma de desumanização política. Abominava a antipessoa. Abominava a tortura. Abominava o totalitarismo intelectual dos bem-pensantes. Não tinha partido. Não era o exemplo do intelectual arregimentado. E, muito justamente, os que falavam de Liberdade e Justiça mas, ao mesmo tempo, faziam loas à União Soviética, mereciam-lhe um categórico desprezo. Gosto tanto de Nelson Rodrigues que, quando choco com este começo: «Ah, sou um homem susceptível de violentas nostalgias», sei que estou a ler Nelson Rodrigues. Sei que é Nelson Rodrigues quando leio: «Qualquer devoção é linda. Não importa que o santo não a mereça. E mesmo que seja um santo falso». Sei que se no meio de uma crónica, encontrar: «Eis o que eu queria dizer», não tenho dúvidas que o autor é Nelson Rodrigues. Como dramaturgo, Nelson Rodrigues é de um amoralismo inteiramente contraditório com o cronista. As suas personagens ardem na demencial psicologia do seu criador. Os enredos são pecaminosos; os desfechos imprevisíveis; as torturas passionais. É um pungente e um colérico. Tem a crueza dos grandes conhecedores da fraqueza humana. «A Menina sem Estrela», o seu livro de memórias, é um dos grandes livros da literatura portuguesa do século vinte. Está aí o retrato de um homem que viveu de «paroxismo em paroxismo». Se concordássemos com tudo o que Nelson Rodrigues escreveu, seríamos os primeiros a entrar nas Carmelitas. Mas não: Nelson Rodrigues é intensamente moderno porque foi intensamente contraditório, provocador e incoerente. Precisamente: essa incoerência é má para cartilhas e cartilheiros. Mas que tem rasgos, clarões de humanismo, disso não tenham dúvidas. PL
UMA CERTEZA PELO MENOS: Sei que todos nos sentimos chocados com as inesperadas suspeitas de pedofilia que atingiram sumidades da praça. Permitam-me, amigos, uma curta declaração: existe uma pessoa que está, garanto-vos, absolutamente inocente deste crime e não conhece nenhum dos arguidos já constituídos no processo. Essa pessoa sou eu. PL
LOUCOS? Vejo o Expresso da meia-noite na SIC Notícias, um programa habitualmente vivo que me dispensa de comprar o Expresso todos os sábados. Vejo o intelectual Luís Delgado repetir, numa vozearia imensa: "os juízes estão loucos, os juízes estão loucos". O rapaz Descartes não tinha razão: o bom-senso não é a coisa mais bem distribuída do mundo. PL
E UM É PARA MIM: Numa das bancas onde compro os jornais existe, ao que parece, uma competição furiosa pelos dois únicos números da Vanity Fair que a chafarica mensalmente encomenda. Ainda há esperança para o género humano. PM
SOCIALISMO CIENTÍFICO: No que à investigação e hermenêutica diz respeito, o Ricardo aprendeu obviamente umas coisas na Soeiro Pereira Gomes. A bioigrafia de Ruy Castro, a única biografia exaustiva que se publicou sobre Nelson Rodrigues, não vale, porque, mostrando Castro simpatia por Rodrigues, trata-se de uma vil «hagiografia». Mas eis que RAP tem outra fonte, mais credível, e desta vez indesmentível: o filho de Nelson, um esquerdista radical. Ruy Castro limitou-se, durante anos, a ler tudo de e sobre Nelson, a pesquisar arquivos, a entrevistar gente, e assim por diante. Mas a sua opinião não presta. Nelsinho, ao invés, não faz nada disto, mas tem uma qualidade que Castro não possui: é um esquerdista radical. Por isso, fora Castro e vamos todos acreditar no Nelsinho. Deve ser isto o socialismo científico.
Mas a propósito, recebemos esta bela carta de uma leitora brasileira:
Nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Nelson Rodrigues não era assim nem assado. Por vezes animal mesmo, outras animal torturado ou então homem de inúmeros amores e outras tantas dores que ele mesmo procurava, fomentava, alimentava. Auto-destrutivo por excelência na criação como na vida, Nelson Rodrigues não era a preto e branco mas se alguma coisa se lhe colou, com certeza, foi a incompreensão entre pares, entre quase todos tirando seus amigos genuínos. Escrevia maravilhosamente e sua obra, notável, não foi aceite na época porque simplesmente não tinha época. Nelson assim o quis e como sofreu com essa intransigência sua e dos outros! É por isso que acho curiosa a polémica porque me parece que, tanto um como outro blog cortam Nelson aos pedaços como, de resto, sempre fizeram com ele em vida e, pelos vistos, na morte. Incondicional admiradora da obra de Nelson Rodrigues (veja só como o poder encantatório dele com as mulheres tem lastro e deixa esse rasto! considero o vosso interesse pelo meu patrício uma prova do génio desse homem meio animal meio qualquer coisa que mexe por dentro que ainda hoje dá cartas e que merece ser visto por inteiro. Sem mito. Puro e duro ‘anjo pornográfico’. Será que não dá? Pode bem ser que nunca dê. (Teresa Santo)
Cara Teresa: tem razão. Nelson era um homem contraditório, e nós aqui na Coluna já exprimimos várias vezes o nosso apreço pelas personalidades contraditórias, isto é, humanas. E também escrevemos escritor «de direita» assim entre aspas, porque nenhum escritor, se o é, se limita a ser «de direita» ou «de esquerda». Concordamos em geral com as ideias de Nelson, mas concordamos sobretudo com a sua frontalidade, o seu individualismo e o seu estilo. Obrigado pela sua carta. PM
Mas a propósito, recebemos esta bela carta de uma leitora brasileira:
Nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Nelson Rodrigues não era assim nem assado. Por vezes animal mesmo, outras animal torturado ou então homem de inúmeros amores e outras tantas dores que ele mesmo procurava, fomentava, alimentava. Auto-destrutivo por excelência na criação como na vida, Nelson Rodrigues não era a preto e branco mas se alguma coisa se lhe colou, com certeza, foi a incompreensão entre pares, entre quase todos tirando seus amigos genuínos. Escrevia maravilhosamente e sua obra, notável, não foi aceite na época porque simplesmente não tinha época. Nelson assim o quis e como sofreu com essa intransigência sua e dos outros! É por isso que acho curiosa a polémica porque me parece que, tanto um como outro blog cortam Nelson aos pedaços como, de resto, sempre fizeram com ele em vida e, pelos vistos, na morte. Incondicional admiradora da obra de Nelson Rodrigues (veja só como o poder encantatório dele com as mulheres tem lastro e deixa esse rasto! considero o vosso interesse pelo meu patrício uma prova do génio desse homem meio animal meio qualquer coisa que mexe por dentro que ainda hoje dá cartas e que merece ser visto por inteiro. Sem mito. Puro e duro ‘anjo pornográfico’. Será que não dá? Pode bem ser que nunca dê. (Teresa Santo)
Cara Teresa: tem razão. Nelson era um homem contraditório, e nós aqui na Coluna já exprimimos várias vezes o nosso apreço pelas personalidades contraditórias, isto é, humanas. E também escrevemos escritor «de direita» assim entre aspas, porque nenhum escritor, se o é, se limita a ser «de direita» ou «de esquerda». Concordamos em geral com as ideias de Nelson, mas concordamos sobretudo com a sua frontalidade, o seu individualismo e o seu estilo. Obrigado pela sua carta. PM
AVISO: O artigo sobre blogs no PÚBLICO foi adiado, por causa do caso da pedofilia. Os meus dois textos do Indy, sobre os quais tinha falado a alguns amigos e leitores, também ainda não foram publicados, um por atraso meu e outro por motivos que me são alheios. Todos estes textos aparecerão em breve. PM
RASPADINHA: O Prof. Marcelo já tinha ameaçado, assustadoramente, que ia «mostrar o pirilampo» na TVI. Não se incomode, Professor. Agora, leio que o Prof. deu um parecer segundo o qual a raspadinha pode ser inconstitucional. Inconstitucional?? Pode ser pouco estético, pouco higiénico, ou o que se quiser, mas inconstitucional parece-me demais. O que cada um(a) faz com a sua genitália é da esfera privada, Prof. Marcelo. PM
HOT HOT HOT: Este época é-me imensamente penosa. Sanguineamente meio escandinavo, epidermicamente branquérrimo, adiposamente vasto, o calor é uma provação. Uma das Pragas do Egipto, diria. Para além dos vários inconvenientes corporais, que me dispenso de elencar, o calor impede um funcionamente intelectual acima dos serviços mínimos. Só a partir do fim da tarde é que consigo alinhavar meia-dúzia de linhas, ler alguma coisa relevante, organizar as ideias. Quando se quiserem ver livros do Mexia, dos seus versinhos e das suas prosas reaccionárias, já sabem: Trópicos com o gajo. É a morte do artista. PM
O COSTUME: Apesar da gravidade explicada no post anterior, a Coluna continuará a manter um elemento que os seus leitores procuram e apreciam: o humor, a ironia, a chalaça. Por isso, nos próximos dias, acompanharemos o caso Casa Pia mas continuaremos a ter textos sobre cinema, livros, sexo, e saneamento urbano. PM
1. Temos recebido, por vários meios, manifestações de desagrado face à nossa posição na questão do caso Pedofilia. Sem repetir os argumentos expostos anteriormente, queremos reforçar a ideia de que não comentamos casos judiciais, a culpabilidade ou a inocência de quem quer que seja. Também não brincamos com assuntos graves como este, nem aproveitamos para chicana política ou demagogia populista.
2. Ao contrário do que certas pessoas nos disseram, não tratámos a indiciação de Paulo Pedroso de modo diferente da indiciação de Carlos Cruz ou Jorge Ritto. Sabemos o mesmo sobre Pedroso do que sabemos sobre Cruz e Ritto: nada. A menção a ser «amigo de amigos» (de PL e PM) não foi feita para justificar um silêncio, porque esse silêncio foi igual nos outros casos referidos; apenas serviu para relatar que lidámos com este caso com maior proximidade, e vimos pessoas que estimamos destroçadas com a acusação. Foi uma referência de empatia, sem qualquer outra função substancial.
3. Objectivamente, é mais grave - e por isso mais triste, como escrevemos - ver um deputado envolvido num caso destes, do que um apresentador de televisão ou mesmo um embaixador. Não pretendemos que os «poderosos» estejam imunes à Justiça; mas não nos congratulamos pela suspeição recair sobre um poderoso ou um anónimo, queremos apenas que os culpados sejam punidos, independentemente da sua posição na sociedade. Justiça cega, não justiça persecutória.
4. Não comentarmos o caso judicial não equivale a nada dizermos sobre a vertente política do caso, como se verá nos posts seguintes. Uma coisa é não fazer aproveitamentos políticos, outra é ignorar o modo desastrado como o caso tem sido gerido do ponto de vista político.
5. Na verdade, o Partido Socialista perdeu a cabeça, e alguns dos seus dirigentes têm-se desmultiplicado em frases e atitudes insensatas ou irresponsáveis. Quando António Costa, ex-ministro da Justiça, revela dados do processo, estamos perante a falta de norte. Quando Manuel Alegre, depois de aconselhar «serenidade» diz que há um golpe de extrema-direita e que o «povo socialista» deve estar preparado «para todas as eventualidades», estamos numa galopante demência. Quando Ferro Rodrigues agita o fantasma de uma cabala, sem explicar detalhadamente, a quem de direito, as provas que disso tem, estamos condenados à infantilidade deplorável. Quando o PS, que sempre falou em respeitar a marcha da Justiça, sugere gestão grosseira do processo e das provas e alude a uma tentativa deliberada de destruir o partido, o populismo anda à solta na boca de quem tanto o critica.
6. A Coluna Infame continuará a comentar os eventos (alguns dos quais nos jornais desta manhã), mas apenas na sua dimensão política, na relação entre poderes e entre órgãos de soberania, na cobertura mediática e em outras vertentes em que nos é lícito opinar. Não diremos nada, voltamos a frisar, sobre a inocência ou culpabilidade de qualquer dos arguidos constituídos ou a constituir.
7. Como já se escreveu, deste caso sairá terrivelmente manchado o poder político ou a Justiça. Qualquer das hipóteses é terrível, e configura uma crise que pode ser a mais grave da III República.
8. Num momento como este, os blogs devem mostrar a sua utilidade como fóruns de discussão, mas não como formas cibernéticas de linchamento ou de boataria. Com a ajuda dos nossos leitores, tentaremos estar à altura da situação.
A Coluna Infame
2. Ao contrário do que certas pessoas nos disseram, não tratámos a indiciação de Paulo Pedroso de modo diferente da indiciação de Carlos Cruz ou Jorge Ritto. Sabemos o mesmo sobre Pedroso do que sabemos sobre Cruz e Ritto: nada. A menção a ser «amigo de amigos» (de PL e PM) não foi feita para justificar um silêncio, porque esse silêncio foi igual nos outros casos referidos; apenas serviu para relatar que lidámos com este caso com maior proximidade, e vimos pessoas que estimamos destroçadas com a acusação. Foi uma referência de empatia, sem qualquer outra função substancial.
3. Objectivamente, é mais grave - e por isso mais triste, como escrevemos - ver um deputado envolvido num caso destes, do que um apresentador de televisão ou mesmo um embaixador. Não pretendemos que os «poderosos» estejam imunes à Justiça; mas não nos congratulamos pela suspeição recair sobre um poderoso ou um anónimo, queremos apenas que os culpados sejam punidos, independentemente da sua posição na sociedade. Justiça cega, não justiça persecutória.
4. Não comentarmos o caso judicial não equivale a nada dizermos sobre a vertente política do caso, como se verá nos posts seguintes. Uma coisa é não fazer aproveitamentos políticos, outra é ignorar o modo desastrado como o caso tem sido gerido do ponto de vista político.
5. Na verdade, o Partido Socialista perdeu a cabeça, e alguns dos seus dirigentes têm-se desmultiplicado em frases e atitudes insensatas ou irresponsáveis. Quando António Costa, ex-ministro da Justiça, revela dados do processo, estamos perante a falta de norte. Quando Manuel Alegre, depois de aconselhar «serenidade» diz que há um golpe de extrema-direita e que o «povo socialista» deve estar preparado «para todas as eventualidades», estamos numa galopante demência. Quando Ferro Rodrigues agita o fantasma de uma cabala, sem explicar detalhadamente, a quem de direito, as provas que disso tem, estamos condenados à infantilidade deplorável. Quando o PS, que sempre falou em respeitar a marcha da Justiça, sugere gestão grosseira do processo e das provas e alude a uma tentativa deliberada de destruir o partido, o populismo anda à solta na boca de quem tanto o critica.
6. A Coluna Infame continuará a comentar os eventos (alguns dos quais nos jornais desta manhã), mas apenas na sua dimensão política, na relação entre poderes e entre órgãos de soberania, na cobertura mediática e em outras vertentes em que nos é lícito opinar. Não diremos nada, voltamos a frisar, sobre a inocência ou culpabilidade de qualquer dos arguidos constituídos ou a constituir.
7. Como já se escreveu, deste caso sairá terrivelmente manchado o poder político ou a Justiça. Qualquer das hipóteses é terrível, e configura uma crise que pode ser a mais grave da III República.
8. Num momento como este, os blogs devem mostrar a sua utilidade como fóruns de discussão, mas não como formas cibernéticas de linchamento ou de boataria. Com a ajuda dos nossos leitores, tentaremos estar à altura da situação.
A Coluna Infame
O INDEPENDENTE, 15 ANOS: A primeira coisa que exijo de um jornal - qualquer jornal - é clareza. Por outras palavras: compro o bicho e quero saber como ele morde. Não me interessa a linha ideológica. Interessa-me é saber que ele tem uma linha ideológica - uma linha ideológica claramente assumida e defendida. Por isso compro o Telegraph e o Guardian. O Le Monde e o Le Figaro. O El Pais e o ABC. Todos eles excelentes. Todos eles devidamente identificados e identificáveis. E em Portugal? Em Portugal, é a escuridão total. Em nome de uma falaciosa noção de «independência e «rigor», compro o Público e, com a excepção de Pacheco e Fernandes, levo para casa o órgão oficial do Bloco de Esquerda. O jornalismo português é avesso à transparência: o meio é pequeno e a pequenez do meio não aconselha temeridades. Por isso aplaudo os 15 anos do Indy. Ser colunista da casa é lateral - mas já lá vamos. Aquilo que admiro no Independente é a manifesta coragem para assumir uma tendência. Sem sombras ou tapumes. Quem lê o Indy, sabe o que lê - e não apanha com uma sopa manhosa onde o xarope do conservadorismo é metido clandestinamente e a medo. Mas há também um pormenor pessoal que interessa sublinhar. Escrevo opinião há nove anos. No Indy, há 5. E, ao contrário do que sucede na maioria da imprensa, nunca encontrei naquela temível casa uma «pressão» editorial, um «aconselhamento» da direcção ou uma «sugestão» particular. Para não falar de actos explícitos de censura - que abundam por outras paragens. Sempre escrevi com uma liberdade total. O que inevitavelmente implicou - quantas vezes... - mexer com amigos da direcção e nomes sagrados. O Indy pode ter as suas falhas. Mas uma falha do Independente tem mais liberdade do que as virtudes todas juntas do Expresso. JPC
sexta-feira, maio 23, 2003
PARA QUE CONSTE: Desconfiamos de pessoas apolíticas. Desconfiamos de quem tem repugnância pela política. Desconfiamos de quem põe a política à frente de tudo. Desconfiamos de centristas, renovadores, falsos democratas. Desconfiamos de optimistas por tendência ou humanismo. Desconfiamos de quem se leva a sério, de quem não duvida. Desconfiamos de esquerdistas sem amigos de direita e de direitistas sem amigos de esquerda. Desconfiamos de profissionais da política. Desconfiamos de direitistas por conveniência e de esquerdistas por despeito. Desconfiamos de direitistas sem sentido de humor e de esquerdistas sem sentido do ridículo. Desconfiamos de direitistas da moralidade e de esquerdistas da virtude. Desconfiamos de direitistas por tradicionalismo e de esquerdistas enamorados pela razão. Desconfiamos de direitistas em questões acessórias e de esquerdistas em questões essenciais. Desconfiamos de argumentos de autoridade vindos de qualquer parte. Desconfiamos de quem usa e abusa da palavra 'natureza'. Desconfiamos de quem associa a esquerda às boas pessoas. Desconfiamos de direitistas que não gostam de literatura. A lista podia continuar. PL
OS 50 METROS DA VIDA DE FRANCISCO ASSIS: Francisco Assis andou 50 metros debaixo de insultos e sapatadas. Manteve a serenidade. Mostrou coragem física. Não respondeu. Não receou a mutidão ululante (o Ricardo que me desculpe). Moral da História: Assis é agora publicamente incensado pelas sumidades do costume. A política é mesmo uma questão de minutos. PL
QUEM AFINAL? Espíritos amigos mas doentios colocam-nos uma dúvida pertinente: quem dirige a investigação da Casa Pia? O Procurador-Geral da República ou a Felícia Geral da República? Eu só sei que nada sei. PL
COMENTÁRIOS: Quem nos critica por não comentarmos a detenção de Paulo Pedroso, deve fazer os comentários que nós não fizémos, em vez de aderir à mesma onda histérica e precipitada que tem circulado pela praça. Pedroso é um político acusado? Claro: facto gravíssimo, por se tratar do crime que é, mas não nos esqueçamos que as democracias europeias estão cheias de casos de políticos envolvidos em escândalos sexuais. A justiça está a ser severa com os poderosos? Com certeza e isso mostra que o poder judicial é independente do poder político e que algo mudou no Ministério Público. Agora, há muito pouca coisa a dizer sobre o caso particular de Paulo Pedroso. Não conheço a prova testemunhal e documental que fundamentou a prisão preventiva. E nunca me ouvirão a mim ou alguém desta Coluna argumentar com cabalas miríficas, boatos ou pretensas listas de nomes. Mais: não contem comigo para analisar factos conhecidos em violação do segredo de justiça. A justiça é a justiça. A detenção de Paulo Pedroso foi decidida por um juíz, não foi capa do 24 Horas. Se perdemos esta clarividência, arriscamo-nos a semear um conflito que não vai acabar cedo. PL
OUR MAN VINCENT: Vincent Gallo apresentou em Cannes Brown Bunny. Um road movie narcisista e radical, que encerra com um b.j. realista da Chloe Sevigny (aliás a actriz mais corajosa da família indie). Gallo, o Infame, e Sevigny, a olheirenta sedutora? São três bilhetes, s.f.f PM
GET A LIFE: O PL antecipou-se, mas eu reforço a ideia. O único comentário substancial que me apetece por agora fazer sobre o caso da pedofilia é: estamos fartinhos até aos cabelos do Namora. Este Pedro até me faz ter saudades do Fernando. PM
NÃO CUSTA NADA: O nosso «manifesto» não serviu para nada? Serviu, serviu. É que agora os jornalistas, antes de escreverem sobre blogs, ligam para quem os escreve e fazem perguntas. É um métdo bastante simples. Chama-se «jornalismo». PM
E FORAM VISTOS NA «BRASILEIRA»: Ao que parece, os macacos são ainda mais da nossa família do que já sabíamos. Semelhanças de sociabilidade, sexualidade, transmissão de conhecimento e genes. Alguns cientistas já propõe, por exemplo, actualizar as designações. Assim, segundo os jornais, uma das espécies de chimpanzés deixará provavelmente de se chamar «Pan Paniscus» para se começar a chamar «Homo Paniscus». Parece que se descobriu que essa espécie em particular se dedica ao teatro, à diplomacia, à poesia e à moda. PM
MITOLOGIA: Em entrevista à 365, esse ícone que dá pelo nome de Vasco Lourinho confessa que tinha muitos anticorpos, sobretudo na televisão, sendo, como era e é «feio, gordo, careca e de direita». Como eu compreendo o nosso homem em Madrid. A minha calvície está a dar os primeiros passos, mas já possuo fartamente os outros atributos de Lourinho. Se não vingar como poeta, quero ficar conhecido como «o Vasco Lourinho da sua geração». PM
COMENTAR O QUÊ? Fui surpreendido pela detenção de Paulo Pedroso e mal soube da notícia corri à coluna para ler comentários sobre este caso. Fiquei ainda mais surpreso quando li o post de Pedro Lomba: "Não fazemos comentários..." "O tempo não é para boatos". Como "boatos"? Não se trata de boatos. Não se trata de uma notícia lançada por uma qualquer publicação sensasionalista da imprensa portuguesa, trata-se de uma investigação feita pela Polícia Judíciária. Claro que não podemos apontar Paulo Pedroso como culpado; ele ainda ainda não foi julgado, mas também não podemos menosprezar os fortes indícios recolhidos do decurso do trabalho da PJ, suficientemente fortes para, pelo menos, um magistrado lhe aplicar uma medida de coacção máxima. Mas isso até nem é o facto relevante, que me levou a escrever-lhes. O caso é outro. É caso é que este é, como diz Pedro Lomba, o maior desafio da justiça portuguesa. Por uma vez ela, aos olhos de todos, parece cega; não distinguindo ninguém, e parece implacável também. O que é excitante e reconfortante. O caso é que, há o risco de muita gente alinhar, tal como Pedro Mexia o identifica no post seguinte, "em tiradas demagógicas e diatribes contra a classe política". O caso é que, tal como o director do Público o assinala, a confiança na justiça e na classe política portuguesas, bem como a auto-estima nacional, estão a passar um momento grave. Quando tudo isto acontece, a melhor forma de lidar com todas estas ameaças e todos estes medos, a melhor forma de evitar a radicalização e a demagogia, é a discussão clara e inteligente, sem preconceitos entre gente de bem. Justamente o tipo de discussão que a Coluna tem oferecido a todos; bem, pelo menos até hoje. Este será também um momento importante para a Coluna. Ou se atrevem a comentar assuntos decisivos e habituam o público a procurar-vos sempre que precisar de uma visão mais abrangente, no que diz respeito a temas essenciais; ou se limitam de vez, a comentar os videos pornográficos que vão aparecendo na internet e se as mulheres cultas cheiram mal (com o meu devido respeito por tais temas que também são importantes). O vosso silêncio é imcompreensível. Se não pensem: o número dois do principal partido da oposição foi detido. Não vão comentar isto? Então
vão comentar o quê? E para quê, se fogem às questões realmente importantes? (Nuno Carneiro)
Caro Nuno: nós não fugimos às questões importantes. É evidente que este assunto é gravíssimo, e mais grave ainda agora que atingiu um representante da Nação. Mas por enquanto não podemos e não sabemos dizer mais do que isto. Desconhecemos a culpa ou a inocência de qualquer um dos arguidos, não alimentamos especulações sobre as «listas» (que conhecemos), não gritamos «cabala» nem exclamamos «acabem com eles todos». Esperamos para ver. Confiamos na Justiça portuguesa, e não julgamos que se prendam pessoas num caso desta gravidade sem indícios muito fortes. Mas indícios não são provas. Os arguidos até agora constituídos são cidadãos sob investigação. Os nossos comentários virão quando houver julgamentos e condenações ou absolvições. E aí das duas uma: ou perde credebilidade a Justiça ou o poder político. Seja como for, será uma catástrofe. Esse é, por agora, o único comentário. PM
vão comentar o quê? E para quê, se fogem às questões realmente importantes? (Nuno Carneiro)
Caro Nuno: nós não fugimos às questões importantes. É evidente que este assunto é gravíssimo, e mais grave ainda agora que atingiu um representante da Nação. Mas por enquanto não podemos e não sabemos dizer mais do que isto. Desconhecemos a culpa ou a inocência de qualquer um dos arguidos, não alimentamos especulações sobre as «listas» (que conhecemos), não gritamos «cabala» nem exclamamos «acabem com eles todos». Esperamos para ver. Confiamos na Justiça portuguesa, e não julgamos que se prendam pessoas num caso desta gravidade sem indícios muito fortes. Mas indícios não são provas. Os arguidos até agora constituídos são cidadãos sob investigação. Os nossos comentários virão quando houver julgamentos e condenações ou absolvições. E aí das duas uma: ou perde credebilidade a Justiça ou o poder político. Seja como for, será uma catástrofe. Esse é, por agora, o único comentário. PM
QUE BESTA ESSE NELSON: O Ricardo reproduz uma carta aberta do Nelson Rodrigues, na qual este ensaia uns toscos piropos aos militares para conseguir a libertação do seu filho, um esquerdista assumido. Realmente, Ricardo, este Nelson era um animal. PM
quinta-feira, maio 22, 2003
FAMA: Serei eu o único achar que o sr. Pedro Namora já teve bem mais do que os 15 minutos de fama que merece? PL
MAUVAIS SANG: Respondo a tudo o que quiserem, a tudo o que sobre mim escreverem em mails ou nos blogs, mas não vou responder a quem diz que não gosta dos meus livros. Não porque fique aborrecido com esse comentário, mas simplesmente porque não tenho nada a objectar. Eu, se fosse fazer a crítica dos meus livros, provavelmente também não gostava. You know me. PM
POIS POIS: Caro Ricardo, não estamos, parece-me, a falar do mesmo assunto. Não me referi aos opositores brasileiros, comunistas ou não, que evidentemente se arriscaram e mostraram coragem. Escrevi uma coisa muito mais comezinha: a coragem intelectual. Nos anos 60, Nelson Rodrigues era um dos raríssimos intelectuais de direita no Brasil, atacado e vilipendiado por todos os lados por isso mesmo. E isso nós admiramos. Quanto a uma suposta proximidade do Nelson à ditadura militar, lamento dizer que estás mal informado. Lê a biografia do Ruy Castro, O Anjo Pornográfico. Nem toda a gente de direita defende as ditaduras militares, Ricardo. E não, não vou meter-me com a tua bela ideologia vermelhusca, que trouxe ao mundo, como se sabe, esplendores de liberdade e prosperidade um pouco por toda a parte. PM
I'M A LOSER BABY: Toda a gente viu o vídeo do Taveira, menos eu. Toda a gente já viu o filme da Fernanda Serrano, menos eu. E ainda há quem diga que eu sou um homem culto. PM
LINDA LINDA ESTA BALADA QUE TE DOU: Tenho andado numa fase revivalista a ouvir o primeiro pop-rock português dos anos 80. Ouvir aquelas músicas fez-me fazer um paralelismo entre aquelas bandas e os blogs. Associo a Coluna Infame aos Heróis do Mar, dada a postura contra-corrente e direitista face à inteligentzia do jornalismo & cª nacionais. Assim, o JPC é o Pedro Ayres com a sua postura mais reservada e de ideólogo, o PM é o Pragal da Cunha pois dá mais a cara e é mais descarado. O Abrupto do JPP é tipo Rui Veloso institucional e a armar ao jovem. O Blog-de-esquerda, está para entre os UHF e o Grupo de Baile (os do patchouli), ou seja entre o suburbano e o os que pensam que por dizer umas coisas chocantes faz deles uns tipos modernos. Os Marretas estão para os Xutos (só por uma questão de semântica). Os primeiros tempos de GNR estão para os Espigas (ligeirinho mas inofensivo). António variações = Planeta Classe M (por motivos óbvios) Manuela Moura Guedes (foram cardos foram prosas) = Charlotte. Adelaide ferreira / Taxi/ Jafumega/ Trabalhadores do comércio....tudo coisas que não são do vosso tempo... (José Duque)
Caro José: não são do nosso tempo?? O perfume patchouli?? Ó, calunia. Lembro-me bem dessa maralha toda, e confesso que preferia ser os Táxi. Nunca ninguém tinha chamado «reservado» ao JCP. Também nunca ninguém me tinha chamado «descarado». Não sei se ficamos contentes. Os outros blogs dirão de si. Ah, e quem será a dupla Armando Gama & Valentina Torres? PM
Caro José: não são do nosso tempo?? O perfume patchouli?? Ó, calunia. Lembro-me bem dessa maralha toda, e confesso que preferia ser os Táxi. Nunca ninguém tinha chamado «reservado» ao JCP. Também nunca ninguém me tinha chamado «descarado». Não sei se ficamos contentes. Os outros blogs dirão de si. Ah, e quem será a dupla Armando Gama & Valentina Torres? PM
UM MOMENTO GRAVE: Reforço o que o Pedro aqui escreveu: temos sido parcos em comentários sobre o caso da pedofilia, porque não há nada a comentar, apenas aguardar que as investigações prossigam e que a justiça funcione. É preciso acabar com a impunidade. Não nos pronunciamos sobre os suspeitos em concreto, porque nada sabemos sobre as razões que levaram à sua detenção. Mas é evidente que o caso ter atingido agora um político é de uma extrema gravidade. É triste para o país. É triste para nós, porque se trata de um amigo de amigos. Não alinharemos em tiradas demoagógicas, em diatribes contra a classe política. Presunção de inocência é presunção de inocência. Esperamos para ver. Só isso. PM
quarta-feira, maio 21, 2003
PP: Não fazemos comentários sobre Paulo Pedroso. O tempo não é para boatos, graçolas ou para a morbidez em que este país se está a tornar especialista. Os processos da Casa Pia são o maior desafio à justiça portuguesa de que temos memória. É bom que as instituições funcionem ou vem aí o dilúvio. PL
SEVILHANOS: Não é só Sua Excelência o dr. Sampaio que vai estar em Sevilha logo à noite. O Fêcêpê desdobrou-se em convites a parlamentares do burgo para assistirem à grande final. E os nossos amoráveis parlamentares, em vez de parlamentarem num dia quente, num dia propício aos umbigos, lá foram cantando e rindo para o sol andaluz. Deixo esta perguntinha inocente e invejosa: esta gente não percebe que foi eleita para trabalhar? PL
JORNALISMO? O jornalismo televisivo é muitas vezes um manancial de informações irrelevantes. Vejam: o senhor Jorge Ritto é ontem detido. A SIC desloca-se à casa do diplomata, em Cascais. A partir de um recibo esquecido no carro, informa-nos que o sr. Ritto passeou pela marina há dois dias; depois, que Ritto lê o Expresso semanalmente; e, por fim, para conhecimento de todos, que o diplomata Ritto adora papaia, um facto longa e tristemente ignorado. É por causa destas coisas que mais vale ler blogs. PL
PR VAI À BOLA: Aqui a malta nem embirra muito com o Presidente Sampaio, sobretudo desde que ele desiludiu a esquerdalhada na questão da guerra. Mas, francamente, o PR ir ver a final da Taça UEFA não é um bocado parolo? Como dizem as minhas tias: «Vejam lá se os presidentes estrangeiros fazem essas figuras». PM
FNAC E MESTRES: O Pedro Mexia é engraçado: era capaz de apostar que todas as semanas vai à FNAC/Chiado (sorte a dele, que gosta de ler e vive em Lisboa). Mas depois fica com sentimentos de culpa, sente que traiu a sua pátria ideológica, vai lavar a alma em qualquer lugar com nome de marca de chá inglês, e vem para o blog chamar à FNAC chomskylândia e amaldiçoar o dia em que lá entrou. Olhe, faça como os americanos. Eles não resistem a comer french fries, certo? Mas para disfarçar agora chamam-lhes “liberty fries”. Certo? Portanto, chame à FNAC qualquer outra coisa que não FNAC, Shakespeare and sons, por exemplo, e passe cuidadosamente ao largo dos livros do chomsky, que desde a última vez que lá entrei já devem ocupar trinta estantes, pelos vistos. E sabe uma coisa? O Nelson Rodrigues se ainda fosse vivo, incluiria a blogosfera no tal rol dos idiotas. Não se zangue comigo, Pedro, é só uma blague, ups, just a joke. E já agora, não haverá no vosso livro de citações textos do Nelson Rodrigues menos idiotas do que esse? Irrita-me particularmente gente que chama idiota a toda a gente. Já me irritava o Paulo Francis, um dos vossos heróis, que eu lia quando ele ainda era vivo e se vendia cá o Estado de São Paulo e o Globo. O homem tinha talento e uma especial vocação para estar sempre contra a corrente, mas aquele género de príncipe da renascença trauliteiro, que tudo sabe e que tudo critica, de que vocês tanto parecem gostar, é particularmente irritante. (António Ramos)
Caro António: vou realmente todas as semans à FNAC abastecer-me das novidades (DNa oblige) e comprar alguma livralhada estrangeira. Acho que a loja do Chiado é boa. Mas a secção da política não apresenta o menor pluralismo, e essa escolhe facciosa aborrece-me. Só isso. Quanto aos nossos dois mestres brasileiros, anotamos as reclamações. Mas olhe que nunca é demais chamar «idiotas» a torto e a direito, que por muito que se use o epíteto fica sempre alguém de fora que merecia a etiqueta. O mundo não é, felizmente, perfeito. PM
Caro António: vou realmente todas as semans à FNAC abastecer-me das novidades (DNa oblige) e comprar alguma livralhada estrangeira. Acho que a loja do Chiado é boa. Mas a secção da política não apresenta o menor pluralismo, e essa escolhe facciosa aborrece-me. Só isso. Quanto aos nossos dois mestres brasileiros, anotamos as reclamações. Mas olhe que nunca é demais chamar «idiotas» a torto e a direito, que por muito que se use o epíteto fica sempre alguém de fora que merecia a etiqueta. O mundo não é, felizmente, perfeito. PM
OLHA QUE DOIS: Um novo blog, com um nome bem original: Thomaz Cunhal. Duas referências de todos os humoristas. Bem-vindo. PM
E AINDA MAIS UMA: Sobre esta matéria a Charlotte fornece-nos a pista que faltava. Mulheres letradas e belas? Há, com certeza que há. Mas são... casadas. Damn. PM
E MAIS UMA: A minha amiga Clara Cabral, que já há tempos me tinha incentivado para vos escrever a propósito da guerra, sob a provocação de saber como é que “reaccionários” (o termo é dela) poderiam polemizar sobre ela, está indignadíssima com as observações do Pedro e dos restantes acerca das relações entre inteligência e higiene feminina. Perguntou-me se todos os “conservadores” (mais uma vez, o termo é dela) partilham, mesmo que sem pretensões a elaborar teorias, a representação vaga de que essa relação seja quase sempre a de uma proporcionalidade inversa. Lá lhe tentei explicar que não, que isso era uma observação datada, que devia ter exagerado ou compreendido mal o que queriam dizer. Mas, depois de ler os “feios, porcos e letrados”, veio-me uma impressão estranha. A FNAC em que o Pedro diz que entra, e onde tem os seus encontros imediatos com o insólito, deve ser uma espécie de máquina do tempo, parecida com os congressos do Bloco de Esquerda na Voz do Operário, que o transporta directamente para os anos 60 e os tempos do flower power. Olhem à volta. Não me parece que se possa hoje encontrar com facilidade na FNAC sobreviventes daquela espécie felizmente quase extinta, em que algo situado entre o animal e o humano, de cabelos desgrenhados e cheiro a suor, se arrasta pelos prados a gritar: make love, not war. E, apesar dos revivalismos, também me parece difícil acreditar
que as mulheres que vocês conhecem no meio literário ou intelectual correspondam ao estilo da menina míope, de nariz adunco, franzina e com voz irritante, de sovaco peludo e de unhas descuidadas, com um desinteresse pelo aspecto que reflecte uma desistência da vida. É claro que ainda há, sobretudo nas universidades portuguesas, alguns exemplares clássicos desse tipo, os quais, apesar de particularmente irritantes pela necessidade incontida de partilhar com os outros as frustrações próprias, não deverão deixar de ser conservados como curiosidades zoológicas e arqueológicas. Mas a prova de que vocês também conhecem outros tipos (que felizmente não são raros) é a pergunta do JPC: «É possível encontrar uma mulher simultaneamente bela e culta? Uma mulher com a beleza da Michelle Pfeiffer e os miolos da Martha Nussbaum» (SIC!). Um colega meu, que a conhece, definia-a como a very physical woman. Não lhe perguntei a razão do adjectivo. Mas, caro JPC, já olhou bem para a Nussbaum? Acha que ela pertence ao tipo das que não se depilam? É não querer ver a realidade, é não andar à procura dela. Depois não se queixem: como diz o provérbio oriental, quem não sabe o que procura, ignora o que encontra. (Alexandre Franco de Sá)
Caro Alexandre: tu és, evidentemente, um dos bafejados pela sorte do convívio com mulheres belas e cultas. Nunca esperei outra coisa de ti. As «curiosidades» a que me refiro não se encontram particularmente na FNAC (bem pelo contrário), mas em tudo o que seja teatro independente, lançamento de livros de poesia e coisas assim mais masoquistas. Aí, caro Alex, é a lojinha dos horrores, garanto-te eu. Tu falarás, provavelmente, de meninas bem-nascidas e perfumadas, quem sabe se com andanças académicas, que cultivam a cultura como mais uma forma de bom-gosto, mas a verdade é que as deves conhecer todas, porque aqui os Infames é uma desgraça. Mulheres bonitas e interessantes? Imensas. Mas a gente fala-lhes de Naipaul e elas exclamam «não percebo nada de futebol». Será que uma nuvem azarenta se concentrou sobre as cabeças Infames? É possível. Daí que os Infames comprometidos, mal encontraram uma dessas raridades belas e letradas, lhe ferraram o dente e não largam. Eu sou manifestamente mais azarado: a última rapariga por quem me interessei dava erros de português. E, sim, era lindíssima. E não, não me atrai particularmente que uma rapariga, por mais bonita que seja, dê erros de português. Em resumo, Alexandre: como em tudo na vida, isto não é uma questão de opinião, é uma questão de sorte. PM
que as mulheres que vocês conhecem no meio literário ou intelectual correspondam ao estilo da menina míope, de nariz adunco, franzina e com voz irritante, de sovaco peludo e de unhas descuidadas, com um desinteresse pelo aspecto que reflecte uma desistência da vida. É claro que ainda há, sobretudo nas universidades portuguesas, alguns exemplares clássicos desse tipo, os quais, apesar de particularmente irritantes pela necessidade incontida de partilhar com os outros as frustrações próprias, não deverão deixar de ser conservados como curiosidades zoológicas e arqueológicas. Mas a prova de que vocês também conhecem outros tipos (que felizmente não são raros) é a pergunta do JPC: «É possível encontrar uma mulher simultaneamente bela e culta? Uma mulher com a beleza da Michelle Pfeiffer e os miolos da Martha Nussbaum» (SIC!). Um colega meu, que a conhece, definia-a como a very physical woman. Não lhe perguntei a razão do adjectivo. Mas, caro JPC, já olhou bem para a Nussbaum? Acha que ela pertence ao tipo das que não se depilam? É não querer ver a realidade, é não andar à procura dela. Depois não se queixem: como diz o provérbio oriental, quem não sabe o que procura, ignora o que encontra. (Alexandre Franco de Sá)
Caro Alexandre: tu és, evidentemente, um dos bafejados pela sorte do convívio com mulheres belas e cultas. Nunca esperei outra coisa de ti. As «curiosidades» a que me refiro não se encontram particularmente na FNAC (bem pelo contrário), mas em tudo o que seja teatro independente, lançamento de livros de poesia e coisas assim mais masoquistas. Aí, caro Alex, é a lojinha dos horrores, garanto-te eu. Tu falarás, provavelmente, de meninas bem-nascidas e perfumadas, quem sabe se com andanças académicas, que cultivam a cultura como mais uma forma de bom-gosto, mas a verdade é que as deves conhecer todas, porque aqui os Infames é uma desgraça. Mulheres bonitas e interessantes? Imensas. Mas a gente fala-lhes de Naipaul e elas exclamam «não percebo nada de futebol». Será que uma nuvem azarenta se concentrou sobre as cabeças Infames? É possível. Daí que os Infames comprometidos, mal encontraram uma dessas raridades belas e letradas, lhe ferraram o dente e não largam. Eu sou manifestamente mais azarado: a última rapariga por quem me interessei dava erros de português. E, sim, era lindíssima. E não, não me atrai particularmente que uma rapariga, por mais bonita que seja, dê erros de português. Em resumo, Alexandre: como em tudo na vida, isto não é uma questão de opinião, é uma questão de sorte. PM
AS MULHERES E A CULTURA: As mulheres não são homens de acção. São pragmáticas, é certo, à sua maneira, mas a sua acção não pode ser medida por referência a um modelo masculino. Justifica-se para resolver problemas concretos, necessidades de sobrevivência e não é accionada, como nos homens, pelo espírito de domínio, diversão ou competição. Por isso as mulheres se desinteressam de áreas que não tenham directa repercussão na sua esfera de felicidade pessoal ou alheia. Falo da política porque não estou a ver que a vossa referência ao nosso pouco entusiasmo intelectual tenha outro âmbito. Nós amamos a literatura, a música, a pintura. Desprezamos esmagadoramente a política, sim- esse território que se tornou área de domínio, diversão fastidiosa e competição, granjeamento de honrarias e bens sem muito esforço. E note-se de parca- para não dizer nula- utilidade pública. E em época de crise ainda é mais acentuada o arredamente político da mulher porque está mais vulnerável a felicidade da sua família. George Steiner numa entrevista que deu de passagem por Lisboa disse acreditar que se os homens cedessem o poder, qualquer que ele seja, político ou académico às mulheres, em vez de ainda o preservarem ciosamente nas suas mãos, estas o exerceriam de modo totalmente diferente. Talvez, de início, as mulheres imitassem esses homens de acção, como a vítima imita o carrasco, mas o tempo revelaria as diferenças. E em que é que os infames se baseiam para afirmar que uma mulher não morre de amores por uma vida intelectual activa? Estatísticas da iletracia do povo português não diferenciam o sexo. Nas universidade andam mais mulheres do que homens... nos meios académicos, por este andar, chegaremos à maioria. Serem prioritariamente homens os intelectuais da nossa praca, colunistas e fazedores de opinião? Dêem-nos tempo, mais uma ou duas gerações. Dêem-nos tempo e não temam.Para bem de todos chegaremos a essa vida intelectual activa como uma lufada de ar fresco. Não será muito mais estimulante para todos quando assim for? Como Maria Lamas disse: "enquanto as mulheres forem escravas, os homens não serão livres" ou, como disse Natália Correia, a sociedade só se poderá regenerar quando as mulheres ganharem consciência. Durante séculos, é certo, não deixámos vestígio visível da nossa passagem. Estivemos em casa, como Virginia Woolf assinalou em "A room of one's own'", presas de uma dúzia de filhos, sem um minuto nosso nem uma sala onde nos pudessemos isolar a escrever, vivemos nessa sala de visitas, desmultiplicadas em tarefas, exercitando a perspicácia social e relacional, a reflectir como espelhos a imagem do homem no dobro do seu tamanho, estivémos no quarto das crianças a proporcionar que, num simples golpe de vista, o homem regressado a casa retemperasse as forças físicas e intelectuais e, sobretudo, naquele seu oposto encontrasse a sua capacidade criativa . Sem nós, mães, musas, não só o homem não teria saído da selva e rasgado estradas como não teria criado obras de arte. Agora só queremos estar entre a sala de brinquedos, o parlamento, a rua. Será que vamos conseguir estar em todo o lado? (Clara Macedo Cabral)
Cara Clara: estamos de acordo com 3/4 do seu mail, e até nos comovemos com esse uso do plural. Mas nós não dissemos em lado nenuhm que há uma incompatibilidade entre as mulheres e uma «vida intelectual activa», apenas referimos que, por qualquer razão, muitas das que têm «vida intelectual activa» não primam por outros atributos da feminilidade. Como já disse e repeti, não é uma regra, nem uma estatística, nem uma tese: é uma experiência empírica. Quanto à frase de Steiner, nem o facto de ser um dos meus autores de cabeceira mas faz hesitar perante uma das maiores baboseiras do discurso feminista: a de que o poder exercido pelas mulheres é mais (acrescentar adjectivo s.f.f.) que o poder exercido pelos homens. Historicamente, isso não é verdade, e não há um único exemplo que comprove essa tese patusca. As feministas até chamavam à sra. Thatcher um «homem». As mulheres têm os mesmos defeitos dos homens, e de resto os defeitos do poder são, precisamente, do poder, e não necessariamente de quem o exerce. Será que as mulheres não podem ser tão cabras como os homens são estupores? Ó Clara, isso é pão-nosso de cada dia nos escritórios e nas empresas. A dignidade da mulher não ganha nada com essas mistificações grotescas. Leia mais Virgina Woolf e menos Maria Lamas. PM
Cara Clara: estamos de acordo com 3/4 do seu mail, e até nos comovemos com esse uso do plural. Mas nós não dissemos em lado nenuhm que há uma incompatibilidade entre as mulheres e uma «vida intelectual activa», apenas referimos que, por qualquer razão, muitas das que têm «vida intelectual activa» não primam por outros atributos da feminilidade. Como já disse e repeti, não é uma regra, nem uma estatística, nem uma tese: é uma experiência empírica. Quanto à frase de Steiner, nem o facto de ser um dos meus autores de cabeceira mas faz hesitar perante uma das maiores baboseiras do discurso feminista: a de que o poder exercido pelas mulheres é mais (acrescentar adjectivo s.f.f.) que o poder exercido pelos homens. Historicamente, isso não é verdade, e não há um único exemplo que comprove essa tese patusca. As feministas até chamavam à sra. Thatcher um «homem». As mulheres têm os mesmos defeitos dos homens, e de resto os defeitos do poder são, precisamente, do poder, e não necessariamente de quem o exerce. Será que as mulheres não podem ser tão cabras como os homens são estupores? Ó Clara, isso é pão-nosso de cada dia nos escritórios e nas empresas. A dignidade da mulher não ganha nada com essas mistificações grotescas. Leia mais Virgina Woolf e menos Maria Lamas. PM
terça-feira, maio 20, 2003
FILME DO ANO COLUNA INFAME: Ainda é Maio, mas o filme do ano está encontrado: 25th Hour (A Última Hora), de Spike Lee. Como já foi dito, este é o filme que Scorsese não soube fazer, metido na trapalhada de Gangs, e a deixar escapar a cidade de que é o melhor cronista. Porque 25 th Hour é, antes de mais, a melhor elegia nova-iorquiana produzida nas últimas duas décadas, desde Taxi Driver possivelmente. Elegia acentuada pelo cenário pós-11 de Setembro, que o filme é também pioneiro a captar. Relato do último dia em liberdade de um traficante, 25 th Hour enquadra o drama individual no esquema mais vasto da cidade, e em especial no sentimento traumático do atentado às Twin Towers. Depois de um prólogo metafórico, o genérico do filme é um assombro estético e emotivo, com a banda-sonora de Terence Blanchard, lamentosamente lânguida, a sublinhar dois enormes focos de luz, que marcam o lugar das Torres desaparecidas, e projectam a luz para o infinito. O filme constrói-se em engenhosos mas discretos flashbacks, que complementam narrativa duas ou três sequências longas a magistrais, em particular o painel central, na discoteca. Monty (Edward Norton) carrega a tristeza do mundo, que é também a tristeza de uma cidade e a memória cinéfila de beautiful losers como Paul Newman e Montgomery Clift. Há também a vistosa namorada porto-riquenha (Rosario Dawson), o pai ex-alcoólico (o sempre pungente Brian Cox), o tipo solitário e frustrado (o meu sósia, Philip Seymour Hoffman) e um yuppie angustiado (magnífico Barry Pepper). Ao ambiente de despedida, balanço, teste de fidelidades, junta-se uma série de sub-plots magistrais (a aluna sedutora) que mais realçam o carácter derrotista, amargurado, sombrio do filme. E há também raiva, na litania insultuosa que Monty dirige à sua cidade e em especial ao melting pot; diria que se Spike Lee não tivesse um irrepreensível currículo esquerdista, esta cena seria apodada de «fascista» e mimos costumeuros. E, no entanto, exprime apenas as frustrações e as cóleras individuais que, num certo contexto, acabam por ser tornar extensíveis ao mundo, e nessa medida políticas, com todo o caudal de preconceitos e embirrações. Só Scorsese (num dia bom) seria capaz de filmar esta cena, mas Scorsese tem andado desorientado. E assim Lee, que tem alguns filmes admiráveis no meio de lixo propagandístico, consegue um retrato de uma personalidade, de um situação, de uma cultura e de um momento histórico, tudo numa cena breve e simples. Já em Summer of Sam Lee tinha provado possuir a arte de um detector de terramotos, combinada com a de um metrónomo e de um miniaturista. Agora, vai mais longe, acentuado em poesia o que esse filme tinha sobretudo em desgosto e violência. Ed Norton já é, penso que ninguém duvida, o actor da sua geração, e com filmes assim terá uma carreira intocável. Confesso que não gosto muito do what if da cena final, embora um segundo visionamento tenha atenuado um pouco essa impressão. Mas um filme que nos transmite assim o coração de uma cidade, numa determinada época, e de vários modos agrega sentimentos difusos e dispersos, merece toda a nossa admiração. Tanto mais que Lee se tornou um mestre de set pieces e de takes longos e de movimentos fluidos de câmara, e que usa a montagem com uma habilidade que não é mero maneirismo. 25 th Hour é um filme duro e comovente, que põe a obra de Spike Lee num primeiríssimo plano que nem sempre tem merecido. É o Filme do Ano da Coluna Infame. Se virem algum melhor, avisem. PM
NEOS? Os neomarxistas, neocomunistas, neoliberais, neosocialistas, neoecologistas, neofascistas - toda esta gente séria insiste em chamar-nos neoconservadores. Querem saber por que não razão? Leiam uma sequência de artigos de Jonah Goldberg sobre o tema e depois a gente fala. Desculpem: depois a gente falamos. PL
ATRASOS DO IMPÉRIO: Entretanto, uma remessa de livros da Amazon está a demorar mais tempo do que o previsto. O que se passa com o Império? Sou eu, ó ianques, uma criatura modesta mas que vos defendeu na Mesopotâmia com unhas e dentes. Querem mandar-me o Fareed Zakaria depois de democratizarem o Iraque? Vejam lá isso, sim? PL
LER: Uma editora de gente amiga publicou «Nós, os vencidos do catolicismo» - um conjunto de textos de João Bénard da Costa sobre os movimentos católicos progressistas aparecidos em meados da centúria passada. Prometemos comentário ao livro para breve. Comprem-no que vale a pena. PL
THANKS: O nosso contador de visitas registou ultimamente um ligeiro aumento do número de leitores desta página. É aspecto que nos honra, embora estejamos ainda bem longe dos 250 mil do nosso mestre. Obrigado a todos. PL
UM SENTIMENTAL RETRATO DO FORUM SOCIAL PORTUGUÊS: A nossa esquerda é um aglomerado de causas, de protestos, de fobias. E direi mais: direi que é também um aglomerado de siglas, de nomes, de definições. Vejam a diversidade, a imaginação onomástica das associações e dos movimentos inscritos no Fórum Social português. Temos, para começar, o varonil Instituto Marquês de Valle Flor. Gosto do instituto, gosto do Marquês mas, digo-vos, macacos me mordam se a coisa não é um grupúsculo reaccionário criado pelo Marquês Valle para enganar o povo com falso amiguismo. Hei-de investigar. O GOG (Grupo Oeste Gay) é intrigante mas não consegui apurar se será um sucessor da matilha dos portageiros do oeste, aquela que há uns anos transformou a A8 numa sequela do Mad Max. E que tal o Núcleo de Cicloturismo de Sesimbra? Eu pensava que os ciclistas (mesmo os turísticos) eram todos reaccionários, como o Vítor Gamito, que leu Burke ainda nós não tínhamos nascido; ms parece que me enganei e ficam já avisados que o Núcleo promete levar de bicicleta às nossas estalagens a social-democracia de Bernstein. Agora, não há cá enganos sobre a Plataforma Transgénicos Fora do Prato. Sei bem que os pratos de Portugal precisam desta plataforma e, por isso, não há discussões sobre este assunto ou os pratos voam. Já o PT é um grémio enigmático. Quem diria que, por trás desta sigla enganadora e naturalmente fascista, se esconde o importante movimento Pró-Organização Água Pública? Ninguém, por certo. Falemos então do Não te Prives, também chamado Grupo de defesa dos Direitos Sexuais. Confesso-vos a minha radical surpresa e estupefacção. Haverá alguém, neste mundo e no outro, que se queira privar desses direitos? O Não te Prives destinar-se-á porventura à terceira idade? Eis algumas dúvidas a esclarecer. E chegamos então ao Sobreiro 19, uma organização muito revolucionária, formada pela vanguarda dos sobreiros (embora liderada por um carvalho), que para estar presente no Fórum Social Português, decidiu adoptar o segundo nome de Associação Solidariedade com as vítimas das falências. A todos, o nosso bem-haja. Cá estaremos para discutir convosco. PL
LÍRICOS: Acordo e a primeira coisa que ouço, trémulo e cambaleante, é a voz elegíaca de Xanana Gusmão a fazer o retrato de Timor um ano após a independência. Ao fim de dez segundos, a voz de Xanana entaramela-se de emoção. Por pouco, não desato a chorar. Não sei o que se passa em Timor e por isso não opino. Mas sei que Xanana é um lírico e, em política, o lirismo costuma dar desastre. PL
ENERGÚMENOS: Durão Barroso chamou «energúmenos» aos agressores de Francisco Assis. Marcelo Rebelo de Sousa usou a palavra «energúmenos». Alguns deputados pátrios insurgiram-se também contra os «energúmenos». Não sabemos se Jorge Sampaio usou o mesmo mimo; mas, se não usou, andou certamente lá perto. Eu também acho que as agressões a Assis são coisas de «energúmenos». Mas, atenção, muitos dos «energúmenos» levam os filhos à escola e têm os impostos em dia. O meu semelhante pode ser um «energúmeno» e eu até gosto de o tratar com essa candura. Mas é preciso ter cautela com o idioma quando governamos ou representamos o povo. A não ser que apreciemos perversamente os votos desse povo de «energúmenos». Nesse caso, não está mais aqui quem falou. PL
CISÃO: Ainda a propósito dos umbigos, parece que temos cisão aqui na Coluna. Para contrariar a minha hostilidade a esse (mau) pedaço carnal, o PM (ver abaixo) jurou fidelidade a todo e qualquer centímetro do corpo feminino. Perdoo ao Pedro a discordância mas só porque ele ainda não viu o buço da padeira da minha rua. De qualquer forma, reparem como o nosso desentendimento foi provocado por um agradável comentário da Charlotte ao meu manifesto anti-umbilical. Pois é, amigos: as mulheres têm sempre o condão de nos desunir. PL
BOFETADAS: A febre de Felgueiras ameaça alastrar-se à classe dirigente. Chegam-nos notícias, não confirmadas, de que Narciso Miranda esbofeteou a secretária. Durante anos, as secretárias preencheram o imaginário de todos os carenciados sexuais. A mão leve de Narciso acabou com a fantasia. É pena. PL
MEC: Um muito obrigado e uma calorosa saudação ao one and only MEC, que se refere simpaticamente à Coluna. Miguel, por alguma razão há finalmente entre nós (nos blogs, ao menos) uma direita culta, civilizada, liberal e irónica. E todos nós sabemos a quem se deve essa viragem. PM
TOO FAR AWAY: Continuamos a receber diariamente mails com propostas sexuais. Infelizmente, vêm todos de Itália. PM
A COLUNA NÃO É DEMOCRÁTICA? Publicámos, integralmente e sem comentários, a resposta de Paulo Querido ao nosso manifesto, coisa que nem os jornais «de referência» fazem. Poupem-nos, por favor, lições sobre democracia. PM
POIS, POIS: O Ricardo censura-nos por incensarmos Nelson Rodrigues. Mas, Ricardo, convirás que a prosa é magnífica, e que ser reaccionário no Brail (nos anos 60) exigia uns muito grandes. E nós gostamos de boa prosa e de coragem. Tiques de escrita? Quem não os tem? Quanto ao que dizes serem os raros autores «de direita» que sabem escrever, podemos começar a fazer listas, se te apetecer. Verás que a «direita» não fica, de todo, a perder. E que a maioria dos escritores «de direita» até estão à direita da Coluna. Cuidado com os clichés intelectuais da canhota, Ricardo, olha que não resistem a um escrutínio atento. PM
ARTIGO 12: Chegou-me aos ouvidos que dirigentes da Nova Democracia leram o nosso post sobre o famoso artigo 12, que era uma pura invenção, o que na altura me pareceu claro, mas que pelos vistos foi levado a sério por muitos. Curiosamente, os Novos Democratas acharam graça, porque entenderam a coisa como uma piada a terceiros. Um pouco mais de epistemologia, rapazes. PM
BESTIAL: Por falar em mulheres, tivemos uma sugestão de Musa: Fernando Serrano. Mas vamos lá ver: nós somos liberais em termos de costumes, mas repudiamos totalmente sexo com animais. Por isso a Serrano está out. Compreendido? PM
CHEIROSAS E LETRADAS (CONT.): Uma amiga telefona. «Pedro, achas que eu sou normal, gira ou muito gira?». Oh não, teve uma discussão com o namorado. «E achas que eu sou inteligente?». Crise de auto-estima, as mulheres são assim. «E achas que eu cheiro mal?». Ah, já percebi onde queres chegar. Respondi-lhe que não declarei que as mulheres que lêem cheiram mal. Disse que, na minha experiência, as mulheres intelectuais deixam muito a desejar na higiene e na aparência. Temos imensos mails a contestar, mas, meus amigos, a minha experiência é esta, e não fiz nenhuma lei. Bem podem dizer: «Olha o Pedro Mexia a falar de estética», mas a verdade é que a mim não me faz diferença que os homens «intelectuais» (em que por caridade me incluem) sejam horrorosos, como certas pessoas (mas não cheiro mal, estejam descansados). A estética masculina tem para mim um interesse bastante limitado, e certamente não me motiva posts. Mas as mulheres interessam-me, e essa animosidade das leitoras de Derrida com o sabão preocupa-me, o que se há-de fazer? Mas, repito, ó leitoras giras e asseadas que lêem livros: eu não nego que sejam giras, asseadas e letradas (olhem a nossa Charlotte), mas vosselências são a excepção que confirma a regra, e não creio, aliás, que sejam intelectuais (Deus vos livre). Espumem à vontade, ó leitoras, com o que a gente escreve, mas leiam o que a gente escreve, pode ser? PM
APRENDAM: The Go-Betweens em Lisboa. Não me lembro, assim de repente, de nenhuma contribuição da Austrália para o mundo da cultura tão relevante como os rapazes de Brisbane, a não ser o fabuloso Clive James. O concerto do Paradise Garage mostrou que têm ainda que ser os velhinhos a mostrar como se faz. Grant McLennan está mais velho, careca, e canta de uma forma doce s sonhadora. Robert Foster está muito mais velho, de cabelo despenteado, uma camisa tropical por baixo do fato, uma pose bizarramente erecta (salvo seja), e aquele ar estremunhado de quem acabou de acordar ou não está completamente sóbrio, e cultiva uma ironia mais distanciada que joga maravilhosamente com o estilo naif do parceiro. As canções, bom as canções são um néctar envelhecido na perfeição, de feitura clássica, sem mariquices modernaças, entre o singalong e a rockalhada, com as guitarras mais elegantes do pedaço. Canções sobre revistas de surf e a Princesa Carolina, mas também sobre as eternas relationships desencontradas, e mesmo temas mais desesperados como de «Was There Anything I Could Do», 16 Lovers Lane (1988). Robert Foster animou-se, para o fim (quatro encores, senhores!), dançando, estiloso, uma espécie de hula hoop sem hula hoop, fazendo de Bryan Ferry em despedida de solteiro, sempre entre o festivo e o calculista. Não estava muita gente, mas quem estava sabe que os anos 80 vão ser difíceis de superar, no que à pop diz respeito. Haverá bandas em actividade tão boas como os Go-Betweens, mas nenhuma melhor. Os Limp Bizkit que me perdoem. PM
CONEXÃO: Alexandra Solnado foi à televisão há dias para convencer os fiéis a procurarem uma «conexão directa com o céu, sem intermediários». Nunca pensámos muito sobre esta questão dos «intermediários» mas as convicções de Alexandra Solnado merecem-nos todo o respeito. Além disso, «conexão directa com o céu, sem intermediários» é a definição mais bonita de masturbação que eu conheço. PL
segunda-feira, maio 19, 2003
A RESPONSABILIDADE DE PORTAS: Provem-me que o dr. Portas mentiu em tribunal e eu retirarei tudo o que tenho escrito nesta página em sua defesa. Mas, notem bem, para isso precisam de apresentar uma acusação. O que tenho procurado dizer é que o caso de Portas está para além da mera responsabilidade política e da mera responsabilidade criminal. É um caso em que ou as duas responsabilidades coexistem ou então nada feito. Portas só pode assumir a responsabilidade política se for acusado; e só pode ser acusado se se demonstrar que cometeu um acto intolerável e criminoso para quem ocupa um cargo ministerial: a mentira em tribunal. Não são a regra mas há casos assim. PL
UM CANALHA: Então eu visito um familiar hospitalizado. Na sala de espera, avisto um exemplar do Público em cima da mesa, órfão de dono, solitário. Faço o que qualquer ser humano faria. Ponho a mão. De súbito, um ancião furibundo, de uma notável parecença com Kaulza de Arriaga, aproxima-se de mim e afasta-me a mão. Desfaço-me em desculpas. Ele, o ancião, dispara: «Não desculpo. Era mais do que evidente que este jornal pertencia a alguém». Eu calo-me. Estava visto. Era um canalha. PL
UM EX-COVARDE: Sou, como Nelson Rodrigues (desculpem lá abusar das citações do homem), um «ex-covarde». E se há coisa que nos distingue, a nós ex-covardes, é a facilidade com que reconhecemos os canalhas. Reconhecemo-los a léguas, na torpe aparência do seu mérito. É claro que não estamos sozinhos: os próprios canalhas desconfiam, pressentem, sabem que são canalhas; e sabem que nós, na nossa ex-covardia, os reconhecemos. De maneira que o mundo tem esta admirável certeza: os canalhas sabem-se canalhas e sabem que nós, ex-covardes, também os sabemos canalhas. Gosto disso. PL
DIREITO DE RESPOSTA: Do jornalista do EXPRESSO, Paulo Querido:
Aqui estou a dar o peito às balas - e a provar que afinal há (mais) jornalistas que lêem blogs. no meu caso, que não é único, há muito tempo. mais tempo, muito mais, do que de vida têm os quatro blogs subscritores somados.
Prova o "post" que os autores (dizem-me que um deles até é jornalista) nem sequer lêem jornais - ou no mínimo não lêem o Expresso, que já citou em diversas ocasiões blogs COMO FONTES IDÓNEAS de informação. E citou segundo as melhores regras: dando o link para o blog (ou "post") original.
Sobre a "fasquia da inutilidade" não me darei à incansável trabalheira de afixar: é inútil.
Um abraço
Paulo Querido
Aqui estou a dar o peito às balas - e a provar que afinal há (mais) jornalistas que lêem blogs. no meu caso, que não é único, há muito tempo. mais tempo, muito mais, do que de vida têm os quatro blogs subscritores somados.
Prova o "post" que os autores (dizem-me que um deles até é jornalista) nem sequer lêem jornais - ou no mínimo não lêem o Expresso, que já citou em diversas ocasiões blogs COMO FONTES IDÓNEAS de informação. E citou segundo as melhores regras: dando o link para o blog (ou "post") original.
Sobre a "fasquia da inutilidade" não me darei à incansável trabalheira de afixar: é inútil.
Um abraço
Paulo Querido
domingo, maio 18, 2003
PELUCHES: Tenho uma atracção verdadeiramente entomológica por «comunistas renovadores». São tão engraçados. São tão poucos. São tão patetas. Se tivesse filhos, comprava-lhes uma dúzia de renovadores pelo Natal. Os peluches estão fora de moda. PM
FACHO FAVOR: Soube que há algures um fórum de discussão que me chama repetidamente «fascista». Alguém me explica como se chega ao dito fórum? Estava a ver que Maio chegava ao fim sem me chamarem isso. Tenho uma reputação a manter, amiguinhos. Deus vos pague. PM
CARAS NOTÍCIAS: Temos que confessar que a nossa primeira musa, Miss JAD, é melhor na tv. Ontem, para fazer juz às críticas, os «amigalhaços» dos blogs foram mesmo todos «para o Lux». Lá estava a nossa Joana, gira q.b. mas pouco notória naquela moldura humana de libidinosas miúdas dançantes. Devo dizer que ver uma deputada a abanar o tronco ao som de uma coisa qualquer electrónica nos faz perder um bocado o respeito pelos órgãos de soberania. Mas adiante. Como outros blogs já revelaram, o consorte não estava; ao que apuramos, MP está agora romanticamente envolvido com Meg Ryan. Mas Salma Hayek já anunciou que vai lutar pelo seu homem. PM
CADA CENTÍMETRO: Aproveito para discordar publicamente do PL sobre a questão dos umbigos e sobre os outros items referidos na carta que enviou à Charlotte. Não há absolutamente nenhum centímetro do corpo feminino que não mereça uma ode triunfal. Em momentos propícios, até de cotovelos gosto. Acontece que fazer do corpo uma montra exige uma série de trabalhos estéticos e ginasticados que não se compadecem com leituras demoradas de O Mundo como Vontade e Representação, do Schopi. O que nos leva de volta à discussão que nos tem entretido, e que ainda agita a nossa caixa de correio. Amanhã postaremos aqui mais considerações sobre o tema Cheirosas & Letradas. Entretanto, leiam no Complot algumas reflexões sobre o assunto que temos raiva de não ter escrito. PM
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO (MUSICAL): Avisamos a população que amanhã à noite, no Paradise Garage, em Lisboa, os Go-Betweens mostram aos interessados (portadores de bilhete válido) como se faz uma canção pop perfeita. A primeira parte não será feita pela Shakira. PM
O TOLERANTE ISLÃO: Penso que todos terão lido a carta do director da revista islâmica Al Furqán ao PÚBLICO, dizendo que a nigeriana Amina Lawal, condenada à lapidação por adultério, sofreu uma condenação injusta porque não havia as quatro testemunhas exigidas. Se um responsável de uma igreja cristã dissesse uma coisa inifinitamente menos grave (sobre qualquer questão sexual, p. ex.) caía o Carmo e a Trindade. Mas o Islão é uma religião tolerante. Pois. PM
RENOVADORES: Estou para aqui a rasurar umas coisas e Ilda Figueiredo está na televisão a opinar sobre o mundo. Será que o PCP não percebe que cada frase de Ilda Figueiredo, são dois renovadores? PL
PÁTRIA : A pergunta é comum mas sacral: o povo português é de esquerda ou de direita? Salazar reinou por décadas. Houve a República da carbonária e da formiga branca. Existiu Abril, com a sua loucura impossível. O dr. Cavaco, com a sua aspereza educadora. Estamos à esquerda ou à direita? Respondo: nem à esquerda nem à direita. Os portugueses são um povo de sentimentais, de coléricos, de arrependidos. Somos gemedores profissionais. Queremos um "Portugal em boas mãos", desde que essas "mãos" sejam as "mãos dos outros". Se já experimentámos todos os regimes, é porque não somos um regime. E andamos por aí no meio da ruas a gemer tristeza, a gemer a nossa fatalidade. Já viram com certeza fotografias de portugueses de gerações antigas, na monarquia, na 1ª República: portugueses mirrados, esmaecidos, às vezes numa alegria falsa e vazia. Essas fotografias são o mais duro retrato da maldição que nos persegue. PL
AS FITAS: Uma família portuguesa reúne-se para festejar o desfecho universitário da menina. A menina é finalmente psicóloga, socióloga, licenciada em germânicas ou em direito. Olho para ela. Está vestida de preto e baba um orgulho lânguido, um orgulho choroso por tias, primas, avós, pelo borbulhento irmão que vê nela um exemplo canónico. Sigo a cena com ternura. Desvio-me prudentemente da baba. E lembro-me, amigos, lembro-me dos meus últimos momentos num certo dia de Maio naquela alameda universitária. Todo eu tremia de descrença diante daquela falsa canonização. A alameda cheia e eu quieto, numa solidão sentenciosa. Fugi a sete pés das fitas porque, verdade seja dita, quis evitar os elogios. Fugi das típicas viagens ao México porque a mera ideia de encarar dois terços dos meus comparsas de fato-de-banho, me causava horrores e transpiração fria. Nada tenho contra as comemorações universitárias. Um país civilizado é dado à memória, à celebração, ao reconhecimento. Mas os festins universitários são frívolos, insignificantes e dispensáveis. Uma simples passagem que não deixa marcas. PL
Publicou o Expresso, no encarte Única de 17 de Maio (não vale a pena fazer link, que é a pagar), mais um artigo apressado e ignorante sobre a blogosfera portuguesa, que entre outras imprecisões e trapalhadas, termina dizendo: O que nenhum «blogueiro» escreveu foi que a escrita, as ideias e a cultura de José Pacheco Pereira vêm reforçar qualitativamente uma «blogosfera» de expressão portuguesa onde a imensa maioria do que se publica não ultrapassa a fasquia da inutilidade. Mentira: o Abrupto, de José Pacheco Pereira, foi amplamente saudado pelos outros blogs.
Infelizmente, é na imprensa escrita portuguesa que a imensa maioria do que é publicado não ultrapassa a fasquia do inútil, como bem prova o Expresso. Este não é, aliás, o primeiro texto ignorante que a nossa imprensa tradicional publica sobre esta matéria. Ora, uma das nossas práticas é ler atentamente os artigos da imprensa escrita, e sempre que possível fornecer o respectivo link. O cuidado inverso não se verifica. Já sabíamos que grande parte dos jornalistas não lêem jornais; sabemos agora que também não lêem blogs, mesmo quando a eles se referem. É verdade que em todos os países onde o fenómeno dos blogs surgiu é frequente a imprensa tradicional desvalorizar este novo meio, pondo em causa a sua qualidade e credibilidade. Mas ao menos essa imprensa conhece o fenómeno que critica. O mesmo não podemos dizer sobre os nossos jornalistas.
Percam algum tempo a visitar os melhores blogs portugueses, sobretudo os políticos, p. ex. através deste directório. E digam-nos em que jornais se encontra mais quantidade de informação, pluralismo ideológico e, sobretudo, qualidade de escrita.
Leiam e aprendam.
A Coluna Infame
Blog de Esquerda
Blogue dos Marretas
O Intermitente
O País Relativo
Picuinhices
Infelizmente, é na imprensa escrita portuguesa que a imensa maioria do que é publicado não ultrapassa a fasquia do inútil, como bem prova o Expresso. Este não é, aliás, o primeiro texto ignorante que a nossa imprensa tradicional publica sobre esta matéria. Ora, uma das nossas práticas é ler atentamente os artigos da imprensa escrita, e sempre que possível fornecer o respectivo link. O cuidado inverso não se verifica. Já sabíamos que grande parte dos jornalistas não lêem jornais; sabemos agora que também não lêem blogs, mesmo quando a eles se referem. É verdade que em todos os países onde o fenómeno dos blogs surgiu é frequente a imprensa tradicional desvalorizar este novo meio, pondo em causa a sua qualidade e credibilidade. Mas ao menos essa imprensa conhece o fenómeno que critica. O mesmo não podemos dizer sobre os nossos jornalistas.
Percam algum tempo a visitar os melhores blogs portugueses, sobretudo os políticos, p. ex. através deste directório. E digam-nos em que jornais se encontra mais quantidade de informação, pluralismo ideológico e, sobretudo, qualidade de escrita.
Leiam e aprendam.
A Coluna Infame
Blog de Esquerda
Blogue dos Marretas
O Intermitente
O País Relativo
Picuinhices