sábado, abril 12, 2003
BUSHISMOS IRAQUIANOS: Para além da queda de Saddam, este boneco foi a única coisa boa da guerra. Que saudades de frases como: It has been rumored that we have fired scud missiles into Kuwait. I am here now to tell you, we do not have any scud missiles and I don't know why they were fired into Kuwait. Não lhe podem dar um talk show? PM
FOI A KULTURA: Considerações sobre «É a Cultura, Estúpido»: Fui a essa iniciativa (era o rapaz bastante alto com o pull-over) e gostaria de parabenizar os infames participantes. Gostei muito da rubrica de PM, boas sugestões, grande sentido de humor, encheu a sala. Mas creio que o ponto alto da noite ocorreu com o debate sobre Chomsky. Enfrentando uma apresentadora facciosa,um painel hostil e uma assistencia adversa, JPC, um autor que acompanho com fanatismo,conseguiu ganhar o debate. Passo a explicar: enquanto JPC falava sobre Chomsky, Daniel Oliveira atacava os EUA .Está quase tudo dito, para além de ter falado com grande classe, JPC teve ainda de ser vitíma de um ataque furioso perpetrado por um homem visivelmente nervoso e confuso, que se mostrou indignado pelo tratamento que JPC deu aos terroristas palestinianos. Curioso. Em suma, foi uma grande iniciativa,que foi fechada com chave de ouro por RAP. Sou um seguidor diário do vosso blog e gostaria que comentassem a iniciativa. (Rodrigo Torres Pereira)
Caro Rodrigo: estávamos a ver que ninguém nos mandava um comentariozinho sobre a sessão, porque não vamos ser nós a escrever em causa própria. Obrigado pelos elogios. Eu não diria que «enchi a sala»: na verdade estou até ligeiramente mais magro, segundo a minha queixosa balança. Quanto ao debate, não se tratava de «ganhar», e de resto acho que o Daniel também esteve bem, é um tipo que adora discutir, e isso nota-se. O senhor que se levantou a protestar era um esquerdista típico, já vi dezenas deles nos poucos anos que levo de sessões kulturais: há certas coisas que eles não admitem que se digam. Além disso, quando se trata de terroristas palestinianos bate sempre aquela emoção, não é verdade? Não se brinca com a família. (Essa do pull-over não deu para identificá-lo: dos desconhecidos, só reparei numa menina na primeira fila, peço desculpa. Da próxima, diga qualquer coisa aos Infames). PM
Caro Rodrigo: estávamos a ver que ninguém nos mandava um comentariozinho sobre a sessão, porque não vamos ser nós a escrever em causa própria. Obrigado pelos elogios. Eu não diria que «enchi a sala»: na verdade estou até ligeiramente mais magro, segundo a minha queixosa balança. Quanto ao debate, não se tratava de «ganhar», e de resto acho que o Daniel também esteve bem, é um tipo que adora discutir, e isso nota-se. O senhor que se levantou a protestar era um esquerdista típico, já vi dezenas deles nos poucos anos que levo de sessões kulturais: há certas coisas que eles não admitem que se digam. Além disso, quando se trata de terroristas palestinianos bate sempre aquela emoção, não é verdade? Não se brinca com a família. (Essa do pull-over não deu para identificá-lo: dos desconhecidos, só reparei numa menina na primeira fila, peço desculpa. Da próxima, diga qualquer coisa aos Infames). PM
Caros leitores: temos tentado postar e responder aos mails mais relevantes que recebemos, de acordo com os critérios já enunciados (subjectivos e falíveis, como é óbvio). Por vezes respondemos com grande atraso; outras, nem sequer respondemos, porque é preciso fazer uma selecção, e é impossível responder a todos. Pedimos desculpa a quem fica sem resposta, esperamos que compreendam que isto é um hóbi, e que o tempo não é elástico. Obrigado pelo enorme volume de mails, pelas palavras de simpatia e entusiasmo sobre a Coluna Infame, e também pelas críticas e mesmo alguns ataques argumentados. Continuem a mandar sugestões, comentários e perguntas para colunainfame@hotmail.com PM
LIBERAL OU ANTI-LIBERAL? Não tenho a bagagem teórica dos Infames, pelo menos ao nivel de Ciência Política e Direito, mas creio que o projecto-lei do Bloco (cujo conteúdo integral desconheço) é mais anti-liberal do que liberal, ao contrario do que o PM e o PL argumentam.
PERSPECTIVA ESTÁTICA
Olhando para a possibilidade que um dos cônjuges tem de pedir o divórcio unilateralmente sem ser pela via litigiosa, a principio dir-se-ia que nada de mal viria, mesmo com filhos menores. Para que sujeitar um filho a conviver com um matrimónio em que uma das partes nao se sente feliz? Talvez fosse melhor para o filho menor que o divórcio acontecesse. Alem disso, parece que os custos de divórcio seriam substancialmente reduzidos.
PERSPECTIVA DINÂMICA
Antes do casamento, as partes analisam os beneficios e os custos do mesmo (mesmo que não o façam de forma estritamente contabilística, parece-me inegável que ninguem se casa sem ponderar se será mais feliz casado ou solteiro). Se se reduzirem os custos de rompimento do contrato, o que e que se espera que aconteça? Que aumentem os números de casamentos. Porquê? Porque o custo de dissolução para os cônjuges é agora menor, isto admitindo que o casamento não tem um tipo de investimento específico que faria muito custoso saltar de uma relação para outra (hipótese muito forte).
Contudo, há uma terceira parte afectada por estas decisões (de casamento e possível rompimento futuro) que não tem a sua palavra representada. Se neste processo, os cônjuges subestimarem os custos que o rompimento de casamento acarreta para o menor, esta alteração legislativa será claramente prejudicial para este. Portanto, o bem-estar da sociedade que parecia ter aumentado, visto ter-se concedido maior liberdade às partes contratuais, pode efectivamente diminuir porque há uma parte (os menores) que pode ser negativamente afectada por esta alteração.
CONCLUSÃO
Não me parece que este projecto de lei seja necessariamente mais liberal, como PM e PL argumentam. Na verdade, eu diria mesmo que é menos liberal, por duas razões:
1) Uma das partes directamente afectada pelo contrato e sem possibilidade de expressão da sua vontade (ou mesmo de formulação dessa vontade), pode ser negativamente afectada.
2) Liberalismo faz sentido numa sociedade com relações contratuais fortes, estáveis e credíveis. Quem é que entraria num contrato em que uma das partes pudesse, sem custo, violar as cláusulas? Neste projecto, "obriga-se" uma das partes, o menor, a fazer parte de tal contrato.
(André Faria)
Caro André: muito obrigado pelos seus comentários, que fazem todo o sentido. O que aqui escrevemos é que em termos de costumes os bloquistas estão em geral de acordo com os libertários americanos (que são de direita, lembre-se): o menos entraves possível, proibições nenhumas, tudo é lícito, tudo é com cada um. Referimos aqui o problema dos menores, que devia ser um obstáculo a este regime proposto, mas repare que a esquerda tem alguma tradição em não ligar à parte mais fraca em matéria de costumes. PM
PERSPECTIVA ESTÁTICA
Olhando para a possibilidade que um dos cônjuges tem de pedir o divórcio unilateralmente sem ser pela via litigiosa, a principio dir-se-ia que nada de mal viria, mesmo com filhos menores. Para que sujeitar um filho a conviver com um matrimónio em que uma das partes nao se sente feliz? Talvez fosse melhor para o filho menor que o divórcio acontecesse. Alem disso, parece que os custos de divórcio seriam substancialmente reduzidos.
PERSPECTIVA DINÂMICA
Antes do casamento, as partes analisam os beneficios e os custos do mesmo (mesmo que não o façam de forma estritamente contabilística, parece-me inegável que ninguem se casa sem ponderar se será mais feliz casado ou solteiro). Se se reduzirem os custos de rompimento do contrato, o que e que se espera que aconteça? Que aumentem os números de casamentos. Porquê? Porque o custo de dissolução para os cônjuges é agora menor, isto admitindo que o casamento não tem um tipo de investimento específico que faria muito custoso saltar de uma relação para outra (hipótese muito forte).
Contudo, há uma terceira parte afectada por estas decisões (de casamento e possível rompimento futuro) que não tem a sua palavra representada. Se neste processo, os cônjuges subestimarem os custos que o rompimento de casamento acarreta para o menor, esta alteração legislativa será claramente prejudicial para este. Portanto, o bem-estar da sociedade que parecia ter aumentado, visto ter-se concedido maior liberdade às partes contratuais, pode efectivamente diminuir porque há uma parte (os menores) que pode ser negativamente afectada por esta alteração.
CONCLUSÃO
Não me parece que este projecto de lei seja necessariamente mais liberal, como PM e PL argumentam. Na verdade, eu diria mesmo que é menos liberal, por duas razões:
1) Uma das partes directamente afectada pelo contrato e sem possibilidade de expressão da sua vontade (ou mesmo de formulação dessa vontade), pode ser negativamente afectada.
2) Liberalismo faz sentido numa sociedade com relações contratuais fortes, estáveis e credíveis. Quem é que entraria num contrato em que uma das partes pudesse, sem custo, violar as cláusulas? Neste projecto, "obriga-se" uma das partes, o menor, a fazer parte de tal contrato.
(André Faria)
Caro André: muito obrigado pelos seus comentários, que fazem todo o sentido. O que aqui escrevemos é que em termos de costumes os bloquistas estão em geral de acordo com os libertários americanos (que são de direita, lembre-se): o menos entraves possível, proibições nenhumas, tudo é lícito, tudo é com cada um. Referimos aqui o problema dos menores, que devia ser um obstáculo a este regime proposto, mas repare que a esquerda tem alguma tradição em não ligar à parte mais fraca em matéria de costumes. PM
POP (2): Interessante, o seu comentário sobre a música pop e a filiação política. Concordo na generalidade, mas acho que no caso específico dos Blur confunde uma posição/crítica social [num contexto específico] com uma posição política/ideológica que creio não existir, nem nunca ter existido. Mesmo nos casos de Cohen e dos Joy Division essa ligação será talvez um exagero: Cohen e a 'Direita' resume-se [penso eu, talvez esteja enganado] à questão Israel / Palestina, o que para um judeu terá [ou teria] pouco de opção política. Os Joy Division na escolha de um nome - que pouco significado literal teria para os membros da banda - e na tara de Curtis por uniformes [era um tipo estranho, este]. (Manuel Poças)
Caro Manuel: os Blur da primeira fase assumiam uma crítica social vista de cima, naquela típica maneira conservadora de dizer: «este não é uma injustiça mas sobretudo uma foleirada». Agora, ao que parece, o Damon está mais vermelhusco. Paciência. O Cohen tem uma imaginário completamente não-esquerdista, e nalguns pontos bastante simpático à direita, como a obsessão religiosa ou o individual acima do colectivo. E o The Future é um dos discos mais reaccionários que conheço, absolutamente pessimista ao ponto de recusar toda e qualquer ideia de progresso (vai muito mais longe que os Infames). Além disso, conheço bem a biografia do senhor, e uma duas suas posições ideológicas conhecidas é um anti-comunismo frontal (e um anti-pacifismo também: «pacifism delights the hearts of killers», disse numa entrevista). Os Joy Division não seriam uma banda de direita, mas o Ian Curtis era assumidamente um votante Tory e tinha um evidente encanto pelo nazismo, não apenas na escolha do nome da banda, mas nas letras das canções, nos livros que mais lhe interessavam, na própria concepção grotescamente violenta da vida. A biografia escrita pela viúva, apesar do estilo e mentalidade de dona-de-casa parola, revela bem isso. Nós, na Coluna, deploramos em absoluto o nazismo e todo o seu imaginário: mas é só para dizer que mesmo na música pop há para todos os gostos. Chama-se «diversidade», e é um dos fundamentos da democracia. PM
Caro Manuel: os Blur da primeira fase assumiam uma crítica social vista de cima, naquela típica maneira conservadora de dizer: «este não é uma injustiça mas sobretudo uma foleirada». Agora, ao que parece, o Damon está mais vermelhusco. Paciência. O Cohen tem uma imaginário completamente não-esquerdista, e nalguns pontos bastante simpático à direita, como a obsessão religiosa ou o individual acima do colectivo. E o The Future é um dos discos mais reaccionários que conheço, absolutamente pessimista ao ponto de recusar toda e qualquer ideia de progresso (vai muito mais longe que os Infames). Além disso, conheço bem a biografia do senhor, e uma duas suas posições ideológicas conhecidas é um anti-comunismo frontal (e um anti-pacifismo também: «pacifism delights the hearts of killers», disse numa entrevista). Os Joy Division não seriam uma banda de direita, mas o Ian Curtis era assumidamente um votante Tory e tinha um evidente encanto pelo nazismo, não apenas na escolha do nome da banda, mas nas letras das canções, nos livros que mais lhe interessavam, na própria concepção grotescamente violenta da vida. A biografia escrita pela viúva, apesar do estilo e mentalidade de dona-de-casa parola, revela bem isso. Nós, na Coluna, deploramos em absoluto o nazismo e todo o seu imaginário: mas é só para dizer que mesmo na música pop há para todos os gostos. Chama-se «diversidade», e é um dos fundamentos da democracia. PM
POP: Nem só de Iraque vive a Coluna:
Um reparo só a um post de resposta à observação sobre a música e a política: Parece-me que os Depeche Mode são, usando os termos desse mesmo post, uma banda de esquerda. Pelo menos associo-os à ideia que tenho da esquerda (difusa e estilhaçada, neste momento) quando oiço músicas como Master and Servant ou Everything Counts. E porquê reaça, o Nick Drake? Fatalmente conservador, ainda vá lá, mas porquê reaça? (Tiago Romeu)
Caro Tiago: o «Everything Counts» não tenho presente, mas olhe que o «Master and Servant» não é sobre a luta de classes, mas sim sobre o imaginário S&M, sempre presente nas letras da banda, um imaginário que segundo a insuspeita esquerdista Susan Sontag, é totalmente facho. E há mais razões temáticas: hedonismo, sociedade de consumo, e outras. Quanto ao Drake, «reaça» neste caso queria dizer realmente «conservador»: o Nick era um beto rebelde (para dentro). Leia a biografia dele, que se arranja na FNAC. PM
Um reparo só a um post de resposta à observação sobre a música e a política: Parece-me que os Depeche Mode são, usando os termos desse mesmo post, uma banda de esquerda. Pelo menos associo-os à ideia que tenho da esquerda (difusa e estilhaçada, neste momento) quando oiço músicas como Master and Servant ou Everything Counts. E porquê reaça, o Nick Drake? Fatalmente conservador, ainda vá lá, mas porquê reaça? (Tiago Romeu)
Caro Tiago: o «Everything Counts» não tenho presente, mas olhe que o «Master and Servant» não é sobre a luta de classes, mas sim sobre o imaginário S&M, sempre presente nas letras da banda, um imaginário que segundo a insuspeita esquerdista Susan Sontag, é totalmente facho. E há mais razões temáticas: hedonismo, sociedade de consumo, e outras. Quanto ao Drake, «reaça» neste caso queria dizer realmente «conservador»: o Nick era um beto rebelde (para dentro). Leia a biografia dele, que se arranja na FNAC. PM
IN AND OUT: Apesar de não ser nenhum Nostradamus (embora às vezes me sinta descendente de Cassandra) tive as seguintes visões para o futuro próximo: Estará IN/Estará OUT
(IN) Falar de des-baathificação
(OUT)Falar de engenharia social
(IN) Falar da alegria dos Iraquianos libertados
(OUT)Falar dos Iraquianos mortos na intervenção
(IN) Falar da Síria
(OUT)Falar da Coreia do Norte
(IN) Dizer que as ideias do Saddam eram originárias da esquerda
(OUT)Dizer que ninguém sabe se o Saddam está vivo
(IN) A “politica” dos factos consumados
(OUT)Discussão pública dos efeitos futuros das acções
(IN) Império
(OUT)República
Alguns comentários? (João Branco)
1 - Engenharia social - com certeza, como quer reconstruir um Estado sem passar por aí? (a desnazificação funcionou)
2 - Iraquianos mortos - e os alemães mortos para derrotar Hitler? (os iraquianos não ficaram contentes, na sua opinião)
3 - Coreia - quer atacar um país com armas nucleares? (sobre a Síria ainda não fomos briefados pelo Rummy)
4- Saddam vivo ou morto - tenha calma (e quem disse que as ideias de Saddam eram de esquerda foi Otelo)
5 - Efeitos futuros das acções - como talvez saiba, esse é um dos temas preferidos dos conservadores, e pode ter a certeza que o discutiremos aqui (factos consumados são a lana caprina da política)
6 - Império - discutiremos isso aqui, parece-nos uma expressão pouco rigorosa (é a favor do isolacionismo?)
PM
(IN) Falar de des-baathificação
(OUT)Falar de engenharia social
(IN) Falar da alegria dos Iraquianos libertados
(OUT)Falar dos Iraquianos mortos na intervenção
(IN) Falar da Síria
(OUT)Falar da Coreia do Norte
(IN) Dizer que as ideias do Saddam eram originárias da esquerda
(OUT)Dizer que ninguém sabe se o Saddam está vivo
(IN) A “politica” dos factos consumados
(OUT)Discussão pública dos efeitos futuros das acções
(IN) Império
(OUT)República
Alguns comentários? (João Branco)
1 - Engenharia social - com certeza, como quer reconstruir um Estado sem passar por aí? (a desnazificação funcionou)
2 - Iraquianos mortos - e os alemães mortos para derrotar Hitler? (os iraquianos não ficaram contentes, na sua opinião)
3 - Coreia - quer atacar um país com armas nucleares? (sobre a Síria ainda não fomos briefados pelo Rummy)
4- Saddam vivo ou morto - tenha calma (e quem disse que as ideias de Saddam eram de esquerda foi Otelo)
5 - Efeitos futuros das acções - como talvez saiba, esse é um dos temas preferidos dos conservadores, e pode ter a certeza que o discutiremos aqui (factos consumados são a lana caprina da política)
6 - Império - discutiremos isso aqui, parece-nos uma expressão pouco rigorosa (é a favor do isolacionismo?)
PM
MIGALHAS FILOSÓFICAS: Eu ia invocar o direito de resposta, mas o seu comentário ao meu “dicionário canhoto sobre a guerra”, publicado no Blog de Esquerda, já me proporcionou um bom repasto ou, pelo menos, uma barrigada de riso, daí que eu prefira a publicação da versão integral da minha réplica...é apenas uma questão de manter a linha, tá a ver? Não vou meter a foice em latifúndio alheio, mas olhe que há, entre a direita-democrática, (desculpe, mas esta expressão soa-me sempre a “marijuana para fins terapêuticos” ou a “morte misericordiosa”, percebe?) muitos citadores de Rawls. Pode perguntar, também, às tias se gostam de Rawls, mas não faça o mesmo aos socialistas porque, aí sim, vai levar um estalo pela empáfia com que a direita fala de automóveis luxuosos, sejam eles Rolls ou quaisquer outros. Quanto às suas críticas, procurarei, na senda dos grandes educadores da classe operária, estender os ensinamentos ao seu intelecto burguês: o boulangismo é um processo de personalização do poder sem doutrina, intemporalmente, ligado à praxis reaccionária quando sacia a sede de poder e ascende à Sede do Poder, de Georges Boulanger (1837-1891), durante a III República francesa, a George Bush durante a Res pudica que fundou, em homenagem ao integrismo religioso que está na origem da formação da “land of the free and the home of the brave”. Ó meu caro, como vê, o boulangismo está para o poujadismo, como a Maria da Fonte para o foquismo...Estou ciente de que sabe que o Imperialismo não é o consumo excessivo de bejecas, por isso, rogo-lhe que não seja pexote e me poupe hipotéticas analogias sexuais, explicando-lhe que o foquismo não é uma corruptela do “fuckism”, também conhecido como “Clinton Doctrine”. Estamos de acordo? Relativamente “às concepções filosóficas e políticas de um pensamento conservador”, peço-lhe que não confunda a Direita com o seu destro onanismo intelectual. Sei que preza a democraC.I.A. porque apoia a Lei de Talião que Bush quer impor no mundo pós-11 de Setembro, mas, depois, diz-nos que não patrocina “a direita político-partidária” que o colocou na presidência. Meu ilustre amigo: sei que escreve (e bem) poesia, mas se quer adoptar uma esquizofrenia discursiva, ao menos, faça como o Pessoa e arranje uns heterónimos! Finalmente, numa rara demonstração de falta de fair-play, remata o seu comentário em tom caceteiro, acusando-me de indigência intelectual. De facto, em termos socio-económicos, insiro-me no “lumpen” proletariado e no onirismo da sociedade sem classes. Ainda assim, o seu insulto denota que, talvez, se tenha convertido à sociedade sem classe! (Hugo Leal)
Caro Hugo: ainda bem que se ri connosco. Sabemos bem que é contra os seus princípios, e espero que não o expulsem da célula por causa disso. Gosto das suas analogias para a direita democrática: eu também não sou fã da «morte misericordiosa», mas isso não é assunto para atirar à cara de um conservador, convenhamos. O Hugo estranha a expressão «direita democrática»: o que se há-de fazer? Conheço uma pessoa que jura a pés juntos que queijo - qualquer queijo - é uma coisa absolutamente repugnante. Também conheço quem acredite, à esquerda, no fim da exploração do homem pelo homem, e até quem acredite, veja lá, no método das temperaturas» (para não falar da Ufologia). Há governos democráticos de direita (e de esquerda) em vários países há décadas e nos países Aliados (porque será) há séculos. O Hugo está é convencido que a direita portuguesa é salazarista, porque o seu novo maitre a penser, o Prof. Diogo, o afirmou ao vento que passa. Rawls é um autor do socialismo democrático, e se bem que o aprecie pela sua honestidade intelectual, não é mestre aqui da Coluna. Quanto ao boulangismo, eu sei bem o que é o boulangismo, mas não vejo onde o encontra, ao passo que o poujadismo, esse sim, tem herdeiros evidentes pela Europa. O Hufo não quer que eu ponha em causa as suas leituras, mas quando sugere que os Founding Fathers eram «integristas religiosos», está a delirar. A Revolução Americana foi uma revolução Iluminista, embora sem a costela jacobina. Os povos que colonizaram a América é que fugiam da intolerância religiosa europeia, e na América as religiões têm convivido sempre bem melhor do que no Velho Continente. Podemos discutir a deriva religiosa da direita republicana, mas não tem nada a ver com a matriz fundadora dos EUA, isso com certeza. A «esquizofrenia discursiva», não entendo onde está: o que eu digo é que me identifico com as correntes conservadores americanas, mas na sua transição para a política americana concreta julgo caso a caso; já aqui escrevemos que nunca fomos bushistas, e que o nosso candidato era Mc Cain. Somos apoiantes de Bush neste ponto da sua política externa (que vai aliás contra a sua plataforma eleitoral), mas não fazemos ideia se a educação ou os impostos estão a ser bem geridos. Tenham paciência os nosos amigos de esquerda: nós estamos mais próximos dos partidos e governos conservadores e liberais, mas não somos homens de partido. Talvez queira visitar este site, e discutir com os rapazes. PM
Caro Hugo: ainda bem que se ri connosco. Sabemos bem que é contra os seus princípios, e espero que não o expulsem da célula por causa disso. Gosto das suas analogias para a direita democrática: eu também não sou fã da «morte misericordiosa», mas isso não é assunto para atirar à cara de um conservador, convenhamos. O Hugo estranha a expressão «direita democrática»: o que se há-de fazer? Conheço uma pessoa que jura a pés juntos que queijo - qualquer queijo - é uma coisa absolutamente repugnante. Também conheço quem acredite, à esquerda, no fim da exploração do homem pelo homem, e até quem acredite, veja lá, no método das temperaturas» (para não falar da Ufologia). Há governos democráticos de direita (e de esquerda) em vários países há décadas e nos países Aliados (porque será) há séculos. O Hugo está é convencido que a direita portuguesa é salazarista, porque o seu novo maitre a penser, o Prof. Diogo, o afirmou ao vento que passa. Rawls é um autor do socialismo democrático, e se bem que o aprecie pela sua honestidade intelectual, não é mestre aqui da Coluna. Quanto ao boulangismo, eu sei bem o que é o boulangismo, mas não vejo onde o encontra, ao passo que o poujadismo, esse sim, tem herdeiros evidentes pela Europa. O Hufo não quer que eu ponha em causa as suas leituras, mas quando sugere que os Founding Fathers eram «integristas religiosos», está a delirar. A Revolução Americana foi uma revolução Iluminista, embora sem a costela jacobina. Os povos que colonizaram a América é que fugiam da intolerância religiosa europeia, e na América as religiões têm convivido sempre bem melhor do que no Velho Continente. Podemos discutir a deriva religiosa da direita republicana, mas não tem nada a ver com a matriz fundadora dos EUA, isso com certeza. A «esquizofrenia discursiva», não entendo onde está: o que eu digo é que me identifico com as correntes conservadores americanas, mas na sua transição para a política americana concreta julgo caso a caso; já aqui escrevemos que nunca fomos bushistas, e que o nosso candidato era Mc Cain. Somos apoiantes de Bush neste ponto da sua política externa (que vai aliás contra a sua plataforma eleitoral), mas não fazemos ideia se a educação ou os impostos estão a ser bem geridos. Tenham paciência os nosos amigos de esquerda: nós estamos mais próximos dos partidos e governos conservadores e liberais, mas não somos homens de partido. Talvez queira visitar este site, e discutir com os rapazes. PM
É BEM, É BEM: A propósito da Moda Lisboa, dizem os peritos que a minissaia está de regresso. É por isto que é bom ser pessimista: assim ficamos mais contentes com as boas notícias. PM
TADINHO: O sr. Le Pen foi expulso do Parlamento Europeu, por ter agredido uma candidata socialista. A vida está difícil para os amigos de Saddam. PM
O CORPO À MANIF: O anti americanismo mais que primário que a esquerda tem vindo a demonstrar durante toda a crise do Iraque é, não só pestilento como lhe chamava outro dia no Publico o Pacheco Pereira, mas também, graças a Deus, sinal de desorientação e impotência. Os Estados Unidos são o Todo Poderoso Império do Mal que há que combater com todas as forças. Mas também são um bando de trapalhões e imbecis a quem tudo corre mal e ao contrário do previsto, como a propaganda não se tem cansado de nos afirmar. Só que, ou bem que são o Império Todo Poderoso, ou bem que são um bando de trapalhões. Se são um bando de trapalhões não vale a pena ninguém preocurpar-se com o que fazem. Estão fadados ao insucesso e teoricamente o Saddam teria resistido sem problemas. Se são todo poderosos, então mais vale mostrá-lo, para provocar o medo. É certo que de caminho, se provocará tambem alguma admiração, mas não se pode ter tudo nesta vida. Ou seja, em vez de afirmar, contra todas as evidências, que tudo estava a correr mal aos americanos, deviam ter mostrado que eles tinham poderio suficiente para neutralizar, quem sabe dizimar, em poucas semanas um exérrcito de porte médio. E a ser assim, e admitindo, a beneficio de raciocinio, que os Estados Unidos são a encarnação do Mal, então haveria que combatê-los com todas as forças. Mas, todas as forças, nestas circunstâncias não se pode resumir a manifestaçõezinhas e gritinhos histéricos. Não se pode limitar a confiar que a sorte lhes será madrasta, ou a confiar que um qualquer tiranete de segunda, abandonado por quase todos, será capaz de lhe fazer frente sozinho. A esquerda que sempre confiou demais na propaganda tem medo de demonstrar ao mundo o poderio americano que considera perigoso. E terá quem sabe uma ultima réstia de vergonha, para apoiar com actos eficazes a escumalha da humanidade. Tabem pode ser tudo só cobardia. Ao menos quando foi da guerra civil espanhola tiveram a coragem de dar o corpo ao manifesto. All in all é só decadência. (Ana Cristina Vasconcelos)
Cara Ana Cristina: já aqui escrevemos que a esquerda gosta de dizer que os adversários são ao mesmo patetas e monstruosos (Reagan, Bush), o que, convenhamos, é um bocado incompatível. Essa esquerda (estamos a falar dos marxistas agora, ó Relativos) tinham outro modo de fazer frente aos EUA, mas esse foi-se, e por isso agora tudo serve, qualquer regime pavoroso, para inflingir uma derrota ao Império. O corpo ao manifesto? Só se for à manifestação. Guerra Civil Espanhola? Ó Ana, eles acusam-nos de belicismo de secretária, mas a maioria dos moços e moças de coragem também só conhecem a inaudita coragem de colar cartazes na Associação de Estudantes. PM
Cara Ana Cristina: já aqui escrevemos que a esquerda gosta de dizer que os adversários são ao mesmo patetas e monstruosos (Reagan, Bush), o que, convenhamos, é um bocado incompatível. Essa esquerda (estamos a falar dos marxistas agora, ó Relativos) tinham outro modo de fazer frente aos EUA, mas esse foi-se, e por isso agora tudo serve, qualquer regime pavoroso, para inflingir uma derrota ao Império. O corpo ao manifesto? Só se for à manifestação. Guerra Civil Espanhola? Ó Ana, eles acusam-nos de belicismo de secretária, mas a maioria dos moços e moças de coragem também só conhecem a inaudita coragem de colar cartazes na Associação de Estudantes. PM
NÃO FOI EM SEU NOME: Também para vocês a guerra acabou antes de acabar? Engoliram o filme da queda da estátua e a grande festa que não existiu em bagdad. Eu continuo a dizer que não foi em meu nome. Seria se o derrube de Saddam não implicasse um preço tão elevado para os iraquianos. Lá por não o quererem ver, ele não deixa de estar lá. Não é por ser a RTP, a tsf , a al-jazzeera ou a dhubai-tv que fala disso e não a sky que ele deixa de existir. Festejo a queda de um regime mas tristeza pelo modo como feito. E a desorganização dos responsáveis em ajudar as populações no caos criado é muito triste. Se eu tivesse apoiado isto, agora estava era envergonhada! (Rita Dias)
Cara Rita: o Pentágono garante-nos nenhum marine, de arma em punho, gritou à Guarda Republicana: «viemos arrasar esta merda em nome da Rita Dias». Esteja descansada, que a sua integridade moral continua impoluta lá pelo Médio Oriente. PM
Cara Rita: o Pentágono garante-nos nenhum marine, de arma em punho, gritou à Guarda Republicana: «viemos arrasar esta merda em nome da Rita Dias». Esteja descansada, que a sua integridade moral continua impoluta lá pelo Médio Oriente. PM
MALANDROS: Alguém no Expresso não gosta de Manuel Maria Carrilho, e não me refiro a quem teve a ideia de lhe dar uma coluna. Aqui há uns tempos, o jornal do dr. Balsemão anunciava que Bárbara Guimarães ia entrevistar... Manuel Maria Carrilho. Corri para a tv, ver coisa tão grotesca, e afinal era... Maria Carrilho. No artigo de hoje, quando Carrilho se refere aos americanos, vem uma gralha: primeiro ainda pensei que era o clássico «amaricanos»; mas não, meus amigos, não: o que vem escrito no Expresso é «amaricamos». Isto não é uma gralha, é uma patifaria. PM
I CONFESS: Um colunista da excelente Salon, confessa: I have a confession: I have at times, as the war has unfolded, secretly wished for things to go wrong. Wished for the Iraqis to be more nationalistic, to resist longer. Wished for the Arab world to rise up in rage. Wished for all the things we feared would happen. I'm not alone: A number of serious, intelligent, morally sensitive people who oppose the war have told me they have had identical feelings. Some of this is merely the result of pettiness -- ignoble resentment, partisan hackdom, the desire to be proved right and to prove the likes of Rumsfeld wrong, irritation with the sanitizing, myth-making American media. That part of it I feel guilty about, and disavow. But some of it is something trickier: It's a kind of moral bet-hedging, based on a pessimism not easy to discount, in which one's head and one's heart are at odds. Isto é verdade para muitos jornalistas e colunistas, ao menos um confessou-o. PM
LER PARA CRER: Vejam as inacreditáveis citações recolhidas por Andrew Sullivan sobre as previsões esquerdistas sobre a guerra: centenas de milhares de mortos, Vietname, derrota militar americana, os iraquianos apoiam Saddam, etc, etc, etc. Ler para crer. PM
MENOS UM BRAVO ANTI-IMPERIALISTA: A queda de Saddam é um facto e a campanha dos aliados um sucesso sem igual, mas para os resistentes, para os ressabiados, a guerra ainda não acabou. Ao melhor estilo do ministro iraquiano da informação e de alguns jornalistas como o Carlos Fisk, perdão, Fino e outros que tais o Iraque ainda não foi libertado, foi invadido. Mete dó ver a esquerdalhada a chorar lágrimas pelo Saddam e mais uma vez a verem os americanos levar a melhor. Um dia destes vão à prateleira e já não lhes resta nenhum ditador para fazer frente aos imperialistas. Coitado do M.Sousa Tavares que queria uma guerra longa para provar a sua teoria e dar largas ao seu ego . Para esses, só lhes resta ver as Al-Jaziras TV do médio oriente, que até agora não passaram imagens dos americanos em Bagdad. Devem estar à espera de confirmação do ministro iraquiano da informação. Onde se terá metido ? será que foi contratado para director de informação da TSF ou TVI ? P.S. Cumpriu-se a vontade da esquerdalhada. Não à guerra. A guerra acabou, porque o herói da esquerda, Saddam, preferiu fugir ou rastejar nos esgotos como as ratazanas. É mais fácil bater em mulheres ou gasear curdos do que combater a sério. E é por causa destes excrementos humanos que parte do ocidente se põe de cócoras, com medo de os ofender. (Jorge Bento)
Caro Jorge: queiram ou não, o sr. Revel disse tudo: certa esquerda alia-se seja com quem for para fazer frente aos EUA. Mas, claro, o anti-americanismo é uma imunda invenção direitista... PM
Caro Jorge: queiram ou não, o sr. Revel disse tudo: certa esquerda alia-se seja com quem for para fazer frente aos EUA. Mas, claro, o anti-americanismo é uma imunda invenção direitista... PM
CONTENTES, ELES? Não se iludam. A queda de Saddam e a alegria dos Iraquiano nada diz à esquerda anti-americana. Pela simples razão de que não é essa a sua causa, nem tão pouco a do destino do povo Iraquiano. Contra todos os factos, toda a evidência, contra tudo, tudo, o que essa esquerda no fundo quer é ver o circo pegar fogo e poderem assistir assim à realização da profecia Marxista que tem entranhada no cérebro. O cúmulo aconteceu ontem quando a RTP2 entrevistou uma "Madre" Lurdes P. que não conseguindo descobrir nesse dia acontecimento mais relevante, se indignava com a desnecessária brutalidade da entrada dum tanque Americano num palácio de Saddam destruindo a porta, uma preciosa obra de arte em madeira trabalhada (não estou a caricaturar nem a deduzir, foi mesmo assim!) E eu que achei o Otelo inultrapassável. (João Santos Lima)
Caro João: o que escreve é tão verdade que, como outros blogs notaram, Domigos Lopes (esse democrata) escreveu anteontem esta pérola, de que aqui citamos o mais belo parágrafo:
Os iraquianos, reprimidos pelo regime de Saddam Hussein, não hesitaram em adiar o combate pela sua libertação e fazer frente ao invasor. Acaso haverá algo de anormal ou misterioso neste facto? Ou não será antes perverso e cínico dar a entender que o mal está na resistência dos iraquianos? Os dirigentes dos EUA sonharam, divulgaram e venderam que os iraquianos iriam aplaudir os soldados americanos. Acaso podem agora dar o braço a torcer?
Soubemos que o sr. Domingos Lopes foi contacto pelo PÚBLICO no sentido de modificar este parágrafo, visto que já era uma manifesta falsidade. Domigos Lopes recusou, disse que mantinha tudo. Um típico marxista, este Lopes: não é a realidade que o vai fazer mudar de opinião. PM
Caro João: o que escreve é tão verdade que, como outros blogs notaram, Domigos Lopes (esse democrata) escreveu anteontem esta pérola, de que aqui citamos o mais belo parágrafo:
Os iraquianos, reprimidos pelo regime de Saddam Hussein, não hesitaram em adiar o combate pela sua libertação e fazer frente ao invasor. Acaso haverá algo de anormal ou misterioso neste facto? Ou não será antes perverso e cínico dar a entender que o mal está na resistência dos iraquianos? Os dirigentes dos EUA sonharam, divulgaram e venderam que os iraquianos iriam aplaudir os soldados americanos. Acaso podem agora dar o braço a torcer?
Soubemos que o sr. Domingos Lopes foi contacto pelo PÚBLICO no sentido de modificar este parágrafo, visto que já era uma manifesta falsidade. Domigos Lopes recusou, disse que mantinha tudo. Um típico marxista, este Lopes: não é a realidade que o vai fazer mudar de opinião. PM
É PENA: Não nos surpreende a posição sobre a guerra da maioria dos blogs portugueses de esquerda (visto que são marxistas). Mas ficámos honestamente tristes com as posições dos Relativos, que não se distinguiram dos comunistas e bloquistas nestas três semanas, com toda a retórica esquerdista mais ultrapassada sobre a situação presente e também sobre o passado, e chegando mesmo ao ponto de dizerem que foi o Exército Vermelho que ganhou (sozinho, imagino) a Segunda Guerra Mundial. Meus amigos, tomem as posições que quiserem, mas depois não nos venham dizer que são «socialistas liberais». Nessa ninguém acredita. PM
NÃO É CONNOSCO: Vamos a ver se nos entendemos: muitas das críticas a Bush e aos EUA não se aplicam a grande parte dos seus apoiantes europeus, e certamente não se aplicam à Coluna:
- não fizemos desta guerra uma guerra religiosa
- não fizemos desta guerra uma guerra entre «bons» e «maus» (embora não tenhamos dúvidas que o sistema de governo americano seja infinitamente melhor que o de dois terços do globo)
- não defendemos que a América agiu «desinteressadamente» (ninguém se porta desinteressadamente, nem na vida privada)
- não achamos que tudo está bem agora, mas que, pelo contrário, há muito por fazer, com imensas dificuldades e perigos
- não somos apóstolos da democracia universal forçosa, mas também não temos a certeza de que a democracia só serve para a França e não presta para os árabes
Como já aqui escrevemos várias vezes, não somos adeptos do «angelismo» político. Não se esqueçam que Maquiavel é um dos nossos mestres. PM
- não fizemos desta guerra uma guerra religiosa
- não fizemos desta guerra uma guerra entre «bons» e «maus» (embora não tenhamos dúvidas que o sistema de governo americano seja infinitamente melhor que o de dois terços do globo)
- não defendemos que a América agiu «desinteressadamente» (ninguém se porta desinteressadamente, nem na vida privada)
- não achamos que tudo está bem agora, mas que, pelo contrário, há muito por fazer, com imensas dificuldades e perigos
- não somos apóstolos da democracia universal forçosa, mas também não temos a certeza de que a democracia só serve para a França e não presta para os árabes
Como já aqui escrevemos várias vezes, não somos adeptos do «angelismo» político. Não se esqueçam que Maquiavel é um dos nossos mestres. PM
sexta-feira, abril 11, 2003
CAOS: Mais extraordinário ainda é o alarme de certas vozes angélicas por causa do caos e da anarquia nas ruas de Bagad e de outras cidades. Ninguém gosta menos que nós de caos e anarquia, mas lembro que caiu um regime com trinta e tal anos, e que há um vazio de poder. Os saques são por isso naturais, e mostram bem como o povo vivia, ansiando por frigoríficos, cadeiras, até jarrões com flores. A ordem deve ser restabelecida o mais cedo possível, como é óbvio. Mas ouvir as víuvas do PREC a clamar contra saques, caos, bandalheira, ó meus amigos... PM
VERGONHA: Agora, maravilhosamente, todos dizem que a guerra eram favas contadas. Vamos aos blogs de esquerda, aos artigos recortados, aos mails recebidos e vemos as referências: «Vietname», «Estalinegrado», «plano catastrófico», «falhanço militar». E no entanto, embora a guerra ainda não tenha acabado, em menos de um mês caíram as principais cidades, o regime desapareceu, o embaixador na ONU reconhece a derrota, morreram 130 militares aliados e, segundo fontes iraquianas, menos de 1500 civis. Tenham vergonha. PM
«BELICISMO» E «PACIFISMO»: O «belicismo» foi uma das acusações mais fantasiosas. Dos que apoiavam a guerra, poucos ou nenhuns são os que conheço que vibram com misséis, conhecem as marcas das bombas, se deliciam com as setinhas, aclamam a visão dos cadáveres, e assim por diante. Uma guerra é uma coisa detestável, porque representa a violência e a morte. Mas mais detestável ainda é a pseudo-paz, que neste caso escondia apenas a existência de um regime facinoroso. Se o «belicismo» foi o papão desta guerra, o «pacifismo» foi o aspecto mais desprezível. Até porque os «pacifistas» vibram com as mortes americanas, os «escudos humanos» cavam assim que ficam em perigo, e assim por diante. O «pacifismo» é a mais repugnante das doutrinas. PM
OPINIÃO: A opinião pública (via inquérito de rua DN) era esmagadoramente contra a guerra. Agora, dizem quase sem excepções, que o Iraque ficará melhor, mesmo se não gostam dos EUA. Conclusão: a guerra não valeu a pena. Para citar a linguista do Acontece: «Como disse?». PM
IMPRENSA SADDAMIZADA (2): No que diz respeito à imprensa portuguesa, entre os perdedores desta guerra estão a TSF, a RTP (o inacreditável, atabalhoado, incompetente Carlos Fino), a Manuela Bokassa Moura Guedes e Robert Fisk (via DN). Portaram-se à altura a SIC (excelente trabalho de Paulo Camacho) e a SIC Notícias (não vimos a Euro News, ao que parece totalmente iraquiana, e aplaudimos sobretudo a Sky). Sobre os jornais, faremos a nossa análise em breve. PM
IMPRENSA SADDAMIZADA: A imprensa árabe e a rua árabe está em choque. Acreditavam no impagável ministro da Informação iraquiana (que saudades...), para não falar em boa parte da imprensa ocidental, como a BBC, que informava os seus ouvintes árabes que a guerra estava a correr de feição a Saddam. É extraordinário como a imprensa europeia é tão facciosa como a facciosa imprensa árabe. Uma lição desta guerra. PM
THE WALL: Alguns comentadores e políticos compararam a libertação de Bagad ao 25 de Abril; a comparação não é feliz, como em geral não são as comparações entre factos políticos. Uma revolução e uma invasão não são obviamente o mesmo, é certo, mas também não há razão para tanta gritaria da esquerda. Ao que parece, nada se compara com o 25 de Abril (talvez os orgasmos múltiplos, e mesmo assim...). Mas para quem tem a nossa idade, é impossível não recordarmos a queda do Muro (estátuas a serem derrubadas, festa nas ruas, a liberdade há muito ansiada. É verdade que alguns (sublinho, alguns) dos que não festejaram a queda de Bagdad também não festejaram a queda do Muro. PM
ALEGRIA E INDIGNIDADE: Não, não chorámos de alegria pela libertação de Bagdad, falta-nos um passado militante para lágrimas políticas. Mas ficámos satisfeitos. Tanto quem era contra esta guerra (não é o nosso caso), como quem achava que vencer a guerra era apenas a primeira etapa (é o nosso caso), devia sentir alegria pelo dia, pelo facto, pelas imagens. Não é ainda a democracia, mas é o fim de uma tirania, e isso é sempre de festejar. Choca-nos que certa esquerda fique indiferente, que faça declarações indignas, como Soares e Pintasilgo. No dia seguinte, que pusessem todas as dúvidas, todas as desconfianças face à democracia, à América, ao que quiserem. Mas no dia 9, podiam ter sentido essa alegria normal para quem defende a liberdade contra a opressão. Registámos quem a sentiu e quem não a sentiu, como já o tínhamos feito no 11 de Setembro. E sentimos o mais vivo repúdio por quem não se contristou com o 11 Setembro e com quem não se alegrou com a libertação de Bagdad. Furtivas lágrimas, odes à liberdade? Não é o nosso estilo, amigos. Mas contem connosco para celebrar todas as estátuas de ditadores derrubadas. PM
A IMPORTÂNCIA DE SE CHAMAR CACHAPA: Hoje, 11 de Abril, às 18.30, decorre na FNAC do Chiado uma apresentação / conversa / projecção a propósito de Oscar Wilde. Serão dados a conhecer ao público os poemas em prosa de Wilde, traduzidos por Possidónio Cachapa para a nova editora Cavalo de Ferro. O debate será entre o Possidónio e moi-même, e laracharemos sobre o tio Oscar, a arte pela arte, o decadentismo e a posteridade dos homens feios. Finalmente, será projectado o filme Wilde, com o impagável Stephen Fry. Apareçam. PM
quinta-feira, abril 10, 2003
NYT AND MR. S: Do New York Times:Residents swarmed out onto the city streets today, suddenly sensing that the regime of Saddam Hussein was crumbling, and they celebrated the arrival of United States forces by tearing down a huge statue of Mr. Hussein in central Baghdad, with some help from American troops. In much of the city, throngs of men milled about - some looting, others blaring car horns or dancing and many tearing up pictures of Mr. Hussein. Offices of Mr. Hussein's Baath Party were vandalized. (...) In Firdos Square in central Baghdad, a group of Iraqi men climbed up the pedestal of a 20-foot statue of Mr. Hussein and smacked it with a sledgehammer. Then they put a chain around the neck of the statue and tied it to an armored American military vehicle. The crowd then cheered and clapped as the vehicle pulled away, toppling the statue. Several Iraqis danced and jumped on the fallen statue. Several men began dragging the head of the statue through the street as crowds reached out to swat it the soles of their shoes, an especially deep insult in Arab culture. Elsewhere in Baghdad, the American military emptied jails overnight, releasing their prisoners. In the neighborhood called Saddam City, a densely populated Shiite area, crowds of men shouted and waved their arms in jubilation. Some carried makeshift flags. One middle-aged man held up a huge portrait of Mr. Hussein, and in the middle of the street used his shoe to beat the face of the Iraqi leader. ``This man has killed two million of us,'' he yelled as bystanders milled around approvingly.(...)
E um comentário do nosso mestre, mr. S.: Three weeks. Under 100 American casualties, half of which came from accidents. No use of tactical WMD. Extraordinarily targeted bombing; exceptionally light force; oil wells intact; Israel secure; Turks kept at bay. War is terrible, of course. It may flare up again for a while. There's still a chance of last-minute atrocities. And every civilian casualty is a tragedy. But it's beginning to look as if this was an amazing military campaign, something of which the American and British people - and their governments - can be deeply, deeply proud.
E mais este: This is an amazing victory, a victory over a monster who gassed civilians, jailed children, sent millions into fruitless wars, harbored poisonous weapons to threaten free peoples, tortured thousands, and made alliances with every two-bit opportunist on the planet. It's a victory over those who marched in the millions to stop this liberation, over the endless media cynics, over the hate-America crowd, and the armchair generals. It's a victory for the two countries in the world that have always made freedom possible and who have now brought it to another corner of the world made dark by terror. It's a victory for the extraordinary servicemen and women who performed this task with such skill, cool, courage and restraint. It's a victory for optimism over pessimism, the righting of past wrongs, the assertion of universal truths against postmodern excuses, and of political leadership over appeasement. Celebrate it. Don't let the whiners take this away from you or from the people of Iraq.
E um comentário do nosso mestre, mr. S.: Three weeks. Under 100 American casualties, half of which came from accidents. No use of tactical WMD. Extraordinarily targeted bombing; exceptionally light force; oil wells intact; Israel secure; Turks kept at bay. War is terrible, of course. It may flare up again for a while. There's still a chance of last-minute atrocities. And every civilian casualty is a tragedy. But it's beginning to look as if this was an amazing military campaign, something of which the American and British people - and their governments - can be deeply, deeply proud.
E mais este: This is an amazing victory, a victory over a monster who gassed civilians, jailed children, sent millions into fruitless wars, harbored poisonous weapons to threaten free peoples, tortured thousands, and made alliances with every two-bit opportunist on the planet. It's a victory over those who marched in the millions to stop this liberation, over the endless media cynics, over the hate-America crowd, and the armchair generals. It's a victory for the two countries in the world that have always made freedom possible and who have now brought it to another corner of the world made dark by terror. It's a victory for the extraordinary servicemen and women who performed this task with such skill, cool, courage and restraint. It's a victory for optimism over pessimism, the righting of past wrongs, the assertion of universal truths against postmodern excuses, and of political leadership over appeasement. Celebrate it. Don't let the whiners take this away from you or from the people of Iraq.
Os americanos entraram em Bagdad, os iraquianos acolhem-nos e festejam-nos, os palácios e edifícios oficiais são assaltados, as estátuas derrubadas. Os momentos de alegria são raros para pessimistas como nós. Não é pela vitória americana que estamos felizes, mas pela derrota do regime e pelos iraquianos nas ruas de Bagdad. Valeu a pena travar esta guerra. Caiu uma tirania, e isso é motivo bastante para a Coluna celebrar. Em próximos posts escreveremos sobre o futuro imediato e mediato, sobre as lições da guerra, sobre a nova ordem internacional, sobre a democracia, sobre o terrorismo, sobre tantos assuntos decisivos. Mas neste momento A Coluna deseja apenas demonstrar publicamente, e em coro com os seus leitores concordantes, a alegria pela queda de Saddam, pela libertação do Iraque.
A Coluna Infame
A Coluna Infame
NÃO FOI SÓ SADDAM: Passa pouco do meio-dia e as imagens de todos os canais internacionais mostram as ruas de Baghdad em festa com o fim do regime, juntamente com outras imagens de júbilo pela chegada das tropas aliadas. Escrevo "todos os canais internacionais" uma vez que - infelizmente - os canais portugueses, incluindo a SIC Notícias, aparentemente estão a dormir ou então preferem focar em notícias já requentadas, quase sempre tendenciosas e desfavoráveis relativamente à invasão. Após ler em rodapé na BBC que algumas pequenas estações árabes não estão a passar estas imagens de alegria nas ruas, faz-me pensar que os nossos canais nacionais também pertencem a esse grupo de imbecis fanáticos! Escrevo estas humildes linhas apenas para responder ao repto lançado para contar como tem sido cobertura das TV's nacionais. (Seguem-se enormes e embaraçosos elogios à Coluna, de que destacamos esta frase: Como outros já escreveram, faz falta mais pessoas a pensar como os (...) membros d'A Coluna. Já estou farto da maior parte dos "jornalistas" nacionais, saídos de um desses cursos de comunicação social, todos eles lavados cerebralmente por um ensino de esquerda (João Lecour)
Caro João: muito obrigado pelos elogios à Coluna: nós servimos mesmo para isso: ser o único diário de direita em Portugal. Quanto ao Iraque, hoje não caiu apenas Saddam, mas também: a TSF, a BBC, Robert Fisk, a esquerda folclórica, Otelo e algumas pessoas de quem esperávamos vergonha. Celebremos isso. PM
Caro João: muito obrigado pelos elogios à Coluna: nós servimos mesmo para isso: ser o único diário de direita em Portugal. Quanto ao Iraque, hoje não caiu apenas Saddam, mas também: a TSF, a BBC, Robert Fisk, a esquerda folclórica, Otelo e algumas pessoas de quem esperávamos vergonha. Celebremos isso. PM
E DEPOIS DO ADEUS: Ao seguir pela imperialista antena da Sky News os acontecimentos desta bela tarde, fico sobretudo a pensar quanta má-fé e cegueira será necessária para que os anti-americanos mais radicais não consigam ver a alegria ? manifestada ainda a medo, tendo em conta décadas de perseguições ? dos iraquianos que, nas ruas da sua capital, pisam a estátua tombada daquele que, até há poucos dias, tinha absoluto poder de decisão sobre as suas vidas. Nem sequer faltou um apelo contra-corrente ao “go home”, ficando por explicar se os dois iraquianos que empunhavam esse cartaz se referiam às tropas norte-americanas ou aos ocidentais que resolveram oferecer-se para escudos humanos de Saddam Hussein. Seja como for, a sua opinião foi respeitada, tal como tende a suceder nos regimes “imperialistas”. Pena é que certamente muitos nossos compatriotas recusem ver como está a ser bonita a festa, pá! (Leonardo Ralha)
Caro Leonardo: o Blog de Esquerda, decentemente, abriu champanhe, mas temos ouvido nas rádios, nas tv's, e na net a esquerda, em geral, a dizer que não há nada para festejar, que a administração americana será pior que Saddam, os iraquianos que festejam nas ruas e ovacionam as tropas são uma meia-dúzia de maltrapilhos, sem representatividade. Qualquer pessoa decente, fosse qual fosse a sua opinião sobre a guerra, devia estar contente pela queda de Saddam. Nós, os Infames, estamos. PM
Caro Leonardo: o Blog de Esquerda, decentemente, abriu champanhe, mas temos ouvido nas rádios, nas tv's, e na net a esquerda, em geral, a dizer que não há nada para festejar, que a administração americana será pior que Saddam, os iraquianos que festejam nas ruas e ovacionam as tropas são uma meia-dúzia de maltrapilhos, sem representatividade. Qualquer pessoa decente, fosse qual fosse a sua opinião sobre a guerra, devia estar contente pela queda de Saddam. Nós, os Infames, estamos. PM
quarta-feira, abril 09, 2003
O OBSERVADOR (2): Na realidade, para todos aqueles que se têm oposto à intervenção, qualquer posição era legítima, qualquer cenário concebível, qualquer hipótese desejável, desde que significasse maiores dificuldades para os Estados Unidos. Há simplesmente quem não queira (quem não quisesse) que a guerra seja ganha pelos nossos aliados. As imagens de hoje mostram-nos um povo iraquiano vitorioso, aliviado por ver finalmente a queda de um ditador sanguinário. Leio o artigo do Bernard Lewis no National Post. Espreito Hitchens, com quem a esquerda poderia ter aprendido muito nesta guerra. Cada vez mais me convenço da oportunidade e justeza desta intervenção. Estamos do lado certo. Politicamente, moralmente, estar do lado certo é a melhor consolação que se pode ter num conflito militar. A esquerda diz que dorme bem, que dorme melhor por estar contra. Pois é: a esquerda, infelizmente, só dorme. PL
O OBSERVADOR: Uma alma neoconservadora (radical), bushista e filisteia como a minha prepara-se todas as noites para ser informada. Ela (não a minha alma) é contra a guerra e fica invariavelmente chocada com a minha natureza beligerante. A SIC esclarece-me que os americanos estão longe da vitória final. A RTP dá-me Carlos Fino (que tem coragem mas permite-se opinar). O DN oferece-nos por importação Robert Frisky, jornalista do Independent (um interessante paradoxo). A TSF começa e acaba o dia com o Ministro da Informação do Iraque (já comparado na blogosfera ao Black Night dos Monthy Python). A esquerda, de São Lenine, São Trotsky e São Hiddens, continua a vociferar contra a guerra. Há três semanas, a guerra ia ser difícil, demorada, com uma avalanche de baixas civis; a frente norte não existia, os americanos eram poucos, a guerra tinha sido mal concebida, a guarda presidencial de Saddam era temível. Alguns seres prodigiosos discutiam o planeamento militar, sabendo tudo o que os pobres dos generais americanos tristemente ignoravam. Agora, porém, que a guerra está quase ganha, era Saddam que estava desarmado, que não possuía capacidade de defesa, que não ameaçava minimamente a comunidade internacional. PL
FLECHAS: Dentro do rosário de argumentos contra a guerra, o meu preferido é o de que as democracias, por serem democracias, não podem ser violentas e belicistas contra regimes não-democráticos. Quando muito, só escutismo, jogar ao berlinde e atirar flechas. Sim, sim. PL
LIVROS, POLÉMICA, HUMOR
É A CULTURA, ESTÚPIDO
Hoje, 9 de Abril, quarta-feira, pelas 18.30, tem lugar no Jardim de Inverno do Teatro S. Luiz, a primeira sessão dos encontros É a Cultura, Estúpido. Organizados pelas Produções Fictícias, os encontros serão realizados mensalmente, e têm uma entrevista, críticas sobre livros, polémica política e humor, em rubricas como Leitura Obrigatória e O Que Não Ando a Ler. As sessões serão apresentadas por Anabela Mota Ribeiro, e terão como participantes os críticos literários José Mário Silva e Pedro Mexia, os jornalistas João Miguel Tavares e Nuno Costa Santos e os colunistas Daniel Oliveira e João Pereira Coutinho (este últimos realizarão um debate que, nesta primeira edição, será sobre Chomsky e a guerra no Iraque), além de um artista convidado para falar (finalmente) a sério num sketch final. O autor do mês será Pedro Rosa Mendes, que estará presente com o fotografo João Francisco Vilhena, a propósito de "Atlântico", obra da autoria de ambos, a ser lançada no dia 10 de Abril. Há livro de reclamações.
É A CULTURA, ESTÚPIDO
Hoje, 9 de Abril, quarta-feira, pelas 18.30, tem lugar no Jardim de Inverno do Teatro S. Luiz, a primeira sessão dos encontros É a Cultura, Estúpido. Organizados pelas Produções Fictícias, os encontros serão realizados mensalmente, e têm uma entrevista, críticas sobre livros, polémica política e humor, em rubricas como Leitura Obrigatória e O Que Não Ando a Ler. As sessões serão apresentadas por Anabela Mota Ribeiro, e terão como participantes os críticos literários José Mário Silva e Pedro Mexia, os jornalistas João Miguel Tavares e Nuno Costa Santos e os colunistas Daniel Oliveira e João Pereira Coutinho (este últimos realizarão um debate que, nesta primeira edição, será sobre Chomsky e a guerra no Iraque), além de um artista convidado para falar (finalmente) a sério num sketch final. O autor do mês será Pedro Rosa Mendes, que estará presente com o fotografo João Francisco Vilhena, a propósito de "Atlântico", obra da autoria de ambos, a ser lançada no dia 10 de Abril. Há livro de reclamações.
terça-feira, abril 08, 2003
ANIMAIS POLÍTICOS: Algumas das pessoas mais proeminentes desta terra tiveram o que, segundo elas, se pode considerar uma autobiografia intelectual. Isto é, leram livros na idade própria: os clássicos direitistas e esquerdistas, os economistas da praxe, alguma literatura. Fizeram-no não para preparar a vida, seduzir meninas tímidas ou lustrar o currículo. Fizeram-no porque pretendiam adquirir alguma satisfatória “cultura” e uma palpável “consciência política”; fizeram-no para obter, como hoje se diz, uma visão do mundo. Hoje, tudo isto nos parece turvo e assaz incompreensível. Em primeiro lugar, temos o sempre invocado declínio da política no ocidente. Declínio que se deve a uma razão óbvia: a política pretendeu tornar as pessoas donas da sua vida, algo a que estas exuberantemente aspiraram. E quando o conseguiu, mesmo que desigualmente, as pessoas rapidamente deixaram de precisar da política e rapidamente a repudiaram. Depois, há um aspecto não menor. O Manuel e a Maria sempre quiseram uma casa na Charneca da Caparica ou em Cascais, um Fiat Punto ou um Audi A4, domingos na praia de Carcavelos ou na Foz no Douro, férias no Algarve ou na Serra Nevada. A política deu-lhes uma ou outra coisa, conforme cada um, à sua maneira, pretendia. Verdadeiramente, não suprimiu as desigualdades mas tornou essa desigualdade mais aceitável. E, na sua óbvia desigualdade, que eles aceitam sem contestar, eles já não precisam da política. Os políticos parecem-lhes obscuras criaturas que ou lhes desbaratam os impostos que pagam ou insistem, sem dúvida, em falar demais. O que quer hoje o novo Manuel e a nova Maria? Numa palavra, querem, sobretudo, tratar dos prazeres, de outros prazeres que nada têm a ver com a política. O mundo é assim. PL
VIETNAME? Charles Moore, editor do Daily Telegraph, resume a marcha das notícias: Having seen several wars - Falklands, Gulf war 1, Kosovo, Afghanistan - from Fleet Street, I notice phases. Phase a) excitement and euphoria. Phase b) "it's all going wrong". Phase c) victory. Keep calm. Nem mais, Charles, nem mais. PM
TOP TEN: No final da guerra publicaremos um top ten dos artigos repugnantes sobre a mesma. Os Infames costumam ler ou espreitar o PÚBLICO, o DN, o Expresso e, claro, o Indy (mas daí não virão surpresas); são bem-vindos pastes ou links sobre textos aparecidos nesses ou noutros jornais. Textos repugnantes a favor da guerra (também os há) podem também ser considerados, embora não queiramos fazer o trabalho dos canhotoblogues. Não enviem artigos contra a guerra escritos por pessoas moderadas e decentes, como Medeiros Ferreira e Mário Mesquita, ou por iraquianos demasiado óbvios, como Rosas ou Miguel Portas, a não ser que mesmo estes consigam bater o seu próprio recorde. Preferimos textos de esquerdistas aparentemente civilizados que se passaram nas últimas semanas, bem como de direitistas da treta e de católicos da carneirada. Temos já três textos que estarão no top final: de Miguel Sousa Tavares, de José Vitor Malheiros e de Paulo Cunha e Silva. Contributos, como sempre, para colunainfame@hotmail.com Agradecidos. PM
LIFE IS A CABARET, MY DEAR: Cito a primeira parte do texto de ontem de Eduardo Cintra Torres:
Misturando anedotas e "stand-up comedy", "Levanta-te e Ri" (SIC) é um curioso projecto na área do humor televisivo. Apresentado ao vivo num palco de estúdio, como a TV dos anos 50, é uma sequência de prestações individuais de cómicos. Grande parte do humor apresentado inscreve-se no género revisteiro, responsável pelo coma profundo do humor inteligente nos "mass media". Fernando Rocha, vencedor dum concurso de anedotas na TVI (Ri-te, Ri-te), representa esse género antiquado mas ainda popular que submerge as veleidades de humor mais fino: ele é boçal, ordinário e grita as anedotas; mas, com genuíno jeito para a ordinarice, tem êxito popular. Deverá ser um dos nomes persistentes do entretenimento de massas nos próximos anos.
O apresentador do programa, Marco Horácio, conta as anedotas e vai dando o palco aos outros cómicos, sendo alguns herdeiros do "Malucos do Riso" e outros desconhecidos que pretendem surpreender-nos. Alguns conseguem, como Horácio, que se sai bem na tarefa de mestre de anti-cerimónias. Também me surpreendeu Aldo Lima, que vi num excelente momento de "stand-up comedy" imitando o toureio espanhol e português. Este humorista foi um dos poucos a utilizar o corpo, e bem, para criar humor, na tradição dos grandes criadores cómicos. O "sketch" revelava preparação e um humor ao mesmo tempo fino e aberto, o que não é fácil.
Fora da TV generalista, há o Cabaret da Coxa (SIC Radical), de Rui Unas e da sua minúscula equipa. O que conseguem é espantoso: num estúdio minúsculo, o programa dispõe do mais talentoso apresentador e de textos divertidos; criou um género marginal inteligente e com audiência fiel. O Cabaret da Coxa consegue o feito difícil de ter em sequência bandas de garagem, os pimbas mais rascas, bons textos de humor, um bom apresentador e entrevistador - e sobre tudo isto um registo de ironia que nos diz que nada daquilo é para levar a sério nem literalmente. Por exemplo, os músicos são tão maus que temos de rir e aceitar naquele âmbito. O mesmo com a linguagem ordinária e os cenários de fancaria. Barato e manhoso, o Cabaret da Coxa é o programa mais divertido da TV temática.
Vem isto a propósito do site que se chama... desse site, vocês sabem... do mail da Sara, e de outros que recebemos sobre o mesmo assunto. Todos temos guilty pleasures (um amigo confessava-me outro dia que os seus eram os filmes de vampiros italianos dos anos 70). Além do mais, esta caldeirada da pós-modernidade, com o esbatimento de fronteiros entre alta e baixa cultura, com a glória da ironia e do pastiche, com a recuperação do kitsch, permite um tratamento diferente de produtos «proibidos» por parte dos «intelectuas». No caso do humor televisivo português, assistimos a uma cooptação do pimba por parte de Herman, que mesmo se com intenções sádicas, consagrou na tv artistas que não tinham acesso a esse espaço. A geração pós-Herman, como é o caso do Cabaret, ainda retoma esse universo do rasca portuga, mas já não faz elogios maldosos aos convidados, simplesmente lhes diz, por outras palavras: «vocês estão aqui porque são uma merda». Todo o Cabaret é o puro gozo pós-moderno com o país que temos. o guilty pleasure contínuo e delirante. E por isso Rui Unas é a grande revelação da tv portuguesa. O caso de Fernando Rocha é paradigmático: material péssimo e por vezes velhíssimo, ordinarice pura, subtileza nenhuma, e no entanto... o senhor tem imenso talento para aquilo, no timing, no jogo corporal, na voz, em quase tudo o que define um cómico. Dentro do género, Fernando Rocha é excelente, mesmo se o género deixa muito a desejar. Tentem compreender estes fenómenos, e não assumir um neo-moralista - desta vez «progressista» - sobre estes assuntos. PM
Misturando anedotas e "stand-up comedy", "Levanta-te e Ri" (SIC) é um curioso projecto na área do humor televisivo. Apresentado ao vivo num palco de estúdio, como a TV dos anos 50, é uma sequência de prestações individuais de cómicos. Grande parte do humor apresentado inscreve-se no género revisteiro, responsável pelo coma profundo do humor inteligente nos "mass media". Fernando Rocha, vencedor dum concurso de anedotas na TVI (Ri-te, Ri-te), representa esse género antiquado mas ainda popular que submerge as veleidades de humor mais fino: ele é boçal, ordinário e grita as anedotas; mas, com genuíno jeito para a ordinarice, tem êxito popular. Deverá ser um dos nomes persistentes do entretenimento de massas nos próximos anos.
O apresentador do programa, Marco Horácio, conta as anedotas e vai dando o palco aos outros cómicos, sendo alguns herdeiros do "Malucos do Riso" e outros desconhecidos que pretendem surpreender-nos. Alguns conseguem, como Horácio, que se sai bem na tarefa de mestre de anti-cerimónias. Também me surpreendeu Aldo Lima, que vi num excelente momento de "stand-up comedy" imitando o toureio espanhol e português. Este humorista foi um dos poucos a utilizar o corpo, e bem, para criar humor, na tradição dos grandes criadores cómicos. O "sketch" revelava preparação e um humor ao mesmo tempo fino e aberto, o que não é fácil.
Fora da TV generalista, há o Cabaret da Coxa (SIC Radical), de Rui Unas e da sua minúscula equipa. O que conseguem é espantoso: num estúdio minúsculo, o programa dispõe do mais talentoso apresentador e de textos divertidos; criou um género marginal inteligente e com audiência fiel. O Cabaret da Coxa consegue o feito difícil de ter em sequência bandas de garagem, os pimbas mais rascas, bons textos de humor, um bom apresentador e entrevistador - e sobre tudo isto um registo de ironia que nos diz que nada daquilo é para levar a sério nem literalmente. Por exemplo, os músicos são tão maus que temos de rir e aceitar naquele âmbito. O mesmo com a linguagem ordinária e os cenários de fancaria. Barato e manhoso, o Cabaret da Coxa é o programa mais divertido da TV temática.
Vem isto a propósito do site que se chama... desse site, vocês sabem... do mail da Sara, e de outros que recebemos sobre o mesmo assunto. Todos temos guilty pleasures (um amigo confessava-me outro dia que os seus eram os filmes de vampiros italianos dos anos 70). Além do mais, esta caldeirada da pós-modernidade, com o esbatimento de fronteiros entre alta e baixa cultura, com a glória da ironia e do pastiche, com a recuperação do kitsch, permite um tratamento diferente de produtos «proibidos» por parte dos «intelectuas». No caso do humor televisivo português, assistimos a uma cooptação do pimba por parte de Herman, que mesmo se com intenções sádicas, consagrou na tv artistas que não tinham acesso a esse espaço. A geração pós-Herman, como é o caso do Cabaret, ainda retoma esse universo do rasca portuga, mas já não faz elogios maldosos aos convidados, simplesmente lhes diz, por outras palavras: «vocês estão aqui porque são uma merda». Todo o Cabaret é o puro gozo pós-moderno com o país que temos. o guilty pleasure contínuo e delirante. E por isso Rui Unas é a grande revelação da tv portuguesa. O caso de Fernando Rocha é paradigmático: material péssimo e por vezes velhíssimo, ordinarice pura, subtileza nenhuma, e no entanto... o senhor tem imenso talento para aquilo, no timing, no jogo corporal, na voz, em quase tudo o que define um cómico. Dentro do género, Fernando Rocha é excelente, mesmo se o género deixa muito a desejar. Tentem compreender estes fenómenos, e não assumir um neo-moralista - desta vez «progressista» - sobre estes assuntos. PM
segunda-feira, abril 07, 2003
NO PROBLEM: Ainda a propósito do post do Ricardo, e para citar um dos melhores livros canhotos da minha biblioteca, o importante não é que exista uma tradição, mas que a inventemos. PM
PIADA INTERNA: A Coluna Infame é um blog conservador-liberal mantido por Pedro Lomba (PL), Pedro Mexia (PM) e... e... há um outro, não há? PM
TACO A TACO: Um novo blog à esquerda, o Farpa do Ricardo Noronha, que conhecemos do blog dos manos Silva e agora também da pavorosa Ideias à Esquerda (que grafismo, senhores...). Percorríamos nós os posts e tumba, críticas à Coluna (e não só). Eis:
A Coluna Infame está na moda. Quando Pacheco Pereira, do alto da sua categoria de opinion maker magnânimo, a descreveu como "o melhor blog em português", percebemos logo que os rapazes iam de vento em popa. A direita sofisticada não desperdiça cartuchos, e em tempos de isolamento, é bom saber com quem é que se pode contar. Os rapazes logo disseram presente e não deixam os seus créditos por mãos alheias. Leram tudo, sabem de tudo, têm opinião acerca de tudo, desde o sorriso da Joana Amaral Dias às mamadas que faltam a Bush ("sexistas, nós? Isso é apenas um recalcamento da esquerda!", dizem, a ver se a gente engole), de Oakenshott ao goulag, numa moda muito corrente, que passa pela utilização de um tom categórico em todas as afirmações e do insulto a quem contrapõe uma visão diferente. Se é verdade que esta direita é culta e inteligente, o cobertor é demasiado pequeno e, esticado que esteja, não tapa toda a indigência intelectual do pensamento conservador português. E quem o diz não está a defender que a esquerda vê ao longe (talibans há dos dois lados, como nós tivemos ocasião para comprovar). Mas estamos sem dúvida alguma melhor acompanhados na luta das ideias. É que uma ignorância de séculos, um medo genético da inteligência, uma mentalidade fechada e ultramontana como é propensão e tradição histórica da direita portuguesa, não se resolvem com uns doutoramentos em Oxford, uns livros de poesia inspirados e um bom conhecimento do código civil. Há coisas que só mesmo uma burguesia a sério, a classe da modernidade por excelência, pode fornecer. O Belmiro bem se esfalfa a manter um diário legível, mas é pouco. O nosso "progresso" é um ornamento de civilização. O exemplar típico da direita intelectual portuguesa é Vasco Graça Moura. Os infames são apenas uns tipos espertos angustiados pela solidão. De todas as formas, bem mais suportáveis e interessantes do que os insuportáveis "jovens com a terceira via", e os seus chavões acerca da liberdade e da igualdade e o seu socialismo liberal. A ambiguidade da combinação é típica do pensamento político do centro. Sem qualquer consistência, sem qualquer alcance, sem qualquer significado prático. Uma desculpa para não pensar.
Toda a gente que comenta assuntos vários é considerada categórica, arrogante, etc e tal. Temos strong opinions, para citar o delicioso livro de Nabokov, mas não valem mais que as do Ricardo, que aliás no seu blog é também bastante categórico, arrogante e sobretudo etc e tal (este governo, por exemplo, é «odioso»). O diagnóstico sobre a tradição intelectual da direita portuguesa é um bocadinho sumário (categórico?), mas no essencial estamos de acordo; não escondemos a nossa condição de estrangeirados, mas esse é o mal português desde há 300 anos, e não há como lhe escapar. «Angustiados com a solidão»? Com certeza. Pedimos ao Ricardo que nos envie pessoas adultas, urbanas e com neurónios que não estejam «angustiadas com a solidão». Por favor, não recorram a explicações «psicológicas» das ideias políticas, isso nem o tio Karl. (Ah, e o meu site literário é O Real Absoluto, e correio é bem-vindo para pedro_mexia@hotmail.com, mas os meus poemas não têm nada a ver com a Coluna, façam a fineza). PM
A Coluna Infame está na moda. Quando Pacheco Pereira, do alto da sua categoria de opinion maker magnânimo, a descreveu como "o melhor blog em português", percebemos logo que os rapazes iam de vento em popa. A direita sofisticada não desperdiça cartuchos, e em tempos de isolamento, é bom saber com quem é que se pode contar. Os rapazes logo disseram presente e não deixam os seus créditos por mãos alheias. Leram tudo, sabem de tudo, têm opinião acerca de tudo, desde o sorriso da Joana Amaral Dias às mamadas que faltam a Bush ("sexistas, nós? Isso é apenas um recalcamento da esquerda!", dizem, a ver se a gente engole), de Oakenshott ao goulag, numa moda muito corrente, que passa pela utilização de um tom categórico em todas as afirmações e do insulto a quem contrapõe uma visão diferente. Se é verdade que esta direita é culta e inteligente, o cobertor é demasiado pequeno e, esticado que esteja, não tapa toda a indigência intelectual do pensamento conservador português. E quem o diz não está a defender que a esquerda vê ao longe (talibans há dos dois lados, como nós tivemos ocasião para comprovar). Mas estamos sem dúvida alguma melhor acompanhados na luta das ideias. É que uma ignorância de séculos, um medo genético da inteligência, uma mentalidade fechada e ultramontana como é propensão e tradição histórica da direita portuguesa, não se resolvem com uns doutoramentos em Oxford, uns livros de poesia inspirados e um bom conhecimento do código civil. Há coisas que só mesmo uma burguesia a sério, a classe da modernidade por excelência, pode fornecer. O Belmiro bem se esfalfa a manter um diário legível, mas é pouco. O nosso "progresso" é um ornamento de civilização. O exemplar típico da direita intelectual portuguesa é Vasco Graça Moura. Os infames são apenas uns tipos espertos angustiados pela solidão. De todas as formas, bem mais suportáveis e interessantes do que os insuportáveis "jovens com a terceira via", e os seus chavões acerca da liberdade e da igualdade e o seu socialismo liberal. A ambiguidade da combinação é típica do pensamento político do centro. Sem qualquer consistência, sem qualquer alcance, sem qualquer significado prático. Uma desculpa para não pensar.
Toda a gente que comenta assuntos vários é considerada categórica, arrogante, etc e tal. Temos strong opinions, para citar o delicioso livro de Nabokov, mas não valem mais que as do Ricardo, que aliás no seu blog é também bastante categórico, arrogante e sobretudo etc e tal (este governo, por exemplo, é «odioso»). O diagnóstico sobre a tradição intelectual da direita portuguesa é um bocadinho sumário (categórico?), mas no essencial estamos de acordo; não escondemos a nossa condição de estrangeirados, mas esse é o mal português desde há 300 anos, e não há como lhe escapar. «Angustiados com a solidão»? Com certeza. Pedimos ao Ricardo que nos envie pessoas adultas, urbanas e com neurónios que não estejam «angustiadas com a solidão». Por favor, não recorram a explicações «psicológicas» das ideias políticas, isso nem o tio Karl. (Ah, e o meu site literário é O Real Absoluto, e correio é bem-vindo para pedro_mexia@hotmail.com, mas os meus poemas não têm nada a ver com a Coluna, façam a fineza). PM
LIVROS, POLÉMICA, HUMOR: No próximo dia 9 de Abril, quarta-feira, pelas 18.30, tem lugar no Jardim de Inverno do Teatro S. Luiz, a primeira sessão dos encontros É a Cultura, Estúpido. Organizados pelas Produções Fictícias, os encontros serão realizados mensalmente, e têm uma entrevista, críticas sobre livros, polémica política e humor, em rubricas como Leitura Obrigatória e O Que Não Ando a Ler. As sessões serão apresentadas por Anabela Mota Ribeiro, e terão como participantes os críticos literários José Mário Silva e Pedro Mexia, os jornalistas João Miguel Tavares e Nuno Costa Santos e os colunistas Daniel Oliveira e João Pereira Coutinho (este últimos realizarão um debate que, nesta primeira edição, será sobre Chomsky e a guerra no Iraque), além de um artista convidado para falar (finalmente) a sério num sketch final. O autor do mês será Pedro Rosa Mendes, que estará presente com o fotografo João Francisco Vilhena, a propósito de "Atlântico", obra da autoria de ambos, a ser lançada no dia 10 de Abril. Há livro de reclamações.
OH, O PASSADO: Com a permissão do Tiago Cavaco, uma brevíssima incursão no seu território: já tínhamos um best of de António Variações, e agora saiu o de (tchan tchan tchan tchan) ... Carlos Paião. Se a seguir editarem a BSO do Verano Azul, iremos todos às lágrimas. PM
ENTÃO É ISSO: Do leitor Manuel Carreira, uma informação onomástica: T.S.F. são as iniciais de Todos Somos Fedayn. Já suspeitávamos. PM
ONE FROM THE HEART: Talvez isto merecesse apenas um comentário, ZM, mas por razões óbvias fica aqui um post: temos o maior gosto em polemizar com toda a gente, especialmente articulada e inteligente, como é manifestamente o caso do Daniel (vamos estar todos no S. Luiz na 4ª), mas por favor não transformem o Blog de Esquerda no Bloco de Esquerda. A não ser que queiram dar razão ao engano do Pacheco. PM
DESQUITES (CONT:): Se me permitem dar uma informação técnica, o que não se percebe é qual é a dos bloquistas. De acordo com a lei vigente já é perfeitamente possivel pedir o divorcio sem violação dos deveres conjugais.É necessário é o consentimento de ambos os conjuges. E nem é necessário ir ao tribunal. Se não houver filhos menores e houver acordo quanto á partilha dos bens, basta ir á conservatória do registo civil. Mesmo que o divorcio seja litigioso e um dos conjuges seja considerado culpado de violação de algum dever conjugal, tal tem pouca relevancia prática. Só influencia na partilha dos bens se o regime de bens for o da comunhão geral, o que hoje em dia é raro. E a regulamentação do poder paternal, tem normalmente mais em conta o interesse dos menores do que as violações de devers conjugais, embora em certos casos, possa ter alguma influencia. Resta, pois,a situação em que um se quer divorciar, o outro não, e não há violações significativas de qualquer dever conjugal. Presentemente, tem que haver separação de facto durante vários anos, antes que qualquer dos conjugues possa pedir o divorcio. E a separação de facto, pode em alguns casos, consubstanciar violação de deveres conjugais. Mas, como acima referi, as consequencias são minimas. O prazo, que agora não me lembro quantos anos são, é que é relativamente longo. Só que encortar um prazo não me parece nada de revolucionario. É certo, que o regime juridico do divorcio sofreu muitas alterações avulsas e até precisa de uma reforma geral. Não precisa é de servir de bandeira para a revolução sexual, nem vejo como o possa ser. Seja como for, os bloquistas parecem estar atrasados, como agora é costume deles. Quanto aos bloguistas, lamento dar-lhes estas tristes noticias. A familia já levou o que tinha que levar. Já me irrita muito mais, a equiparação praticamente total que se fez da união de facto ao casamento, muito por intervenção dos bloquistas e com vista a aplainar o caminho para o reconhecimento de uniões homosexuais. Á conta disso, uma pessoa mesmo que não se queira casar, basta viver com outra, por enquanto, de outro sexo, para estar sujeita ás mesmas regras. Acho um atentado abusivo á liberdade individual. (Ana Cristina Vasconcelos)
Cara Ana: obrigado pelos esclarecimentos técnicos (e pelos esclarecimentos biográficos doPossidónio). Creio que a proposta do Bloco é, como o Pedro já referiu, enormemente liberal, e seria certamente aplaudida pelos nossos amigos libertários dos states, o que tem a sua graça. Quanto à questão substancial: é evidente que o casamento é um contrato, e que não se deve amarrar alguém coercivamente a um contrato, sobretudo se estamos a falar da vida íntima. Em termos de princípios, esta proposta não me choca, embora me pareça que a existência ou não de filhos menores não deve ser indiferente, no sentido de uma maior exigência para a dissolução do vínculo. Não sou adepto de um modelo único de família, embora também não me parece interessante que chamemos «família» à coabitação da Tia Inácia com uma bicicleta, como querem os vanguardistas. O Direito da Família (o Direito, em geral) não deve ser vanguardista, mas deve evidentemente acompanhar as mudanças sociológicas, sob pena de ser uma velharia grotesca (como era o Direito de Família do Estado Novo). O outro ponto que gostava de interrogar é este: o divórcio cresceu 50 % no ano passado, e em países como os EUA apresenta números altíssimos. Ora no divórcio, como em tudo, há um conflito: neste caso o conflito entre a libedade e a autonomia (fazer e refazer a vida privada como se quiser), por outro lado, a protecção da parte mais fraca, neste caso os filhos menores, por outro. Não creio que uma taxa alta de divórciso represente um facto positivo, mas também não creio que a lei possa e deva legislar moralidade. O que digo é que nos casais com filhos menores fazer o divórcio depender de uma manhã de tédio parece-me perigoso. Os nossos amigos esquerdistas devem perceber que isto são preocupações sérias, e não nostalgias de modelos autoritários que nenhum dos Infames partilha. PM
Cara Ana: obrigado pelos esclarecimentos técnicos (e pelos esclarecimentos biográficos do
ARGUMENTOS MORAIS, ARGUMENTOS LIBERAIS: A confraria trotsquista quer alterar a lei do divórcio, eu comentei a iniciativa (sem nada dizer quanto à substância) e um pequeno mundo escandalizou-se. O amigo Possidónio ergueu o argumento da experiência, um argumento que eu obviamente valorizo (eu estudei o suficiente Direito da Família para saber que o casamento é, quase em permanência, um acto a três). O camarada Oliveira trouxe o argumento escatológico, dizendo que eu quero é meninas de avental e caladinhas à mesa (o que é apenas verdade para o avental porque eu não percebo nada de cozinha). Se me dão licença, digo agora o que não disse de manhã. O meu post era sobre duas coisas. Primeiro, sobre o Bloco de Esquerda, que goza na comunicação social portuguesa de um estatuto semelhante ao do Ministro da Informação do Iraque. Depois, sobre uma questão mais teórica que formulo nos seguintes termos: as questões políticas podem ser decididas com critérios morais exclusivamente individuais? Uma prevenção para começar: eu acredito que as questões morais nos dividem. As nossas convicções éticas não são simples, não são o produto de uma escolha esclarecida, não são coerentes ou inabaláveis. O que desejaríamos ser, não somos. O que pretendemos para os outros, não pretendemos necessariamente para nós. Vivemos com contradições, com equívocos, com enganos. Erramos permanentemente. Iludimo-nos permanentemente. Talvez por causa desta incerteza, a filosofia moral não é e não pode ser a filosofia política. As perguntas - Como devo viver? Como devo agir? - não são perguntas políticas, não são resolúveis politicamente. A política trata da paz e da grandeza colectiva, a moral da virtude individual. A política trata dos outros, a moral de nós mesmos. O que quero dizer é sobretudo isto: é hoje possível o divórcio a todo o momento havendo acordo entre os cònjuges e é completamente justificado que assim seja. Mas admitir a dissolução do casamento porque um senhor ou uma senhora resolveram mudar de ideias, significa sujeitar a continuidade familiar a uma decisão puramente individual. As escolhas morais têm ou podem ter, no plano político, consequências nocivas, por mais legítimas e aceitávies que possam ser no plano moral. Este é um dos motivos (não tenho tempo para explicar agora) por que não sou um liberal. Mas espanta-me que o Bloco seja tão persistente a defender argumentos liberais numas coisas quando o liberalismo não é muito o seu forte. PL
LIVROS, POLÉMICA, HUMOR: No próximo dia 9 de Abril, quarta-feira, pelas 18.30, tem lugar no Jardim de Inverno do Teatro S. Luiz, a primeira sessão dos encontros É a Cultura, Estúpido. Organizados pelas Produções Fictícias, os encontros serão realizados mensalmente, e têm uma entrevista, críticas sobre livros, polémica política e humor, em rubricas como Leitura Obrigatória e O Que Não Ando a Ler. As sessões serão apresentadas por Anabela Mota Ribeiro, e terão como participantes os críticos literários José Mário Silva e Pedro Mexia, os jornalistas João Miguel Tavares e Nuno Costa Santos e os colunistas Daniel Oliveira e João Pereira Coutinho (estes últimos realizarão um debate que, nesta primeira edição, será sobre Chomsky e a guerra no Iraque), além de um artista convidado para falar (finalmente) a sério num sketch final. O autor do mês será Pedro Rosa Mendes, que estará presente com o fotógrafo João Francisco Vilhena, a propósito de "Atlântico", obra da autoria de ambos, a ser lançada no dia 10 de Abril. Há livro de reclamações.
ACERCA DE UMA PROPOSTA: Soube-se ontem (ou há dois dias, não sei bem) que o Bloco de Esquerda vai apresentar um projecto de lei para permitir o divórcio por livre iniciativa de um dos cônjuges e sem necessidade de provar violação dos deveres conjugais. Estes números de circo do Bloco de Esquerda não são novos. Os rapazes e raparigas do grémio são muito avançados. Não têm preconceitos. Abominam tradições. Não gostam do que está. Claro que o Bloco não é um partido político mas um grupo de teatro amador e, por isso, é-lhe sempre permitida alguma irresponsabilidade. Se alguém perguntasse àqueles senhores como é que eles resolviam o défice, o desemprego ou o fraco crescimento económico de Portugal, o mais certo era ouvirem o vácuo. Noutros assuntos, eles brilham de ideias. PL
SUCESSORES: Roubo esta à National Review (as coisas que nós lemos, meu Deus): Kim Jong Ill escolheu o seu filho de 21 anos para lhe suceder à frente da Coreia do Norte. Mas há um problema: o rapaz estudou em França. PL
A PALAVRA AO MESTRE: E já agora, para variar, meninos e meninas do eixo Marx-Rosa Luxemburgo-Giddens (não esqueci ninguém, pois não?) passem os olhos por este artigo do Andrew Sullivan. O que a esquerda nunca verá. PL
VIVE LA FRANCE: A França não é só o senhor Chiraque. Leiam esta entrevista de André Glucksmann. Vindo de quem vem, ainda há esperança para a linha Maginot. PL
WILL YOU? Não sei se o leram o texto de Will Hutton (publicado no Guardian, onde haveria de ser?) sobre o nosso Tony Blair. Não é um texto carinhoso: Hutton desanca Blair pelo seu alinhamento com Bush e com a direita americana e profetiza-lhe uma morte inevitável. Durante anos andámos a desprezar as qualidades de Blair, tomando-o por um irrelevante político de dentes coruscantes. Bem vistas as coisas, o nosso problema não era Blair mas um certo engenheiro melífluo que procurou governar Portugal como se governa a Internacional Socialista e que, erradamente, associávamos ao político inglês. Agora que Blair assumiu corajosamente uma posição política clara, juramos-lhe fidelidade e não deixaremos que nenhum Hutton se meta com o nosso Primeiro-Ministro. Hutton não percebeu, de resto, que Blair é um liberal. No actual estado das coisas, um liberal só poderia aliar-se a Bush na guerra ao terrorismo. Blair sente que a ameaça terrorista, a intolerância religiosa e cultura de fanáticos ameaça a segurança de Estados como o Reino Unido. Por isso participa nesta guerra. Isto não significa abraçar todas as causas do conservadorismo republicano ou tornar-se o embaixador britânico dos Estados Unidos. Significa apenas que, quando se trata de defender os valores liberais, não pode haver meias-tintas ou alianças (voluntárias ou involuntárias) com tiranias. PL
NEXT: Concordamos plenamente com o novo blog liberal Liberdade de Expressão: a seguir é preciso abolir o Serviço Militar Obrigatório. Será que o Paulinho lê os blogs? PM
ÉDIPO AO CONTRÁRIO: Na TSF, Carlos Amaral Dias disse, citando Freud, que a tentação de mudar o mundo corresponde a uma fase «narcísica» e «infantil». Tem toda a razão, mas não se insulta assim a família em público, Professor. PM
CHARLOTTE SOMETIMES: Um blog completamente feminino, o Bomba Inteligente, que já se pronunciou sobre a dupla fashion Alves & Gonçalves e sobre o Prof. Kant. À Charlotte, as nossas boas-vindas. PM
A INTERNACIONAL: No dia fatal em que o Blogue dos Marretas foi tomado pela comunada, estávamos com problemas no Blogger (acontece aos melhores...), mas depois disso já nos candidatámos e fomos aceites na organização anti-vermelhusca da blogosfera lusófona: a União dos Blogues Livres. Blogueiros anti-marxistas ficam convidados a aderir, através do contacto com algum dos actuais membros. Os comunas não passarão. PM
MENOS CRIMINALIDADE: O Governo vai acabar com o Imposto de Sucessões. Não me parece que o mérito seja de Ferreira Leite mas de Figueiredo Lopes: o Imposto de Sucessões, afinal, era uma actividade criminosa. PM
DEMOCRÁCIA: O senhor presidente do Sindicato dos Jornalistas português não se pronuncia sobre os jornalistas que o democrata Fidel mandou prender enquanto o mundo está distraído com o Iraque. Realmente, se eles foram presos, alguma devem ter feito. El Comandante tem sempre razão. PM
BENEMÉRITO: O senhor Kabila Jr. (quem sai aos seus...) mandou matar mil pessoas, comme ça. Estes ocidentais são uns carniceiros... PM
PAZ MAS NÃO «PAZ»: Não é só Ramos Horta; este Prémio Nobel da Paz também é a favor da intervenção no Iraque. (Como disse? Ah, «mas esse é judeu». Pois, pois). PM
domingo, abril 06, 2003
POP: Sou um fã esquerdista da Coluna. Por motivos muito românticos, deu-me para voltar a ouvir os Sonic Youth. Imagino que o Pedro Mexia os tenha em alguma conta, julgando pelas outras referências que já lhe conheço. É isto que queria saber. Como é que um conservador gosta de música de esquerda? (Este ‘como’ é mesmo como, não porquê; porquê percebo eu: são muito bons). Sei que os SY são de esquerda, um bocado anarco-pós-estruturalista, feministas, e se se ler muitas das letras, e se souber do contexto quotidiano norte-americano percebe-se, etc... Mas não é disto que estou a falar, não é da mensagem. Uma palavra aqui e acolá, os sons, o tom, a voz a da Kim Gordon, principalmente , o radicalismo, a onda, isto tudo a mim ressoa-me pelo corpo, pelo coração, de uma forma que é de esquerda e intrinsecamente anti-conservadora. É impossível imaginar os SY sem me sentir assim. Não sei se estou a disparatar, mas tenho curiosidade de saber o que pensa disto um conservador que me cheira que gosta deles; e caso não goste, digo já que acho que a mesma coisa se aplica um pouco a outros, aos Radiohead, aos Pixies, talvez a grande parte das referências musicais que já lhe vi na Coluna (mas, por exemplo, os Smiths: eram pró-labour, mas não os sinto como esquerda --neles, é irrelevante). Sente alguma coisa de esquerda, ou, para o efeito, conservadora, quando ouve estes grupos? Ou isso aqui não interessa? (Gonçalo Praça)
Caro Gonçalo: antes de mais, ficamos muito satisfeitos por haver «fãs esquerdistas» da Coluna, significa que não são primários e que gostam de tomar contacto com ideias diferentes. Obrigado pela fidelidade e pela pergunta. No que diz respeito à música pop (penso que se refere apenas a essa) há uma clara cisão aqui na Coluna: os Pedros são devotos e o João é no mínimo desconfiado. As razões pelas quais eu gosto maniacamente de música pop são em primeiro lugar biográfico-etárias, em segundo lugar culturais, e muito pouco políticas. Biográficas e etárias porque a música pop é a banda-sonora de adolescentes, jovens e jovens adultos: ninguém como os songwriters pop sabe dizer (mas também chorar, sussurrar, gritar, emudecer, sugerir, esgasgar, desdizer) o que sentimos nessas idades, e as experiências essencialmente de ordem afectiva - embora não estritamente amorosa - pelas quais passamos. Como eu costumo dizer, ao ouvir certas canções penso sempre que o songwriter esteve, este tempo todo, debaixo da minha cama, a espiolhar-me a existência. Do ponto de vista mais cultural, a boa música pop apresenta alguns desafios que me parecem muito interessantes: musicar poemas (ou letras tendencialmente poéticas), voltando assim às origens da poesia; chegar às massas como a literatura não chega; cruzar imaginativamente as artes, através por exemplo dos videoclips; conseguir triunfar num oceano de pastilha elástica para os ouvidos. A política, no meio disso, interessa-me menos: existem grupos com evidente carga política, aliás quase todos à esquerda: Dead Kennedys, Clash, Billy Bragg, Public Enemy, ou outros que tomam publicamente posições políticas, dos Beatles aos REM. À direita, um leitor nosso sugeriu Kinks, mas podemos acrescentar os primeiros Blur, o Cohen, os Joy Division, bem como uma linha de instrospectivos algo reaças, de Nick Drake a Will Oldham. Os Sonic Youth (gosto deles, pois gosto), são realmente uns belos canhotos, embora os Radiohead e os Pixies tenham uma cabeça demasiado esquizóide para serem consideradas bandas políticas. Por outro lado, como definir Tom Waits, Depeche Mode ou os...Duran Duran? Smiths é um caso diferente: os rapazes eram anti-Maggie e anti-monarquia, mas que eu saiba participaram apenas uma vez, e sem grande convicção, na festa do Labour (Red Wedge), e o Morrissey a solo encostou-se a posições claramente nacionalistas e xenófobas, para além de um negrume radical, daqueles incompatíveis com amanhãs que, errr, cantam. Mas para responder à sua pergunta, não sinto nada «de esquerda» nem «de direita» a ouvir os grupos de que gosto, embora, como ficou claro, quanto mais pessimistas mais os aprecio, e isso, realmente, seja bastante direitista. Mas não me incomoda nada a música «de esquerda» (gosto muito dos Clash), como não me incomoda nada a literatura ou o cinema «de esquerda» pelo simples facto de defenderem ideias que eu não defendo. Nas artes quem não for ecuménico é faccioso, e os Infames são claramente ecuménicos. Só nos falta convencer o JPC. PM
Caro Gonçalo: antes de mais, ficamos muito satisfeitos por haver «fãs esquerdistas» da Coluna, significa que não são primários e que gostam de tomar contacto com ideias diferentes. Obrigado pela fidelidade e pela pergunta. No que diz respeito à música pop (penso que se refere apenas a essa) há uma clara cisão aqui na Coluna: os Pedros são devotos e o João é no mínimo desconfiado. As razões pelas quais eu gosto maniacamente de música pop são em primeiro lugar biográfico-etárias, em segundo lugar culturais, e muito pouco políticas. Biográficas e etárias porque a música pop é a banda-sonora de adolescentes, jovens e jovens adultos: ninguém como os songwriters pop sabe dizer (mas também chorar, sussurrar, gritar, emudecer, sugerir, esgasgar, desdizer) o que sentimos nessas idades, e as experiências essencialmente de ordem afectiva - embora não estritamente amorosa - pelas quais passamos. Como eu costumo dizer, ao ouvir certas canções penso sempre que o songwriter esteve, este tempo todo, debaixo da minha cama, a espiolhar-me a existência. Do ponto de vista mais cultural, a boa música pop apresenta alguns desafios que me parecem muito interessantes: musicar poemas (ou letras tendencialmente poéticas), voltando assim às origens da poesia; chegar às massas como a literatura não chega; cruzar imaginativamente as artes, através por exemplo dos videoclips; conseguir triunfar num oceano de pastilha elástica para os ouvidos. A política, no meio disso, interessa-me menos: existem grupos com evidente carga política, aliás quase todos à esquerda: Dead Kennedys, Clash, Billy Bragg, Public Enemy, ou outros que tomam publicamente posições políticas, dos Beatles aos REM. À direita, um leitor nosso sugeriu Kinks, mas podemos acrescentar os primeiros Blur, o Cohen, os Joy Division, bem como uma linha de instrospectivos algo reaças, de Nick Drake a Will Oldham. Os Sonic Youth (gosto deles, pois gosto), são realmente uns belos canhotos, embora os Radiohead e os Pixies tenham uma cabeça demasiado esquizóide para serem consideradas bandas políticas. Por outro lado, como definir Tom Waits, Depeche Mode ou os...Duran Duran? Smiths é um caso diferente: os rapazes eram anti-Maggie e anti-monarquia, mas que eu saiba participaram apenas uma vez, e sem grande convicção, na festa do Labour (Red Wedge), e o Morrissey a solo encostou-se a posições claramente nacionalistas e xenófobas, para além de um negrume radical, daqueles incompatíveis com amanhãs que, errr, cantam. Mas para responder à sua pergunta, não sinto nada «de esquerda» nem «de direita» a ouvir os grupos de que gosto, embora, como ficou claro, quanto mais pessimistas mais os aprecio, e isso, realmente, seja bastante direitista. Mas não me incomoda nada a música «de esquerda» (gosto muito dos Clash), como não me incomoda nada a literatura ou o cinema «de esquerda» pelo simples facto de defenderem ideias que eu não defendo. Nas artes quem não for ecuménico é faccioso, e os Infames são claramente ecuménicos. Só nos falta convencer o JPC. PM
LIVROS, POLÉMICA, HUMOR: No próximo dia 9 de Abril, quarta-feira, pelas 18.30, tem lugar no Jardim de Inverno do Teatro S. Luiz, a primeira sessão dos encontros É a Cultura, Estúpido. Organizados pelas Produções Fictícias, os encontros serão realizados mensalmente, e têm uma entrevista, críticas sobre livros, polémica política e humor, em rubricas como Leitura Obrigatória e O Que Não Ando a Ler. As sessões serão apresentadas por Anabela Mota Ribeiro, e terão como participantes os críticos literários José Mário Silva e Pedro Mexia, os jornalistas João Miguel Tavares e Nuno Costa Santos e os colunistas Daniel Oliveira e João Pereira Coutinho (este últimos realizarão um debate que, nesta primeira edição, será sobre Chomsky e a guerra no Iraque), além de um artista convidado para falar (finalmente) a sério num sketch final. O autor do mês será Pedro Rosa Mendes, que estará presente com o fotografo João Francisco Vilhena, a propósito de "Atlântico", obra da autoria de ambos, a ser lançada no dia 10 de Abril. Há livro de reclamações.