sábado, março 08, 2003
BERNANOS: E lembro também um dos mais admiráveis católicos do século passado, o grande Bernanos, que não teve pruridos em insugir-se contra a Igreja quando esta apoiou, de forma cega, Franco e a sua mortandade. Só Bernanos seria agora capaz de escrever as páginas iracundas e implacáveis que nós, os católicos anti-carneirada, precisávamos. Porque existe uma coisa chamada «cólera sagrada». PM
DEUS VOMITA OS MORNOS: A propósito ainda da Igreja Católica, e já que falámos no Brasil, lembramos o que Nelson Rodrigues escrevia sobre os «padres de passeata». Vão lê-lo, que sempre aprendem português. E o combativo católico que foi Gustavo Corção não deixou de denunciar as criminosas derivas esquerdistas da Igreja brasileira. Estávamos nos anos 60, e a Igreja «progressista» era a favor da violência (da violência vermelha, claro). Corção diz claramente, num texto de 68, que o que está em causa não é a violência: Em resumo, nós não somos contra a violência. Há violências boas. Há violências santas. Deus ama os violentos e vomita os mornos. Nós somos, efetivamente, contra a estupidez. PM
UM MAIL DO BRASIL: Na minha visão, longe de pacifismos tolos, acho que um ataque dos EUA e seus aliados à Coreia do Norte deveria ser feito em primeira mão. Considero os norte-coreanos uma ameaça maior que o Iraque nesse momento, em parte por assumirem a produção de armamentos nucleares, em parte pela galhofa com a qual tratam a comunidade internacional (um bom exemplo foi o míssil que recentemente lançaram a pretexto de teste, numa data que curiosamente coincidiu com a visita de Colin Powell à Coréia do Sul e à mudança de presidente neste país). Além disso, merece ser citada a sandice com a qual o ditador norte-coreano, cujo nome agora me foge, é tratado no país, com uma idolatria que acredito ser maior que a que os iraquianos empreendem a Saddam Hussein. Além disso, acredito que uma missão ligeira na Coréia do Norte, se bem-sucedida como certamente haveria de ser, dado o potencial bélico norte-americano, certamente faria com que o governo iraquiano empreendesse um maior esforço no desarmamento do país. No Brasil, muito se acredita entre a população que os EUA só querem invadir o Iraque por estarem interessados no petróleo do país, argumento que refuto dados os custos da guerra. Boa parte desse pensamento tão difundido no Brasil se deve ao nefasto domínio da esquerda radical em determinados setores, como algumas editorias de veículos de comunicação e quadros acadêmicos em geral. Uma pena, mas a maior parte da geração que atualmente freqüenta os bancos escolares só vai ter acesso a outras formas de pensamento depois de muito tempo de formados; mesmo assim, só terão acesso se decidirem por conta própria procurarem. Não sei se a situação em Portugal é semelhante, gostaria que me dissessem sobre a influência da esquerda nesses campos de transmissão de conhecimento e opinião por aí. (...) No mais, gostaria de acrescentar que também adoro quando vocês falam sobre música, e um dia ainda gostaria de ver alguma consideração, ainda que negativa, sobre meu conjunto preferido, os Suede. (Eduardo Palandi).
Comentário: Caro Eduardo, obrigado ler a Coluna Infame e nos escrever, é bom saber que alguém nos «acessa» desse lado do Atlântico. Quanto às suas opiniões, estamos de acordo que é preciso lidar de algum modo com a questão da Coreia do Norte, mas realmente a posse efectiva e presente de ADM torna a questão muito mais complicada, e não sabemos se militarmente seria viável. O domínio da esquerda em Portugal não será tão radical como no Brasil - pelo que conhecemos do Brasil - mas a canhota ainda dita as leis em parte significativa da universidade, nalguns jornais, e totalmente entre os intelectuais e artistas. Mas cremos que quando passar o trauma do «fascismo» as novas gerações não serão tão radicalizadas: no meio literário isso já é visível. Mas a Coluna cá está para tomar parte no contra-ataque. Os Suede: penso que se perderam um pouco com a saída precoce do Bernard Butler, que começaram a experimentar um som novo em cada álbum, mas são sem dúvida dos mais interessantes seguidores de Bowie numa visão deliciosamente pecaminosa dos verdes anos. E ao vivo, my God, vi-os na primeira parte dum concerto dos REM, e devo dizer que os REM ficaram a milhas. O Brett pendurado no microfone, lânguido e ambíguo, é certamente uma figura de palco invulgar e cativante, um actor em permanência. PM
Comentário: Caro Eduardo, obrigado ler a Coluna Infame e nos escrever, é bom saber que alguém nos «acessa» desse lado do Atlântico. Quanto às suas opiniões, estamos de acordo que é preciso lidar de algum modo com a questão da Coreia do Norte, mas realmente a posse efectiva e presente de ADM torna a questão muito mais complicada, e não sabemos se militarmente seria viável. O domínio da esquerda em Portugal não será tão radical como no Brasil - pelo que conhecemos do Brasil - mas a canhota ainda dita as leis em parte significativa da universidade, nalguns jornais, e totalmente entre os intelectuais e artistas. Mas cremos que quando passar o trauma do «fascismo» as novas gerações não serão tão radicalizadas: no meio literário isso já é visível. Mas a Coluna cá está para tomar parte no contra-ataque. Os Suede: penso que se perderam um pouco com a saída precoce do Bernard Butler, que começaram a experimentar um som novo em cada álbum, mas são sem dúvida dos mais interessantes seguidores de Bowie numa visão deliciosamente pecaminosa dos verdes anos. E ao vivo, my God, vi-os na primeira parte dum concerto dos REM, e devo dizer que os REM ficaram a milhas. O Brett pendurado no microfone, lânguido e ambíguo, é certamente uma figura de palco invulgar e cativante, um actor em permanência. PM
NEM TODOS ENDOIDARAM: O nosso leitor Miguel Mota chama a atenção para este texto publicado no Monde:
En l991, nous appelions les démocraties à stopper par tous les moyens – militaires si nécessaires – les boucheries et purifications ethniques inaugurées alors par Slobodan Milosevic en Croatie. Nous fûmes allégrement contredits, à l'époque, par les états-majors, les experts et les gouvernements, sans compter la plupart des leaders politiques.
Au bout de huit ans, après 200 000 morts, c'est bien une intervention de l'OTAN qui permit de rapatrier un million de Kosovars.
Déjà, à l'époque, les pacifistes nous expliquaient que l'expédition "américaine" contre la Serbie mettrait le monde à feu et à sang. Aujourd'hui, Milosevic s'explique devant un tribunal pour crimes contre l'humanité. Saddam Hussein n'est pas moins mais plus cruel que Milosevic et bien plus dangereux. En diabolisant George W. Bush, "nouveau Satan", "nouvel Hitler" et "nouveau Ben Laden", les manifestants pour la paix du 15 février ont oublié dans leurs protestations le maître de Bagdad, ce grand admirateur de Staline, qui écrase, torture, étouffe son peuple depuis trente ans. Il joue avec le feu au cœur d'une poudrière mondiale, le Moyen-Orient. Il défie la communauté internationale et persiste à ne pas désarmer franchement et radicalement. Il est temps pour lui de quitter la scène. Il faut que le Conseil de sécurité de l'ONU l'y oblige, pacifiquement si possible, militairement s'il n'obtempère pas. D'atermoiements en tergiversations, plus on attend, plus il en coûte aux populations irakiennes, plus l'ONU se déconsidère. Comment ne pas garder en mémoire le génocide des Tutsis au Rwanda (1994) accompli au vu et au su d'une communauté internationale passive. Comment ne pas penser aujourd'hui au martyre du peuple tchétchène alors que l'alliance "morale" franco-allemande érige la Russie en chantre de la paix ! Saddam Hussein n'est sans doute pas le seul dictateur, mais lui, au moins, nous avons la possibilité de le mettre hors d'état de nuire en soutenant la pression des forces anglo-américaines aux frontières de l'Irak. Il serait dommageable de réduire la crise actuelle à un affrontement franco-américain, alors que les points de vue des deux pays auraient pu être complémentaires. Il serait calamiteux que Paris, par gloriole et entêtement, aille au veto, au risque de casser la solidarité occidentale et d'ébranler un peu plus l'Europe (laquelle, rappelons-le, ne se réduit pas au seul axe Paris-Berlin). Que Saddam parte, de gré ou de force ! Les Irakiens, Kurdes, chiites mais aussi bien sunnites respireront plus librement et les peuples de la région en seront soulagés. Après Milosevic, les Balkans ne sont pas le paradis, mais il y règne davantage de paix et moins de dictature. L'après-Saddam ne sera pas rose, mais moins noir que trente années de tyrannie, d'exécutions sommaires et de guerre.
Assinam o escritor Pascal Bruckner, o filósofo e ensaísta André Glucksmann e o cineasta Romain Goupil. Parece que há mais gente no Hexágono que não endoidou. Aleluia. PM
En l991, nous appelions les démocraties à stopper par tous les moyens – militaires si nécessaires – les boucheries et purifications ethniques inaugurées alors par Slobodan Milosevic en Croatie. Nous fûmes allégrement contredits, à l'époque, par les états-majors, les experts et les gouvernements, sans compter la plupart des leaders politiques.
Au bout de huit ans, après 200 000 morts, c'est bien une intervention de l'OTAN qui permit de rapatrier un million de Kosovars.
Déjà, à l'époque, les pacifistes nous expliquaient que l'expédition "américaine" contre la Serbie mettrait le monde à feu et à sang. Aujourd'hui, Milosevic s'explique devant un tribunal pour crimes contre l'humanité. Saddam Hussein n'est pas moins mais plus cruel que Milosevic et bien plus dangereux. En diabolisant George W. Bush, "nouveau Satan", "nouvel Hitler" et "nouveau Ben Laden", les manifestants pour la paix du 15 février ont oublié dans leurs protestations le maître de Bagdad, ce grand admirateur de Staline, qui écrase, torture, étouffe son peuple depuis trente ans. Il joue avec le feu au cœur d'une poudrière mondiale, le Moyen-Orient. Il défie la communauté internationale et persiste à ne pas désarmer franchement et radicalement. Il est temps pour lui de quitter la scène. Il faut que le Conseil de sécurité de l'ONU l'y oblige, pacifiquement si possible, militairement s'il n'obtempère pas. D'atermoiements en tergiversations, plus on attend, plus il en coûte aux populations irakiennes, plus l'ONU se déconsidère. Comment ne pas garder en mémoire le génocide des Tutsis au Rwanda (1994) accompli au vu et au su d'une communauté internationale passive. Comment ne pas penser aujourd'hui au martyre du peuple tchétchène alors que l'alliance "morale" franco-allemande érige la Russie en chantre de la paix ! Saddam Hussein n'est sans doute pas le seul dictateur, mais lui, au moins, nous avons la possibilité de le mettre hors d'état de nuire en soutenant la pression des forces anglo-américaines aux frontières de l'Irak. Il serait dommageable de réduire la crise actuelle à un affrontement franco-américain, alors que les points de vue des deux pays auraient pu être complémentaires. Il serait calamiteux que Paris, par gloriole et entêtement, aille au veto, au risque de casser la solidarité occidentale et d'ébranler un peu plus l'Europe (laquelle, rappelons-le, ne se réduit pas au seul axe Paris-Berlin). Que Saddam parte, de gré ou de force ! Les Irakiens, Kurdes, chiites mais aussi bien sunnites respireront plus librement et les peuples de la région en seront soulagés. Après Milosevic, les Balkans ne sont pas le paradis, mais il y règne davantage de paix et moins de dictature. L'après-Saddam ne sera pas rose, mais moins noir que trente années de tyrannie, d'exécutions sommaires et de guerre.
Assinam o escritor Pascal Bruckner, o filósofo e ensaísta André Glucksmann e o cineasta Romain Goupil. Parece que há mais gente no Hexágono que não endoidou. Aleluia. PM
JUST ASKING: Provocação em Dia Internacional da Mulher: porque é que quando começámos a falar de política em termos mais substanciais e teóricos deixámos logo de ter mails de mulheres? PM
COMO PROFESSOR PREFERIMOS ESTE: Dou com a seguinte frase de Raymond Aron, bem a propósito da nossa discussão sobre o liberalismo: Les libéraux ont parfois tendance comme les marxistes à croire que l'ordre du monde pourrait réconcilier nos aspirations avec la réalité. Para quê dizermos o que já foi dito pelos mestres? PM
PODEMOS ESTAR ENGANADOS, MAS NÃO TEMOS DÚVIDAS: Um mail sobre o Professor:
Já que não foi vista e consequentemente não pode ser comentada a entrevista de Cavaco Silva na RTP 1, tomei a liberdade de dar certos pontos de vista pessoais sobre a mesma. Cavaco Silva se queria angariar pontos para uma possível candidatura à presidência da República, conseguiu-os seguramente. Sempre muito calmo, com respostas inteligentes e com um civismo admirável. Sempre que a Judite de Sousa o interpelava e interrompia o seu raciocínio, ele aceitava e respondia ao que ela perguntava e logo a seguir retomava o raciocínio anterior. Falou essencialmente na crise que abala o nosso país, estabelecendo paralelismos com a crise do pós conflito no médio-oriente em 92/93, em Portugal durante o seu mandato. Subtilmente criticou o governo de Guterres sem por vezes ter grande razão. Criticou a contrução dos dez estádios de futebol, referindo que a construção de novas infra-estruturas desportivas, mesmo no âmbito do acontecimento do Euro 2004, nunca são boas para a economia de um país, referindo que Portugal o devia ter feito em pareceria com outro país e não construir de raíz mas sim, remodelar alguns estádios de futebol como fez a Holanda e a Bélgica, ou a Coreia e o Japão. Apresentou também algumas soluções para a recuperação economica: recuperação de quotas de mercado internacional; financiar as áreas de produção que interessam ao Estado português. Referiu inclusive que o Estado português devia «empurrar os industriais portugueses para o mercado espanhol que é o que está aqui mais à mão», isto é, recuperação de quotas de mercado em Espanha. Como eles fazem connosco... Não vejo nenhum mal nisso, acredito pouco é que os industriais portugueses consigam ser competitivos no mercado espanhol. Também falou na urgência da criação de marcas nacionais e da expansão das já existentes. Em relação à guerra, Cavaco assumiu-se obviamente contra, como todo o mundo em príncipio também o deveria assumir, mas, sem querer isso dizer que era apoiante do ditador Saddam Hussein. No entanto referiu que a guerra é má, nunca ajuda ninguém, é só um desperdício de recursos e destruição de capital, mas este impásse também não ajuda nada a economia global, pois está a gerar incertezas, fazendo com que o investimento esteja estagnado, portanto - disse ele: «é melhor despachar logo isto de uma vez por todas», mas preferencialmente com o apoio do comité de segurança das Nações Unidas, se tal não acontecer, os E.U.A. vão ter de prestar contas e de saber justicar muito bem. (Sérgio Mota)
Comentário: Agradecemos a sinopse da entrevista. Embora saibamos que em geral os nossos correlegionários e leitores gostam bastante do Professor Cavaco, aqui na Coluna não somos cavaquistas, mesmo reconhecendo que os seus mandatos representaram um momento muito positivo em termos de estabilidade política e de progresso. Dois elementos da Coluna já votaram nele ao menos uma vez, mesmo se apenas por bipolarização, e apenas um elemento nunca encavacacou. Mas numa coisa estamos de acordo: não morremos de amores pelo perfil humano e ideológico (?) do senhor . Mas sobretudo achamos que o tempo de Cavaco passou, e que não é o candidato adequado da direita às presidenciais, tanto mais que estas vão ser as primeiras presidenciais em que pode ser possível à direita ganhar. Alternativas? Não temos. Mas ainda faltam três anos. PM
Já que não foi vista e consequentemente não pode ser comentada a entrevista de Cavaco Silva na RTP 1, tomei a liberdade de dar certos pontos de vista pessoais sobre a mesma. Cavaco Silva se queria angariar pontos para uma possível candidatura à presidência da República, conseguiu-os seguramente. Sempre muito calmo, com respostas inteligentes e com um civismo admirável. Sempre que a Judite de Sousa o interpelava e interrompia o seu raciocínio, ele aceitava e respondia ao que ela perguntava e logo a seguir retomava o raciocínio anterior. Falou essencialmente na crise que abala o nosso país, estabelecendo paralelismos com a crise do pós conflito no médio-oriente em 92/93, em Portugal durante o seu mandato. Subtilmente criticou o governo de Guterres sem por vezes ter grande razão. Criticou a contrução dos dez estádios de futebol, referindo que a construção de novas infra-estruturas desportivas, mesmo no âmbito do acontecimento do Euro 2004, nunca são boas para a economia de um país, referindo que Portugal o devia ter feito em pareceria com outro país e não construir de raíz mas sim, remodelar alguns estádios de futebol como fez a Holanda e a Bélgica, ou a Coreia e o Japão. Apresentou também algumas soluções para a recuperação economica: recuperação de quotas de mercado internacional; financiar as áreas de produção que interessam ao Estado português. Referiu inclusive que o Estado português devia «empurrar os industriais portugueses para o mercado espanhol que é o que está aqui mais à mão», isto é, recuperação de quotas de mercado em Espanha. Como eles fazem connosco... Não vejo nenhum mal nisso, acredito pouco é que os industriais portugueses consigam ser competitivos no mercado espanhol. Também falou na urgência da criação de marcas nacionais e da expansão das já existentes. Em relação à guerra, Cavaco assumiu-se obviamente contra, como todo o mundo em príncipio também o deveria assumir, mas, sem querer isso dizer que era apoiante do ditador Saddam Hussein. No entanto referiu que a guerra é má, nunca ajuda ninguém, é só um desperdício de recursos e destruição de capital, mas este impásse também não ajuda nada a economia global, pois está a gerar incertezas, fazendo com que o investimento esteja estagnado, portanto - disse ele: «é melhor despachar logo isto de uma vez por todas», mas preferencialmente com o apoio do comité de segurança das Nações Unidas, se tal não acontecer, os E.U.A. vão ter de prestar contas e de saber justicar muito bem. (Sérgio Mota)
Comentário: Agradecemos a sinopse da entrevista. Embora saibamos que em geral os nossos correlegionários e leitores gostam bastante do Professor Cavaco, aqui na Coluna não somos cavaquistas, mesmo reconhecendo que os seus mandatos representaram um momento muito positivo em termos de estabilidade política e de progresso. Dois elementos da Coluna já votaram nele ao menos uma vez, mesmo se apenas por bipolarização, e apenas um elemento nunca encavacacou. Mas numa coisa estamos de acordo: não morremos de amores pelo perfil humano e ideológico (?) do senhor . Mas sobretudo achamos que o tempo de Cavaco passou, e que não é o candidato adequado da direita às presidenciais, tanto mais que estas vão ser as primeiras presidenciais em que pode ser possível à direita ganhar. Alternativas? Não temos. Mas ainda faltam três anos. PM
PESSOAS CRESCIDAS: O João Noronha do Blog Valete Fratres, segundo parece, não percebeu o que escreveu na sua resposta ao JPC. Só assim percebo a sua estupefacção com o meu ligeiríssimo apontamento ao seu texto que não era, note-se, uma resposta mas uma pequena e grosseira síntese. Mas, se bem percebi o seu texto, a sua ideia essencial é de que liberais e conservadores não são antagónicos, desde que o conservadorismo não signifique adoptar posições próximas de um certo romantismo anti-político. No fundo, desde que o conservadorismo não seja a negação da política (e daí a sua referência à importância do conceito de «associação civil» de Oakeshott). Suponho que foi isto que disse, por isso lhe trago este esclarecimento. Na minha pubescência, eu nunca pretendo envolver-me com adultos. PL
ISTO E MAIS ISTO E MAIS ISTO E MAIS ISTO: Chego a casa a estas horas, e vejo que os manos Silva dispararam 54 canhões ao mesmo tempo. Dada a indisponibilidade dos outros Infames para polémicas, e dado o tempo não ser elástico, deixo apenas quatro notas. 1) O Manel fica muito incomodado quando eu falo no marxismo, como se só ele tivesse lido Marx & Companhia, e fosse o legítimo legatário. Peço desculpa, mas as nossas interpretações divergentes não significam que não tenhamos lido os mesmos livros. Olhem que a «arrogância intelectual» costuma ser da direita, e fica-vos mal. 2) Efectivamente, não sabemos o que o Blog de Esquerda pensa de muitas coisas, e nomeadamente ainda não percebemos se são ou não leninistas, porque da última vez que falámos ainda eram. Se mudaram de agulhas, tanto melhor. Mas esclareçam o povo. 3) Repito que não há nenhum «dramatismo» em ser minoritário, e que o Manel lê drama onde havia ironia. Mas a «caça ao Infame» não é exactamente uma figura de estilo: o Manel que pergunte ao irmão, que o blog não serve para contar a vida privada. 4) Mantemos o nosso repúdio absoluto pela palavra «veneno». Aceitamos em absoluto a prática, que nos atribuem, da graçola, do trocadilho, do wit, etc. Mas não façam isso soar como se fosse um defeito. A esquerda é tão séria. Parem por uns segundos de salvar o mundo, rapazes. PM
GANGS OF NEW YORK: Gangs of New York, então. Não sei que vos diga, a não ser que é ao mesmo tempo um filme decepcionante e genial. Decepcionante porque é um épico, e já vimos todos suficientes épicos para não ficarmos deslumbrados. Genial por tudo o que perpasse entre o épico, sobretudo na dimensão individual: genial Daniel Day Lewis, que se mostra um predestinado da sua geração, genial a (surpreendente) tensão erótica entre Di Caprio e Cameron Diaz, genial a galeria de secundários. Scorsese mostra uma visão totalmente crua sobre a História: porcos e maus (mas não necessariamente feios), os humanos são - como Bill the Butcher - uns carniceiros, gente com princípios sagrados (algo abstractos) mas realmente sem princípios nenhuns, cada um tentado sobreviver como pode, em alianças fugidias, crimes de ocasião, barbárie generalizada. Tal como fez sempre, Scorsese não nos presenteia com um retrato positivo da espécie humana, e se há lição «política» a tirar deste filme é o desgosto pela espécie. Claro que Scorsese, em parte pelo enfoque individual, em parte por falta de preparação histórica (e ideológica) não aproveita o ensejo de analisar mais minuciosamente o que foi uma espécie de Comuna de Paris, embora em contexto muito diferente. Veja-se, aliás, como distorce temporalmente os eventos - fazendo os «draft riots» coincidir com as lutas de gangs - apenas para potenciar o efeito dramático. O que lhe interessa é, como é óbvio, a proto-história das mean streets, mas na dimensão individual - isto é, moral - que sempre o atormentou. O filme pode ser visto como companion piece de The Age of Innocence, como o seu reverso, mas isso acaba por parecer acidental. Por entre uma total descrença no melting pot, nos políticos, no sistema de classes et j'en passe, Scorsese concentra-se afinal no confronto entre dois homens, e entre duas morais, nenhuma delas aliás particularmente louvável. Pessoalmente, não gosto nada da banda-sonora, e parece-me que a fotografia (embora dirigida pelo grande Michael Balhaus) insiste numa paleta cromática pastel que é cansativa. Em contrapartida, a cena final (muito arriscada) é bem conseguida, com uma comovente homenagem às Twin Towers. Há qualquer coisa de Coppola neste Scorsese, e isso não é necessariamente um elogio. Acaba por se notar o processo moroso de feitura, se bem que a montagem seja, como sempre, imaculada. É um filme que merece ser visto mais que uma vez, embora não seja suficientemente bom para se ver várias vezes. Uma obra paradoxal, ao mesmo tempo menor e fascinante. E a obra, escusado será sublinhar, de um pessimista, uma das razões pelas quais Scorsese é um autor muito cá de casa. PM
sexta-feira, março 07, 2003
REAL ABSOLUTO: E já agora, meus senhores e minhas senhoras, o que faz um conservador quando ouve uma mãe exclamar benevolamente à filha de tenra idade: «És uma badalhoca» ? Ri, claro. Só pode rir. Mas este riso, como todos os satíricos sabem muito bem, é a mais pura das tristezas ocultadas. PL
E AGORA EU: Pois bem: o mundo dos liberais e dos conservadores é um mundo vasto. As ideias têm diversos matizes. E há criaturas contraditórias que não são nem típicos conservadores nem típicos liberais. Deixem-me, por isso, fazer duas precisões prévias. Em primeiro lugar, todos temos um qualquer conservadorismo natural na nossa conduta. É esse conservadorismo natural que nos faz assumir posições tão elementares como defender a nossa família, certos hábitos de vida, certos valores morais, certos aspectos civilizacionais de rotina. Isto é conservadorismo. Mas não é conservadorismo político, isto é, quando falamos de um conservador político não estamos a falar disto, disto de sermos nós e as nossas repetições, como dizia o grande Nelson Rodrigues. Segunda precisão: julgo que, para percebermos bem as diferenças entre o liberalismo e o conservadorismo, devemos afastar certos conservadores e certos liberais. Primeiro, devemos afastar os conservadores que colocam o Estado ou qualquer entidade política superior acima dos indivíduos. Esta gente tem repugnância pela política e é ferozmente contrária ao cepticismo e à dúvida. Fideístas, reaccionários, ultrareligiosos – estes conservadores são, claro, antiliberais, no sentido em que rejeitam, sem qualquer hesitação, todos os valores políticos do liberalismo. Para eles, nenhum conflito entre os interesses individuais e os interesses do Estado pode ser resolvido com prevalência para os interesses individuais. Por outro lado, também devemos excluir os liberais mais assanhados. Por uma razão simples: estes liberais ou não têm ideias políticas de todo (pretendem apenas conservar uma posição económica e social); ou são antipolíticos (o mundo funcionaria melhor com auditoras à frente dos governos); ou são então demasiado optimistas acerca da vida das sociedades, rejeitando qualquer conflito, qualquer impossibilidade, qualquer problema político que não seja automaticamente resolúvel. Estes liberais não nos interessam de todo e queremo-los bem longe. Nenhum deles acolhe algo que me parece politicamente fundamental: o erro, a dúvida, a impossibilidade, o limite, a tragédia são elementos essenciais ao pensamento político. Não há perfeição humana. Não há mundos com prados verdejantes e vaquinhas. Nem tudo se pode resolver com receitas tiradas dos livros. Existe o vício, existe o caos, existem limites às ideias, existe a falibilidade humana, existe a experiência, existem dúvidas cruciais que recomendam prudência e não ousadia; e existem ameaças, perpétuas ameaças, ao que construímos. O mundo que pisamos é sempre um mundo frágil, é sempre um mundo que precisa de defesa. Um conservador acredita nisto: na dúvida, mantém; na dúvida, fica; na dúvida, conserva. Mas a dúvida não o impede de prosseguir, a dúvida não o impede de mudar, quando é essa a melhor alternativa, quando o que não temos seja literalmente melhor do que o que temos. Mas um conservador deve saber que devemos ser nós a assumir essa mudança, que somos nós que escrevemos o nosso destino, somos nós os responsáveis. Não o partido, não a multidão que vemos nas ruas, não o Estado que faz sempre menos do que pode. Por isso, se quiserem, há sempre algum liberalismo (positivo, diria) em qualquer conservador. Desde que isso não nos tire a inquietude. Porque o conservador é inquieto.O conservador deseja (como bem sabes, JPC). O conservador aspira. O conservador ambiciona. Mas o conservador não faz. PL
CONSERVADORES (II): As dúvidas de um leitor da Coluna iniciaram uma eminente discussão: o que separa, politicamente, um conservador e um liberal? Sabendo que o conservadorismo acaba na defesa da liberdade e autonomia individuais e o liberalismo na preservação de uma ordem política imune ao poder do Estado, haverá diferenças entre liberais e conservadores? Com a vossa licença, vou meter a minha colher neste conversa. Os meus camaradas de blog (e de outras investigações caninas) já deram a sua sentença. O Pedro Mexia aceitou uma relativa aproximação entre o conservadorismo e o liberalismo. Os conservadores, ao menos na tradição anglófila e “whig”, defendem as liberdades (políticas, económicas, nomeadamente). Mas temperam ou sobrepõem a essa defesa uma visão essencialmente céptica e pessimista da natureza humana. Nós queremos segurança, queremos paz, queremos proteger direitos básicos, queremos continuar vivos; e queremos, hélas, o psicopata da esquina no Linhó. Isto significa que não basta garantir, formalmente, aquelas liberdades para que elas existam; e significa ainda que nenhuma liberdade existe fora do tempo e do espaço, fora das limitações e contingências de um determinada sociedade política. Consequência: os conservadores são, acima de tudo, cépticos e realistas, avessos a «entusiasmos» (como disse o Pedro), optimismos e outros desejos desenfreados. Aceitam as liberdades e direitos individuais e aceitam também que o poder público assegure a protecção dessas liberdades e direitos, desde que não nos entrem pela casa às duas da manhã. Quanto ao João Pereira Coutinho, como bom leitor de Oakeshott, explicou que, se o conservadorismo tem naturais implicações políticas, ele é, sobretudo, uma «disposição». Por isso, o João achará, certamente, que não há uma ideologia conservadora; que os conservadores rejeitam sistemas, cartilhas e livros de bolso; que os conservadores desconfiam do excesso de ideias, de governos imoderados e abusivos (daí a sua referência às «regras gerais de conduta», um conceito que levanta outra discussão). Ou seja, o João também acha que somos donos da nossa vidinha e o poder só é chamado para separar os desavindos, nunca para nos impor uma qualquer ideia teleológica para cima das nossas cabeças. Por isso, e coincidindo, em parte, com o Pedro, o João Pereira Coutinho insiste na natureza anti-utopista do pensamento conservador. O retrato não ficaria completo sem a posição do João Noronha, do blog Valete Fratres. Disse o João Noronha que, no fundo, conservadores e liberais («clássicos») se aproximam e complementam, desde que – acrescenta – a disposição conservadora signifique (e cito) «participação activa na vida política». PL
CONSERVADORES (II): As dúvidas de um leitor geraram uma eminente discussão: o que separa um conservador e um liberal políticos? Sabendo que o conservadorismo acaba na defesa da liberdade e autonomia individuais e o liberalismo na preservação de uma ordem política imune ao poder do Estado, haverá diferenças entre liberais e conservadores? Com a vossa licença, vou meter a minha colher neste conversa. Os meus camaradas de blog (e de outras investigações caninas) já deram a sua sentença. O Pedro Mexia aceitou uma relativa aproximação entre o conservadorismo e o liberalismo. Os conservadores, ao menos na tradição anglófila e “whig”, defendem as liberdades (políticas, económicas, nomeadamente). Mas temperam ou sobrepõem a essa defesa uma visão essencialmente céptica e pessimista da natureza humana. Nós queremos segurança, queremos paz, queremos proteger direitos básicos, queremos continuar vivos; e queremos, hélas, o psicopata da esquina no Linhó. Isto significa que não basta garantir, formalmente, aquelas liberdades para que elas existam; e significa ainda que nenhuma liberdade existe fora do tempo e do espaço, fora das limitações e contingências de um determinada sociedade política. Consequência: os conservadores são, acima de tudo, cépticos e realistas, avessos a «entusiasmos» (como disse o Pedro), optimismos e outros desejos desenfreados. Aceitam as liberdades e direitos individuais e aceitam também que o poder público assegure a protecção dessas liberdades e direitos, desde que não nos entrem pela casa às duas da manhã. Quanto ao João Pereira Coutinho, como bom leitor de Oakeshott, explicou que, se o conservadorismo tem naturais implicações políticas, ele é, sobretudo, uma «disposição». Por isso, o João achará, certamente, que não há uma ideologia conservadora; que os conservadores rejeitam sistemas, cartilhas e livros de bolso; que os conservadores desconfiam do excesso de ideias, de governos imoderados e abusivos (daí a sua referência às «regras gerais de conduta», um conceito que levanta outra discussão). Ou seja, o João também acha que somos donos da nossa vidinha e o poder só é chamado para separar os desavindos, nunca para nos impor uma qualquer ideia teleológica para cima das nossas cabeças. Por isso, e coincidindo, em parte, com o Pedro, o João Pereira Coutinho insiste na natureza anti-utopista do pensamento conservador. O retrato não ficaria completo sem a posição do João Noronha, do blog Valete Fratres. Disse o João Noronha que, no fundo, como Hayek é um conservador, conservadores e liberais («clássicos») se aproximam, desde que – acrescenta – a disposição conservadora signifique (e cito) «participação activa na vida política». PL
EURICO, O NÃO-PRESBÍTERO: Eurico de Barros tinha andado afastado da Coluna, devido a ideias diferentes sobre a guerra e a divergências insanáveis sobre aquele pequeno país do Médio Oriente do qual nós gostamos e ele não. Mas eis o Eurico de volta, sobre o problema blogosfera / imprensa tradicional:
A propósito do facto dos blogs serem maioritariamente conservadores / de «direita»: é precisamente pelo facto de os media tradicionais, dos «árvores mortas» à TV e à rádio estarem «ocupados» pela esquerda, da «bloquista» à «soft»-galões-mornos-de-camisa-lavada-e-gravata. Não há espaço nem tolerância nem «balls» para a opinião dissidente da da maioria acarneirada e metida até ao pescoço na água de lavagem do politica / ideologica / social / economica / culturalmente correcto. Por isso, a Net tornou-se no território alternativo por excelência para a expressão da opinião não-esquerdista / anti-«formatação» à esquerda. Por isso, em Portugal, se houvesse empresários / investidores esclarecidos e a situação económica estivesse de feição, era a altura ideal para o aparecimento de um novo jornal de qualidade e de combate inteligente «à direita». Só que os empresários portugueses preferem ou investir em jogadores de futebol, ou então... sustentar títulos de esquerda. E enquanto os cursos de comunicação das universidades - dominados por docentes «lefties» - continuarem a deitar cá para fora, qual linha de montagem, novos e jovens jornalistas a papaguear a vulgata progressista «chic», nada feito... keep on blogging.
P.S. - «Sofri» no Festival de Berlim o inefável «Comandante» de Oliver Stone e preparo-me para sofrer dentro de horas o mais recente naco de antiamericanismo de João Botelho, «A Mulher que Julgava Ser a Presidente dos EUA». Tenham pena de um pobre crítico de cinema da direita libertária! E vem aí o «Bowling for Columbine», do rei dos «Apanhados» esquerdalhos, o milionário de pose proletária Michael Moore... Stone, Botelho, Moore - isto não é cinema, é penitência! (Eurico de Barros )
Comentário: É também para isso que este blog serve, para contrariar a «formatação do disco» que reina nas comunidades onde nos movemos: literária, jornalística e académica. Como o Eurico diz, era preciso que em Portugal houvesse uma imprensa de direita, como existe em todos os países civilizados (entre nós existe apenas o Indy, onde aliás hoje escrevo sobre o assunto). Mas os capitalistas odeiam passar por ser «de direita», porque isso, ao que consta, é uma doença que se pega. Um diário de direita é uma necessidade de primeira ordem para a sanidade mental do país. Na academia, lentamente, as coisas estão a melhorar. E nas letras, assim que passarem as mitologias «fascistas» e abrilinas, também haverá progressos. Que diabo, nalguma coisa havíamos de ser optimistas...
P.S. - Quanto ao anti-americanismo cinematográfico deixamos aqui esta pérola recolhida na net: «(Bruce Willis) can't act. To be a good actor, you have to surrender yourself into a role… You have to be able to become that person and conservatives don't have heart or any compassion, so they can't act their way out of a paper bag». A posição de Willis sobre a guerra no Iraque? Vale a pena explicar? Yipee-kai-aye, motherfuckers. PM
A propósito do facto dos blogs serem maioritariamente conservadores / de «direita»: é precisamente pelo facto de os media tradicionais, dos «árvores mortas» à TV e à rádio estarem «ocupados» pela esquerda, da «bloquista» à «soft»-galões-mornos-de-camisa-lavada-e-gravata. Não há espaço nem tolerância nem «balls» para a opinião dissidente da da maioria acarneirada e metida até ao pescoço na água de lavagem do politica / ideologica / social / economica / culturalmente correcto. Por isso, a Net tornou-se no território alternativo por excelência para a expressão da opinião não-esquerdista / anti-«formatação» à esquerda. Por isso, em Portugal, se houvesse empresários / investidores esclarecidos e a situação económica estivesse de feição, era a altura ideal para o aparecimento de um novo jornal de qualidade e de combate inteligente «à direita». Só que os empresários portugueses preferem ou investir em jogadores de futebol, ou então... sustentar títulos de esquerda. E enquanto os cursos de comunicação das universidades - dominados por docentes «lefties» - continuarem a deitar cá para fora, qual linha de montagem, novos e jovens jornalistas a papaguear a vulgata progressista «chic», nada feito... keep on blogging.
P.S. - «Sofri» no Festival de Berlim o inefável «Comandante» de Oliver Stone e preparo-me para sofrer dentro de horas o mais recente naco de antiamericanismo de João Botelho, «A Mulher que Julgava Ser a Presidente dos EUA». Tenham pena de um pobre crítico de cinema da direita libertária! E vem aí o «Bowling for Columbine», do rei dos «Apanhados» esquerdalhos, o milionário de pose proletária Michael Moore... Stone, Botelho, Moore - isto não é cinema, é penitência! (Eurico de Barros )
Comentário: É também para isso que este blog serve, para contrariar a «formatação do disco» que reina nas comunidades onde nos movemos: literária, jornalística e académica. Como o Eurico diz, era preciso que em Portugal houvesse uma imprensa de direita, como existe em todos os países civilizados (entre nós existe apenas o Indy, onde aliás hoje escrevo sobre o assunto). Mas os capitalistas odeiam passar por ser «de direita», porque isso, ao que consta, é uma doença que se pega. Um diário de direita é uma necessidade de primeira ordem para a sanidade mental do país. Na academia, lentamente, as coisas estão a melhorar. E nas letras, assim que passarem as mitologias «fascistas» e abrilinas, também haverá progressos. Que diabo, nalguma coisa havíamos de ser optimistas...
P.S. - Quanto ao anti-americanismo cinematográfico deixamos aqui esta pérola recolhida na net: «(Bruce Willis) can't act. To be a good actor, you have to surrender yourself into a role… You have to be able to become that person and conservatives don't have heart or any compassion, so they can't act their way out of a paper bag». A posição de Willis sobre a guerra no Iraque? Vale a pena explicar? Yipee-kai-aye, motherfuckers. PM
PARA QUEM NÃO OUVIU À PRIMEIRA: Vou repetir, para quem tem dificuldades de entendimento: não vou polemizar mais com católicos da carneirada. Esperneiem à vontade. Nós não estamos nem aí. PM
CONSERVADORES: Alguns leitores têm colocado questões relevantes sobre a palavra «conservador». Segundo parece, há uma certa confusão conceptual no uso de algumas palavras, sobretudo quando confrontamos «conservadores» com «liberais» - que são, convém dizer desde já, inimigos em campos opostos. Isto nasce, em parte, de uma lamentável ausência de debate filosófico na política e na universidade portuguesas. Disse «filosófico» e não foi por acaso. Porque, embora concorde com Pedro Mexia na elucidação especificamente «política» do termo, é preciso perceber, antes de qualquer esquematização pragmática, as raízes filosóficas do conservadorismo. Grande parte dos equívocos residem precisamente aqui: as pessoas ouvem o termo e, amestradas pela preguiça ideológica (os conservadores são autoritários, fascistas, neonazis, etc, etc., as imbecilidades do costume), desconhecem que o conservadorismo é, antes de tudo, uma «disposição» filosófica, para usar o termo feliz de Michael Oakeshott - o maior filósofo conservador do século XX e um dos maiores pensadores de toda a história das ideias políticas. É isso que o distingue do liberalismo, ou do socialismo, mais facilmente sistematizados num cardápio político e prático. Um conservador é alguém que possui uma disposição conservadora baseada na fruição e na resistência à mudança. A fruição nasce directamente do conceito temporal essencial para um conservador: não o passado (como para um reaccionário), não o futuro (como para um revolucionário) - mas o presente. O conservador estima o presente porque ele tende a desfrutar aquilo que existe e não necessariamente aquilo que ele desejaria que existisse. O conservador lida com a realidade, não com o desejo. Para usar a linguagem de Michael Oakeshott em On Being Conservative, ele prefere o familiar ao desconhecido; o tentado ao nunca tentado; o facto ao mistério; o actual ao possível; o limitado ao ilimitado; o próximo ao distante; o suficiente ao superabundante; o conveniente ao perfeito; a gargalhada presente à promessa utópica. Para um conservador, é preferível mantêr do que adquirir, cultivar do que alargar. Isto está directamente ligado com o problema da mudança. Não que o conservador seja contrário à mudança. Como diria Burke, uma sociedade que não sabe mudar não se sabe conservar. Mas, ao contrário de um revolucionário - de esquerda ou de direita -, um conservador sabe que em cada mudança existe uma perda. Por vezes, uma perda brutal e irreparável. E, esclarece um conservador, só abraça entusiasticamente a mudança quem, no essencial, nada tem para preservar. O conservador define-se pela ligação e pelo afecto. E pelo cepticismo racional. E pela prudência. Naturalmente que algumas mudanças são inevitáveis para a continuidade da aventura humana. Mas o conservador prefere mudanças graduais, lentas, cautelosas, capazes de respeitar os arranjos sociais que resistiram ao teste do tempo. No fundo, um conservador sabe que só suportamos o Verão e o Inverno porque temos a Primavera e o Outono. Implicações políticas? Pedro Mexia resumiu-as de forma brilhante. Mas convém acrescentar que, em termos estritamente políticos, esta «disposição» não tem nada que ver com a lei natural ou com uma ordem providencial; nada que ver com a moral ou a religião. Politicamente, interessa a um conservador ter bem presente que o exercício do governo é uma actividade específica e limitada: ele sabe que é necessário provêr a sociedade com regras gerais de conduta e não, nunca, jamais, com comandos directos ou imposições abusivas. Estas regras gerais de conduta são um instrumento para que as pessoas possam seguir os seus próprios caminhos com a mínima frustração possível. Um governo conservador não impõe soluções: ele resolve conflitos. Não começa com a visão de um mundo melhor, um mundo Outro. Começa com este mundo e sabe que é aqui que vivemos, é aqui que temos de acreditar e, quando a altura chegar, agir também. Um governo conservador não está preocupado com pessoas concretas, com classes, com actividades. Não é um governo «moralista», no sentido de que exige dos homens determinados comportamentos tidos por «correctos» - sancionando os «desviantes». A principal preocupação de um governo conservador é a manutenção da paz e da segurança. Porque é da paz e da segurança que nasce a liberdade, ou seja, a pretensão legítima dos seres humanos conduzirem as suas próprias vidas. De cabeça limpa. JPC
BUSH E A GUERRA: Acabámos de assistir à conferência de imprensa de Bush. Não houve novidades, mas a nossa atenção esteve virada para o homem George W. Bush. Os presidentes americanos de que nos lembramos foram todos presidentes transparentes, no sentido em que eram óbvios os seus valores e o seu carácter; mesmo um presidente tortuoso como Clinton tinha essa característica escrita no rosto e no modo de falar. George W. Bush é um homem simples: um homem com um punhado de convicções fortes e inabaláveis, um moderado genuíno, um cristão assumido, um homem normal (no sentido americano da palavra), sem grande rasgo nem grande malícia. Já aqui escrevemos que não é o nosso presidente de eleição - esse todos sabem quem é - mas que o respeitamos pelo modo como soube congregar as várias tendências conservadoras (com reflexo na sua Administração) e como tem sido firme depois do 11 de Setembro, não esquecendo nunca que é preciso aprender as lições dessa data, como hoje repetiu. O que é extraordinário é que a esquerda apresente este homem como um «atrasado mental», ao mesmo tempo que o considera o símbolo do Mal Americano. É incompreensível que se possa ser diabólico e pateta ao mesmo tempo. Bush não é, como está à vista de quem quiser ver, pateta nem diabólico. Os EUA foram e são os defensores dos valores em que acreditamos, e para isso pouco importa o Q.I. do seu presidente. Claro que a esquerda - para quem o 11 de Setembro não significou nada - é alheia ao sentimento de revolta que nos leva a considerar ser absolutamente necessário garantir que os inimigos das nossas sociedades livres e democráticas não terão a impunidade que pacifistas, terroristas e idiotas úteis lhes querem atribuir. É por isso que somos do «partido da guerra», como nos chamam. Porque a violência só conhece a linguagem da violência. PM
FADO DO EMBUÇADO: Ah, e depois há as mitologias, que a esquerda adora: a mais recente é um senhor embuçado, leitor de Saramago e certamente Amigo da Humanidade. Apesar de ser o Presidente da Junta de Taco Bell, chamam-lhe apenas, por qualquer razão, Subcomandante. Se calhar, já despachou o Comandante. O Socialismo não consente distracções. PM
MAIS AVENTURAS NA FNAC: A FNAC / Chiado, já aqui o disse, é a minha livraria. Mas o responsável pelos livros de política deve ser um leitor do Blog de Esquerda. Hoje, às carradas, chegavam Ramonets, Chomskys e outros que tais. A esquerda é assim: quando não tem paciência para ler os calhamaços aborrecidos dos Porventuras, delicia-se com o jornalismo radical, feito de órfãos e ressentidos. Até acho piada ao Ramonet - dentro do subgénero Rebuçados do Doutor Bayard - mas o sr. Chosmky não merece o menor respeito: um apologista de Pol Pot devia cavar um buraco no chão e não sair de lá à luz do dia. PM
DE FERRO: Se nos permitem entrar na linguagem Fallaciana, temos que dizer que Pacheco Pereira os tem de ferro. Na sua coluna no PÚBLICO continua a enfrentar com clareza, veemência e inteligência as patetices esquerdistas. O artigo de ontem é mais um daqueles que nos deixa apenas na obrigação de fornecer o link. Ideia forte: as ideias são muito mais mortíferas que os interesses. Procurem, nas livrarias, uma secção chamada História e talvez percebam porquê. PM
PIOR A EMENDA: A Internacional Democratã-Cristã abandonou o seu péssimo nome. Designação nova: Internacional do Centro. Estamos rodeado de patetas por todos os lados. PM
Na sequência de rumores vindos a lume no Blog de Esquerda, foi-nos solicitada a afixação do seguinte aviso:
Pede-me o Prof. Doutor Providêncio Canhoto para desmentir a circulação de cartas suas por mãos desconhecidas, ao mesmo tempo que nega ter proferido, ainda que em privado, qualquer expressão menos própria. Ausente em Cuba, no Congresso «Educação Socialista Grátis», o Prof. Canhoto tomará, no seu regresso, as medidas que entender adequadas, incluindo o recurso à via judicial. Adozinda Sertório (Sec. Executiva do Prof. Doutor Providêncio Canhoto).
Pede-me o Prof. Doutor Providêncio Canhoto para desmentir a circulação de cartas suas por mãos desconhecidas, ao mesmo tempo que nega ter proferido, ainda que em privado, qualquer expressão menos própria. Ausente em Cuba, no Congresso «Educação Socialista Grátis», o Prof. Canhoto tomará, no seu regresso, as medidas que entender adequadas, incluindo o recurso à via judicial. Adozinda Sertório (Sec. Executiva do Prof. Doutor Providêncio Canhoto).
TABUS: Não temos nada contra o canal SIC-Mulher (nem nada a favor), mas a campanha promocional não tem sido feliz. As senhoras prometem, entre outras patetices, fazer uma televisão sem tabus. Teremos portanto um canal de incesto, coprofagia e pedofilia? Minhas senhoras, tenham juízo. PM
O NOME E A COISA: Andrew Sullivan (sim, nós recebemos à citação) tentou definir a nova direita americana, liberal, bem-humorada, politicamente incorrecta, com o termo «South Park Republicans». Espero que o não-Infame Nuno Artur Silva não se zangue que eu proponha como definição portuguesa «Conservadores Produções Fictícias». PM
COMUNAS E CONSERVADORES: Devo confessar que melhor do que (segue-se uma piada portista), , só mesmo um iminente esquerdista envergonhado com todos os que, durante décadas, permaneceram enfeitiçados com os amanhãs que cantavam em Moscovo. Acabei recentemente de ler «Koba the Dread» de Martin Amis, a minha introdução ao filho do velho Kingsley e, mais do que uma biografia política de Estaline, um magnífico estudo acerca da indulgência do comunismo pelos intelectuais, a lacuna central do pensamento do séc. XX. Assim, quanto à «bizarra ideia de que com Trotsky ou Lenine nada daquilo teria acontecido», aqui vão algumas pérolas: «We must put an end once and for all to the papist-Quaker babble about the sanctity of human life» (Trotsky, na sua «História da Revolução Russa»); «Famine would have numerous results. Famine, in destroying the outdated peasant economy, would usher in socialism. Famine would also destroy Faith not only in the tsar, but in God too» (Lenine, segundo um amigo próximo); e, claro, Estaline, sempre em grande: «The death of one person is tragic, the death of a million a mere statistic». Ouviste, Bernardino? Quanto à distinção entre conservadores e liberais, gostei bastante da teorização apresentada em resposta ao João Barros. Pareciam palavras saídas da boca do Paulo Portas (é favor considerar isto um enorme elogio). E, se me é permitido, simplifico a coisa (numa espécie de manual de instruções de como explicar o que é um conservador aos amigos do café menos dados a isto da politologia): um revolucionário é aquele que quer o futuro no presente; um reaccionário é aquele que quer o passado no presente; um conservador é aquele que quer fazer do presente o melhor possível, acreditando em passos pequenos mas seguros, preferindo o tentado ao não tentado, a realidade ao mistério, os pequenos prazeres às grandes utopias (muito Oakeshott... muito MEC...) Ao contrário do que por aí se diz, um conservador acredita no progresso, ressalvando apenas que esse mesmo progresso só é possível se assentar,ou melhor, se não discutir algumas instituições sociais fácticas (a família, o mercado, a nação) e determinados direitos inalianáveis (a vida, a livre iniciativa). Se não for assim, o progresso dificilmente se fará a favor da Humanidade, sendo apenas evolução ou transformação. (Francisco Mendes da Silva / fadrms@hotmail.com)
Comentário: Caro Francisco: o melhor não foi o Amis ter escrito isso, foi o Chris Hitchens ter virado depois do 11 de Setembro, e ter percebido que não se pode ser pelas liberdades ao mesmo tempo que se é indulgente com os despotismos. Quanto à sua definição de conservadorismo, estamos todos no mesmo barco. Escreva sempre.
Comentário: Caro Francisco: o melhor não foi o Amis ter escrito isso, foi o Chris Hitchens ter virado depois do 11 de Setembro, e ter percebido que não se pode ser pelas liberdades ao mesmo tempo que se é indulgente com os despotismos. Quanto à sua definição de conservadorismo, estamos todos no mesmo barco. Escreva sempre.
UMA JANELA PARA LER O MUNDO: Já aqui falámos nos blogs sobre media que visitamos, e nos blogs conservadores, bem como dos nossos amigos da canhota. Mas realmente cada vez se torna mais claro que o melhor blog cultural português é este. Estava convencido disso há algum tempo, mas quando postaram o Montale, um dos meus poetas preferidos, fiquei rendido. (O Rui Amaral indicou a tradução de Albano Martins, e eu acrescento os sete poemas traduzidos por Pedro da Silveira em Mesa de Amigos, saído há pouco na Assírio & Alvim). Sempre que não falam da guerra, eu subscrevo tudo o que na Janela se escreve. Não há dúvida, a arte é uma forma de aproximação. Parabéns, Janela. PM
BOICOTES: Li o post que condena o boicote a produtos franceses por parte de alguns sectores americanos. Concordo, também acho que isto não leva a nada, mas não devemos esquecer que o boicote de sentido contrário já se instalou há muito tempo, casos da indústria cultural francesa que tentou há poucos anos impedir a livre circulação de filmes americanos, casos dos Bovés que atacaram restaurantes Macdonalds (por sinal os restaurantes dos pobres em termos de preços) e campos de milho alterado geneticamente (que por sinal tinham sido cultivado pelo Ministério da Agricultura Francês e não por uma qualquer multinacional americana), etc. No entanto quem não se sente…. Se eu fosse americano e ouvisse nos últimos tempos a imprensa francesa a comparar o presidente dos EUA a Hitler (começou nas eleições alemãs e continua em França) e a dizerem que a Administração americana é o maior perigo para a paz mundial, também eu ficaria furioso, quanto mais não seja porque quem usa esses termos ofensivos são precisamente os «herdeiros» da geração que deu corpo e alma ao Nazismo (alemães) e os seus colaboradores franceses (os herdeiros de Vichy) precisamente contra aqueles que os ajudaram a livrarem-se do nazismo. Com este tipo de discurso público, daqui a uns anos os franceses ainda fazem a revisão da história e concluem que o holocausto foi feito pela CIA e o Hitler era um clone americano, no seguimento dos livros franceses que têm sido vendidos aos milhares e que dizem que o 11 de Setemnbro foi uma grande mentira, um complô da CIA…..Em Portugal a revisão já começou, com o duo Soares-Freitas a descobrirem que os EUA não são uma verdadeira democracia. E o depois o coitado do Bernardino é o único que que é zurzido por toda a imprensa portuguesa! (Jorge Bento)
Comentário: Tem razão, todos sabemos que por mais que a esquerda diga que o anti-americanismo é apenas um papão, o anti-americanismo é um dos valores identitários de várias correntes da esquerda (e da direita) europeia. E sabemos que há boicotes velados e descarados, e preconceitos descabelados (João Lopes tem chamado a atenção para a facilidade imbecil com que se caricatura o cinema americano). Mas precisamente por a Europa - sofisticada, subtil, filosófica - se portar de forma assim grotesca é que é preciso não lhe seguir os passos. Os boicotes não fazem muito sentido, e certamente não faz sentido boicotar uma democracia, por mais que discordemos dos seus caminhos. Mas é claro que eles acham que os EUA não são bem uma democracia... PM
Comentário: Tem razão, todos sabemos que por mais que a esquerda diga que o anti-americanismo é apenas um papão, o anti-americanismo é um dos valores identitários de várias correntes da esquerda (e da direita) europeia. E sabemos que há boicotes velados e descarados, e preconceitos descabelados (João Lopes tem chamado a atenção para a facilidade imbecil com que se caricatura o cinema americano). Mas precisamente por a Europa - sofisticada, subtil, filosófica - se portar de forma assim grotesca é que é preciso não lhe seguir os passos. Os boicotes não fazem muito sentido, e certamente não faz sentido boicotar uma democracia, por mais que discordemos dos seus caminhos. Mas é claro que eles acham que os EUA não são bem uma democracia... PM
OBITUÁRIO # 2: O divertidíssimo The Onion parodia o obituário do NYT. PM
quinta-feira, março 06, 2003
JÁ CÁ CANTAM: Bilhetinhos para os Go-Betweens (Paradise Garage) e para Placebo (Coliseu). Bom-gosto clássico, imaculado, um comeback fabuloso, por um lado, e guitarras a acompanhar o lado escuro da existência e um animal de palco gender-bender, por outro. Também há Beth Gibbons, mas o guito não dá para tudo. A classe operária está cada vez mais difícil de explorar. PM
AND ANOTHER THING: A opinião que eu subscrevo é a opinião que eu assino, e o mesmo para os outros Infames. A opinião do sr. Provedor é apenas uma interpretação esquerdista, e de modo nenhum tem o nosso aval. PM
É SÓ ISSO: Entre alguma teorização desconstrucionista e um propalado acesso às fontes de que duvido (mas já alertámos o Sr. Provedor da ocorrência), Ivan (que deixou de ser Terráqueo) escreve no Blog de Esquerda que eu lancei uma «bojarda» (mais uma) ao afirmar que a questão «preservativo» era menos grave que a questão «Iraque», e chama a atenção para as vítimas da SIDA, etc, etc. A resposta é simples: eu estava a escrever do ponto de vista individual, como católico, e do ponto de vista individual a moral sexual da Igreja - mesmo nas questões nas quais eu claramente discordo dessa moral, como é o caso - não é matéria suficientemente grave para um afastamento, um corte, ou o que for. Do ponto de vista individual, tendo em conta as minhas convicções sobre o que está em jogo na questão «Iraque», a atitude da Igreja é grave, e põe-me problemas sérios. Quanto à gravidade real da questão «preservativo», o Ivan põe as coisas nos termos certos: quando uma posição oficial (errada) é irrelevante em termos de comportamentos práticos, então não é realmente grave. E todas as estatísticas dizem que essa doutrina é alegremente ignorada pela esmagadora maioria dos católicos. É só isso. PM
Q.E.D.: Recebemos este comunicado de imprensa «Contra a agressão dos Estados Unidos ao Iraque»:
(O partido) recusa qualquer intervenção portuguesa, seja a que nível for, na nova guerra patrocinada pelos Estados Unidos contra o Iraque. Esta nova agressão ao Iraque é mais um exemplo da política externa norte-americana tendente a controlar as reservas petrolíferas no Golfo Pérsico e marca, também, um passo mais na convergência entre os americanos e os regimes despóticos muçulmanos da Arábia Saudita e do Kuwait para se apoderarem dos recursos naturais do único país laico que existe na zona. (O partido), que repudia vivamente esta mais que anunciada agressão americana ao Iraque, porque considera que os interesses de Portugal e da Europa não coincidem com os dos Estados Unidos, entende não haver razão para o posicionamento do governo português ao lado dos agressores americanos e, por conseguinte, para qualquer envolvimento português no conflito. Consideramos, igualmente, que o primeiro-ministro Durão Barroso se tem comportado nesta matéria como um lacaio de George W. Bush, pondo-se ao nível de um qualquer ridículo monarca do Golfo, ao mesmo tempo que coloca em perigo vidas e interesses portugueses sem motivo algum.
O Bloco de Esquerda a escrever-nos? Não, caros amigos, vem assinado: Comissão Directiva do PNR. Quod erat demonstrandum... PM
(O partido) recusa qualquer intervenção portuguesa, seja a que nível for, na nova guerra patrocinada pelos Estados Unidos contra o Iraque. Esta nova agressão ao Iraque é mais um exemplo da política externa norte-americana tendente a controlar as reservas petrolíferas no Golfo Pérsico e marca, também, um passo mais na convergência entre os americanos e os regimes despóticos muçulmanos da Arábia Saudita e do Kuwait para se apoderarem dos recursos naturais do único país laico que existe na zona. (O partido), que repudia vivamente esta mais que anunciada agressão americana ao Iraque, porque considera que os interesses de Portugal e da Europa não coincidem com os dos Estados Unidos, entende não haver razão para o posicionamento do governo português ao lado dos agressores americanos e, por conseguinte, para qualquer envolvimento português no conflito. Consideramos, igualmente, que o primeiro-ministro Durão Barroso se tem comportado nesta matéria como um lacaio de George W. Bush, pondo-se ao nível de um qualquer ridículo monarca do Golfo, ao mesmo tempo que coloca em perigo vidas e interesses portugueses sem motivo algum.
O Bloco de Esquerda a escrever-nos? Não, caros amigos, vem assinado: Comissão Directiva do PNR. Quod erat demonstrandum... PM
MORALIDADES: Do blogger que mantém o excelente Valete Fratres! recebemos este mail:
A Coluna Infame (5/3/2003) faz coro com o Blog de Esquerda (!) e critica de forma bastante dura as crónicas de César das Neves no DN. Apesar de eu próprio ter criticado a crónica que originou o referido post (Vd. post sobre o American Conservatism - 3/3/2003), parece-me que as crónicas de César das Neves não prestam um serviço assim tão mau aos conservadores e aos liberais. De facto, não existem muitos comentadores na imprensa portuguesa que critiquem consistentemente a irresponsabilidades orçamental, financeira e monetária do Estado, a burocracia estatal, os excessos regulamentadores e o proteccionismo endémico no nosso país. Por outro lado, César das Neves confronta directamente os críticos da globalização e os carnavais que se realizam anualmente no Rio Grande do Sul. Quanto às questões da 'moralidade alheia', é verdade que César das Neves, utilizando o seu direito à livre expressão, critica determinados comportamentos ou opções de vida. Ora, parece-me que é importante distinguir dois aspectos diferentes destas críticas: caso César das Neves pretenda apenas condenar moralmente os referidos comportamentos e opções à luz da sua concepção de bem e, desta forma, tentar influenciar a opinião pública, parece-me que não viola nenhum princípio conservador e liberal. Pelo contrário, ao fazê-lo combate o relativismo e o 'non-judgementalism', tão característico da esquerda, e que na prática é uma forma de discriminação e falta de tolerância para com as concepções tradicionais de bem; outra questão será a defesa da intervenção dos poderes públicos na defesa destas concepções de bem. Neste caso, estaríamos perante a defesa de um estado quasi-totalitário. Mas mesmo neste segundo caso, existe uma qualificação a fazer. É impossível ignorar a evidência empírica disponível sobre os efeitos perversos de determinadas política públicas que, animadas pelo referido relativismo, promoveram activamente comportamentos ou realidades desviantes - como por exemplo 'famílias alterantivas'. Sobre este tema sugiro a consulta do site da CIVITAS. Como se poderá verificar, os resultados são aterradores. Se estes resultados não justificam a promoção activa da família tradicional, pelo menos obrigam à eliminação imediata dos programas 'sociais' que lhes deram origem. João Noronha
Caro João: antes de mais, parabéns pelo excelente blog que mantém, um dos raros que visitamos diariamente. Quanto ao assunto César das Neves, estamos de acordo com a primeira parte do seu mail, no que à economia diz respeito. Suspeitamos mesmo que C.N. devia ficar-se pela economia, e não armar-se em Chesterton ou em S. Tomás. Para isso é preciso ter génio. Pensamos que C.N. insiste demasiado nos assuntos da moralidade, sobretudo da moralidade sexual. Está no seu direito, obviamente. Mas nós também estamos no direito de achar que o discurso de Torquemada não é favorável a um bom entendimento dos valores conservadores. Não apenas por causa de uma eventual defesa da intervenção estatal nesses domínios, que achamos indefensável (embora, como sabe, os nossos amigos americanos tenham as sex laws mais variadas e absurdas); mas porque nos parece que, independentemente do juízo que façamos sobre a moralidade individual, o espírito de cruzada adoptado por C.N. é excessivo e mesmo contraproducente, como no famoso artigo sobre a pedofilia, que fazia uma salganhada inaceitável entre comportamentos consensuais e crimes. Claro que há uma dimensão pública - isto é, legislativa - da moralidade privada, mas mesmo aí não se pode confundir os pontos de vista legítimos de cada um com as opções de um Estado democrático, plural e laico. Sabemos bem que se deve legislar com cuidado em matérias como as que aponta, e não somos adeptos de qualquer experimentalismo social, mas apenas de uma adaptação às realidades sociológicas, com alguns limites (a adopção homossexual, p. ex.). Em resumo: não gostamos dos conservadores que põem o acento tónico na vigilância da moralidade alheia. O puritanismo é uma ideologia estranha à Coluna, e lamentamos que conservadores puritanos possam gerar a confusão entre as suas ideias nestas matérias e as dos moderados como nós. Seja como for, obrigado pela sua opinião, e escreva sempre. PM
A Coluna Infame (5/3/2003) faz coro com o Blog de Esquerda (!) e critica de forma bastante dura as crónicas de César das Neves no DN. Apesar de eu próprio ter criticado a crónica que originou o referido post (Vd. post sobre o American Conservatism - 3/3/2003), parece-me que as crónicas de César das Neves não prestam um serviço assim tão mau aos conservadores e aos liberais. De facto, não existem muitos comentadores na imprensa portuguesa que critiquem consistentemente a irresponsabilidades orçamental, financeira e monetária do Estado, a burocracia estatal, os excessos regulamentadores e o proteccionismo endémico no nosso país. Por outro lado, César das Neves confronta directamente os críticos da globalização e os carnavais que se realizam anualmente no Rio Grande do Sul. Quanto às questões da 'moralidade alheia', é verdade que César das Neves, utilizando o seu direito à livre expressão, critica determinados comportamentos ou opções de vida. Ora, parece-me que é importante distinguir dois aspectos diferentes destas críticas: caso César das Neves pretenda apenas condenar moralmente os referidos comportamentos e opções à luz da sua concepção de bem e, desta forma, tentar influenciar a opinião pública, parece-me que não viola nenhum princípio conservador e liberal. Pelo contrário, ao fazê-lo combate o relativismo e o 'non-judgementalism', tão característico da esquerda, e que na prática é uma forma de discriminação e falta de tolerância para com as concepções tradicionais de bem; outra questão será a defesa da intervenção dos poderes públicos na defesa destas concepções de bem. Neste caso, estaríamos perante a defesa de um estado quasi-totalitário. Mas mesmo neste segundo caso, existe uma qualificação a fazer. É impossível ignorar a evidência empírica disponível sobre os efeitos perversos de determinadas política públicas que, animadas pelo referido relativismo, promoveram activamente comportamentos ou realidades desviantes - como por exemplo 'famílias alterantivas'. Sobre este tema sugiro a consulta do site da CIVITAS. Como se poderá verificar, os resultados são aterradores. Se estes resultados não justificam a promoção activa da família tradicional, pelo menos obrigam à eliminação imediata dos programas 'sociais' que lhes deram origem. João Noronha
Caro João: antes de mais, parabéns pelo excelente blog que mantém, um dos raros que visitamos diariamente. Quanto ao assunto César das Neves, estamos de acordo com a primeira parte do seu mail, no que à economia diz respeito. Suspeitamos mesmo que C.N. devia ficar-se pela economia, e não armar-se em Chesterton ou em S. Tomás. Para isso é preciso ter génio. Pensamos que C.N. insiste demasiado nos assuntos da moralidade, sobretudo da moralidade sexual. Está no seu direito, obviamente. Mas nós também estamos no direito de achar que o discurso de Torquemada não é favorável a um bom entendimento dos valores conservadores. Não apenas por causa de uma eventual defesa da intervenção estatal nesses domínios, que achamos indefensável (embora, como sabe, os nossos amigos americanos tenham as sex laws mais variadas e absurdas); mas porque nos parece que, independentemente do juízo que façamos sobre a moralidade individual, o espírito de cruzada adoptado por C.N. é excessivo e mesmo contraproducente, como no famoso artigo sobre a pedofilia, que fazia uma salganhada inaceitável entre comportamentos consensuais e crimes. Claro que há uma dimensão pública - isto é, legislativa - da moralidade privada, mas mesmo aí não se pode confundir os pontos de vista legítimos de cada um com as opções de um Estado democrático, plural e laico. Sabemos bem que se deve legislar com cuidado em matérias como as que aponta, e não somos adeptos de qualquer experimentalismo social, mas apenas de uma adaptação às realidades sociológicas, com alguns limites (a adopção homossexual, p. ex.). Em resumo: não gostamos dos conservadores que põem o acento tónico na vigilância da moralidade alheia. O puritanismo é uma ideologia estranha à Coluna, e lamentamos que conservadores puritanos possam gerar a confusão entre as suas ideias nestas matérias e as dos moderados como nós. Seja como for, obrigado pela sua opinião, e escreva sempre. PM
PAPINHA FEITA: Uma das grandes utilidades dos blogs é recomendar bons textos on-line, com os respectivos links. Andrew Sullivan recomenda hoje três excelentes artigos. Duas visões da esquerda sobre Estaline: a primeira, actual, é da esquerda lúcida, e a segunda é o inacreditável obituário do New York Times, em 1953. O terceiro texto é um exemplar what if. E se a América virasse isolacionista? PM
CONSERVADORES OU LIBERAIS? De um leitor que não lê livros apenas no Carnaval, recebemos o seguinte mail:
Tenho uma dúvida existencial, que talvez me possam esclarecer. Qual é a diferença entre um conservador e um liberal (clássico)?
Na verdade, o liberalismo é uma filosofia política. Um liberal defende o princípio da neutralidade (a ideia de que o Estado não deve promover uma dada concepção de bem imposta aos cidadãos) e este princípio encontra-se ancorado na ideia de que os indivíduos são seres autónomos, racionais e possuidores de direitos (liberdade e propriedade), perfeitamente capazes de agirem livremente, não tendo, para tal, o Estado legitimidade para interferir na liberdade deles, salvo em casos em que os direitos dos outros indivíduos são afectados por essas acções (esta é a noção de liberdade negativa). Com o tempo esta concepção liberal foi posta em causa por outros filósofos liberais, visto que, segundo eles, os indivíduos só são verdadeiramente livres se um conjunto de circunstâncias o permitir. Estes liberais (aos quais chamo modernos) pensam que um alcóolico ou toxicodependente ou um deficiente mental não são livres, porque não podem escolher entre fins e meios racionalmente. Isto abre ao Estado a possibilidade e o dever de interferir na vida destas pessoas por forma a aumentar o grau de liberdade de que dispôem (chama-se a esta concepção, liberdade positiva ou liberdade como autonomia). Estes liberais, já adivinharam, são de esquerda e encontram-se politicamente (mas não filosoficamente) nos antípodas dos liberais clássicos, também denominados libertários, porque defendem o alargamento das funções do Estado muito para além das tarefas que tradicionalmente lhe eram confiadas. Liberais clássicos e modernos divergem, pois, quanto à extensão do papel do Estado numa sociedade, os primeiros defendendo um Estado mínimo, os segundos um Estado mais interventivo. Assim, resta saber o que defende um conservador. Penso que um conservador defenderá o liberalismo económico (a ausência de interferência do Estado no mercado de livre concorrência e a possibilidade dos preços dos produtos serem exclusivo resultado das leis da oferta e da procura), mas ao mesmo tempo não sei se defenderá o princípio da neutralidade quanto às questões morais, como sejam o aborto, a liberalização das drogas leves, etc... Antes de mais desculpem-me pelo simplismo extremo da análise. Não tenho muito tempo e espaço para me alongar sobre esta matéria. Que me dizem sobre este assunto? Onde se situam nestas questões? Eu defendo o libertarianismo (ou o liberalismo clássico, para ser mais exacto), mas gostava de saber qual é o vosso ideário (um espécie de manifesto de princípios coerentemente definidos). (José Barros )
Comentário: Caro José, antes de mais obrigado pelo seu mail substancioso e sério. Dos três Infames sou o menos letrado em Ciência Política, mas já parti umas tantas lombadas nessa matéria, por isso alinhavo aqui a minha opinião, a que se seguirá a dos meus doutos companheiros. Temos oscilado, em termos de definição ideológica, entre o «conservadorismo» e o «liberalismo»; em geral, para facilitar, dizemo-nos «conservadores liberais». Do ponto de vista dos autores, se quiser, isso põe-nos numa linha civilizada que cultivamos - a linha Burke, Tocqueville, Aron, Oakeshott - e não no conservadorismo reaccionário - De Maistre, Bonald, Maurras, e assim por diante - nem na tradição preponderantemente económica ou libertária - Hayek, Friedman, Rand, etc. A recusa da democracia e das liberdades - entre outras minudências - afasta-nos da família política referida em segundo lugar (a preferida pela direita portuguesa). A excesso de pendor económico (ciência obscura que nenhum de nós domina) e o exagero doutrinal afastam-nos da terceira. Isto numa síntese grosseira. Somos conservadores porque somos pessimistas quanto à natureza humana, realistas quanto às regras do(s) jogo(s), prudentes quanto a mudanças bruscas, cépticos quanto a utopias. E somos liberais porque acreditamos, precisamente nas liberdades - e não na Liberdade -, porque as consideramos essenciais não só para a prossecução dos interesses dos indivíduos, mas também para a correcta valoração dos actos morais (sem liberdade, a moral não vale nada). Acontece que os liberais sem costela conservadora tendem a entusiasmar-se: entusiasmam-se com o progresso, com a tecnologia, com as liberdades tendencialmente ilimitadas, etc. E nós, como bons conservadores, somos contra os entusiasmos. Por outro lado, achamos que o Estado tem tarefas indispensáveis, que podem não se restringir a um programa minimalista que lhe atribuem certos liberais. Defesa, segurança e justiça? Certamente, mas não vem mal ao mundo que haja Estado na educação, na saúde, etc., desde que, bem entendido, se garanta a possibilidade de escolha entre serviços públicos e privados. Nas questões a que chama «morais» o problema deve ser estudado caso a caso: somos claramente liberais quanto a matérias como a legalização da prostituição, e tendencialmente liberais na matéria da droga e da legislação de direitos para casais em uniões de facto e para homossexuais (com excepção da adopção). Somos inequivocamente conservadores quanto ao direito à vida, nomeadamente na eutanásia e no aborto. A eutanásia, é certo, é uma questão mais complexa, que não podemos agora desenvolver, mas no aborto é claro para nós que há dois seres humanos, e que um (o mais forte) não tem direitos sobre a vida do outro (o mais fraco). Finalmente, no campo religioso, defendemos que as religiões tradicionais - na sua vertente moderada - foram largamente positivas, contribuíram para a formação dos valores que nos regem (a dignidade da pessoa humana, por exemplo), e que devem ser apoiados em matérias sociais e educativas, nomeadamente, mas que a fé é um assunto privado, e que deve haver total separação entre a(s) Igreja(s) e o Estado. Por isso, é como vê: conservadores com uma costela liberal. Não libertários nem reaccionários: conservar o que se deve conservar, e adaptar o que os tempos exigem que se adapte. Com firmeza, mas com prudência. Como dizia Jorge Luis Borges, é difícil ser um conservador radical. PM
Tenho uma dúvida existencial, que talvez me possam esclarecer. Qual é a diferença entre um conservador e um liberal (clássico)?
Na verdade, o liberalismo é uma filosofia política. Um liberal defende o princípio da neutralidade (a ideia de que o Estado não deve promover uma dada concepção de bem imposta aos cidadãos) e este princípio encontra-se ancorado na ideia de que os indivíduos são seres autónomos, racionais e possuidores de direitos (liberdade e propriedade), perfeitamente capazes de agirem livremente, não tendo, para tal, o Estado legitimidade para interferir na liberdade deles, salvo em casos em que os direitos dos outros indivíduos são afectados por essas acções (esta é a noção de liberdade negativa). Com o tempo esta concepção liberal foi posta em causa por outros filósofos liberais, visto que, segundo eles, os indivíduos só são verdadeiramente livres se um conjunto de circunstâncias o permitir. Estes liberais (aos quais chamo modernos) pensam que um alcóolico ou toxicodependente ou um deficiente mental não são livres, porque não podem escolher entre fins e meios racionalmente. Isto abre ao Estado a possibilidade e o dever de interferir na vida destas pessoas por forma a aumentar o grau de liberdade de que dispôem (chama-se a esta concepção, liberdade positiva ou liberdade como autonomia). Estes liberais, já adivinharam, são de esquerda e encontram-se politicamente (mas não filosoficamente) nos antípodas dos liberais clássicos, também denominados libertários, porque defendem o alargamento das funções do Estado muito para além das tarefas que tradicionalmente lhe eram confiadas. Liberais clássicos e modernos divergem, pois, quanto à extensão do papel do Estado numa sociedade, os primeiros defendendo um Estado mínimo, os segundos um Estado mais interventivo. Assim, resta saber o que defende um conservador. Penso que um conservador defenderá o liberalismo económico (a ausência de interferência do Estado no mercado de livre concorrência e a possibilidade dos preços dos produtos serem exclusivo resultado das leis da oferta e da procura), mas ao mesmo tempo não sei se defenderá o princípio da neutralidade quanto às questões morais, como sejam o aborto, a liberalização das drogas leves, etc... Antes de mais desculpem-me pelo simplismo extremo da análise. Não tenho muito tempo e espaço para me alongar sobre esta matéria. Que me dizem sobre este assunto? Onde se situam nestas questões? Eu defendo o libertarianismo (ou o liberalismo clássico, para ser mais exacto), mas gostava de saber qual é o vosso ideário (um espécie de manifesto de princípios coerentemente definidos). (José Barros )
Comentário: Caro José, antes de mais obrigado pelo seu mail substancioso e sério. Dos três Infames sou o menos letrado em Ciência Política, mas já parti umas tantas lombadas nessa matéria, por isso alinhavo aqui a minha opinião, a que se seguirá a dos meus doutos companheiros. Temos oscilado, em termos de definição ideológica, entre o «conservadorismo» e o «liberalismo»; em geral, para facilitar, dizemo-nos «conservadores liberais». Do ponto de vista dos autores, se quiser, isso põe-nos numa linha civilizada que cultivamos - a linha Burke, Tocqueville, Aron, Oakeshott - e não no conservadorismo reaccionário - De Maistre, Bonald, Maurras, e assim por diante - nem na tradição preponderantemente económica ou libertária - Hayek, Friedman, Rand, etc. A recusa da democracia e das liberdades - entre outras minudências - afasta-nos da família política referida em segundo lugar (a preferida pela direita portuguesa). A excesso de pendor económico (ciência obscura que nenhum de nós domina) e o exagero doutrinal afastam-nos da terceira. Isto numa síntese grosseira. Somos conservadores porque somos pessimistas quanto à natureza humana, realistas quanto às regras do(s) jogo(s), prudentes quanto a mudanças bruscas, cépticos quanto a utopias. E somos liberais porque acreditamos, precisamente nas liberdades - e não na Liberdade -, porque as consideramos essenciais não só para a prossecução dos interesses dos indivíduos, mas também para a correcta valoração dos actos morais (sem liberdade, a moral não vale nada). Acontece que os liberais sem costela conservadora tendem a entusiasmar-se: entusiasmam-se com o progresso, com a tecnologia, com as liberdades tendencialmente ilimitadas, etc. E nós, como bons conservadores, somos contra os entusiasmos. Por outro lado, achamos que o Estado tem tarefas indispensáveis, que podem não se restringir a um programa minimalista que lhe atribuem certos liberais. Defesa, segurança e justiça? Certamente, mas não vem mal ao mundo que haja Estado na educação, na saúde, etc., desde que, bem entendido, se garanta a possibilidade de escolha entre serviços públicos e privados. Nas questões a que chama «morais» o problema deve ser estudado caso a caso: somos claramente liberais quanto a matérias como a legalização da prostituição, e tendencialmente liberais na matéria da droga e da legislação de direitos para casais em uniões de facto e para homossexuais (com excepção da adopção). Somos inequivocamente conservadores quanto ao direito à vida, nomeadamente na eutanásia e no aborto. A eutanásia, é certo, é uma questão mais complexa, que não podemos agora desenvolver, mas no aborto é claro para nós que há dois seres humanos, e que um (o mais forte) não tem direitos sobre a vida do outro (o mais fraco). Finalmente, no campo religioso, defendemos que as religiões tradicionais - na sua vertente moderada - foram largamente positivas, contribuíram para a formação dos valores que nos regem (a dignidade da pessoa humana, por exemplo), e que devem ser apoiados em matérias sociais e educativas, nomeadamente, mas que a fé é um assunto privado, e que deve haver total separação entre a(s) Igreja(s) e o Estado. Por isso, é como vê: conservadores com uma costela liberal. Não libertários nem reaccionários: conservar o que se deve conservar, e adaptar o que os tempos exigem que se adapte. Com firmeza, mas com prudência. Como dizia Jorge Luis Borges, é difícil ser um conservador radical. PM
quarta-feira, março 05, 2003
SOL ENGANADOR: Parabéns ao PÚBLICO pelo destacável de hoje dedicado aos 50 anos da morte de Estaline. Há alguns pontos importantes que os textos analisam. Desde logo, sublinhe-se o tom consensual de quase tudo o que aí se diz; e no entanto, tudo aquilo já se sabia há, digamos, vinte anos atrás, mas quem o dissesse há apenas vinte anos era «reaccionário» e «fascista». Depois, o estudo do tratamento desigual dado aos crimes do comunismo e do nazismo, embora isso esteja felizmente a mudar, sobretudo depois do livro dirigido por Stephane Courtois. Finalmente, e talvez mais importante, a noção de que à mitologia do estalinismo como «sol do mundo» se seguiu a mitologia do estalinismo como «desvio»; isto é, a bizarra ideia de que com Lenine ou Trostski nada daquilo aconteceria. É uma mitologia que os estudiosos do regime têm desmontado livro após livro. O estalinismo foi a apoteose do comunismo, que deu e dará sempre em tirania sanguinária e inimiga de todas as liberdades. A não ser que o comunismo seja a única doutrina do mundo que nunca pode ser confundida com os seus soi-disant «erros». Se assim fosse, porque não a mesma tolerância para com o fascismo, ou o capitalismo? Mas não: os regimes são o que foram historicamente, e quem em 2003 chora pelo comunismo é, simplesmente, um inimigo da liberdade. PM
PARVOÍCES: Certos sectores americanos estão a entrar por caminhos parvos: boicotes aos produtos franceses, pseudo-mccartismos em Hollywood, etc. Quando o que é preciso não é esse tipo de «represálias» pategas, de perseguições malignas, de mentalidades censórias. A liberdade de expressão é um valor inestimável. O mais importante é, como sempre, perceber quem são os amigos e os inimigos. Para no futuro não se cometer os mesmos erros. Na política internacional, Paul Johnson resumiu assim a lição número um a tirar da crise iraquiana: France is not to be trusted at any time, on any issue. Como se diz em inglês: nicely put. PM
READ NORMAN MAILER & GET A NEW TAYLOR: No seu novo livro, The Spooky Art, o grande Norman Mailer escreve sobre as desventuras do sucesso precoce. Os capítulos que lemos em pré-publicação na imprensa são fabulosos. Não só é interessante acompanhar a devastação da «celebridade» numa psique impreparada, como fica bem explicado o modo também precoce como Mailer se viciou nessa celebridade e, mais genericamente, no poder. Por isso, escreveu toda a vida sobre esses temas. Por isso, é um romancista mediano e um jornalista genial. PM
O YETL DO DN: Já aqui escrevemos sobre - como lhe chama o Blog de Esquerda - o Abominável César das Neves. Gostamos dos seus artigos apenas por uma coisa: para a esquerda perceber, de uma vez por todas, que nós, da direita Infame, não temos absolutamente nada a ver com aquela mentalidade, com aquele discurso e que, sobretudo, não nos interessa a «moralidade» alheia. É por isso que Monteiros & Neves nos são muito úteis: para que os nossos leitores percebam o contraste. PM
ANTI-AMERICANISMO: O raciocínio de um bom europeu, leitor de Teresa de Sousa e de Denis de Rougemont, é o seguinte: os Estados Unidos devem estar quietinhos no Delaware e só têm que intervir no mundo quando precisamos da sua força militar para coagir aqueles que violam a legalidade internacional. Resta, pois, aos americanos aceitarem obedientemente este princípio. O problema é que nenhum país, e sobretudo os Estados Unidos, usa a força militar e os seus soldados, só a pedido de outros, por melhores que sejam as suas intenções. Os países têm interesses; e interesses dos cidadãos que representam. Isto é a democracia. Já se esqueceram? PL
MEMÓRIA: Eu confesso: o primeiro livro da minha biblioteca foi um volume de ensaios de Aldous Huxley que nunca devolvi a uma biblioteca itinerante. Um roubo. Como sou ordeiro e defensor da propriedade (excepto quando a propriedade é um roubo), andei anos a pensei no significado desse pecado original. Felizmente, não era a Rosa Luxemburgo. PL
A NOSSA VIDA: Vejo nos escaparates de livrarias uma chusma de livros contra o fast-food americano, a roupa americana, a vida americana e por aí fora. No entanto, as turbas comem aquela comida, vestem aquela roupa, vivem daquela forma. Certamente que há maneiras de sobreviver mais interessantes e estimáveis. Basta olhar para a esquerda que resiste com paciência e esforço a esta nociva globalização. Sim... Já agora: e se a esquerda parasse de se meter na vida dos outros? PL
ACONTECE AOS MELHORES: Face às recentes declarações de Ana Gomes - sobre a guerra e outros assuntos de defesa -, deixamos um conselho: nunca fiquem muito tempo em Jacarta. PL
BY DAVID LETTERMAN: Piada de Letterman: “começamos a saber mais coisas sobre o ditador da Coreia do Norte Kim Jong Il. Sabemos, por exemplo, que ele sucedeu ao seu pai, Menta Lee Il”. PL
SAMBA E A VELHA ALBION: Não sei se viram ontem o blog de António Granado, Ponto Media. Se não viram, recordo o modo como ele começou o dia: «hoje não é feriado no Reino Unido, por isso este blog vai funcionar». PL
OS GREGOS, PACIFISTAS? O Projecto Lisístrata está em acção, levado a cabo por actores de todo o mundo, aliás conhecidos amigos da Humanidade. Do site do grupo recreativo retirámos este statement estonteante: Lysistrata, a comedy by Greek dramatist Aristophanes (c. 447 - c. 385 b.c.e.), tells the story of a group of women from opposing states who unite to end the Peloponnesian War. After matronly stormtroopers take over the building where public funds are kept, the women rise to end the war by withholding sex from their mates -- Until, desperate for intimacy, the men finally agree to lay down their swords and see their way to achieving diplomatic peace. Though we are not necessarily suggesting these tactics be used to end this war (but, wouldn't it be fun if the First Lady ...), Lysistrata provides a humorous entree into a healthy community dialogue: What CAN we do on a local level to stop "diplomacy by violence" in our world? In many countries, women have progressed to greater positions of power since Aristophanes wrote this play. Many of us do have a voice now. We are free to run for office. We are free to speak out for humanitarian foreign policy. We are free to teach our youth about conflict resolution through compassionate negotiation, rather than violent domination. And we can do much more. For the sake of women who DON'T have those freedoms (the very women who will feel the brutality of Bush's war in a direct way), we must speak out. We must unite. Honestidade intelectual no seu máximo. Desde logo, a falta de noção de que se Lisístrata é uma comédia, por alguma coisa deve ser. A falta de noção de que Lisístrata não é uma peça pacifista. Os gregos, pacifistas? Valha-me S. Pinter! Depois a frase final: as mulheres que não têm liberdades vão sofrer por causa de Bush, enquanto agora, como é óbvio, não sofrem. É em momentos destes que considero «artista» um insulto. PM
GOOD NEWS: Uma grande notícia, lida no Dn de hoje: O livro Atonement, do escritor inglês Ian McEwan (traduzido em português como Expiação e editado pela Gradiva), ganhou o National Book Critics Circle Award, atribuído todos os anos pelos principais críticos literários e editores norte-americanos. Este grupo reúne cerca de 750 dos mais destacados nomes do meio literário dos EUA. Atonement já vendeu mais de 250 mil exemplares nos Estados Unidos, o que é considerado um feito para um romance publicado numa altura de crise económica e de retracção nas vendas de literatura. Na Grã-Bretanha, o livro de McEwan foi o terceiro mais vendido em 2002, com quase meio milhão de exemplares. Depois de ter sido finalista vencido nos prémios Booker e Whitbread, Atonement acabou por ganhar apenas o mais modesto prémio WHSmith. Trata-se, na minha opinião, de um dos melhores romances dos últimos anos. Mas eu só leio livros no Carnaval... PM
TO WHOM IT MAY CONCERN: Os meus problemas de consciência são um assunto privado. Mas quero deixar escrito que, a partir deste momento, não manterei neste blog nem por mail qualquer diálogo com «católicos» da carneirada. Se eu próprio quiser continuar católico, tenho que evitar o contacto com esses senhores. PM
PRÉMIO ACABEI DE CHEGAR DE MARTE: Sem citar nomes, nem o mail propriamente dito (a pedido do autor) tenho que postar esta. O prémio Acabei de Chegar de Marte da semana vai para o leitor que, tendo visto o meu post de ontem, me aconselha a ler todos os dias do ano, e não apenas no Carnaval. Em trinta anos, esta é absolutamente nova. PM
ENA, ENA: And now for something completely different. Acabo de receber este mail: 4AD / Beggars Group are pleased to announce the simultaneous US release of the new Throwing Muses and Kristin Hersh albums on March 4th. "Throwing Muses" sees Kristin Hersh reunited in the studio with David Narcizo and Bernard Georges for the first time since "Limbo" was released in 1996. Tanya Donelly also made an appearance at the sessions - she sings backing vocals on several tracks. In stark contrast to the raw, amped-up exhilaration of the Throwing Muses albumn comes Kristin's latest solo recording, released on the same day. "The Grotto" is slow-moving, introspective and totally spellbinding - with Kristin's voice and acoustic guitar fleshed out delicately by guests Howe Gelb (Giant Sand) and Andrew Bird (Bowl Of Fire) who provide piano and violin respectively. Both albums come adorned with cover art by Shinro Otahke (who also provided the images for "House Tornado" and "Hips And Makers", amongst others). v23 have created beautiful packaging to make the most of the paintings - initial quantities of "Throwing Muses" will be available as a special six-panel, embossed digipack. Throwing Muses will be playing select US dates in April which will be followed by a Kristin Hersh solo tour. As Muses, escusado será dizer, são as papisas do indie rock (na sua versão college rock), e tinham hibernado, não obstante os excelentes discos a solo que Hersh continuou a editar (por exemplo, este álbum de canções infantis de gelar a espinha). Agora, double bill: Muses e Hersh a solo. Há comebacks que não são foleiros. É o caso. Só uma pergunta: is there a Lisbon date, Kristin? PM
UM FRANCÊS LÚCIDO: Sim, ça existe. E é socialista, ainda por cima. Transcrevemos na íntegra, dada a sua clareza, a entrevista de Bernard Kouchner ao Monde:
L'Irak envoie ses missiles à la casse. N'est-ce pas la preuve que les inspections sont efficaces?
C'est d'abord la preuve qu'il avait des missiles, et désormais aussi qu'il avait de l'anthrax et des armes biochimiques.
Est-il crédible que ces armes soient utilisées, et contre qui ?
Hélas, c'est crédible, puisque toutes ces armes ont déjà été utilisées, et surtout contre le peuple irakien.
Vous êtes pour la guerre ?
Je déteste la guerre que je connais mieux que personne, depuis quarante ans. La guerre est une très mauvaise solution. Mais il y a pire qu'une très mauvaise solution, c'est de laisser en place un dictateur qui massacre son peuple. Je souhaite qu'on puisse entendre le plus important protagoniste de cette crise, le premier menacé : le peuple irakien qui subit la dictature.
Le renversement de Saddam Hussein est plus important que son désarmement ?
Oui, c'est un but prioritaire. Il reste très peu de jours ou de semaines, peut-être 10 % de chances que la guerre soit évitée. Par la combinaison d'une menace militaire qui n'aurait pas besoin de passer à exécution, d'une pression diplomatique et d'une pression des opinions publiques, je pense que nous pouvons encore proposer une attitude commune pour que Saddam Hussein s'en aille.
Pourquoi partirait-il ?
Pour le moment, ce qui le fait rester et le conforte un peu, c'est notre division à nous les Occidentaux.
La France a donc tort de s'opposer aux Etats-Unis ?
La première partie de la manœuvre diplomatique française était parfaite, qui consistait à faire revenir les Américains dans le cadre de l'ONU. Dans la seconde partie de ce bras de fer, beaucoup trop virile, le coude a dérapé. A un moment donné, on a brandi notre droit de veto. Je le regrette infiniment. C'est très dommageable.
La France est dans l'impasse ?
Oui, nous sommes dans l'impasse. Nous avons accentué la fracture de l'Europe plutôt que de la cicatriser. Nous nous sommes attelés au pacifisme allemand, c'était une erreur. Nous avons brutalisé un peu les pays de l'Est qui sortent de dictature. C'était une deuxième erreur. Enfin nous avons ouvert une fracture grave avec les Etats-Unis. Voilà ce que je reproche au président de la République.
Et à vos amis socialistes ?
Bien sûr. Le rôle de la France, avant les autres, c'est de s'intéresser aux violations des droits de l'homme et de se battre contre les dictatures.
Nem toda a gente endoidou no Hexágono. PM
L'Irak envoie ses missiles à la casse. N'est-ce pas la preuve que les inspections sont efficaces?
C'est d'abord la preuve qu'il avait des missiles, et désormais aussi qu'il avait de l'anthrax et des armes biochimiques.
Est-il crédible que ces armes soient utilisées, et contre qui ?
Hélas, c'est crédible, puisque toutes ces armes ont déjà été utilisées, et surtout contre le peuple irakien.
Vous êtes pour la guerre ?
Je déteste la guerre que je connais mieux que personne, depuis quarante ans. La guerre est une très mauvaise solution. Mais il y a pire qu'une très mauvaise solution, c'est de laisser en place un dictateur qui massacre son peuple. Je souhaite qu'on puisse entendre le plus important protagoniste de cette crise, le premier menacé : le peuple irakien qui subit la dictature.
Le renversement de Saddam Hussein est plus important que son désarmement ?
Oui, c'est un but prioritaire. Il reste très peu de jours ou de semaines, peut-être 10 % de chances que la guerre soit évitée. Par la combinaison d'une menace militaire qui n'aurait pas besoin de passer à exécution, d'une pression diplomatique et d'une pression des opinions publiques, je pense que nous pouvons encore proposer une attitude commune pour que Saddam Hussein s'en aille.
Pourquoi partirait-il ?
Pour le moment, ce qui le fait rester et le conforte un peu, c'est notre division à nous les Occidentaux.
La France a donc tort de s'opposer aux Etats-Unis ?
La première partie de la manœuvre diplomatique française était parfaite, qui consistait à faire revenir les Américains dans le cadre de l'ONU. Dans la seconde partie de ce bras de fer, beaucoup trop virile, le coude a dérapé. A un moment donné, on a brandi notre droit de veto. Je le regrette infiniment. C'est très dommageable.
La France est dans l'impasse ?
Oui, nous sommes dans l'impasse. Nous avons accentué la fracture de l'Europe plutôt que de la cicatriser. Nous nous sommes attelés au pacifisme allemand, c'était une erreur. Nous avons brutalisé un peu les pays de l'Est qui sortent de dictature. C'était une deuxième erreur. Enfin nous avons ouvert une fracture grave avec les Etats-Unis. Voilà ce que je reproche au président de la République.
Et à vos amis socialistes ?
Bien sûr. Le rôle de la France, avant les autres, c'est de s'intéresser aux violations des droits de l'homme et de se battre contre les dictatures.
Nem toda a gente endoidou no Hexágono. PM
BE: Agora, a nossa habitual rubrica Blog de Esquerda. Citamos:
É engraçado ver a Coluna Infame lamentar-se, ciclicamente, de ser uma minoria num mundo – a comunicação social - «esquerdista» por natureza (dizem eles). Mas a prática desmente-os, pelo menos no que à internet diz respeito. Basta dar uma volta pelos blogosfera portuguesa e as páginas mais ou menos conservadoras (também há libertários patuscos) saltam logo debaixo das pedras como lagartixas assustadas: ele é o «Picuinhices», ele é o «Esmaltes & Jóias», ele é o «Valete Fratres», ele é o recente «Blogue dos Marretas», etc, etc. A constelação direitista (pró-Bush, pró-guerra, pró-coisas-que-nem-mesmo-eles-têm-coragem-de-confessar) amplia-se a olhos vistos. E por muito que lhes custe, o discurso choramingas sobre a «orgulhosa minoria» (neo-)conservadora faz cada vez menos sentido. Se há alguém que está em clara minoria neste momento, somos nós. Eis a triste constatação: enquanto a esquerda activa desce à rua e protesta, a direita activa fecha-se em casa a destilar, no ecrã de um computador, todo o seu veneno. Não deixa de ser um sinal dos tempos.
Quatro notas necessárias: 1) Sempre dissemos que as posições conservadoras são neste momento minoritárias na imprensa tradicional. Na blogosfera, pelo contrário, sabemos bem que há mais blogs conservadores que esquerdistas, pelo menos no universo anglo-saxónico, que é o que conheço melhor, e agora, ao que parece, também no português. Rigor argumentativo, por favor. 2) Nunca nos «lamentamos» de sermos minoritários, seja no que for. Um dos princíos que defendemos é o que o número só manda nas eleições, não manda nas consciências. Estamos tão bem em maioria como em minoria. 3) A Coluna Infame defende exactamente aquilo que pensa. Como é evidente: já aqui escrevemos opiniões altamente polémicas, sem medo das reacções. Não será o Blog de Esquerda que defende coisas e causas (a abolição da propriedade privada ou a eliminação dos partidos, por exemplo), que não declara? Ou não serão marxistas? 4) A expressão «destilar veneno» não tem qualquer cabimento. Temos visto bastante ódio «destilado» nas ruas. (Também achámos piada à expressão do ZM, segundo a qual esta é «a mais indefensável das guerras». Desde que há guerra no mundo, supomos...) PM
É engraçado ver a Coluna Infame lamentar-se, ciclicamente, de ser uma minoria num mundo – a comunicação social - «esquerdista» por natureza (dizem eles). Mas a prática desmente-os, pelo menos no que à internet diz respeito. Basta dar uma volta pelos blogosfera portuguesa e as páginas mais ou menos conservadoras (também há libertários patuscos) saltam logo debaixo das pedras como lagartixas assustadas: ele é o «Picuinhices», ele é o «Esmaltes & Jóias», ele é o «Valete Fratres», ele é o recente «Blogue dos Marretas», etc, etc. A constelação direitista (pró-Bush, pró-guerra, pró-coisas-que-nem-mesmo-eles-têm-coragem-de-confessar) amplia-se a olhos vistos. E por muito que lhes custe, o discurso choramingas sobre a «orgulhosa minoria» (neo-)conservadora faz cada vez menos sentido. Se há alguém que está em clara minoria neste momento, somos nós. Eis a triste constatação: enquanto a esquerda activa desce à rua e protesta, a direita activa fecha-se em casa a destilar, no ecrã de um computador, todo o seu veneno. Não deixa de ser um sinal dos tempos.
Quatro notas necessárias: 1) Sempre dissemos que as posições conservadoras são neste momento minoritárias na imprensa tradicional. Na blogosfera, pelo contrário, sabemos bem que há mais blogs conservadores que esquerdistas, pelo menos no universo anglo-saxónico, que é o que conheço melhor, e agora, ao que parece, também no português. Rigor argumentativo, por favor. 2) Nunca nos «lamentamos» de sermos minoritários, seja no que for. Um dos princíos que defendemos é o que o número só manda nas eleições, não manda nas consciências. Estamos tão bem em maioria como em minoria. 3) A Coluna Infame defende exactamente aquilo que pensa. Como é evidente: já aqui escrevemos opiniões altamente polémicas, sem medo das reacções. Não será o Blog de Esquerda que defende coisas e causas (a abolição da propriedade privada ou a eliminação dos partidos, por exemplo), que não declara? Ou não serão marxistas? 4) A expressão «destilar veneno» não tem qualquer cabimento. Temos visto bastante ódio «destilado» nas ruas. (Também achámos piada à expressão do ZM, segundo a qual esta é «a mais indefensável das guerras». Desde que há guerra no mundo, supomos...) PM
ATAQUE P. C.: Uma escola primária inglesa, cujos alunos são quase todos muçulmanos, mandou retirar das salas de aula os livros que contenham referências a porcos, para não ofender o Islão, que vê esse animal como, errr...porco. É a ideologia politicamente correcta a tomar conta do Ocidente. E pretendem os «moderados» dizer que não se passa nada... PM
FACTOS: Os EUA, segundo a esquerda, tinham-se desinteressado - ou perdido - da luta contra o terrorismo. Pois bem, um dos masterminds do 11 de Setembro foi apanhado, e a lista já vai extensa. O Iraque, segundo a esquerda, não tem ADM (Armas de Destruição Maciça). Pois bem, os iraquianos acabam de destruir mais algumas dessas armas que não tinham, incluindo armas biológicas. E depois somos nós que temos problemas com os factos... PM
SULLY SPEAKS: Temos a honra de citar o nosso inspirador, Mr. Andrew Sullivan, sobre o que ele chama «the real agendas»: One reason to pay only limited attention to the howls of outrage as the U.S. and U.K. do what is necessary is the fact that very little of the opposition to this war is actually about this war. For some it's about "war" in general - a newly empowered new age pacifism. For France, it's about ... France, and its eclipse as a power of any significance. France's crisis is deepened by the fact that a successful war against Saddam could also accelerate the end of the Franco-German bloc as the power-house of the European Union. For Russia, it's about money. For the Germans, it's about a new national identity. The Germans have never been able to sustain a moderate polity on their own. They veer from extreme romantic militarism to romantic pacifism. Their current abdication of all strategic responsibility for Europe or the wider world is just another all-too-familiar spasm from German history. For the broader anti-war forces in Europe, it's about American uni-polar power - and the need to counteract it, even if it's being put to good use. For still others, especially in the Vatican and France, it's the old Jew-hatred again. For the Democrats, it's about getting back to prescription drugs. For the anti-war left in America, it's really about Bush. The pent-up fury they felt after Florida never found expression or even validation in the wider culture. It was repressed in the first months of a new presidency - and then made irrelevant by 9/11. Finally, they have a chance to demonstrate their hate - which is why so much of the demonstrations' focus has not been on Saddam, Iraq or even war, but on Bush. The anti-Bush left knows that a successful war will only strengthen the president further and marginalize them even more - hence their utter desperation and viciousness today. This is their moment; and the demonstrations are their therapy. Meanwhile, a real and actual problem in global security is being addressed. Thank heavens that for some, this moment really is about Saddam. É precisamente isso que aqui na Coluna não esquecemos: que nesta questão não há «puros», que cada posição política esconde interesses, egoísmos, uma «agenda». Sempre foi claro que não vamos no «angelismo» americano (nós não somos americanos, vejam se entendem...), mas ainda menos embarcamos nas tretas dos defensores da «paz», do «Direito Internacional» e coisas assim. Desarmar o Iraque é a questão central, sem dúvida; mas sabemos bem que este conflito - o conflito na imprensa, nos partidos, na sociedade - tem a ver com outras questões ideológicas, e por isso não queremos ter nada a ver com os idiotas «católicos» e demais carneiros. Ingenuidades em política? Para isso, há a infância. PM
DISFARCES: Chegaram-nos ecos do Carnaval, e dos melhores disfarces deste ano. Assim, Alberto João Jardim vestiu-se de político grotesco e Januário Torgal Ferreira vestiu-se de bispo. E, de acordo com um leitor, Jacques Chirac vestiu-se de Pétain. PM
terça-feira, março 04, 2003
READ BOOKS: A Coluna Infame despreza - como é evidente - o Carnaval. Hoje, em vez de dar à bunda, vamos ler livros em atraso. Por isso, salvo provocações imprevistas, não haverá posts. Queremos, entretanto, agradecer a crescente adesão ao nosso blog por parte de leitores que não são primas nem tios dos Infames. Aproveitamos para dizer que os mails recebidos (colunainfame@hotmail.com) são passíveis de publicação, salvo menção em contrário. Não publicaremos insultos, elogios ou comentários pessoais, mas estamos sempre abertos a sugestões e opiniões. Constatamos com agrado o aumento do número de blogs em Portugal, e sobretudo de blogs que valem a pena. Também nos congratulamos com a forte presença conservadora e liberal entre os blogs políticos, consequência óbvia da sub-representação nos media. Quanto à Coluna, os tão apregoados melhoramentos técnicos já não tardam. Obrigado a todos e keep on blogging. PM
segunda-feira, março 03, 2003
É A CAVAR, CAMARADAS: Acusam-nos repetidas vezes de sermos «belicistas de secretária». Como nenhum de nós se considera «belicista», nem é preciso ir ao segundo item. Mas hoje lemos que os auto-proclamados «pacifistas» que se voluntariaram como «escudos humanos» no Iraque deram às de Vila Diogo quando souberam que podiam não estar em... segurança. Ah, o pacifismo de mesa de café... (Nota: só agora reparo que «dar às de Vila Diogo» significa «fugir a sete pés». Porque será?). PM
TO BE CONTINUED : É claro que, num certo sentido, nada mudou. É claro que Freitas do Amaral nunca foi um direitista. É claro que Paulo Portas não é um democrata-cristão. É claro que a democracia-cristã não é uma democracia. É claro que a democracia-cristã não existe. PL
O RECIBO: Vi este fim de semana, no canal 2, o programa «Sinais do Tempo», em que passaram uma reportagem feita (em 2003) por um canal francês de TV sobre quem armou o Iraque desde os anos 70 até hoje. Comecei a ver o programa com um pé atrás (recomendo o site: merdeinfrance.blogspot.com), quando de repente vejo imagens do sr. Xiraq com trinta e poucos anos, a visitar o Saddam com grande pompa, meteu beijinhos na cara e tudo, datadas de 1974, quando o Iraque conseguiu montar a sua central nuclear com a ajuda dos franceses (e que viria a ser algum tempo depois bombardeada pelos israelitas). Continuava a peça, mostrando imagens da frota de Mirages vendidos pela França ao sr. de Bagdad nos anos 80, e que mais tarde serviram para bombardear aldeias curdas com gases tóxicos, tendo até mostrado aquelas imagens das populações curdas mortas nas ruas (que custa tanto a engolir aos pacifistas). Todas estas imagens foram acompanhadas por entrevistas com responsáveis do governo francês da altura, com o sr. Tarek Aziz a confirmar o bom relacionamento existente até aos dias de hoje. Também mostraram como os alemães (quem diria ? ) montaram uma fábrica de gases químicos no Iraque e a puseram a funcionar até recentemente, também com confirmação de responsáveis alemães e do Sr Tarek Aziz. E para terminar, aqui vai um rebuçado para a esquerdalhada: mostraram imagens do Rumsfeld em inícios dos anos 80 a visitar Bagdad e cumprimentar o Saddam (sem beijinhos), mas ao contrário da França e Alemanha os responsáveis iraquianos e alguns entrevistados na peça apenas acusaram os EUA de ter vendido helicópteros e de ter fornecido informações por satélite sobre o posicionamento das tropas iranianas durante a guerra com Irão. O próprio Tarek Aziz confirmou que apesar da visita do sr. Rumsfeld o Iraque teve sempre como principais clientes de armas a França, Rússia e Alemanha! Afinal, os recibos das armas proibidas pertenciam a outros que não os yankees, para grande decepção dos pacifistas da Aula Magna. Só foi pena que este programa não desse a horas decentes no primeiro canal… (Jorge Bento)
Comentário: Pois é, caro Jorge, nós aqui na Coluna sabemos que os pregoeiros do Direito Internacional têm um cadastro que os devia remeter ao silêncio envergonhado. Mas para sentir vergonha é preciso tê-la... PM
Comentário: Pois é, caro Jorge, nós aqui na Coluna sabemos que os pregoeiros do Direito Internacional têm um cadastro que os devia remeter ao silêncio envergonhado. Mas para sentir vergonha é preciso tê-la... PM
GUERRA AO XIRAQUE: O Marretas já deu uma notável contribuição para a onomástica da blogosfera: uma nova grafia para o nome do Presidente de Vichy: o senhor Xiraque. PM
WE ARE NOT ALONE II: Alvíssaras, chegou o Marretas, um blog de conversadores e conservadores, como eles dizem. Saudamos os camaradas. E aqui fica o mail de um deles.
Todos nós, lá nos Marretas, somos assistentes e profs numa universidade (o Animal é Prof. Dr., embora só ligue a isso na folha do ordenado) do interior. Ao contrário deles, que são de outro departamento, onde a coisa está bem distribuída, eu pertenço ao departamento de Sociologia, onde, além de poucos, os outros são todos de esquerda, da mais militante à mais ortodoxa (ou em simultâneo). Agora imagine que escrevo num jornal da zona, com fotografia e tudo, uma coluna de opinião conservadora (aqui chamam-lhe de reaccionária para cima, bem visto), onde cito frequentemente Burke, Tocqueville e Oakeshott, este último muito cá de dentro...
Nas aulas, sinto o mesmo que o Pedro descreve nos seus posts. Às vezes parece que os alunos saíram de uma sessão de esclarecimento (??) do Bloco. Aquelas cabeças têm tanta propaganda como pouco conhecimento. Para acabar o retrato, sou o único pelas redondezas que não suporta o Prof. Porventura - é um grande nick pro senhor - e as suas teorias a preto e branco, havendo até quem seja discípulo dilecto... Talk to me about minorities... (Nuno Amaral Jerónimo)
Comentário: Caro Nuno, lembra-se quem tinha uma versão acústica do «Não Sou o Único»? Os...Resistência. Keep on the good work. Um abraço a todo o camarote. PM
Todos nós, lá nos Marretas, somos assistentes e profs numa universidade (o Animal é Prof. Dr., embora só ligue a isso na folha do ordenado) do interior. Ao contrário deles, que são de outro departamento, onde a coisa está bem distribuída, eu pertenço ao departamento de Sociologia, onde, além de poucos, os outros são todos de esquerda, da mais militante à mais ortodoxa (ou em simultâneo). Agora imagine que escrevo num jornal da zona, com fotografia e tudo, uma coluna de opinião conservadora (aqui chamam-lhe de reaccionária para cima, bem visto), onde cito frequentemente Burke, Tocqueville e Oakeshott, este último muito cá de dentro...
Nas aulas, sinto o mesmo que o Pedro descreve nos seus posts. Às vezes parece que os alunos saíram de uma sessão de esclarecimento (??) do Bloco. Aquelas cabeças têm tanta propaganda como pouco conhecimento. Para acabar o retrato, sou o único pelas redondezas que não suporta o Prof. Porventura - é um grande nick pro senhor - e as suas teorias a preto e branco, havendo até quem seja discípulo dilecto... Talk to me about minorities... (Nuno Amaral Jerónimo)
Comentário: Caro Nuno, lembra-se quem tinha uma versão acústica do «Não Sou o Único»? Os...Resistência. Keep on the good work. Um abraço a todo o camarote. PM
NAKED: O Pedro Mexia resolveu brincar com os protestos nudistas de certos manifestantes; mais um pretexto, claro está, para tentar ridicularizar os membros do «não à guerra». Mas o espírito papalvo tinha, tem sempre, que se revelar e lá acaba por nos dizer que o nudismo a evitar é sobretudo o das senhoras. Parece-me corajoso o Pedro abordar tal tema.Na verdade, a vontade de nudez suscitada por cada corpo é assunto do qual PM devia fugir a sete pés! Porque não há susto maior para qualquer rapariga do que a hipótese de nudez do Pedro Mexia. Digo isto após consultar escrupulosamente as minhas amigas mais próximas. Não se trata, pois, de nada de pessoal. Os Infames pedem fotografias de corpo inteiro às raparigas que escrevem para a Coluna, o que até acho boa ideia, mas deviam ser os Colunistas a começar. Mas vestidos, por favor!, a bem da Humanidade... Esperando que tenham o poder de encaixe e o humor suficientes para colocar esta mensagem,cumprimenta-vos a vossa leitora. (Matilde Fernandes)
Comentário: Há poucos mails numa dada semana? É fácil voltar a encher a caixa. O meu post funcionou, portanto. Quanto à sua apreciação estética da minha pessoa, cara leitora, é a triste verdade da Natureza. Por isso aqui juro que não me despirei a favor da intervenção no Iraque. PM
Comentário: Há poucos mails numa dada semana? É fácil voltar a encher a caixa. O meu post funcionou, portanto. Quanto à sua apreciação estética da minha pessoa, cara leitora, é a triste verdade da Natureza. Por isso aqui juro que não me despirei a favor da intervenção no Iraque. PM
O CANDIDATO DA ESQUERDA: Não, não acreditamos que as críticas de Freitas do Amaral ao silêncio de Cavaco e Guterres sejam o início da sua campanha para as próximas eleições presidenciais. Não sejam insensatos. Essa ideia é inconcebível. E, por amor de Deus, tirem das vossas cabeças outra, a de que o professor Freitas quer ser eleito pela esquerda, na medida em que nunca o conseguirá pela direita. Por favor, tenham tento. É evidente que o professor só está preocupado com o futuro do Direito Internacional. E do povo iraquiano, claro. PL
SIC MULHER: Estreia esta semana SIC Mulher, novo canal dirigido às fêmeas deste país. Espíritos destemperados devem moderar-se: não vão encontrar um novo Fashion TV . Vão, sim, descobrir uma espécie de Discovery Channel, que vai certamente abusar de psicologismos vários, com os inevitáveis especialistas das ciências da treta. PL
SIGUR ROS NO COLISEU: Ainda não li reacções mas o concerto de Sigur Ros no Coliseu pareceu-me um bom concerto em sala errada. Não se ouve a música vaporosa destes islandeses com não sei quantos milhares de almas, numa sala fria e indiferente como é o Coliseu. Público diversificado, é certo: seguidores do mago Merlin e outros lunáticos, filiados no LSD, guevaristas de muitas extracções, familiares do Bernardino Soares, outros alternativos, duas lésbicas, gente normal com angústias veladas - tudo se pôde ver naquela noite de sábdo. Embora já se esperasse porque os bilhetes já tinham esgotado há muito tempo, a adesão enorme à música etérea e lunar desta banda põe-nos uma dúvida ingénua. Por que razão esta gente, que esgota um concerto destes, não se abastece também de boa literatura, melhorando o consumo de cultura em Portugal? Não precisam de responder. Conheço a resposta. PL
domingo, março 02, 2003
DE VILA POUCA PARA O MUNDO: Uma revista arrogante de Vila Pouca de Aguiar é, evidentemente, um fenómeno a ter em conta. Aqui na Coluna não conhecemos Vila Pouca, mas achamos graça ao topete destes rapazes. Falamos, claro, da Periférica, uma revista cultural e etc. sem papas nem língua nem complexos de interioridade. A malta da Periférica escreve como se estivesse a pontificar na New Yorker, de cima para baixo, e gostamos disso. A edição on-line (parcial) pode ser encontrada aqui, até porque a edição em papel não é assim tão fácil de arranjar. A Coluna agradecia a Vila Pouca a oferta de cortesia de exemplares dos números anteriores. Procuramos estar a par de tudo (com excepção da Activa). Agradecidos. PM
TSF: A TSF fez quinze anos. Ainda me lembro dos tempos gloriosos do verdadeiro terrorismo urbano que eram as «rádios pirata» (uma expressão que soa na minha cabeça como «cubo mágico» ou «iô-iô»), e da experiência de começar a ouvir rádio todos os dias, quebrado enfim o duopólio Estado / Igreja. O aparecimento da TSF, diz Carlos Andrade, foi o evento mais importante nos media portugueses desde a criação do EXPRESSO (o que faz sentido, embora esqueça a privatização dos jornais, a SIC e depois SIC-Notícias). Estamos de acordo nos méritos da estação, que voltou a pôr a rádio no centro da informação. O desafio para os próximos quinze anos? Não tenho dúvida: uma maior pluralidade ideológica. O Fórum TSF, em especial, tem dias em que todos os intervenientes devem ser do Seixal. PM
SEBASTIANISMO TROPICAL: O tom beato, quase comovido, com que a esquerda ingénua fala de Lula é espantoso. Maria João Seixas diz isto no PÚBLICO, como prólogo a uma entrevista com Gilberto Gil: Na tarde do primeiro dia do ano assisti em Lisboa, pela televisão, às cerimónias da tomada de posse do novo Presidente do Brasil, Luís Inácio Lula da Silva. Dei comigo a aplaudir algumas passagens dos seus discursos, a comover-me com a euforia da multidão que acorrera à capital, a fazer força interior para que tudo dê certo, a acreditar que "vai valer a pena/ começar de novo". No meio de todo este entusiasmo também dei comigo a sorrir, do lado de cá do écran, para Gilberto Gil, Ministro da Cultura e o mais musical de todos os Ministros do mundo. Deve ser isto a que a esquerda chama o uso da «razão» em política. PM
OLHA QUE TRÊS: Os comentadores dos telejornais de Domingo têm uma estranha afinidade: todos querem ser PM ou PR. «Comentadores»? PM
TELEJORNAL: Há quem fique chocado por aqui na Coluna manifestamente não professarmos o amor à Humanidade. Dirão que somos demasiado pessimistas, e que não há um Pol Pot a todas as esquinas. Pois não. Mas não é preciso um Pol Pot; basta um «folião» de Carnaval para nos recordar a nossa condição grotesca. PM
Sexo oral, deputadas em pelota, uma Governadora Civil giraça, esta gente passou-se. Vamos lá explicar do que se trata realmente: o Min. da Saúde inglês quer apenas reduzir a natalidade adolescente, grave problema social, e por isso fez uma campanha em favor do sexo não-reprodutivo. Bem sei que os senhores Infames só copulam para gerar prole, mas felizmente os sixties libertaram a sexualidade do espartilho procriativo, familiar e masculino. Trata-se, na medida inglesa, de uma forma de prevenção, de saúde pública, e que por isso deve ser saudada por todas as mentes progressistas. Mas os Infames acham sempre que a sexualidade é do domínio da Estética, aberração obviamente indesculpável. Por isso se referem às corajosas lutadoras pela paz, deplorando a sua (hipotética) nudez, estando implícita a flacidez, as estrias, a celulite, a barriga (simples devir do Corpo-Mulher, e não maldições bíblicas), e a própria falta de «beleza» (conceito reaccionário por excelência), enquanto louvam os atributos físicos de uma mulher que, sendo de direita, merece apesar disso o nosso respeito, por ter conseguido vingar num meio patriarcal como é a política. Infames, se continuam assim enviarei uma queixa à Alta Autoridade, e se o fizer sabem bem o que vos cai em cima: uma Recomendação. Não preciso de dizer mais nada. Providêncio Canhoto, Provedor dos Leitores
FAZ-ME FESTAS EM LISBOA: Já sabia que tínhamos uma Governadora Civil em Lisboa. Mas tinha-me esquecido que era do PP: hoje no DN lá vem a sra. Governadora Teresa Caeiro, toda novinha, fresca e giraça. Acreditem, amigos, que nem só a ideologia determina as nossas escolhas. PM
ARMAS DE DESTRUIÇÃO MACIÇA: Da Austrália ao Chile há gente que vem para a rua e se despe «contra a guerra» (como se precisassem de desculpa...). Em Portugal está já a correr um abaixo-assinado na net para evitar que alguns proeminentes membros do «não à guerra» (sobretudo senhoras) se ponham em pelota na praça pública. Por amor da Humanidade. PM
NEGROS HÁBITOS: Já aqui demos conta de quatro ou cinco blogs conservadores e liberais, de um blog centrista e de um blog de esquerda, bem como alguns outros sobre sobre media, música e cinema. Ao todo, uns vinte (se formos generosos). Agora encontrámos um novo: o Freira Dadaísta (esta malta tem jeito para nomes). Bresson, John Fahey e Francesca Woodman são alguns dos autores já citados pelo blog. Boa gente. Check it out. PM
FECHADOS EM CASA: Há alguma coisa pior que uma manif de pacifistas? Claro que sim: o Carnaval. Passe a redundância. PM
PROVA ORAL: Não podíamos evitar o tema Sexo Oral. A imprensa falou disso, e hoje o DN, celebrando o Carnaval, dá o destaque às actividades bocais-genitais da Pátria. Achamos bem. Mas continuamos a não perceber a política do Min. da Saúde inglês: promover o sexo oral entre os adolescentes? Raios me partam, sempre pensei que esse fosse o único produto no mundo que faz publicidade a si mesmo. PM
BYE BYE DIOGO: E o Prof. Feitas? O Prof. Freitas lá botou faladura, aplaudido por quem gostava de o ter visto no Campo Pequeno nos saudosos tempos revolucionários, e dando uma mirabolante «abrangência» à manif, quando se sabe que Freitas já não representa nenhuma posição moderada e conservadora ou liberal. Depois de décadas de complexo de esquerda, o Professor abraçou, finalmente, a esquerda. Agora, exorta Cavaco, Guterres e Eanes a pronuciaram-se, quando a gente agradecia penhoradamente que Cavaco, Eanes e Cavaco estivessem caladinhos e na reforma política. E, claro, quer ainda mais apoio da Igreja ao pacifismo, não hesitando em invocar o seu estatuto de «católico», que pelos vistos deixou hoje de ser uma fé para ser uma arma de arremesso, aliás só passível de ser utilizada pelo «partido contra a guerra». Estas posições de Freitas - se é que ainda era preciso outra razão - condena-o definitivamente ao estatuto de has-been, um ressabiado que tem o futuro atrás de si, e que as gerações recordarão em anotações doutas sobre o contrato administrativo. Ainda bem. PM
PRÉMIO NADA DE ELOGIAR UM SOCIALISTA ANTES DE TEMPO: O prémio Nada de Elogiar um Socialista Antes de Tempo vai para... A Coluna Infame. Pois é, decidimos dar o galardão a nós próprios por causa da intervenção de Ana Gomes na manif de ontem na Aula Magna. Depois de ter há quinze dias defendido o papel de uma decisão da ONU - o que está certo e é coerente e responsável - a sra. Gomes, travestida de Odete Santos (versão Lady na Mesa), desatou a berrar na Aula Magna, comparando a situação com a guerra colonial, Timor, etc., acusando o Ministro da Defesa de se ter vendido aos americanos por causa do negócio com a Lockheed, e assim por diante. Claro que a mãe de tal filha tudo se perdoa, mas é pena que a líder de facto do Partido Socialista - que é ainda por cima uma diplomata - dê agora em Mãe Coragem do neo-PREC a que assistimos. De Pintasilgo, Soares, Louçã, Carvalho da Silva ou o Prof. Porventura, esperamos tudo. Mas Ana Gomes escusava de ter perdido a compostura e a razão. Realmente, quem elogia um socialista, acaba sempre por se arrepender. PM