sábado, fevereiro 15, 2003
NACOS DO REAL: Uma senhora de sessenta anos com um autocolante contra a guerra ia na manifestação, foi espreitar a FNAC do Chiado e sentou-se a ler um livro. E assim ficou, quando me vim embora. Enlevada e esquecida de tudo o resto. Sempre fez alguma coisa útil hoje. PM
SENSATEZ NO LARGO DO RATO: Exemplar o modo como Ana Gomes explica a posição oficial do PS no EXPRESSO de hoje. Frase a reter: Só é possível ser contra a guerra defendendo a ordem internacional, ou seja, as decisões da ONU. Mas para os senhores do Rossio, a ONU só vale como tropo retórico; mesmo que decida uma intervenção armada, eles serão contra. E depois venham falar-nos do Direito Internacional. PM
LA FRROOONCE: A França nunca deixou de se erguer perante a história e perante a humanidade, declarou Dominique de Villepin, o MNE francês. O Marechal Pétain que o diga... PM
SOFISTICADOS: Bush é um «atrasado mental», disse hoje na televisão um idiota útil (filho de um grande escritor português). Nem vale a pena discutir a veracidade deste «argumento» ou o seu bom-gosto. É significativo da sofisticação intelectual a que a esquerda desce quando desce à rua. PM
GIVE WAR A CHANCE: Quando o New York Times escreve isto, há razões para acreditar que a alguma esquerda percebe que Bush e Saddam não estão, de todo, no mesmo patamar de legitimidade ou moralidade. Mas não tenhamos muitas esperanças nisso. PM
SLOGANS: Os slogans não eram particularmente imaginativos, quase todos copiados de slogans estrangeiros (ai a globalização). Desses, gostei particularmente daqueles que declaram, a propósito desta guerra, «Fim ao Fascismo». Com esses estamos de acordo. PM
COMPANHIA: O bloggista do Bisturi, site que já aqui recomendámos, opõe-se à guerra, mas não é um extremista. Decidiu ir à manif. As suas impressões? Citamos:
Fui à Manifestação. Estava para não ir, mas fui. Se existe algo que pode impedir este famigerado conflito militar no Iraque – que não vejo como inevitável, nem tão pouco como aceitável -, esse algo é a opinião pública. Isto parece-me claro. Logo, disse ‘presente’. Claro que as razões pelas quais estava reticente em ir confirmaram-se: foi uma manifestação muito politizada, essencialmente pelo Partido Comunista e associações amigas. A desenfreada entrega de autocolantes do PCP à saída do metro é sintomática e, no meu entender, triste. Eu não quis nenhum autocolante. ‘Não estou aqui pelo PCP’, disse. A manifestação assumiu assim um carácter algo exclusivista, o que terá afastado muita gente que, também não concordando com a posição do Governo Português, não se revê nesta luta de slogans primários e concepções arcaicas, onde subitamente o regime iraquiano ‘não é assim tão mau’ e ‘Bush = Hitler’. De qualquer forma, estou contente por ter lá estado. Espero que tenha valido a pena.
Um homem de boa vontade. O mesmo não se pode dizer da companhia. PM
Fui à Manifestação. Estava para não ir, mas fui. Se existe algo que pode impedir este famigerado conflito militar no Iraque – que não vejo como inevitável, nem tão pouco como aceitável -, esse algo é a opinião pública. Isto parece-me claro. Logo, disse ‘presente’. Claro que as razões pelas quais estava reticente em ir confirmaram-se: foi uma manifestação muito politizada, essencialmente pelo Partido Comunista e associações amigas. A desenfreada entrega de autocolantes do PCP à saída do metro é sintomática e, no meu entender, triste. Eu não quis nenhum autocolante. ‘Não estou aqui pelo PCP’, disse. A manifestação assumiu assim um carácter algo exclusivista, o que terá afastado muita gente que, também não concordando com a posição do Governo Português, não se revê nesta luta de slogans primários e concepções arcaicas, onde subitamente o regime iraquiano ‘não é assim tão mau’ e ‘Bush = Hitler’. De qualquer forma, estou contente por ter lá estado. Espero que tenha valido a pena.
Um homem de boa vontade. O mesmo não se pode dizer da companhia. PM
CARTÕES DE SÓCIO: A Igreja Católica (a que pertenço) está contra a guerra. O PEN Club (a que pertenço) está contra a guerra. Os «intelectuais e artistas» (aos quais vagamente pertenço) estão contra a guerra. O Sindicato dos Jornalistas (a que pertenço) está contra a guerra. Meu Deus, espero que o Benfica não se pronuncie. PM
NO WAY JOSE: Quanto aos convites para ir à manif que bondosamente nos endereçeram, saibam que só participamos voluntariamente em eventos públicos por três razões: por convicção, por amizade e por razões estéticas. Convicção não temos. Amizade, temos por alguns dos manifestantes, mas amigos amigos... E a terceira razão, meus caros, é melhor nem falar disso. PM
LEGITIMIDADE: Não alimentamos ambiguidades sobre a nossa condição minoritária. Sabemos que do nosso lado estão apenas os conservadores, os moderados e os ex-trotskistas. Uma minoria. Mas isso não retira legitimidade aos governos que não alinharam com Vichy e o verde. Se o eleitorado ficou chocado, nas próximas eleições derrubem esses governos (o que vai suceder em Espanha e talvez no Reino Unido). Pode sempre fazer-se isso nos regimes democráticos, embora não nos outros (nada de nomes, p.f.). Se as sondagens governassem os países, então o sr. Schroeder também não tinha legitimidade para ser chanceler da Alemanha. PM
RUA: A esquerda adora a rua. A rua é tão mais animada que as salas de reuniões, os parlamentos, os ministérios, e de resto há tambores, charros, cerveja, e se as coisas correrem bem vai-se para casa com um/a camarada disposto/a a ver o Homem Novo. Na rua protesta-se, empunham-se cartazes, bandeiras, berram-se slogans com sem rima e sem, entoam-se cânticos tribais, desfila-se, aplaude-se, apupa-se, o futuro é um organismo vivo, centopeia revolucionária deslizando na urbe impressionada. As manifs são giras (embora nada como virar carros, partir montras, mas nem sempre é possível), e a política é uma sensação. Pelos desfilantes pensaram já trinta académicos, cujas teses volumosas dispensam os manifestantes de terem ideias («lê o Boaventura, está lá tudo»). O mundo é belo: braço dado, trocadilhos, cores vermelhas. E quando vier a revolução, seremos todos felizes. PM
PINTASILGO: De Maria de Lourdes Pintasilgo já se escreveu, num livro de homenagem, que é a «mulher das cidades futuras», razão pela qual a homossexualidade masculina cresce a olhos vistos. É uma «católica». Uma «católica» (com aspas) diferencia-se de uma católica (sem aspas) por utilizar o seu estatuto sempre como legitimação de opiniões de esquerda, quanto mais extremistas melhor. Como Pacheco Pereira já notou, há uma qualquer demência em Portugal que leva a considerar Maria de Lurdes Pintasilgo uma «pensadora», quiçá uma Doutora da Igreja. Quando se trata apenas de um exemplar nem sequer particularmente sofisticado, daquelas pessoas que julgam que o marxismo é o cristianismo por outros meios. São, realmente, espíritos profundamente religiosos, estes «católicos». Mas a religião deles não tem 2 000 anos, tem cento e poucos. PM
LOUÇÃ NAS NUVENS: Há um momento, na sexualidade masculina, em que, ultrapassado o patamar da excitação, se entra numa espiral que conduz inevitavelmente à ejaculação. O fenómeno pode ser observado (em terceiros, isto é) aos fins-de-semana, no canal 18. Mas nunca tinha visto essa peculiar expressão facial num canal generalista, à hora dos telejornais. PM
FONTE LUMINOSA AO CONTRÁRIO: O dr. Mário Soares tem sido descrito, nos últimos trinta anos, com um rigor intocável, como «homem de mão dos americanos». José Freire Antunes, que tem estudado os arquivos já desclassificados do Departamento de Estado, entre outros, já publicou a prova documental do carinho washingtoniano por Soares, das conversas com o amigo Carlucci até a hipótese estudada pelos americanos de dar armas ao PS em caso de guerra civil. Há não muitos anos, salvo erro na TVI, vi o «amável» dr. Soares passar-se da cabeça e ameaçar abandonar o estúdio quando confrontado com dados assim, estudados por Freire Antunes. A reacção é sintomática. O dr. Soares foi o mesmo que «meteu o socialismo na gaveta». Depois de deixar de ser PR, o dr. Soares tem andado mortinho para continuar a intervir na vida política, visto que o sucessor do clã só terá futuro como autor de novelas eróticas em Badajoz. No Parlamento Europeu, tem feito intervenções patetas (e sexistas); depois acha que Lula e Porto Alegre são o futuro da Humanidade; vai mandando escrever a História Contemporânea de Portugal, com a sua retumbante figura no meio; faz apelos a uma frente de esquerda parlamentar; e finalmente decidiu expiar os pecados americanófilos encabeçando uma manif antiamericana, aliás repleta de gente que o odeia (e com boas razões). Chama-se a isto tentar reescrever a biografia? Saudades da acção? Ou a mais prosaica senilidade? PM
A MANIF: Primeiro, a manif lisboeta. Passei por lá, embora não de propósito. E o que vi foi o mesmo ajuntamento com que já me cruzei três ou quatro vezes: o PREC. Uma «representação transversal da sociedade portuguesa», como diz o Blog de Esquerda? Com certeza, estava lá Portugal inteiro; isto é, se Portugal for o Bloco de Esquerda, o PCP, o PEV, o MRPP, o POUS, a CGTP, e a Cornucópia. Se isso é uma «representação transversal da sociedade portuguesa», então Portugal esteve em peso na Baixa lisboeta. Claro que não eram só esses: também havia uns tantos socialistas que não gostam de estar no PS (nunca foi suficientemente à esquerda para eles), alguns católicos (raça sempre particularmente idiota em política), o dr. Mário Soares (v. próximo post) e umas almas caridosas que gritavam pela «paz» e contra a «guerra», assim, em abstracto, como podiam gritar por ----------- (espaço para escrever uma palavra positiva) contra -------- (espaço para escrever uma palavra negativa). Não conheço (nem conheço ninguém que conheça), moderados que tenham ido à manif, só aqueles que iriam sempre a todas as manifs possíveis e imaginárias contra a América. Quem estava na rua era a esquerda, e a esquerda marxista, aquela que tem saudades de passeatas assim em idos de 75 (mas com bastante mais gente), antes de haver eleições livres, liberdade real de opinião, partidos sem vigilância - «democracia burguesa», em suma. Segunda números oficiais, consultáveis no site do STAPE os votos somados da esquerda a valer (excluindo o PS, mesmo assim com alguns representantes na manif) no concelho de Lisboa é a seguinte (dados das legislativas de 2002):
PCP-PEV 25 111
B.E. 18 046
PCTP/MRPP 2 049
POUS 318
Isto é, 45 524 pessoas (sem contar com alguns dos 132 831 votantes no PS) Mesmo descontando motoristas da Carris, acamados, visitantes a Bagdad e outros indisponivéis, não ficamos a quilómetros do número de manifestantes que a polícia diz ter estado na Baixa: cerca de 55 000. Mesmo se acreditarmos, como dizem os organizadores da manif, que foram 80 000 (os mais esfusiantes dizem 100 000, que é mais redondo e mediático) não é um estrondo. Junte-se os esquerdistas do distrito de Lisboa (das longínquas terras de Amadora ou Sintra), a quem não seria homérico deslocar-se à capital, e ficamos assim:
PCP-PEV 100 045
B.E. 53 038
PCTP/MRPP 7 872
POUS 1 166
O que dá 162 121 eleitores (sem contar com alguns dos 44 000 eleitores socialistas). O que significa que mesmo dentro do lunático número de 100 000 ainda faltaram à chamada 62 000 (e não contamos com os socialistas e demais idiotas úteis). A não ser que esta gente toda, coitada, seja motorista da Carris, acamada ou visitante em Bagdad. O poder de mobilização da nossa canhota não está nos seus melhores dias. «Ah, rapazes, mas devíeis ter visto a manif em Párri...» PM
PCP-PEV 25 111
B.E. 18 046
PCTP/MRPP 2 049
POUS 318
Isto é, 45 524 pessoas (sem contar com alguns dos 132 831 votantes no PS) Mesmo descontando motoristas da Carris, acamados, visitantes a Bagdad e outros indisponivéis, não ficamos a quilómetros do número de manifestantes que a polícia diz ter estado na Baixa: cerca de 55 000. Mesmo se acreditarmos, como dizem os organizadores da manif, que foram 80 000 (os mais esfusiantes dizem 100 000, que é mais redondo e mediático) não é um estrondo. Junte-se os esquerdistas do distrito de Lisboa (das longínquas terras de Amadora ou Sintra), a quem não seria homérico deslocar-se à capital, e ficamos assim:
PCP-PEV 100 045
B.E. 53 038
PCTP/MRPP 7 872
POUS 1 166
O que dá 162 121 eleitores (sem contar com alguns dos 44 000 eleitores socialistas). O que significa que mesmo dentro do lunático número de 100 000 ainda faltaram à chamada 62 000 (e não contamos com os socialistas e demais idiotas úteis). A não ser que esta gente toda, coitada, seja motorista da Carris, acamada ou visitante em Bagdad. O poder de mobilização da nossa canhota não está nos seus melhores dias. «Ah, rapazes, mas devíeis ter visto a manif em Párri...» PM
AVISO À NAVEGAÇÃO: Vários leitores propõem-se auxiliar-nos para o melhoramento desta página. Agradecemos. Mas pedimos fotografia.
MANIF: Em vez de manifs, romarias, passeios a pé e outros exercícios físicos, nós sugeríamos à horda do dia de hoje que meditasse nisto: deve Saddam manter-se ou não no poder? Deve Saddam ser ou não sancionado e desarmado? E, se deve, como fazer esse desarmamento sem uma intervenção militar? PL
MEDO: Não temos medo nenhum da manif, apenas repugnância. Quanto à revolução, sabemos bem que não a farão. Felizmente foram derrotados quando estiveram quase. Mas podem ter a certeza que faríamos a mala nesse momento. Nós gostamos de democracias. Gente perigosa que somos. PM
INFAMES: Uma leitora marchante escreve: Sempre que leio o seu blog há algo escrito que me irrita, causa-me pele de galinha, aí tenho de concordar que o nome está mesmo bem colocado: infames. É realmente uma chatice haver opiniões diferentes. A culpa é dos gregos. PM
LOUVEMOS O SENHOR: Extraordinário: a TSF, emissora católica portuguesa, vai fazer um programa sobre as personagens bíblicas, que se vivessem hoje «seriam iraquianas». Soubemos que foi entretanto introduzido o processo de beatificação de Carlos Andrade, António José Teixeira e Fernando Alves. Oremos. PM
NOVIDADES: Já temos um contador de hits, que nos vai envergonhar face ao muito mais visitado Blog de Esquerda. Discutimos a possível existência de comentários. Next stop: links para a imprensa conservadora de referência e os blogs muito cá de casa. E talvez também a constituição de uma lista chamada Biblioteca Infame, com links para as livrarias virtuais. Aceitamos sugestões. PM
DÉJÁ VU: A Sociedade das Nações é uma anedota, a França colaboracionista, o Vaticano não se afasta das tiranias, o antisemitismo alastra, o Ocidente prega o pacifismo e confia no inimigo. Conhecem esta história? PM
SADDAMIZADOS COM O: Na América, organizações gay vão apoiar a manif. Faz todo o sentido: os gays são muito mais perseguidos em S. Francisco do que em Tikrit. PM
VENCIDO DO CATOLICISMO II: Entre os uivantes estarão também católicos, leigos e consagrados. Os leigos são livres de exprimir as suas opiniões políticas, embora seja abusivo invocarem a sua condição de católicos para legitimar essas opiniões (de um lado ou de outro). Mas que a Igreja como instituição marche na rua, mais explicitamente ainda que outros a favor do Iraque e contra a América é um sinal dos tempos: uma Igreja que agrada aos jornalistas. Como diz candidamente o «padre» Mário Oliveira, do que eles gostam não é de religião, é de política. PM
POETAS: Na marcha estarão, obviamente, muitos intelectuais e artistas, incluindo poetas. Eis o que Nelson Ascher tem a dizer sobre o assunto:
A friend of mine who happens to be an excellent poet and an excellent person sent me a text against the war written by Senator Robert Byrd of Virginia, and asked me to move it further if I agreed with it. After following closely all the posturing of so many of my most mediocre colleagues in the Anglo-Saxon world and elsewhere, I have to confess that his mail, by an admirable poet, left me pretty saddened. I deplore the standpoint taken by almost all poets I admire, but I will continue to admire their work as far as it continues to deserve literary, poetic and esthetic admiration. I'm under no illusion, however, that the professional differentiation I will go on making between the other poets' works and their politics will be neither reciprocated nor extended to poets like me who, because they see the political landscape of the world in other terms, are, I'm in no doubt about it, in the absolute minority in the literary community. On the other hand, it is also true that I couldn't care less about it. Here is the answer I sent him today.
Having lived in a military dictatorship myself and knowing through my parents about their experience with much worse dictatorships (fascist and communist Hungary, nazi Germany), having seen innocent people murdered by religious fanatics in NY, Jerusalem, Tel Aviv and Haifa, Indonesia etc., having visited synagogues burned down recently in Europe, and after having seen below my own Parisian window people marching with openly anti-Semitic slogans, I think you'll understand me if I'll ask you a small favor. It is the following: please direct me to sites where I can find poets fighting against tyranny, dictatorship, Muslim fundamentalism, facistic Arab nationalism, againts people who praise and/or promote the intentional murder of civilians because, for instance, they are Americans, Australians, Brits, Jews. I'd like to know if there is any site with poets fighting for justice for the Kurds and the punishment of those guilty for their massacre. I'd also like to know if there's any site where poets write and fight against the bizarre and sadistic North Korean dictatorship. Once I had dinner with script writer jean claude carriere and a friend of his, an exiled Iranian writer with whom he translated medieval persian poetry into French. They both explained to me that the only way to imagine the Iranian parliament would be to think of an European one where there'd be places only for bishops and cardinals. Surely, thus, in the US there must also be sites with poets fighting against such a regime. Am I wrong? I'd also like to know if there's any site with poets writing about the crimes of the Belgians, older ones like Congo, more recent ones, like the murder of Patrice Lumumba, and pretty new ones, like their guilt in the genocide in Rwanda. By the way, any chance of finding a web site with poets protesting against Russian crimes in Tchtchnia, Chinese ones in Tibet, French ones all over Africa, the French backing of military dictatorship in Algeria, the Rwandan genocide, and their military intervention in the Ivory Coast? A country with so many excellent poets like the US surely has poets worrying about all these things, doesn't it? Humbly, I myself, in Brazil, had time to write in my newspaper against so many tyrants, from Pinochet to Castro, I had also time to write about all the massacres perpetrated in the Arab world besides Sabra and Chattila. So, I believe, there must be lots of poets writing and protesting against all of this. I cannot imagine that thousands of poets are obsessed only with writing about Bush or trying to save one more tyrant's skin. Coming to think of it, I can remember many great poets who wrote in praise of Stalin, Lenin, Hitler, Franco, Mussolini, Mao, for god's sake, even Enver Hodja. But I find it not only hard to remember any who wrote against any of the above without in the same breath praising some of the others, but I don't remember any great poet who wrote consistently good odes in praise of good old bourgeois democracy. But maybe I'll find the site for which they've been writing. As a trotskyist since my teens I cannot but fight fascism, be it black, red or green.Oh yes, I do know about things that are worse than war: my two grandfathers and my paternal grandmother, I'm sure, would have loved the chance to die fighting in a war instead of being killed in the way they were.
Um texto magnífico, que nos orgulhamos de reproduzir. Chama-se a isto, como já sublinhámos, clareza moral. Este é um momento em que as águas se dividem. PM
A friend of mine who happens to be an excellent poet and an excellent person sent me a text against the war written by Senator Robert Byrd of Virginia, and asked me to move it further if I agreed with it. After following closely all the posturing of so many of my most mediocre colleagues in the Anglo-Saxon world and elsewhere, I have to confess that his mail, by an admirable poet, left me pretty saddened. I deplore the standpoint taken by almost all poets I admire, but I will continue to admire their work as far as it continues to deserve literary, poetic and esthetic admiration. I'm under no illusion, however, that the professional differentiation I will go on making between the other poets' works and their politics will be neither reciprocated nor extended to poets like me who, because they see the political landscape of the world in other terms, are, I'm in no doubt about it, in the absolute minority in the literary community. On the other hand, it is also true that I couldn't care less about it. Here is the answer I sent him today.
Having lived in a military dictatorship myself and knowing through my parents about their experience with much worse dictatorships (fascist and communist Hungary, nazi Germany), having seen innocent people murdered by religious fanatics in NY, Jerusalem, Tel Aviv and Haifa, Indonesia etc., having visited synagogues burned down recently in Europe, and after having seen below my own Parisian window people marching with openly anti-Semitic slogans, I think you'll understand me if I'll ask you a small favor. It is the following: please direct me to sites where I can find poets fighting against tyranny, dictatorship, Muslim fundamentalism, facistic Arab nationalism, againts people who praise and/or promote the intentional murder of civilians because, for instance, they are Americans, Australians, Brits, Jews. I'd like to know if there is any site with poets fighting for justice for the Kurds and the punishment of those guilty for their massacre. I'd also like to know if there's any site where poets write and fight against the bizarre and sadistic North Korean dictatorship. Once I had dinner with script writer jean claude carriere and a friend of his, an exiled Iranian writer with whom he translated medieval persian poetry into French. They both explained to me that the only way to imagine the Iranian parliament would be to think of an European one where there'd be places only for bishops and cardinals. Surely, thus, in the US there must also be sites with poets fighting against such a regime. Am I wrong? I'd also like to know if there's any site with poets writing about the crimes of the Belgians, older ones like Congo, more recent ones, like the murder of Patrice Lumumba, and pretty new ones, like their guilt in the genocide in Rwanda. By the way, any chance of finding a web site with poets protesting against Russian crimes in Tchtchnia, Chinese ones in Tibet, French ones all over Africa, the French backing of military dictatorship in Algeria, the Rwandan genocide, and their military intervention in the Ivory Coast? A country with so many excellent poets like the US surely has poets worrying about all these things, doesn't it? Humbly, I myself, in Brazil, had time to write in my newspaper against so many tyrants, from Pinochet to Castro, I had also time to write about all the massacres perpetrated in the Arab world besides Sabra and Chattila. So, I believe, there must be lots of poets writing and protesting against all of this. I cannot imagine that thousands of poets are obsessed only with writing about Bush or trying to save one more tyrant's skin. Coming to think of it, I can remember many great poets who wrote in praise of Stalin, Lenin, Hitler, Franco, Mussolini, Mao, for god's sake, even Enver Hodja. But I find it not only hard to remember any who wrote against any of the above without in the same breath praising some of the others, but I don't remember any great poet who wrote consistently good odes in praise of good old bourgeois democracy. But maybe I'll find the site for which they've been writing. As a trotskyist since my teens I cannot but fight fascism, be it black, red or green.Oh yes, I do know about things that are worse than war: my two grandfathers and my paternal grandmother, I'm sure, would have loved the chance to die fighting in a war instead of being killed in the way they were.
Um texto magnífico, que nos orgulhamos de reproduzir. Chama-se a isto, como já sublinhámos, clareza moral. Este é um momento em que as águas se dividem. PM
DIETA: Sugerimos uma dieta civilizada e higiénica para o dia de hoje: livros, discos, filmes. Enquanto a rua uiva. PM
DOS OITO AOS OITENTAS: N' O Independente de ontem, vem um manifesto de apoio à carta dos Oito (que entretanto são bastante mais do que oito). Aqui na Coluna já assinámos, e convidamos os nossos leitores a fazer o mesmo. Leiam com atenção o texto: trata-se apenas da segurança das democracias contra os novos perigos dos regimes religiosos e dementes. Qualquer pessoa sensata devia poder subscrevê-lo. Que sejamos apenas uns poucos, mostra o estado do Ocidente. Join us. PM
UMA MANIF VERGONHOSA: A manif de hoje é vergonhosa. Existirão, por todo o mundo, pessoas que acham esta guerra injusta, e que têm todo o direito de o exprimirem como muito bem o entenderem. Mas juntamente com democratas cautelosos, «multilateralistas», anti-belicistas, etc, marchará a escória do Ocidente: neo-nazis, amigos de Bagdad, adeptos do terrorismo, toda a extrema-esquerda mais sinistra e a esquerda que gostava de ser extrema e sinistra, integristas religiosos, e assim por diante. Temos sinceramente pena que gente honesta aceite descer as ruas ao lado desta escumalha. Diz-me com quem andas... PM
REVISÃO DA MATÉRIA DADA: Para os neófitos da Coluna, recordamos: a Coluna Infame é um blog assumidamente conservador, com vagas simpatias liberais, que funciona diariamente para comentar o estado do Mundo. É mantida por Pedro Mexia (PM), Pedro Lomba (PL) e João Pereira Coutinho (JPC). Recebemos cartas e damos respostas. A morada, por enquanto, é colunainfame@hotmail.com. Mas não abusem. Como noutras actividades manuais - e digitais -, o abuso conduz à loucura, à cegueira e ao Bloco de Esquerda.
MÁS LÍNGUAS: Uma pequena polémica veio recentemente incomodar o pessoal da Coluna. A propósito de umas afirmações desbragadas e propositadamente reles que por aqui se escreveram - um exercício normal em democracia -, o nosso querido Blog de Esquerda vestiu a toga e veio dar lições de moral aos cafres em falta. Faz bem: a moralidade é uma virtude e a Esquerda, desde Robespierre, sempre se apoiou em lições de Virtude para civilizar (e guilhotinar) os hereges em falta. Convém, no entanto, esclarecer o óbvio: a atitude do Blog não é nova. Nem no Blog, nem na Esquerda, nem em Portugal. Durante 48 anos, a política do dr. Salazar consistiu, essencialmente, em apagar da vida pública qualquer sinal de «excesso» ou de «confronto», amordaçando e civilizando as pulsões mais ou menos primárias do bom povo português. Que a Esquerda, personificada no Blog, tencione ressuscitar os vícios do Professor de Santa Comba, eis uma coisa que espanta. Mas só à primeira vista. No fundo, no fundo, esta Esquerda mantém ainda um fascínio estranho por Salazar, ou seja, pela ditadura, ou seja, pelas virtudes puritanas, medíocres e monásticas que ela exibia habitualmente. JPC
REVISTA DE IMPRENSA (2): Para os legalistas radicais, que acreditam na suprema bondade da ONU e na inultrapassável sabedoria dos inspectores, interessa ler, com atenção, o artigo de Stephen F. Hayes na Weekly Standard. JPC
REVISTA DE IMPRENSA: No dia de uma marcha infame, o artigo de Mark Steyn no imprescindível Daily Telegraph deve ser lido, relido, fotocopiado e citado por qualquer criatura com um mínimo de decência moral. Aliás, para sermos completamente justos, toda a opinião do Telegraph merece visita. JPC
A DIREITA ESQUERDIZOU-SE?: Existe algo de positivo na recente questão do Iraque? Existe. O Iraque, como a Alemanha Nazi há cinquenta anos, permite que se dividam decisivamente as águas, exigindo dos seres humanos clareza moral e determinação histórica. Eu sei de que lado estou. A Coluna também. E a maior das ironias reside neste ponto: em apenas cinquenta anos, os valores mais caros à Esquerda (à Esquerda democrática, entenda-se) estão hoje deste lado, do lado da Coluna, do nosso lado. Paradoxalmente, estamos hoje a favor das democracias - e contra as ditaduras. Estamos hoje a favor da liberdade - e contra a opressão. Pelo contrário: aqueles que ostentam no currículo um abnegado amor à Humanidade, preparam-se para marchar contra os Estados Unidos (uma democracia e o mais livre país do mundo), favorecendo implicitamente um regime torcionário e vil. A questão do Iraque dividiu as águas e inverteu as virtudes. Curioso. JPC
INDEPENDÊNCIAS: Rebentou recentemente o escândalo do sósia de Carlos Cruz. E no meio da pilhéria, Inês Serra Lopes, directora do Independente - e, por arrastamento, minha directora. Convém esclarecer que não fui pago para limpar as manchas da donzela. Desde logo, porque não há nada para limpar. E também porque, honestamente, caguei para os imbecis. Mas gostaria de avançar com duas ou três palavras higiénicas. Sobre a Inês. E começo por dizer o seguinte: em dez anos de jornalismo - e cinco de Independente - não conheci, até hoje, jornalista mais íntegra, mais inteligente e, talvez por isso, mais perigosa do que ela. Inês Serra Lopes, que me habituei a ver atrás de uma mesa milagrosamente desarrumada, com cinco telefonemas ao mesmo tempo e dezenas de ideias a faíscar, faz parte de uma raríssima casta de jornalistas portugueses que, à imagem do que sucede noutros países (sobretudo nos EUA, e sobretudo nos grandes jornais dos Estados Unidos), persegue uma notícia até às últimas consequências, pondo tudo em risco: a família, a carreira e a sua própria integridade física. Uma espécie de Seymour Hersh à nossa medida. Em cinco anos de Independente, nunca houve, da parte dela, a mais vaga insinuação sobre aquilo que escrevo. Diversas vezes critiquei (e arrasei) amigos seus. Inês Serra Lopes jamais recusou um texto e jamais exerceu sobre ele qualquer tipo de censura, material ou psicológica (ao contrário do que acontece em todos - repito: todos os jornais portugueses, sobretudo nos de referência). E em relação ao caso presente, convém sublinhar o óbvio: a provável existência de um sósia de Carlos Cruz, funcionário da RTP, era matéria noticiosa de singularíssima importância que Inês Serra Lopes, como sempre, não podia deixar passar. Como não deixou. Que a selvajaria reinante do jornalismo nacional transforme uma investigação séria num número de circo, eis algo que define o jornalismo que temos. Em relação à Inês, a mesma confiança de sempre. Eu durmo melhor ao saber que, semanalmente, Inês Serra Lopes dirige o único jornal verdadeiramente livre deste país. JPC
sexta-feira, fevereiro 14, 2003
NOTA ADICIONAL: Referi num post que sou jovem, mas apenas para enquadrar certos desvarios. Quem me conhece sabe que jamais utilizaria essa palavra como um elogio. Ser jovem é apenas um defeito que passa com a idade. PM
QUATRO DA MANHÃ, HEY: Já é quase madrugada, mas estou bem disposto, o filme do Spielberg era ligeirinho e sem moralismos, e por isso vou responder, em duas palavras, ao Filipe Moura, que me escreve no Blog de Esquerda. Caro Filipe: metade da tua carta refere um assunto que dei por encerrado, e por isso mesmo está...encerrado. Quanto à «má-língua», bom, realmente, isso faz parte deste blog, mas será que não faz parte do blog para que escreves, e de quase todos os blogs não anódinos, sobretudo os políticos? Espero que a má-língua seja, efectivamente, uma faceta do nosso blog, mas espero francamente que não seja a única. E tenho consciência que não é. Gostava muito que a Coluna Infame pudesse variar mais a paleta, mas calhou-nos aparecer no período mais politizado que a minha memória activa recorda: o pós 11 de Setembro. Em breve - até para não nos repetirmos - os posts sobre a guerra serão menores, e só referirão factos novos. Adoro política, mas francamente eu dou mesmo o cavaco (passe a expressão) é por filmes, romances, poemas, quadros, canções. Para não referir uma outra realidade humana (que seria sexista nomear). PM
quinta-feira, fevereiro 13, 2003
AINDA O ESPIGAS: O mesmo blogger volta à carga com a ordinarice. O assunto está, pela nossa parte, encerrado. Não apagamos posts, mesmo quando gostamos menos deles a posteriori, e pedir desculpa seria uma patetice sem qualquer sentido. Mas injusto mesmo é acusar-nos de publicar cartas dos leitores por «falta de ideias». Publicamos cartas porque recebemos comentários interessantes, que subscrevemos de algum modo, e queremos partilhá-los com os outros leitores. Ficamos no entanto espantados por o leitor se referir à Coluna Infame como um dos blogs «mais lidos de expressão portuguesa, (...) publicitado pelos media em Portugal e (...) lido por pessoas de todos os quadrantes». E nós pensávamos que só éramos lidos pelo Blog de Esquerda... PM
BIBLIOGRAFIA: Um blogger queixa-se de que utilizamos - bem como os nossos amigos esquerdistas - o namedropping, intelectualismos vários, pretensão bibliográfica. Caro amigo: compreendemos a sua irritação, mas trata-se de reconhecer que as nossas posições nunca são inteiramente nossas, mas resultado em grande parte de leituras, e que as opiniões políticas não são humores da bílis mas visões do mundo, e com uma tradição intelectual por trás. Apenas isso. PM
A OBSESSÃO: Não li, e não sei se lerei, o livro de J.F.Revel sobre a «obsessão anti-americana» (o Pedro Lomba recenseará a obra no Dna); pareceram-me porventura mais interessantes L'Ennemi Américain, de Philippe Roger (Seuil) ou o livro de Emmanuel Todd, aliás crítico dos EUA, Après L'Empire (Gallimard, já traduzido em português). Como é evidente, não posso comentar um livro que não li; mas é curioso ouvir como muitos que não leram o livro se lhe referem como um «panfleto», uma obra «superficial», ou mesmo «propaganda». Mas depois ouvimos ou lemos os discursos dessas almas subtis sobre o Iraque e os EUA, e o que encontramos? Panfletos, superficialidade e propaganda. PM
O HORROR DA GUERRA: Lemos o mail de José Carlos Barros (talvez o poeta mais injustiçado da sua geração) no Blog de Esquerda. Levanta um ponto que há muito queríamos focar: trata-se da questão do sofrimento causado pela(s) guerra(s). Vejamos: o horror da guerra é a razão pela qual as guerras devem ser evitadas, sempre que possível. Aí estamos de acordo. Não somos «belicistas». Simplesmente nos parece que esta guerra é justificada, e que desencadear uma guerra (mesmo justa) acarreta necessariamente vítimas, mas pode evitar ainda mais vítimas no futuro. A guerra, para nós, servirá para desarmar Saddam (não ignoramos os outros interesses, mas esses não têm a ver com as nossas razões); se Saddam não for desarmado, poderá vir a usar as armas que já possui ou que tem ainda possibilidades de fabricar. Essa é a questão. Se a guerra for justa - e admitam isso por segundos, for argument's sake - então as vítimas, militares e civis, são o preço a pagar por isso. Não terá havido alemães inocentes mortos na II GM, aos milhares? Era inevitável, porque não se pode derrotar militarmente um regime e poupar o respectivo povo, até porque esses regimes se escondem atrás do povo, que usa como verdadeiros escudos humanos. Não nos confundam, por favor, com os que praticam o lirismo - ou a metafísica - da guerra, de qualquer guerra. A guerra é uma forma extrema de violência, e a violência serve para a auto-defesa, ou para evitar uma violência maior. Os horrores desta guerra serão iguais aos horrores de qualquer guerra; não é isso que as distingue. O que distingue as guerras umas das outras é a sua necessidade. Consideramos, sem nenhum entusiasmo, que esta guerra se está a tornar inevitável. A guerra é, com propriedade, o que se costuma chamar um mal necessário. Longe de nós dizer que é um bem. PM
CORREIO: Temos o correio atrasado, mas há uma mão-cheia de comentários interessantes que aqui serão postados nos próximos dias. É muito claro que estamos, neste momento, a defender uma posição minoritária. Mas, com os nossos leitores, sempre dá para declarar a República Ibérica dos Lacaios de Bush. Com dinheiro judeu, é claro. PM
MOORE MORON: Infelizmente, a questão do Iraque, e os seus reflexos no Ocidente, tem ocupado quase totalmente o nosso blog. Por isso ainda não escrevemos sobre o admirável Francis Bacon, que vimos em Serralves. Quanto a cinema, é cedo para comentar os Óscares, porque ainda não chegaram cá ao bairro os filmes mais importantes; mas temos que dizer que já esperávamos que o demagógico e desonesto Bowling for Columbine fosse nomeado. Se procurarem na net, verão imensas e detalhadas desmontagens do filmezeco do senhor Moore. Aqui por exemplo. PM
quarta-feira, fevereiro 12, 2003
OS LIMITES DA TOLERÂNCIA: Pela primeira vez na vida, cortei relações com pessoas por causa da política (pessoas de extrema-direita, se querem saber). E daí, não se trata exactamente de política, isto é, opiniões sobre a organização da sociedade, mas de uma questão civilizacional: serei sempre respeitador de opiniões contrárias, mas quem despreza os valores essencias da minha existência não é, pura e simplesmente, meu amigo. Se eu escrevo, como posso ser amigo de alguém que, por exemplo, é a favor da censura? O mesmo se passa agora: não quero privar com uma pessoa que acha que os Estados Unidos são piores que o Iraque. A amizade é também uma questão de ética. PM
PARABÉNS: Parabéns ao PÚBLICO por ter a coragem de manter no plano dos seus livros de quarta-feira a Lolita. Neste clima de histeria, que confunde o crime com o que não é defeito mas feitio e que pretende instalar uma nova polícia de costumes, é reconfortante que possamos ler Nabokov, que hoje em dia seria com certeza posto na cadeia. Grande «falocêntrico» e «sexista» que era esse estupor. PM
ARTE POVERA: Não se pode pôr no mesmo saco todas as respostas contra a guerra na edição de hoje do PÚBLICO: há cautelosos, diplomatas, adversários, lunáticos e tiranófilos. Mas reparem que tirando Agustina e (pelas minhas contas) mais quatro, são pessoas conhecidas pelas suas posições de esquerda ou extrema-esquerda, o que hoje em dia quer infelizmente dizer antiamericanos (contra toda e qualquer decisão de política externa dos EUA). A resposta do meu amigo José Tolentino Mendonça é simplesmente uma delícia: como se se estivesse a tomar uma posição contra ou a favor da Guerra, em abstracto, e não de uma guerra em particular, com o seu particular contexto. Quanto aos não-opositores: VGM era esperado, João Braga é companhia dispensável e Fernando Gil a grande surpresa. Mesmo assim, imaginamos como foi difícil à Alexandra Lucas Coelho encontrar quatro não-opositores entre os «artistas e intelectuais». Contava que Graça Moura e eu fôssemos os únicos. Obrigado, Alexandra, por teres escavado. Assim, até parece que temos algum peso entre os «intelectuais e artistas» (esta noite vou para a cama a pensar que sou um «intelectual e artista»). No fundo, no fundo, somos só nós os quatro. E jogamos, às terças-feiras, a bisca. PM
ÚLTIMA RESPOSTA (por hoje): Os leitores do Blog de Esquerda (não haverá por aí outro blog com quem também possamos polemizar, para variar?) fazem agora profissões de amor à França. Nada contra. Apreciamos o lirismo. Mas convém que o amor a um país não leve a cair no mesmo vício que nos criticam: o ataque intelectualmente desonesto a uma cultura. Quando um leitor diz que, comparado com certos intelectuais franceses, Steiner e Bloom só escrevem «banalidades» (!!), já estamos no domínio do grotesco. PM
CROMO PARA A TROCA: É curioso que os Bloguistas de Esquerda sejam verbalmente impolutos mas soltem os cães quando se trata de dar palavra aos leitores para nos atacar. It's a dirty job but someone's got to do it. Uma resposta brevíssima ao leitor Difool: quanto ao «falocentrismo» e outros disparates, já respondi suficientemente; mas para me criticar a sério tem de se decidir se eu sou um puritano ou um obsceno. As duas coisas, como sugere, é um bocado absurdo. PM
ESQUERDISTAS: Leitores do Blog de Esquerda e os próprios bloguistas não gostam muito que lhes chamemos «esquerdistas». Mas quem se situa na extrema-esquerda não é um esquerdista? Como diria JCM: vem no Lenine, meninos. PM
MENINOS MALCRIADOS: Um blog que consegue causar alguma agressividade ao meu amigo José Mário Silva tem algum mérito. Há dez anos que nos conhecemos, e nunca o vi tão zangado (sim, isto é o Zé Mário zangado). O seu último post dizia assim:
A Coluna Infame lança-nos duas acusações: 1- somos previsíveis (basta eles tocarem a sineta, i.e. soltarem a língua, para nós ficarmos logo indignados) e 2- somos puritanos (só porque recusamos a linguagem grosseira e sexista de que eles tanto gostam). A previsibilidade nem merece resposta. Mas quanto ao puritanismo, a questão é tão simples que até magoa. Quem vive sem complexos e sem fantasmas (morais ou outros), não precisa de levantar a voz ou armar-se em macho. O desbragamento da Coluna é irmão gémeo da gabarolice marialva. Desculpem lá, amigos "infames", mas os vossos excessos provam precisamente que o puritanismo continua – e de que maneira – nesse lado da barricada.
Gostava que me apresentassem uma só prova de jamais ter sido sexista ou marialva. O Zé Mário, of all people, sabe muitíssimo bem que essa é, no que me diz respeito, uma das acusações mais disparatas que se pode conceber; a não ser que comentários apreciativos das mulheres sejam sempre sexistas e marialvas, e assim sendo não percebemos como pode o Zé Mário ser editor do DNa e trabalhar na redacção de um jornal, esse antro de libidinosos sexistas. A grosseria dos nossos últimos posts - de que aliás outras pessoas se queixaram - é um facto, e a prova de que neste blog se escreve espontaneamente, não em «double talk», nem com calculismos. Fomos grosseiros, porque as pessoas algumas vezes o são, na vida do dia-a-dia, para exprimir irritações, indignações, ou más disposições. O Zé Mário, é certo, não é homem de ficar irritado ou mal-disposto, e mesmo ficar indignado não são o seu forte; mas reclamamos o direito de ser mais «imperfeitos» do que o ZM.
Finalmente, o puritanismo: desde há uns anos para cá, e não apenas em Portugal, a esquerda tem acessos de moralidade, piores do que a pior direita: veja-se o escabeche por causa dos temas, das opiniões e do vocabulário de Michel Houellebecq, o «perigo moral» que para alguns esquerdistas representaria um casino em Lisboa, ou mesmo algum nariz torcido ao niilismo de sarjeta de César Monteiro. Alguma esquerda, em suma, está bem comportada. O que tem tudo a ver com o politicamente correcto, e com a vigilância policial da linguagem, sobretudo em matérias sexuais. Escrevemos palavrões e ordinarices e a esquerda rasga as vestes. Não era a direita clerical que costumava fazer isso? Cada vez mais não ser de esquerda - expressão que de longe preferimos a ser de direita - é aceitar uma sociedade civil polémica, conflituante, arriscada, desgostante, caótica, contraditória, numa palavra: livre. Quem tenha seguido a realidade francesa sabe que certa esquerda desenterra já uma solução para as opiniões e formas de expressão inconvenientes: chama-se censura.
Ah, e adorávamos conhecer uma pessoa «sem complexos e sem fantasmas». Há em Portugal ou é preciso encomendar pela net? PM
A Coluna Infame lança-nos duas acusações: 1- somos previsíveis (basta eles tocarem a sineta, i.e. soltarem a língua, para nós ficarmos logo indignados) e 2- somos puritanos (só porque recusamos a linguagem grosseira e sexista de que eles tanto gostam). A previsibilidade nem merece resposta. Mas quanto ao puritanismo, a questão é tão simples que até magoa. Quem vive sem complexos e sem fantasmas (morais ou outros), não precisa de levantar a voz ou armar-se em macho. O desbragamento da Coluna é irmão gémeo da gabarolice marialva. Desculpem lá, amigos "infames", mas os vossos excessos provam precisamente que o puritanismo continua – e de que maneira – nesse lado da barricada.
Gostava que me apresentassem uma só prova de jamais ter sido sexista ou marialva. O Zé Mário, of all people, sabe muitíssimo bem que essa é, no que me diz respeito, uma das acusações mais disparatas que se pode conceber; a não ser que comentários apreciativos das mulheres sejam sempre sexistas e marialvas, e assim sendo não percebemos como pode o Zé Mário ser editor do DNa e trabalhar na redacção de um jornal, esse antro de libidinosos sexistas. A grosseria dos nossos últimos posts - de que aliás outras pessoas se queixaram - é um facto, e a prova de que neste blog se escreve espontaneamente, não em «double talk», nem com calculismos. Fomos grosseiros, porque as pessoas algumas vezes o são, na vida do dia-a-dia, para exprimir irritações, indignações, ou más disposições. O Zé Mário, é certo, não é homem de ficar irritado ou mal-disposto, e mesmo ficar indignado não são o seu forte; mas reclamamos o direito de ser mais «imperfeitos» do que o ZM.
Finalmente, o puritanismo: desde há uns anos para cá, e não apenas em Portugal, a esquerda tem acessos de moralidade, piores do que a pior direita: veja-se o escabeche por causa dos temas, das opiniões e do vocabulário de Michel Houellebecq, o «perigo moral» que para alguns esquerdistas representaria um casino em Lisboa, ou mesmo algum nariz torcido ao niilismo de sarjeta de César Monteiro. Alguma esquerda, em suma, está bem comportada. O que tem tudo a ver com o politicamente correcto, e com a vigilância policial da linguagem, sobretudo em matérias sexuais. Escrevemos palavrões e ordinarices e a esquerda rasga as vestes. Não era a direita clerical que costumava fazer isso? Cada vez mais não ser de esquerda - expressão que de longe preferimos a ser de direita - é aceitar uma sociedade civil polémica, conflituante, arriscada, desgostante, caótica, contraditória, numa palavra: livre. Quem tenha seguido a realidade francesa sabe que certa esquerda desenterra já uma solução para as opiniões e formas de expressão inconvenientes: chama-se censura.
Ah, e adorávamos conhecer uma pessoa «sem complexos e sem fantasmas». Há em Portugal ou é preciso encomendar pela net? PM
MINORIA ABSOLUTA: No inquérito que o PÚBLICO hoje publica apareço, como seria de prever, do lado da minoria absoluta. Prova de que a opinião dos «favoráveis à guerra» (por assim dizer), certa ou errada, é da ordem da convicção, e não da conveniência. PM
PREVISÍVEL: Tocámos a campaínha, e os leitores do Blog de Esquerda salivaram. Antigamente, os puritanos eram de direita...PM
UMA CRISE GRAVE: Escreve a nossa fiel leitora Ester Andrade:
Em resposta ao apelo feito pelo blog, aqui vão umas dissertações sobre a Pátria da Fraternidade. De momento la France ne fait que s'empuantir par des arguments lâches. Isto para dizer que desde há longos anos a política francesa (e diga-se de passagem, toda a intelectualidade) tem vivido com a argumentação de que, como os verdadeiros percussores da Liberdade e Igualdade de todos os Homens, arrogam-se o direito de achar que as posições que tomam têm sempre como base os preceitos por eles sustentados na Revolução. Ora, por mais que custe a um determinado sector mais estagnado do pensamento, as posições tomadas em politica (e em especial as de cariz internacional) têm sempre (e não vale a pena tentar encontrar fundamentos de boa conduta em posições de solidariedade) como base o bem estar nacional e/ou politico. Tratando-se esta uma visão extremista do panorama actual da politica, temos de saber ver os condicionalismos actuais das politicas internas. Poderá verdadeiramente a Alemanha ter uma posição de recusa de auxílio politico à Turquia (convém lembrar os muitos emigrantes que lá vivem) não fazendo perigar a sua politica interna? De toda a situação actual podemos concluir que de futuro o painel actual das relações tradicionais interestaduais, se vai alterar com base nas posições por agora tomadas (e por isso creio ser relevante Portugal ter uma acção participativa e não de seguidismo liríco europeista).
E mais nos pergunta o nosso vaticínio para o futuro da UE «à face do cada vez mais escandaloso tandem franco-germano».
Cara Ester: com esta crise, não é só a NATO que poderá ficar inarticulada ao ponto de deixar de ser sustentável; também a UE não será a mesma, e retrocederá (?) ao estatuto de espaço comercial sem entraves, uma vez que uma política externa comum não se faz com as pseudo-potências a agir por conta própria. Os Estados Unidos começam a ter fortes razões para deixarem a Europa entregue a si mesma, isto é, frágil perante qualquer corrente de ar. E quando voltar a haver uma ameaça séria (imaginem qual), veremos então os olímpicos europeus gatinhar, pedindo ajuda aos facinorosos «cowboys». PM
Em resposta ao apelo feito pelo blog, aqui vão umas dissertações sobre a Pátria da Fraternidade. De momento la France ne fait que s'empuantir par des arguments lâches. Isto para dizer que desde há longos anos a política francesa (e diga-se de passagem, toda a intelectualidade) tem vivido com a argumentação de que, como os verdadeiros percussores da Liberdade e Igualdade de todos os Homens, arrogam-se o direito de achar que as posições que tomam têm sempre como base os preceitos por eles sustentados na Revolução. Ora, por mais que custe a um determinado sector mais estagnado do pensamento, as posições tomadas em politica (e em especial as de cariz internacional) têm sempre (e não vale a pena tentar encontrar fundamentos de boa conduta em posições de solidariedade) como base o bem estar nacional e/ou politico. Tratando-se esta uma visão extremista do panorama actual da politica, temos de saber ver os condicionalismos actuais das politicas internas. Poderá verdadeiramente a Alemanha ter uma posição de recusa de auxílio politico à Turquia (convém lembrar os muitos emigrantes que lá vivem) não fazendo perigar a sua politica interna? De toda a situação actual podemos concluir que de futuro o painel actual das relações tradicionais interestaduais, se vai alterar com base nas posições por agora tomadas (e por isso creio ser relevante Portugal ter uma acção participativa e não de seguidismo liríco europeista).
E mais nos pergunta o nosso vaticínio para o futuro da UE «à face do cada vez mais escandaloso tandem franco-germano».
Cara Ester: com esta crise, não é só a NATO que poderá ficar inarticulada ao ponto de deixar de ser sustentável; também a UE não será a mesma, e retrocederá (?) ao estatuto de espaço comercial sem entraves, uma vez que uma política externa comum não se faz com as pseudo-potências a agir por conta própria. Os Estados Unidos começam a ter fortes razões para deixarem a Europa entregue a si mesma, isto é, frágil perante qualquer corrente de ar. E quando voltar a haver uma ameaça séria (imaginem qual), veremos então os olímpicos europeus gatinhar, pedindo ajuda aos facinorosos «cowboys». PM
MI CASA ES SU CASA: Respondendo a sugestões e protestos, voltamos a lembrar que as melhorias técnicas não tardam, nomeadamente permitindo a discussão dos posts deste blog. Penso que não temos distorcido as opiniões dos leitores, nem usado o blog para caneladas pessoais. A virulência ideológica não impede a cordialidade humana. Mas queremos ouvir a vossa opinião. O nosso mail, mais uma vez: colunainfame@hotmail.com. Obrigado. PM
QUEM TEM LEITORES TEM TUDO: Do leitor Tiago Romeu, uma correcção: A propósito do último post, tomando «país islâmico» como um país com um país cuja maioria da população é muçulmana, ressalvo que a Turquia não é o único país islâmico laico do mundo. Segundo uma pesquisa rápida, motivado pela estranheza do comentário, verifiquei que tanto o Cazaquistão como o Turquemenistão, Kirguistão e Uzbequistão encontram-se na mesma situação, i.e., maioria de população muçulmana mas plena separação de poderes legislativos e executivos entre Estado e Igreja. O que, não alterando a substância do post, é uma útil precisão. PM
UNILATERALISMO: Turquia, Austrália, Nova Zelândia, Japão, Itália, Espanha, Portugal, Reino Unido, Dinamarca, Polónia, Hungria, República Checa, Albânia, Bulgária, Croácia, Estónia, Letónia, Lituânia, Macedónia, Roménia, Eslováquia, Eslovénia. Unilateralismo? PM
NÃO É PRECISO SER FALCÃO: John McCain - que supomos que ninguém se lembrará de dizer que é um falcão - põe a questão da NATO e da solidariedade transatlântica de forma exemplar. Um parágrafo decisivo: The NATO alliance is strong, but the world in which it operates is fundamentally dangerous, insecure, and chaotic. Existential threats of a new order create pressures on member states that test their character and their commitment to an alliance that requires much of its members. An alliance with a proud history of uniting in the common defense, and standing down the greatest threat to Western civilization in the modern era, cannot have a future worthy of its past if such threats are seen as things to be managed with an eye to process rather than confronted with a determination to meet evil at its source; and if Alliance decision-making on matters of war and peace is determined more by narrow calculations of domestic and European politics than by transcendent security interests of trans-Atlantic partners. PM
CORREIO: Obrigado pelos vossos mails. É difícíl responder individualmente, mas todos os mails são atentamente lidos, e vamos aqui editando e comentando alguns deles. Agradecemos especialmente (para além dos elogios) as referências a gralhas, a indicação de artigos e os comentários, positivos e negativos, sobre o funcionamneto do blog. Um leitor diz que a Coluna Infame se aproxima do «bloguismo tablóide» nas últimas semanas. Já aqui explicámos suficientemente as questões de estilo. Embora cumpramos por vezes certas funções do jornalismo, isto não é um blog de jornalismo (de resto, não acreditamos na imparcialidade jornalística). Quando o momento político é de crise, a linguagem aproxima-se, naturalmente, do panfleto. Imaginem, leitores de esquerda, o pacto germano-soviético; seriam brandos com a linguagem nesse momento?
Duas breves notas sobre duas críticas. Um leitor afirma que a Turquia não tem condições políticas para entrar para a União Europeia. Já escrevemos sobre o assunto, e só queremos acrescentar isto: é importante não abandonar a Turquia, até para incentivar as importantes mudanças políticas no país. A Turquia tem direito a mostrar que merece ser membro da UE. Ou acham melhor hostilizar e alienar o único país islâmico laico do mundo?
Quanto à França, um leitor sugere que não devemos criticar o sr. Chirac, porque ele venceu Le Pen e nós até o apoiámos. Supõe esse leitor que nós teríamos votado Chirac se fôssemos franceses. Errado. Entre Chirac e Le Pen nem o diabo saberia escolher. PM
Duas breves notas sobre duas críticas. Um leitor afirma que a Turquia não tem condições políticas para entrar para a União Europeia. Já escrevemos sobre o assunto, e só queremos acrescentar isto: é importante não abandonar a Turquia, até para incentivar as importantes mudanças políticas no país. A Turquia tem direito a mostrar que merece ser membro da UE. Ou acham melhor hostilizar e alienar o único país islâmico laico do mundo?
Quanto à França, um leitor sugere que não devemos criticar o sr. Chirac, porque ele venceu Le Pen e nós até o apoiámos. Supõe esse leitor que nós teríamos votado Chirac se fôssemos franceses. Errado. Entre Chirac e Le Pen nem o diabo saberia escolher. PM
C'EST LA GUERRE: O nosso estilo é voluntariamente desabrido e terrorista, sobretudo porque podemos dizer o que a imprensa «de referência» não pode, por conveniência, timidez e contrato com a Compal. Estamos, a cada dia, numa situação mais grave: de anti-americanismo grunho, de uma Europa patética, de um pacifismo criminoso e selectivo. Não é momento para pouparmos no vocabulário. Sobretudo, não recebemos lições de civilidade de leitores marxistas, cúmplices de imensos terrorismos verbais e não apenas verbais. Não foi Marx quem disse que «a violência é a parteira da História»? O nosso estilo não é, manifestamente, a de pós-graduados em gender studies, e ainda bem. A língua é por vezes violenta porque só assim se pode lidar com a violência de certas realidades. É o caso. Se querem prosas timoratas, enganaram-se no blog. PM
terça-feira, fevereiro 11, 2003
SHAVE YOUR PUSSY: Que dizer de um país onde as mulheres não fazem a barba, não rapam a sovaqueira e têm o triângulo vaginal mais peludo e asqueroso do Ocidente? Isto define a França: a incapacidade para, nos aspectos mais insignificantes, tomar posição e cortar a direito. JPC
DECLARAÇÃO DE VOTO: Deixem-me ser primário e responder ao repto do Pedro Mexia: não gosto dos franceses, Paris não está no pódio das minhas capitais preferidas, não leio escritores franceses posteriores a 1960, não aprecio a gastronomia francesa, os filmes pornográficos franceses são dispensáveis, não amo a língua francesa e a França cheira-me a fascismo e enrabadelas literárias. PL
E A ESQUERDA?: Não é interessante ver o Libération e a esquerda francesa elogiarem Chirac. Desde as últimas presidenciais francesas que não há esquerda em França. PL
NATO: Como já estamos habituados à passividade histórica dos franceses, convidamos Chirac e a França a saírem definitivamente da NATO. PL
BUSH: Bush reagiu bem ao veto francês: os riscos de não fazer nada são superiores aos riscos de fazer. A isto chama-se política de senso comum, que é melhor do que o excesso de ideias. PL
A FRANÇA MOSTRA-SE: O tema do dia é o veto da França na NATO, veto inédito em décadas de História da organização. Muita gente anda a rejubilar com esta posição francesa, que, convém lembrar, penaliza a NATO, os Estados Unidos mas, sobretudo, a Turquia que foi quem provocou a ocorrência. Muitos acharão que era um veto necessário porque ao lado de uma ampla coligação internacional a favor da guerra, temos agora outra coligação, liderada pela França, que insiste em estar contra. Os idiotas do costume ficarão em êxtase involuntário: estar contra, dizer não, opor-se. Foi isto que a França acabou de fazer. Corajosamente, desassombradamente. A França não fez mais do que retomar a sua tradição política, a de um país que pensa sozinho, que tem uma ideia própria acerca do seu lugar no mundo. Em 1966, De Gaulle levou a França para fora da estrutura militar da NATO. Em 2003, Chirac recriou o mestre e contrariou a política belicista (como agora se diz) dos americanos. Não, os franceses não são anti-americanos. Longe disso. Os franceses têm apenas outra «visão do mundo», em manifesta oposição ao unilateralismo da Administração Bush. Os franceses apenas acreditam que Saddam não representa um perigo e que uma guerra gratuita atiçará a revolta do mundo árabe, fazendo, justamente, o que Bin Laden quer que se faça. Nós acreditamos na bondade das intenções francesas. E nem achamos um erro pretender resistir à anglofilia universal da globalização. Mas, infelzmente, não percebemos uma coisa. Por que razão aproveitou a França o pedido da Turquia para exercer este veto? Por que razão a França, que tem discutido amplamente as inspecções no Iraque, que insiste na necessidade de o perigo iraquiano ser comprovado, que não dispensa o papel das Nações Unidas, por que razão esta França não esperou então pelas Nações Unidas para exercer o direito de veto, optando por fazê-lo num tema que não devia sequer ser discutido e provocando uma crise monumental na NATO? O veto francês à Turquia é afrontoso por ser desnecessário e incompreensível, por prejudicar, gravemente, a estabilidade de uma organização de defesa que, sejamos claros, não precisa da França para nada. Tratou-se apenas da Turquia e tratou-se de um ataque a um princípio sagrado de qualquer organização de defesa militar. A França mostrou-se. Temos à frente o retrato da indignidade. PL
VICHY: A França, a Alemanha e a Bélgica vetaram, no contexto da NATO, um pedido de ajuda da Turquia, caso haja guerra. Sim, da Turquia, um aliado do Ocidente contra o comunismo e agora contra o islamismo radical, essa mesma que já tinha sido escandalosamente posta de fora da UE por não ser católica (!!) e outros argumentos grotescos. É uma decisão a vários títulos grave. Não perderemos tempo com a Alemanha, ainda menos com a Bélgica, mas a França está realmente a ultrapassar todas as marcas. É neste momento o asco do Ocidente. Assim, e dando uma alegria ao Blog de Esquerda, convidamos os leitores a mandarem toda a espécie de comentários, originais ou plagiados da New Yorker, sobre a França. Daremos prioridade a frases não fundamentadas, insultos grosseiros, alusões gratuitas, estereótipos xenófobos, trocadilhos sexuais, lembretes colaboracionistas, e assim por diante. Os blogs conservadores americanos já cunharam o eixo Paris / Berlim como the axis of weasel, e os franceses são apelidados de cheese-eating surrender monkeys, que Nelson Ascher traduz como capitulassímios queijófagos. Mais frases assim, por favor. Vichy não passará. PM
RATOS: Ferro Rodrigues disse que o PS não apoia a manif de dia 15 porque não quer marchar ao lado dos que fazem propaganda saddamita. Há um assomo de lucidez no Largo do Rato. Pelos vistos mais do que na Capela do Rato. PM
VENCIDO DO CATOLICISMO: A Igreja está pela paz, o que é normal. A Igreja está contra a guerra, o que é discutível. A Igreja está, por vezes, contra a América e pelo Iraque o que é - já imaginam o quê - repugnante. Continuarei com a série «Vencido do catolicismo» nos próximos dias. PM
QUEM É NELSON ASCHER? Lemos muitos livros, os dados misturam-se, a memória emaranha-se, esconde-se. Quando aqui falei de Nelson Ascher - e postei excertos de dois artigos seus - o nome bailava-me na cabeça. Tinha a impressão de o conhecer de outro lado que não apenas os blogs de Tim Blair e Andrew Sullivan, e não era da imprensa brasileira, que infelizmente não leio com a frequência que devia. Depois, vindo do fundo onde se camuflava, surgiu a lembrança: tinha lido textos de Nelson Ascher em duas antologias e uma pequena entrevista no EXPRESSO. Segue-se a apresentação: Poeta, tradutor e jornalista, Nelson Ascher é hoje um dos nomes centrais da poesia surgida a partir dos anos 80. Nascido em 1958, em São Paulo, filho de pais húngaros que emigraram para o Brasil, frequentou o curso de Comunicação e Semiótica na PUC-SP. Começou a colaborar na imprensa, tendo sido coordenador da «Ilustrada» e do «Folhetim» da Folha de S. Paulo e editor da Revista da USP. Nos últimos anos intensificou o trabalho como tradutor. A dicção elegante, a ironia equilibrada e a percepção estilística profundamente trabalhada, são vertentes deste poeta, que sabe dosear na medida certa toda a herança da poesia brasileira deste século, inaugurando ainda novas possibilidades e vias a percorrer. Publicou Ponta da Língua , em 83, Sonhos da Razão, em 93, e Algo de Sol, em 96. As palavras são de Jorge Henrique Bastos, na sua imprescindível Antologia da Poesia Brasileira do Século XX (Antígona, 2002), em que Ascher está representado. Depois, fui à estante, e encontrei também poemas de Ascher em Esses Poetas - Uma Antologia dos Anos 90, organizada por Heloísa Buarque de Hollanda (Aeroplano Editora, 1998). A poesia de Ascher, que conheço apenas dessas duas obras, caracteriza-se, para além do que JH Bastos aponta, por uma extrema atenção vocabular, próxima da que encontramos na poesia de, por exemplo, Carlito Azevedo, poeta que a Cotovia editou entre nós (tem sido, com a Quasi, a editora atenta aos brasileiros mais recentes). Nesta obra há também uma característica que como aprendiz de poeta me interessa particularmente: o equilíbrio na divisão estrófica e a técnica do enjambement:
Todo o poema se perdeu
que estava em meus neurônios antes,
tão logo foi, poucos instantes
atrás, escrito; ou converteu-
se em variações menos do seu
tema que de outros, semelhantes,
no desenlace, ao lado dos amantes
mais arquetipicos - Orfeu
perdendo Eurídice ao olhá-la;
e a página, sem traço algum do
que imaginei, parece a vala
comum de quanto seja triunfo
da inspiração, que é sempre rala;
o esquecimento, que é sem fundo.
(BASTOS, 303-304)
Faremos tudo para merecer um leitor assim. PM
Todo o poema se perdeu
que estava em meus neurônios antes,
tão logo foi, poucos instantes
atrás, escrito; ou converteu-
se em variações menos do seu
tema que de outros, semelhantes,
no desenlace, ao lado dos amantes
mais arquetipicos - Orfeu
perdendo Eurídice ao olhá-la;
e a página, sem traço algum do
que imaginei, parece a vala
comum de quanto seja triunfo
da inspiração, que é sempre rala;
o esquecimento, que é sem fundo.
(BASTOS, 303-304)
Faremos tudo para merecer um leitor assim. PM
segunda-feira, fevereiro 10, 2003
ALGUÉM DISSE «UM RAPAZ DAS PRODUÇÕES FICTÍCIAS COM JEITO PARA A STAND UP COMEDY»? No Blog de Esquerda, o Ricardo de Araújo Pereira, um tipo que tem bastante graça e é mais alto do que eu, ironizou sobre o papel de «libertadores» que supostamente se atribui aos americanos. Não achamos nada disso; a política externa não se faz por idealismo (incluindo a da França e da Alemanha). Mas estávamos nós esmagados por os bloguistas de esquerda terem um reforço da TV, quando chegou o mail de um leitor, que expressamente nos pediu para não dizermos que é «um rapaz das Produções Fictícias com jeito para a stand up comedy». Por isso não dizemos. O Zé Diogo, que tem emparceirado precisamente com o Ricardo num tipo de espectáculo que não desvendaremos, ligado a uma empresa de humor que não revelaremos, contesta o texto do dito RAP. Palavra ao artista:
O Ricardo de Araújo Pereira não tem razão. Eu sou pela paz. Os americanos têm cá uma lata, com as suas ingerências nos outros países... Estiveram cá na I Guerra, na II Guerra, no Kosovo... Metam-se na vossa vida. Nós tomamos conta disto. Em quem é que acreditamos? Num país como os EUA, com o cadastro histórico que lhe conhecemos e que o Ricardo sumarizou? Ou na França, na Alemanha e na Rússia? Estes são países que, ao menos, no século passado tiveram uma visão, um projecto para ajudar a humanidade. Ok, a França limitou-se a colaborar, mas isso também é importante. Os americanos querem a guerra para ficar com o petróleo iraquiano, que neste momento é pacificamente explorado por empresas francesas, alemãs e russas. Que credibilidade é que têm? Acreditamos mais em Bush, que foi eleito resvés (se é que foi mesmo eleito) num país onde quem manda são as empresas? Ou em Saddam, que foi democraticamente eleito por 99% por cento da população? Basta ver até que nos EUA, nas reportagens que vemos, muitas pessoas são contra a guerra. Perguntem isso em Bagdad, onde qualquer popular vos dirá que está 100% atrás do líder. Quando partes do próprio povo questionam o presidente, passa-se alguma coisa de estranho... Porque é que uns países podem ter armas nucleares e outros não? É injusto. Ou têm todos, ou não tem nenhum. Ou tiram todos os ditadores, ou não tiram nenhum. Porque é que os EUA, num acto de boa-fé, não se desarmam primeiro? A França fez algo muito parecido e quase evitou a II Guerra. O que era bonito era só fazer guerra quando nos atacam. Se toda a gente pensasse assim, ninguém atacava ninguém e não havia guerra, e tal. Isso era tão bonito... 3000 anos de história, mais de 3000 guerras e afinal é tão simples. Porque é que não pensamos todos da mesma maneira? Devíamos criar um sistema em que ensinávamos isto aos povos do mundo. E pronto. Além disso, se o Saddam tiver armas químicas e biológicas – o que não está provado, porque os inspectores encontraram muito pouca coisa nos sítios onde o Saddam os deixa ir (que lata, isto dos inspectores quererem ir a todo o sítio) - ele nunca iria atacar Portugal. Não sairia ali do Médio Oriente. Quanto muito, arranjava uma maneira de atacar Nova Iorque ou Londres. Se atacar, espero que seja depois de Maio, porque vou a NY comprar discos e livros e ver espectáculos e ver arte e hospedar-me no Chelsea. Quer dizer, se atacar antes de Maio, também não faz mal. Vou a Bagdad fazer estas coisas. Haverá uma Barnes & Noble lá? E off-Broadway?
(José Diogo Quintela)
Comentário: É toda uma mundividência, a nossa, que cai por terra. Obrigado, Diogo. Nem mais um soldado para Angola. PM
O Ricardo de Araújo Pereira não tem razão. Eu sou pela paz. Os americanos têm cá uma lata, com as suas ingerências nos outros países... Estiveram cá na I Guerra, na II Guerra, no Kosovo... Metam-se na vossa vida. Nós tomamos conta disto. Em quem é que acreditamos? Num país como os EUA, com o cadastro histórico que lhe conhecemos e que o Ricardo sumarizou? Ou na França, na Alemanha e na Rússia? Estes são países que, ao menos, no século passado tiveram uma visão, um projecto para ajudar a humanidade. Ok, a França limitou-se a colaborar, mas isso também é importante. Os americanos querem a guerra para ficar com o petróleo iraquiano, que neste momento é pacificamente explorado por empresas francesas, alemãs e russas. Que credibilidade é que têm? Acreditamos mais em Bush, que foi eleito resvés (se é que foi mesmo eleito) num país onde quem manda são as empresas? Ou em Saddam, que foi democraticamente eleito por 99% por cento da população? Basta ver até que nos EUA, nas reportagens que vemos, muitas pessoas são contra a guerra. Perguntem isso em Bagdad, onde qualquer popular vos dirá que está 100% atrás do líder. Quando partes do próprio povo questionam o presidente, passa-se alguma coisa de estranho... Porque é que uns países podem ter armas nucleares e outros não? É injusto. Ou têm todos, ou não tem nenhum. Ou tiram todos os ditadores, ou não tiram nenhum. Porque é que os EUA, num acto de boa-fé, não se desarmam primeiro? A França fez algo muito parecido e quase evitou a II Guerra. O que era bonito era só fazer guerra quando nos atacam. Se toda a gente pensasse assim, ninguém atacava ninguém e não havia guerra, e tal. Isso era tão bonito... 3000 anos de história, mais de 3000 guerras e afinal é tão simples. Porque é que não pensamos todos da mesma maneira? Devíamos criar um sistema em que ensinávamos isto aos povos do mundo. E pronto. Além disso, se o Saddam tiver armas químicas e biológicas – o que não está provado, porque os inspectores encontraram muito pouca coisa nos sítios onde o Saddam os deixa ir (que lata, isto dos inspectores quererem ir a todo o sítio) - ele nunca iria atacar Portugal. Não sairia ali do Médio Oriente. Quanto muito, arranjava uma maneira de atacar Nova Iorque ou Londres. Se atacar, espero que seja depois de Maio, porque vou a NY comprar discos e livros e ver espectáculos e ver arte e hospedar-me no Chelsea. Quer dizer, se atacar antes de Maio, também não faz mal. Vou a Bagdad fazer estas coisas. Haverá uma Barnes & Noble lá? E off-Broadway?
(José Diogo Quintela)
Comentário: É toda uma mundividência, a nossa, que cai por terra. Obrigado, Diogo. Nem mais um soldado para Angola. PM
MÃOS: Têm reparado como alguns dos que põem «as mãos no fogo» por Carlos Cruz são precisamente aqueles que deviam estar quietinhos e caladinhos numa situação destas? Lembra a célebre frase literária: «eles tinham as mãos puras, mas não tinham mãos». PM
DANOS COLATERAIS: Este episódio iraquiano terá um resultado nocivo, mesmo para a esquerda: a Europa morreu.PM
CLARA, ESTÁS PERDOADA: Mas a única maneira de os leitores da VISÃO lerem a New Yorker não será precisamente o plágio? PM
BACK IN BLACK: Regressados do Porto, onde estivemos em escandaloso conúbio com metade do Blog de Esquerda. Fim-de-semana de pintura inglesa, literatura internacional, topografia portuense, gastronomia nortenha e confraternização checa. Temos portanto agora algum correio, que yours truly tem a tarefa hebdomadária de ler, postar ou responder. E temos também as farpas vindas do dito Blog de Esquerda. Começo por responder a uma delas. A escrita da Coluna Infame, com o seu estilo anarca e as suas ideias inconvenientes, levaria sempre a várias acusações; no que me diz respeito, já apanhei com fascistóide (de prever), cãozinho dos USA (boring), arrogante (o pão nosso de cada dia), e assim por diante. O leitor Filipe Moura diz agora que sou também «mal-educado». Essa, confesso, é nova. A notícia causou um frisson de falhanço pedagógico em casa dos meus pais, que sempre me consideraram possuidor de impecáveis maneiras de adido consular ou de pretendente à mão de uma debutante. Afinal não: sou grosso, rasca, rufia. Andei a reler-me (sempre um exercício penoso) para ver onde o Filipe foi buscar essa ideia (ele até diz que não tem razão de queixa). Bom, imagino que se baseia em uma ou outra resposta mais viva e geradora de polémica. Caro Filipe: esse tom faz parte da razão de ser destes blogs, destinados não apenas a expôr, argumentar, etc., mas também a lançar o que o povo português chama, admiravelmente, «bojardas». Aliás, reparará que eu até nem sou muito mestre nisso, comparado com outro dos Infames (who shall remain nameless). Mas se ofendi o livro de estilo da VISÃO, peço desculpa, era apenas o exercício rotineiro da troca de galhardetes. Há, no entanto, um ponto que quero explicar, e que tem a ver, como diz o Filipe com uma dignidade assinalável, com «uma deputada». Estava eu a actualizar o blog, outro dia, e ouço a voz de bagaço da interessante parlamentar bloquista, falando de matéria de assinalável propensão para o trocadilho (a saúde oral). Espantado que estou com a plástica da filha do Senhor Doutor, facto assinalável daquele lado do hemiciclo, lancei uma baixa e sórdida piada de café que indubitavelmente aludia ao indecente acto do felácio (ortografia permitida pela Academia das Ciências). Ora este blog é, como quase todos, um diário, registo portanto de espontaneidades de vária natureza, e não de um aturado trabalho intelectual. É certo que tenho poupado os leitores a sonetos e angústias centimétricas, mas de vez em quando sai um grito de alma, que pode ser também de clara feição erótica, pecador que me fez o Senhor. Ainda por cima, ao contrário dos outros dois Infames, o meu estado não-conjugal permite essa licença e atrai essa debilidade do espírito que consiste em apreciar impenitentemente o sexo oposto (ou o oposto de sexo). É por isso que me referi à (vénia) senhora deputada, como me referi a outras duas ou três criaturas que francamente me perturbam a metafísica. E pronto, vil cão sexista, que até um leitor nosso - um direitista, céus - protestou. Há, suponho, dois métodos para resolver a questão: uma (auto)censura nos meus posts, criando uma impoluta «persona» para efeitos de blog, ou a castração química (talvez encomendando de Bagdad). Mandem sugestões. E só mais isto: lembrem-se de que, por mais que nos queiramos uns tipos lidos e articulados, também somos três jovens lidos e articulados (pausa para palpar a nuca já um pouco a descoberto), e portanto dados ao desvario. Além disso - por favor não se esqueçam desta parte - não queremos mudar o mundo. Daí a ironia, a laracha, o comentário de café, até a piada ordinária da qual me penitencio. Joana, como te posso pedir desculpa? Queres que me inscreva na ATTAC? PM