sexta-feira, janeiro 17, 2003
FRIO: Os nossos compatriotas queixaram-se muito do frio que se tem feito sentir no burgo. Agora que o tempo já está a aquecer, diga-se que durante uma semana este mesmo frio fez-nos sentir que Portugal era como os países civilizados e não como um Botswana de clima ameno.
O NOSSO AGENTE NA LUSA: Reparem no artigo de ontem de Luís Delgado, apreciem o estilo épico e metafórico: «Pedro Santana Lopes: está em velocidade de cruzeiro na CML; Paulo Portas: trabalha como uma formiga; Pedro Líbano Monteiro: é um gestor de homens por natureza». Glosando-o, poderíamos dizer: Luís Delgado: é um polidor nato e incansável; engraxa com destreza, serve com dedicação.
OS MADISONS DA EUROPA: O projecto franco-alemão para a Constituição europeia é o primeiro passo para transformar Portugal numa espécie de Bloco de Esquerda europeu: pequeno, inutilmente estridente e radicalmente irrelevante.
BONS SENTIMENTOS Não é possível assobiar para o lado quando uma empresa encerra e centenas de trabalhadores acabam na rua. O capitalismo tem uma lógica movediça e nunca ninguém jurou - nem Adam Smith - que se tratava de um sistema perfeito. Saibam os nossos amigos esquerdistas que nós não somos indiferentes ao sofrimento do próximo, que nenhum de nós tem empresas em Vila Nova de Gaia e que as nossas empregadas domésticas tem 14º mês e segurança social. Somos conservadores quando não há alternativa ou quando a melhor alternativa é, como é quase sempre, conservar. O que nos distingue das lamentações diante de uma multinacional que não cumpre obrigações contratuais e resolve dar à sola, é que, para nós, tais lamentos, um difuso sentimentalismo ou laivos de humanidade não formam uma política e são, na realidade, irrelevantes se queremos saber que acção política devemos tomar. Muitas vezes as acções políticas têm custos e não são exactamente benévolas. O que se passa e passará na política social em Portugal é elucidativo: um país que não tem empresas, que não compete com o exterior e que não é especialmente qualificado, não pode pretender progredir num passe de mágica.Tem certamente que mudar. Tem certamente que encontrar outro modelo. É por isto que os próximos anos vão ser duros.
quinta-feira, janeiro 16, 2003
PORTO ALEGRE? CONNAIS PAS: Então Lula prefere o Fórum dos ricos ao Fórum dos pobres? A política é tão divertida...
ESTAS NÃO VALEM: O sr. Blix descobriu ogivas de armas químicas no Iraque. Logo saltam trinta esquerdistas debaixo de uma pedra: «mas estavam vazias». Este zelo, quase carinho, pelo sr. Saddam é enternecedor.
GRANDE CORAGEM: Às vezes os media tradicional também dizem aquilo que aqui na Coluna pensamos. É o caso da crónica de Pacheco Pereira no PÚBLICO de hoje (se não leram, ainda está on line uma semana). É extraordinário que os pacifistas se afirmem corajosos quando a maioria da opinião pública e publicada no Ocidente não só está contra a guerra, como revela um anti-americanismo larvar e preocupante (veja-se as patetices ditas por populares nos inqúeritos de rua do DN). E o silêncio dos pacíficos pacifistas sobre os atentados palestianianos diz bem o que moralmente vale esta gente mediática e conformista.
quarta-feira, janeiro 15, 2003
GAUCHE CAVIAR: As «celebridades» americanas, que como se sabe fazem parte da classe dos «explorados» e são vítimas notórias do capitalismo, marcham contra a Guerra. Sean Penn foi ao ponto de se deslocar a Bagdad, um acto de pura traição à pátria. Na National Review Online Adam G. Mersereau escreve sobre estes pacifistas do «jet set»: «(...) Peace activists may be well intentioned; but at their worst, they are more helpful to America's enemies than to America. The best we can say is that they are clinically naïve. They are as insufferable as a college freshman who believes he and his political-science professor can end poverty if only people would listen. It is as if the peace activists believe they have discovered for the first time those self-evident and thus ancient truths that human life is sacred, and war is tragic. Little do they know that a majority of the Iraqis who stroll past their peace marches in Baghdad support an American invasion. (...) Naïveté allows the peace movement to thrive, but it is animated by arrogance. (...) Many members of the peace movement also hold tightly to a loosely defined utopianism. They believe that the human race (save conservative Republicans) is evolving toward a higher and more noble plane of social existence. The activists themselves are, of course, at the forefront of the evolutionary curve; while the Cro-Magnon in the White House and his Cabinet of Neanderthals stubbornly resist progress. Although the Left has largely declared the concepts of "good" and "evil" to be passé, the peace activist believes that the heart of man is intrinsically "good," and that it would be "evil" if we do not give Saddam Hussein every chance to let his goodness shine through. Utopianism is dead in the minds of most people, because as veterans of the 20th century, which was the bloodiest century ever, we cannot deny that "good" and "evil" are entangled within the hearts of men and many of his ideologies, and that peace is little more than a welcome respite between wars. We also know that unless the Saddam Hussein's and Kim Jong-il's of the world are Utopians too, then to champion utopianism in America or Europe is useless. Utopianism is folly; unilateral utopianism is suicidal. But rather than adjust their policy to reflect reality, the peace activists will march in circles, carry their signs, and wait for reality to reflect their policy (...) The peace activists are sincere, dedicated, and sometimes they display bravery and even a patriotism of sorts. But their policy of unilateral passivity will leave us vulnerable to being nickeled-to-death. Jimmy Carter was right when he said that war is evil, but only in the sense that war is the most undesirable state of human affairs. More evil than war, however, is the sentiment that pervades the peace movement: That there is nothing worth fighting for. Esta frase, parece-nos, resume bem a questão.
PERGUNTA DE ALGIBEIRA: Porque será que o PÚBLICO nos parece um jornal excelente desde há, digamos, 13 dias?
O POVO É QUEM MAIS ORDENA: Continuamos abertos a sugestões, comentários, colaborações. Envie o seu texto para pedro_mexia@hotmail.com.
POR FALAR EM MINISTROS: Não somos, longe disso, fanáticos adeptos da constituição deste Governo: como sempre acontece, sobretudo à direita, os «grandes nomes» baldaram-se, os «barões» ficaram nos Conselhos de Administração, os «notáveis» assobiaram para o ar. O elenco foi o possível. Nalguns casos, a aposta é um falhanço total, a começar por Isaltino. Roseta é quase invisível, Cardona trapalhona, Luís Filipe Pereira esforçado, Martins da Cruz um elefante em loja de porcelanas, e de grande parte dos outros nem sabemos bem dizer. Mas há excepções: Portas, Justino, Bagão Félix. São três ministros preparados tecnicamente e, sobretudo os dois populares, com grande capacidade política. Durão, esse, como se tem dito, é uma boa surpresa, depois de ser o pior líder da oposição de que há memória. Quando o Governo fizer um ano, que tal uma remodelaçãozinha?
Q.E.D.: José Luís Arnaut disse, numa entrevista, que não se identifica com o estado actual do futebol português. Caiu o Carmo e a Trindade. Mas que espécie de gente se identifica com o lamaçal do nosso futebol: maus jogos, más arbitragens, claques criminosas, «sacos azuis», muita conversa de bastidores e pouco espectáculo? Bem, liga-se a tv à hora dos telejornais e lá estão eles: Madaíl, o Major, as virgens ofendidas do costume. Quod erat demonstrandum.
TARGET: Segundo o seu director, Francisco Penim, o futuro canal SIC Mulher aposta numa «mulher activa, profissional e que não gosta de novelas», «uma mulher entre os 18 e os 44 anos, de perfil urbano, que já não está em casa dos pais, tem uma carreira estabelecida» e que tem «quatro características: conhecedora, sensível, determinada e atraente». Curioso: o target do canal é o mesmo que o nosso. E não estamos a falar do blog.
terça-feira, janeiro 14, 2003
ORNITOLOGIA: Se, no jargão idiota do costume, um belicista é um «falcão» e um cidadão mais cauteloso uma «pomba», o que serão as almas pacifistas que assinam papéis que fazem rejubilar o ditador de Bagdad? «Avestruzes»?
OUTRO PROF: E há outra criatura eminentemente desnorteada a assinar o papelucho de Soares. Nem por acaso outro Professor: Sousa Franco. Mas também é verdade que Sousa Franco é um homem sem percurso político coerente, adversário de Sá-Carneiro, fundador da ASDI (essa preciosidade), implacável Presidente do Tribunal de Contas que virou ministro guterrista (o que não foi bonito), para depois considerar o segundo Governo do engenheiro o pior desde D. Maria (não esclareceu qual delas). Tal como acontece com Freitas, é um excelente professor, e um desastroso político, sobretudo nos últimos anos. Moral da história: escrevam sebentas, Srs. Profs. escrevam sebentas.
ONDE PÁRA A LUCIDEZ? O Professor Freitas do Amaral é, como se sabe, um excelente professor de Direito. Muito ordenado no que escreve, era um alívio enfrentar o conceitualismo e aridez dos manuais de direito com a sua clareza de exposição. Para além disso, criou uma escola, não teve hesitação em criar uma nova Faculdade de Direito (inspirada nas universidades americanas) e escreveu um manual que tem, mal ou bem, pautado os tribunais administrativos desde há vinte anos. Na política, o Prof. Freitas tem sido menos regular: esteve na AD mas a AD era Sá Carneiro e Amaro da Costa, (por isso depressa se desfez), e esteve nas presidenciais de 85 que quase ganhou, não fosse Mário Soares saber que, em estado de necessidade, a política é um jogo de tudo ou nada. Em 1992, louvou o Tratado de Maastricht. Nos últimos anos, Freitas do Amaral passou pela Assembleia Geral da ONU mas não nos lembramos de algum Presidente deste órgão que tenha ficado na História. Ao contrário de muitos democratas-cristãos, que entraram, um dia, no PS, sorrateiramente e com bons modos para ninguém se irritar, o Prof. Freitas não o fez. Ficou onde sempre esteve, isto é, rigorosamente ao centro. Escreveu agora um livro contra a guerra no Iraque, exibindo um confessado anti-americanismo que espanta qualquer pessoa sensata. Há muitas razões (ideológicas ou sentimentais) que podem fazer de uma pessoa anti-americana. Mas, ao ouvir ontem Freitas do Amaral num debate televisivo debitar slogans para a assistência e alinhar no coro de quem jura a pés juntos que os EUA têm um projecto imperial para o mundo, a nossa cabeça ia desabando. Onde pára a lucidez? Lá se vão as presidenciais.
MORTE À PENA: Aplaudimos a decisão do Governador do Illinois de esvaziar a «ala da morte» dos seus 160 condenados, mesmo que tal política seja de pouca duração (o Governador Ryan está de saída). A manutenção pena de morte, e não outros habituais alvos da babugem esquerdista, é o principal atraso civilizacional dos EUA, e seria bom que progressivamente a situação mudasse. Mas não, como diz o Governador, por causa dos «erros judiciais». A pena de morte é ilegítima porque o Estado não tem legitimidade para tirar vidas (mesmo de culpados comprovados) a sangue-frio, depois de um processo judicial, etc. Matar só é admissível em legítima defesa (de que a guerra pode ser um exemplo extremo), mas os juristas estão de acordo em que faltam à pena de morte as características da legítima defesa, sobretudo a actualidade (e por vezes também a proporcionalidade). A pena de morte é errada não por qualquer razão politicamente correcta mas porque matar é errado. Parece-nos que não é preciso ser cristão para concordar.
segunda-feira, janeiro 13, 2003
SEXO NA RUA, FAÇA-O NA SUA: Os nossos amigos esquerdistas têm razão. O eminente economista João César das Neves é um sério candidato ao pior cronista da imprensa portuguesa (embora seja muito difícil bater Vera Roquete). Cristão infatigável, repetidamente nos quer fazer crer que o mundo é, afinal, muito simples, e que ele, JCN, tem a solução. Para dar um exemplo: recentemente afirmou que o século passado não teria sido o horror que foi se tivéssemos todos...rezado o terço. Não sei porquê, mas suponho que uma série de ditadores de bigode (e sem bigode) teriam achado muita graça a esse método. Agora, volta à carga com a «liberdade sexual». Nós aqui na Coluna achamos que quem pretende legislar sobre a vida sexual alheia tem um qualquer trauma por resolver, sejam os puritanos que amaldiçoam a «libertinagem», sejam os extremistas da esquerda que só pensam em temas «fracturantes». Deixem as pessoas viver as suas vidas - com limite, evidentemente, nas actividades criminosas como a pedofilia - e não sejam, à esquerda e à direita, evangelistas ou censores do sexo. A sexualidade humana é um assunto privado, não é para slogans e campanhas. Façam-no, não o façam, e da maneira que quiserem, mas não politizem tudo, s.f.f. Agradecidos.
TREMEI, URNAS: Manuel Monteiro ameaça fundar um partido. É um sério aviso ao POUS, ao Partido Humanista, à FER e a outros patuscos. Se pensavam que podiam ficar tranquilamente a gozar o estatuto de partido português menos votado, tirem o cavalinho da chuva. Sabemos que neste momento decorre um brainstorm (digamos assim) chez Monteiro, com a finalidade de descobrir um nome para a agremiação. Exaustivos inquéritos de rua chegaram até agora às seguintes sugestões populares: o optimista MUC (Movimento Um por Cento), o assertivo BMMDD (Bloco Muito Mais à Direita que a Direita ), o monótono MMM (Movimento Monteiro sem Mentor), o esclarecedor PCCH (Partido Cem por Centro Hetero), o temível PIDE (Partido Independentista da Direita Esquálida), o comovedor PJP (Partido do Jaquinzinho Português), o sincero PEJ (Partido Eu e o Jorge), e o nosso preferido, o descarado PUTA (Partido Ultramontano Tradicionalista Autónomo). Politólogos, toca a reescrever os manuais.
LOW JOB: Circula por aí o manifesto contra a guerra no Iraque. Nenhum comentário sobre as individualidades presentes naquele que é, não temos dúvidas, um dos mais lamentáveis exercícios de megalomania e impotência. O parolinho português gosta sempre de marchar pelas ruas, cantando hinos à Humanidade e proclamando os inadiáveis direitos dela. Interessa apenas colocar uma pergunta: quando se fala da «legitimidade» das Nações Unidas e do respeito pelo direito internacional, quem tem violado continuamente todas as resoluções da ONU, armando-se até aos dentes, humilhando e expulsando os inspectores da casa? Pela retórica dos pacifistas, não é com certeza o Iraque - uma democracia consolidada e reconhecida, amante dos direitos humanos e governada por um sábio humanitário, a caminho da santidade. Quando ouvimos os coros histéricos desta esquerda doentia e histérica, até chegamos a pensar que os Estados Unidos se preparam para atacar, não um estado tirânico e intrinsecamente perigoso, mas uma democracia ocidental, tipo Suécia, contrária ao imperialismo de Bush filho. O manifesto pela Paz não passa de um trabalho baixo que inverte a verdade do mundo e branqueia o face do autêntico agressor.
LAUREAR A PEVIDE: Eis a versalhada do Poeta Laureado inglês sobre a América e a situação iraquiana:
CAUSA BELLI by Andrew Motion
They read good books, and quote, but never learn
a language other than the scream of rocket-burn.
Our straighter talk is drowned but ironclad:
elections, money, empire, oil and Dad.
Já há algum tempo que sabíamos que Motion não era um dos melhores poetas da sua geração, e que esta instituição do Poeta Laureado é uma patetice (quer na versão «bom súbdito conservador» quer no actual modelo «olha-um-esquerdista-com-gravata-a-fazer-poemas-à-infanta»), mas será que não nos podiam dispensar de levar com estes epigramas preguiçosos e rançosos? Tom Paulin (melhor poeta), esse, ao menos, acha que os colonos judeus deviam ser fuzilados. Sempre é mais pão-pão queijo-queijo. Mas quadrinhas pseudo-satíricas? Volta para os baptizados reais, Andrew.
CAUSA BELLI by Andrew Motion
They read good books, and quote, but never learn
a language other than the scream of rocket-burn.
Our straighter talk is drowned but ironclad:
elections, money, empire, oil and Dad.
Já há algum tempo que sabíamos que Motion não era um dos melhores poetas da sua geração, e que esta instituição do Poeta Laureado é uma patetice (quer na versão «bom súbdito conservador» quer no actual modelo «olha-um-esquerdista-com-gravata-a-fazer-poemas-à-infanta»), mas será que não nos podiam dispensar de levar com estes epigramas preguiçosos e rançosos? Tom Paulin (melhor poeta), esse, ao menos, acha que os colonos judeus deviam ser fuzilados. Sempre é mais pão-pão queijo-queijo. Mas quadrinhas pseudo-satíricas? Volta para os baptizados reais, Andrew.
POLÍTICA LUSA: No DN, Luís Delgado andou meses numa actividade que em inglês se chama sugestivamente «kissing ass», em elogios a tudo o que fosse Governo, que embaraçavam mesmo muitos daqueles que apoiam o dito. Agora, foi nomeado para dirigir a LUSA, agência noticiosa portuguesa. Palavras para quê, é o jornalismo em Portugal.