sexta-feira, outubro 25, 2002

PASQUINO NO PARLAMENTO: Ontem [24], o politólogo italiano Gianfranco Pasquino visitou a cidade para dar conselhos aos hilotas. A sala do Senado estava razoavelmente repleta. Quem diria que há tanta gente liricamente interessada na reforma do Parlamento? E que disse Pasquino? Disse que, ao contrário da ideia comum, não há exactamente uma crise ou um declínio do Parlamento.Os parlamentos, para Pasquino, têm, na realidade, assumido outras funções igualmente importantes para além da legislativa. A nova ciência política portuguesa tem ido, aliás, por este mesmo caminho, notando que a Assembleia da República tem desempenhado um papel legitimador do sistema político português. Nós não pretendemos, em dois parágrafos, contestar esta ideia Mas, com alguma modéstia, deixamos duas perguntas: que legitimação é esta considerando que os parlamentos têm, na essência, perdido poder? Depois, como pode falar-se em legitimação quando há um ostensivo empobrecimento do nível técnico e intelectual dos nossos parlamentares?
QUEM DIRIA, W.: Mail do nosso close friend José Mário Silva, editor do DNa, e esquerdista às direitas: «Será que afinal existe vida inteligente dentro da cabecinha de George W. Bush? Leiam isto: «Yesterday, President Bush announced his intention to nominate the poet Dana Gioia for chairman of the National Endowment for the Arts. This is the job that Mr. Gioia was born for--or perhaps that's better put the other way around: Mr. Gioia is the kind of person for whom the job of chairing the NEA was first created. He is a major figure in American letters, an experienced business executive and a man with a passion for great art. There's something satisfyingly ironic in this. It sometimes seems that aspiring artists are required to take an oath to oppose the Bush administration. And now those philistine Republicans have put forward one of the nation's finest writers: an American Book Award winner, a best-selling textbook editor, and a critic of distinction. However one wants to construct the list of America's best poets, Dana Gioia ranks somewhere very high. His confirmation will mean the return of something missing in Washington since Archibald MacLeish was Librarian of Congress. It's going to be a struggle for even determined opponents of President Bush's appointments to complain about the 51-year-old Mr. Gioia. The son of blue-collar Italian and Mexican immigrants in California, he has both an M.A. in literature from Harvard and an M.B.A. from Stanford. For 15 years, he worked as an executive, rising to become a vice president of General Foods--and then abandoned his business career in 1992 to begin writing and promoting poetry fulltime. Along the way, he's published three books of poetry, translations of Montale's Italian and Seneca's Latin, a long series of music reviews, and the libretto for a well-received neoromantic opera called Nosferatu. (…) What fits Mr. Gioia for the job at the NEA, however, is all the work he's done to promote an alternate vision of the arts in America.» (in The Wall Street Journal) Num tempo de espadas, é extraordinário ver triunfar a pluma de Dana Gioia. O poeta publicou, em 1991, um livro de ensaios com o título: Can Poetry Matter? A resposta talvez tenha chegado agora. Espantosamente, it matters». José Mário Silva (esquerdista de estômago forte). * Vale a pena acrescentar que há um poema de Dana Gioia traduzido em português pelo seu (e nosso) amigo Luís Quintais.

LÁZARO ON-LINE: É mesmo verdade. Ainda mal tínhamos secado as lágrimas pelo súbito desaparecimento do site Arts & Letters Daily (www.aldaily.com), um dos lugares obrigatórios da Net para quem gosta de pensar, quando o milagre se deu. Hoje, mais uma vez sem aviso, o A&LD regressou do tenebroso reino dos mortos – onde tinha sido lançado pela falência de quem lhe pagava as facturas. Voltou o cabeçalho com a senhora que toca maliciosamente um livro, voltou a citação de Séneca (Veritas odit moras), voltaram as três colunas tentadoras e os links para tudo o que é sítio interessante na Web. Denis Dutton – um professor de estética que vive nos nossos antípodas (Nova Zelândia) – continua a ser o editor. Quanto ao novo patrão, o The Chronicle of Higher Education, parece que veio para ficar. Ainda bem. Lá vamos nós martirizar os olhos noite fora, outra vez. José Mário Silva.
UMA SECRETÁRIA BUÉ DE QUALQUER COISA: A secretária de Estado da Educação, Mariana Cascais, conhecida por multiplicar gaffes atrás de gaffes e de anunciar a existência de uma religião oficial em Portugal, esteve ontem numa escola para recomendar aos alunos que comam sopas, legumes e saladas. Para terminar, numa conversa com alguns dos miúdos, rematou: «Tu estás bué da giro assim.» A frase vem na imprensa. A senhora secretária de Estado justificou: «Bué está no dicionário.» Assim se explica quase tudo. A senhora não reparou que «bom-senso» também vem lá. Y.L.


DO NOSSO AMIGO Y.L., PORTUGUÊS EM TELAVIVE: «O interessante colóquio sobre as «Memórias Árabe-Islâmicas» durou um dia apenas mas serviu para o sr. presidente da República manifestar (diz o insuspeito PÚBLICO: «clima de profunda preocupação», para que não restem dúvidas) a sua preocupação sobre a situação internacional. Quando se trata de «manifestar a sua preocupação», o sr. presidente da República escolhe quase sempre as melhores companhias – desta vez foi Amr Moussa, secretário-geral da Liga Árabe, conhecido — antes de ser promovido a este cargo — por no Egipto alimentar posições muito próximas do fundamentalismo islâmico. As declarações que prestou à imprensa foram serenas, diplomáticas e banais, muito diferentes das que se lhe conhecem quando se junta aos apelos à eliminação da «entidade sionista». Para quem não se lembra, é a mesma formulação usada por Azam Pasha, secretário da mesma Liga Árabe em 1948, horas antes de cinco países decretarem a invasão do recém-formado estado de Israel. Estas coisas não mudam. Como o colóquio não trouxe nada de novo em matéria científica e académica, ouviu-se pelo menos o arrazoado do costume contra Israel. O senhor presidente da República não se poupou a abraços multiculturais, elogiando sem barreiras o discurso de Moussa (que classificou do «notável») e falando da «arrogância israelita». Recorde-se que, na sequência do linchamento e esquartejamento de dois militares israelitas desarmados às mãos da polícia da Autoridade Palestiniana e da multidão, em Ramallah, há dois anos, o dr. Sampaio apareceu para declarar publicamente que a culpa do sucedido era, claro, de Israel. De facto, não há pachorra. Como não se pode calar o homem, ofereçam-lhe uma burka. Y.L.


quinta-feira, outubro 24, 2002

AINDA NÃO LEMOS OS ROMANCES, MAS CORAGEM TEM: Do diário El Pais do passado 13 de Outubro, o artigo «Jerusalén, Jerusalén», do Nobel da Literatura 2002, o húngaro Imre Kertész (traducção para castelhano de Adan Kovacsics). O texto é extenso, mas vale a pena: «Anteayer aún contemplaba la puesta del sol desde el balcón del hotel Renaissance de Jerusalén. El cielo palidecía sobre las colinas blancas de enfrente, una suave brisa llegaba desde la Ciudad Vieja; de pronto se oscureció la luz, y el incipiente crepúsculo parecía un melancólico alto el fuego. Recordé las palabras de Camus en El extranjero. Esa misma mañana, sin embargo, había estallado un autobús que iba de Jaifa a Jerusalén, la fuerza de la detonación hizo saltar el vehículo, y pedazos de cuerpos humanos destrozados volaron por el aire. Ni siquiera intento poner orden en mis pensamientos dispersos. He venido con mi esposa para asistir a un congreso, y jamás habría acudido si no me hubieran invitado precisamente a Jerusalén. No me gustan los congresos inútiles, en particular aquellos que llevan títulos tales como: El legado de los supervivientes del Holocausto. Implicaciones morales y éticas para la humanidad. La fecha, 9 de abril, figuraba desde hacía meses en mi libreta de apuntes, y aunque finjo tomarme en serio los insistentes consejos de mis amigos de Berlín y Budapest -la mayoría trata de disuadirme del viaje-, me mantengo en todo momento bajo el hechizo del proyecto inicial: desde Berlín volvemos a Budapest, doy mi voto probablemente inútil en las elecciones, y al cabo de dos días partimos hacia Jerusalén. La única pregunta que puede plantearse es si ir solo o no. Pero mi esposa no quiere saber nada de la segunda posibilidad. Juntos o nada. Después de sopesarlo un poco nos damos cuenta de que hemos de ir, por la sencilla razón de que, de lo contrario, tendríamos que vivir siempre con la idea de que nos llamaron, pero no fuimos.Estoy, pues, en este balcón de un séptimo piso, y me resulta tan difícil juzgar aquí lo que de verdad ocurre como difícil me resultaba en Berlín o Budapest. En este momento no pienso tanto en la situación de aquí como en la reacción europea. Tengo la impresión de que el antisemitismo, que durante muchos años ha sido tenido a raya, emerge del pantano del subconsciente, como si fuese una erupción de lava con olor a azufre. Tanto en Jerusalén como en Berlín, veo en la pantalla del televisor las manifestaciones contrarias a Israel. Veo sinagogas incendiadas y cementerios judíos profanados en Francia. A pocos cientos de metros de mi vivienda berlinesa, cerca del Tiergarten, dos jóvenes judíos norteamericanos fueron agredidos y apaleados en plena calle. Vi al escritor portugués Saramago en la televisión: inclinado sobre una hoja de papel comparaba con Auschwitz el proceder de Israel contra los palestinos, demostrando que el escritor no es consciente de la escandalosa irrelevancia del paralelismo que utiliza ni de que el concepto conocido por el nombre de Auschwitz, que hasta el día de hoy tenía un significado bien definido en el consenso cultural europeo, en la actualidad puede utilizarse, sin más ni más, de manera populista y para fines igualmente populistas. Me pregunto si no es preciso distinguir el sentimiento hostil a Israel y el antisemitismo. ¿Pero es posible? ¿Cómo se puede entender que dos continentes más allá, en Argentina -donde, dicho sea de paso, bastantes problemas tiene ya la gente-, se produzcan manifestaciones contra Israel? Probablemente, pienso, porque la hostilidad a los judíos, que ya dura 2.000 años, se ha ristalizado y convertido en una forma de concebir el mundo. El odio se ha ristalizado y convertido en forma de concebir el mundo, y el objeto del odio es un pueblo que, pienso yo, de ningún modo está dispuesto a desaparecer de la faz de la tierra. Intento pensar de forma clara y sincera, y enunciar dentro de mí lo que pienso, con claridad, con sinceridad, apartando todo tabú. El hecho de que personas jóvenes se revienten con gran placer haciendo estallar una bomba (dicho sea de paso, he leído en un diario que Sadam Husein paga veinticinco mil dólares a sus familias) demuestra que no sólo se trata de crear o no un Estado palestino. Estos suicidas se manifiestan como perdedores de la existencia. Su acto revela un tipo de amargura que no puede explicarse tan sólo por impulsos
nacionalistas. Bajo la suave luz de Jerusalén, en las noches doradas, entre estas colinas pintorescas salpicadas de olivos, comprendí en un anterior viaje a esta ciudad, más con los sentidos que con el intelecto, por qué los dioses habían nacido precisamente aquí. Ahora debería comprender por qué se los asesina aquí, con la pasión ostentosa del sangriento sacrificio humano.
Confieso que no entiendo nada, y me cuesta creer que estemos ante una cuestión meramente política. Puede ocurrir también que la política procure evitar que yo lo vea como una cuestión meramente política y que sea víctima de una manipulación; sin embargo, cuando millones de personas son víctimas de la manipulación, el carácter de ésta se transforma, se interioriza... Hay quienes de pronto piensan seriamente que nuestra locura no es una sugestión dictada por fuerzas externas, sino que emerge desde nuestra
propia alma, es una necesidad de nuestra alma: y ahí empeza el mal irremediable. Lo confieso con toda sinceridad: cuando vi en la televisión los tanques israelíes que se dirigían a Ramala, una idea me atravesó el alma de forma involuntaria e ineluctable: Dios mío, qué bien que pueda ver la estrella judía sobre los tanques israelíes y no cosida sobre mi ropa como en 1944. O sea, que no soy imparcial ni puedo serlo. Nunca he desempeñado el papel del árbitro imparcial: se lo dejo a los intelectuales europeos -y no europeos-
que juegan a ese juego de manera tan excelente como a menudo dañina. Después de tanta solidaridad verdadera y fingida se ha vuelto la página: los mandarines han dirigido la mirada severa hacia Israel. En determinadas cuestiones sin duda tienen razón: sin embargo, nunca han comprado un billete para el autobús que hace el trayecto entre Jaifa y Jerusalén. Aquí en Israel todos llevan, metafóricamente, este billete en el bolsillo. Y eso va minando poco a poco la cordura de la gente. El frío juicio de los mandarines europeos aquí se vive en forma de preguntas existenciales candentes. Una amiga expresó de la manera quizá más concisa este
desequilibrio. En el Yad Vashem, en ese enorme cementerio de las víctimas del Holocausto, nos dijo: 'Primero vamos con la familia a una manifestación contra la guerra y luego nos equipamos como soldados'. Casi me avergüenza exponer mi existencia, los sutiles problemas del judío desarraigado. No he encontrado -al menos en este congreso- a ningún intelectual israelí que pusiera en duda la necesidad de un Estado palestino: 'Hay que acabar con los asentamientos -dice uno de los historiadores que dirigen el Yad Vashem-, lo cual desembocará en una pequeña guerra civil que, sin embargo, tendremos que librar'. El aislamiento, la ausencia de solidaridad,
provocan un dolor casi físico. Es imposible soportar el terror sin hacer nada, es imposible enfrentarse sin terror al terror. Un dilema atroz, unas preguntas atormentadoras, con las que, no obstante, hay que luchar solo. 'Nos encierran en un gueto moral', dice mi amigo Appelfeld, el escritor. Veo miedo, desconcierto y arrojo en las miradas que me rodean. Exactamente como lo describe David Grossmann en su dramático artículo publicado en el Frankfurter Allgemeine: 'El Estado de Israel se parece en la actualidad a un puño, pero al mismo tiempo a una mano que cae fláccida por la desesperación'. La ciudad está muerta, los taxistas rondan los hoteles como buitres hambrientos, y cuando alguien sale por la puerta, se abalanzan sobre su víctima... Generalmente en vano, pues la mayoría ha acudido por algún asunto oficial, y a éstos los esperan sus vehículos oficiales. Desayunamos en el comedor semivacío del hotel; han desaparecido los turistas y los señores encorbatados que leen el periódico mientras beben café, los infaltables hombres de negocios. Casi he olvidado que he venido a un congreso, donde debo leer el texto que preparé: 'Cuando digo que soy un escritor judío, no estoy diciendo que yo sea judío' -leo-. ¿Pues qué judío es aquel que no recibió una educación religiosa, que no habla hebreo, que apenas conoce, en el fondo, las fuentes de la cultura judía y que no vive en Israel, sino en Europa? Alguien para
quien Auschwitz es la identidad judía principal y quizá única no puede calificarse de judío en cierto sentido. Es el 'judío no judío' del que habla Isaac Deutscher, la variante europea desarraigada que apenas puede establecer una relación íntima con la condición de judío que le ha sido impuesta. Casi me avergüenza leer estas líneas. Casi me avergüenza exponer mi existencia, los sutiles problemas del intelectual judío desarraigado, sus crisis de identidad, su situación de apátrida. De pronto calo la insostenible ironía de mi papel: como superviviente de la Shoah pronuncio una conferencia en suelo de Israel, que está en guerra, y explico, de hecho, por qué no puedo solidarizarme con el pueblo al que yo mismo pertenezco. Mi solidaridad consiste, a lo sumo, en atreverme a coger el
avión que luego despega rumbo a Tel Aviv. Soy un visitante que recoge en vano sus impresiones, que interroga inútilmente a las personas; no las entenderá porque no comparte el destino de aquellos a los que en el fondo pertenece. Jamás había sentido esto de una forma tan definida. Es como si ahora, cuando la simpatía y la compasión me llenan de sufrimiento, fuera aquí más extranjero que nunca. Ni un solo israelí deja de agradecernos que viniéramos a su país. Así concluyen casi todas las conversaciones, lo cual
subraya aún más mi condición de extranjero. Reflexiono sobre las causas, y al observar con más atención los rostros, los coches engalanados, la atmósfera nerviosa y homogénea de la ciudad, de pronto tengo la impresión de comprender el cambio que está viviendo este país. El historiador francés Renan afirma que ni la raza ni la lengua definen a una nación; las personas perciben en el corazón que comparten ciertos pensamientos y sentimientos, recuerdos y esperanzas. Ahora bien, este país que hasta ahora era el país inconexo de los fundadores, pero sobre todo de los supervivientes europeos, de quienes buscaban protección, de sionistas militantes, de sectas ortodoxas que rechazaban la vida estatal, de rigurosos soldados, de blandos músicos, de judíos blancos del norte, de judíos de todos colores, africanos, árabes y levantinos, de hombres diversos procedentes de culturas diversas, de pronto se ha convertido, a raíz de esta guerra desesperante y sin salida, en una nación. No sé si es motivo de alegría o de condena, pues
precisamente ahora las naciones se hallan en proceso de extinción, pero es un hecho, y ya no permite aquella postura particular que los judíos europeos y americanos mantenían hasta ahora respecto a Israel, una postura llena de reservas y al mismo tiempo de sonriente simpatía y a veces también de ironía y superioridad. Es un giro peculiar que sin duda tendrá sus consecuencias, al menos en las relaciones judeo-judías. Es imposible soportar el terror sin hacer nada, es imposible enfrentarse sin terror al terror. Así pues, hago bien en no buscar la verdad, la llamada verdad objetiva. Además, la verdad no es inamovible, no es eterna, sino cambiante; siendo así, 'el hombre del espíritu ha de hacerse cargo de ella de forma tanto más profunda y concienzuda y observar los más mínimos movimientos del espíritu universal, los cambios que se producen en el rostro de la verdad', como dijo Thomas Mann en uno de los años más críticos de Europa. Y tal vez precisamente por ser tan cambiante, la verdad se coloca ahora en primer plano y exige sin cesar su definición adecuada a la actualidad. Las guerras de nuestro tiempo son siempre guerras teñidas de moral, en una medida que quizá nunca habíamos alcanzado. En nuestro mundo moderno -o posmoderno-, las fronteras no transcurren tanto entre naciones, etnias, confesiones, sino más bien entre concepciones del mundo, actitudes ante el mundo, entre razón y fanatismo, paciencia e histeria, creatividad y afán destructivo de poder. En nuestra época carente de fe se libran guerras bíblicas, guerras
entre el 'Bien' y el 'Mal'. Y es preciso entrecomillar estas palabras, por la sencilla razón de que no sabemos qué es lo bueno y lo malo. Existen conceptos diversos y divergentes al respecto, que seguirán siendo discutibles mientras no vuelva a aparecer un sistema de valores sólido en una cultura forjada y asumida en común. Esto es, por supuesto, una utopía, sobre todo aquí, en Oriente Próximo. ¿Cómo explicar -reflexiono- que jóvenes llenos de energía se presten a cometer atentados suicidas? El valor que conceden a las vidas ajenas ya se revela por sus actos. ¿Pero qué valor dan a su propia existencia? Según un amigo, les dicen que 'más allá', en el harén del otro mundo, les esperan 72 vírgenes que los colmarán de caricias. ¿Y qué dicen a las mujeres?, pregunto. Nuestro amigo se encoge de hombros sonriendo: no lo sabe. Siempre he considerado el odio una energía. Esta energía es ciega, pero su fuente, paradójicamente, es la misma vitalidad de la que se nutren las fuerzas creativas. La civilización europea, que aquí la gente sigue considerando suya a pesar de todo, considera el perfeccionamiento de la vida humana su valor más noble. El fanatismo es precisamente lo contrario. ¿Sobre qué base pueden crearse aquí humanidad y confianza? Por el momento mandan el miedo
y el odio. 'Las palabras referidas a la paz y a la convivencia suenan hoy como la última señal de vida de un barco que se ha ido a pique', escribe David Grossmann. En esta región la noche llega de golpe; bajo mi balcón se encienden las farolas. Los coches pasan por carreteras que se pierden a lo lejos, que conducen a los naranjales y a las universidades, a las ciudades bien construidas y a los campos bien trabajados. Muchos nos han contado que vinieron aquí después de la Shoah con la esperanza de encontrar tranquilidad y seguridad. Levantaron este país trabajando duramente. Sus habitantes lo defendieron en duros combates mientras su entorno más próximo y más lejano seguía poniendo en duda, hasta el día de hoy, su existencia. Si esta duda -junto con la sensación de abandono-arraiga también en ellos, podrá hundirlos en la más profunda desesperación. En la actualidad, según mi experiencia al menos, la vitalidad del país aún permite la autorreflexión: la gran mayoría de sus intelectuales critican -no, desde luego, la resistencia al terror- pero sí la forma de defenderse, esta campaña de venganza que en última instancia no traerá ningún resultado. No obstante, si la indiferencia hostil del mundo los lleva realmente a la desesperación, todo estará listo para la catástrofe; y en este mundo
impregnado de odio, impotencia y fanáticas doctrinas falsas, la catástrofe no afectará tan sólo a Oriente Próximo. Con el corazón encogido abandono este balcón, la vista nocturna de Jerusalén. Mañana por la noche partimos, y me llevo un regalo especial.
Nación, patria, hogar: para mí han sido hasta ahora conceptos inaccesibles. No puedo ni imaginar la armonía del ciudadano que se identifica sin condiciones con su patria, su nación. Quiso mi destino que viviera en la condición de una minoría, de una minoría universal, podría decir, en una condición elegida y asumida de forma voluntaria; si quisiera definirla, no utilizaría conceptos tales como raza, etnia, lengua o religión. Definiría la minoría que he asumido como una forma de vida espiritual basada en la
experiencia negativa. Desde luego, llegué a esta experiencia negativa a través de mi ser judío o, dicho de otra manera, me inicié en el mundo universal de la experiencia negativa a través de mi ser judío, pues considero una iniciación todo cuanto he tenido que vivir por el hecho de haber nacido como judío, una iniciación en el conocimiento más profundo del ser humano y de la situación del hombre en la actualidad. Y como he vivido mi ser judío como una experiencia negativa, es decir, radical, esto me ha conducido en última instancia a mi liberación. Es la única libertad que he conseguido a lo largo de mi vida vivida bajo distintas dictaduras y por eso
la he cuidado con esmero, hasta el día de hoy. En esta ocasión, durante mi estancia en Jerusalén, se apoderó de mí por primera vez el sentimiento grave y exultante de una responsabilidad nacional; y aunque sepa que no podré hacer nada porque mi vida ya está trazada hace tiempo, me emocionó profundamente. En nuestro mundo moderno -o posmoderno-, las fronteras no transcurren
tanto entre naciones, etnias, confesiones, sino más bien entre concepciones del mundo. Con esta emoción subo al avión que despegará rumbo a Budapest. El oficial de seguridad, una mujer joven, hace las preguntas pertinentes, comprueba que nuestro equipaje está en regla y luego nos agradece que hayamos venido aquí, 'a nuestra casa, a Israel'. El agradecimiento suena como una breve despedida que nos dispensa de cualquier obligación posterior, y veo que a mi mujer, que no está ligada a este país ni por lazos de sangre ni de religión, sino sólo por el amor, le duele tanto como a mí. Nuestro aparato aterriza sin problemas en Budapest. Al salir no puedo evitar dirigirme por última vez al personal de vuelo reunido ante la puerta: God save Israel! (¡Dios salve a Israel!). Sin embargo, he pronunciado mal la frase o quizá una de las tres palabras. What did he say? (¿Qué ha dicho?) -oigo detrás de mí la pregunta desconcertada del personal-. Me gustaría volverme, pero el bosque de los equipajes me obliga a avanzar, me empuja hacia fuera. No me han entendido. Quizá sea mejor así. Salgo del avión y piso suelo húngaro». © DIARIO EL PAÍS, S.L. Dois prémios Nobel politicamente incorrectos em dois anos seguidos: será que ainda há esperança para a Academia Sueca?



quarta-feira, outubro 23, 2002

MARIA SCRIVE: De Lugano, a nossa inestimável amiga Maria Bochicchio comenta o nosso blog e desvenda a origem do nome colectivo (mantivemos, evidentemente, o belíssimo português de estrangeiro, para deleite dos leitores): «Li com ávida curiosidade e interesse "A Coluna Infame", o novo web-log português de arte, literatura, política e ideias. Feita para conservadores, liberais e indipendentes, mas não só. Obrigada pelo "não só" em que eu me reconheço plenamente. Parece-me que a vossa "Coluna Infame", como o arquétipo manzoniano, representa a "erecção" no cenário português, de um olhar crítico sobre uma sociedade talvez infame, porque feita de tolices infinitas, de berros confusos de politicantes, que escondem só pensamento esvaziado. Feita de personagens tagarelantes dos talk shows, que cacarejam a cada hora uma nova verdade. Sociedade também feita de pessoas que não escolhem, que não tomam partido, não se comprometem ou escolhem acaso segundo a circunstância do momento. Feita de quem se declara de esquerda e democrático e amigo de todos e depois mesmo quem é de direita tem as suas qualidades e lhe é simpatico, é mesmo fundamentalista para evitar problemas. A este horizonte feito de "nevoeiro", pleno de "parecer", repleto de anões, bailarinas, lotaria, única fé em que acreditar, vós da "Coluna Infame", dedicais palavras infinitas que subtendem um vício antigo: a coragem de propor cultura através das proprias opiniões. Não poderia senão dedicar-vos, como augúrio para a vossa iniciativa, um trecho escolhido do prefácio da "Colonna Infame" de Manzoni: "Ma quando nel guardar piú attentamente quei fatti, ci si scopre un'ingiustizia che poteva essere veduta da quelli stessi che la commettevano, un trasgredir le regole ammesse anche da loro, [...] è un sollievo il pensare che, se non seppero quello che facevano, fu per non volerlo sapere, fu per quell'ignoranza che l'uomo assume e perde a suo piacere, e non è una scusa, ma una colpa; e che di tali fatti si può bensí essere forzatamente vittime, ma non autori"». Sem palavras.
PARA ONDE VAI O PARLAMENTO? Ontem, voltámos a ter um bom e saudável palratório no Parlamento. Há uns dias, Ferro Rodrigues aproveitou o momento de inspiração para chamar "palermas" aos deputados dos partidos do Governo. E, ontem, o diálogo não foi mais edificante. A linguagem parlamentar (oca e pobre) é certamente um triste retrato deste país, cada vez mais abastardado e fútil. Há muita gente preocupada com a reforma do Parlamento, com milagres legislativos e benévolas revisões constitucionais. O essencial, porém, não está nas instituições mas em quem as ocupa. Experimentem assistir às reuniões da Comissão para a Reforma do sistema político, um agrupamento constituído para pôr os nossos compatriotas a reflectir. Experimentem ouvir as perguntas dos deputados aos académicos e investigadores que por lá tem passado. Experimentem. Depois falamos. Ou, melhor, não falamos. O que há a dizer sobre o vazio?



SAMPAIO: Segundo o PÚBLICO de hoje, Jorge Sampaio instou Durão Barroso a arrumar a casa e a pacificar as instáveis relações de Portas com os militares. Caso isto não aconteça, Durão só tem um caminho: destituir Portas. Como se sabe, um dos nossos mais desagradáveis equívocos políticos e constitucionais prende-se com a defesa nacional: presidentes e governos disputam mais ou menos em surdina a política de defesa. Sampaio é, segundo a Constituição, o Comandante Supremo das Forças Armadas. Está no seu direito pretender que, de uma vez, se extinga o desagrado dos militares para retomarmos à santa normalidade que nos caracteriza. Para isso, Sampaio deve fazer uma coisa: instruir os militares a serenarem a alma. E não fazer outra: pressionar Durão Barroso a demitir Portas, uma vez que os ministros, no nosso sistema constitucional, não são, nem directa nem indirectamente, politicamente responsáveis perante o Presidente da República.



AS RAZÕES DE CLARA: Primeiro, nós gostamos de Clara Ferreira Alves. Durante anos, ela foi o que este país não costuma ter: uma jornalista cultural séria, culta e competente. Não é a mesma coisa ler Naipaul ou Douglas Coupland, Agustina ou um dos exemplares da nova e lixenta prosa portuguesa. A literatura, a arte, é feita de hierarquias de gostos, de sentimentos, de preferências. E, sobretudo, de mérito. Clara Ferreira Alves sabe disto. Na "Pluma Caprichosa", onde não evita uma certa auto-estima que, em doses adequadas, só faz bem, Clara Ferreira Alves insiste nessa sacramental necessidade de separarmos o essencial e atiramos fora o acessório. Por isso a lemos com gosto e atenção todas as semanas (mesmo quando ela imita descaradamente Martin Amis). Agora, no Diário Digital (www.diariodigital.pt), seguindo os sempre sábios conselhos de António Barreto, Clara ataca a estentórea brutalidade dos partidos políticos portugueses, dizendo que os partidos se transformaram em lamentáveis grupelhos de carreiristas e ignorantes. Nós só podemos aplaudir. Quem quiser hoje pensar a política portuguesa com cabeça, não deve inscrever-se num partido. Um dos sinais de mais de duas décadas de democracia está no indesmentível falhanço dos partidos portugueses. Eles ocuparam o poder, reproduziram-se, encheram o Estado, governaram mais ou governaram menos. Mas não formaram elites. Formaram gente submissa que dão a alma e a inteligência em troca de uma sinecura ou um de favor indisfarçados. É esta a verdade.


A CPLP existe? A CPLP existe? É bom recordar que não se trata de uma confederação agrária mas de uma suposta comunidade de países de língua portuguesa. Nunca é absurdo ter dúvidas e não é absurdo duvidar que, se a CPLP existe, encontra-se, pelo menos, moribunda. Um exemplo: daqui a uns dias, Lula ou José Serra será o próximo Presidente da República do Brasil. Nenhum deles tem falado especialmente de Portugal e das relações (particulares, como se costuma dizer) entre os dois países. Os seus respectivos programas de governo são, sobre isto, de um eloquente e triste silêncio. Mercosul, Estados Unidos, União Europeia, são estas as prioridades dos dois candidatos. Serra ainda se refere à cooperação com os países africanos de língua portuguesa. Mas omite inteiramente Portugal. Enquanto, por outro lado, deseja aumentar a cooperação com os países árabes. Em política, não se tomam opções sem interesse. Podemos sentimentalmente ansiar pela vitória de um ou outro. Mas, em realismo, deve dizer-se que, para nós, um ou outro não adiantarão muito. (Já agora, uma pergunta: a imprensa portuguesa tem participado nas sessões de perguntas aos candidatos reservadas à imprensa internacional?)


ELE SABIA: António José Saraiva permanece um exemplo de integridade intelectual que convém recordar na pequenocracia em que vivemos. Quem pretender um testemunho sério e intelectualmente valioso de um dissidente do PCP (o grupo dos renovadores do PCP devia lê-lo), veja e aprenda com o prefácio que ele escreveu ao seu Dicionário Crítico. Podemos não concordar com tudo o que António José Saraiva escreveu. Mas agora que afocinhamos no negrume, é destes exemplos de que o país mais precisa. Um exemplo? Escreveu Saraiva no seu Dicionário Crítico: «Qual é o critério para avaliar a verdadeira força de um governo? Só este: é forte o governo capaz de fazer prevalecer o interesse geral contra os privilégios particulares que o contrariam; é fraco o governo que, impotente contra tais interesses, se acolhe à sua protecção e acaba, cientemente ou não, por se tornar o seu instrumento». Nem mais.

terça-feira, outubro 22, 2002

FERRO RODRIGUES: Sim, ele [Ferro Rodrigues] não é muito verboso. Sim, ele [Ferro Rodrigues] não resplandece de ideias. Mas ouvi-lo dizer que o Ministro da Defesa não pode continuar em funções porque já não tem a confiança política dos chefes das Forças Armadas é insultar o óbvio. O óbvio é que o Ministro da Defesa não precisa da confiança política das Forças Armadas. O óbvio é que um ministro – qualquer ministro – não depende politicamente dos seus subordinados ou dos imediatos destinatários das suas políticas. O Ministro do Ambiente não depende das empresas ou das associações ambientais. O Ministro do Trabalho não depende dos patrões ou dos trabalhadores. Nem o Ministro da Saúde dos médicos ou dos doentes, nem o da Educação de pais, alunos ou professores. Certamente: isto não significa que estes ministros devam ignorar toda esta gente. Mas Ferro Rodrigues não disse que Paulo Portas está a ignorar os militares. Disse, no fundo, que o Ministro da Defesa depende politicamente dos militares. Numa simples frase, numa frase aparentemente inócua, Ferro Rodrigues não fez mais do que retratar seis anos de governação socialista. Um mau poder deixa sempre rasto.
CAMÕES: As escolas portuguesas podem afastar adolescentes ignaros da literatura. O Ministério da Educação pode acreditar que um parágrafo de Saramago ou aquele inenarrável texto de Namora sobre a publicidade (ainda se dá disto às criancinhas?), cai melhor do que uma estrofe de Camões. Nós podemos achar que a literatura portuguesa é uma coisa em desuso, exclusivamente para alguns ingénuos anacoretas. E, todavia, enquanto o burgo se ocupa destas coisas, uma influente revista cultural americana chamada First Things (www.firsthings.com) traduz três sonetos de Camões, depois de há uns bons meses ter tido um artigo de fundo sobre Eça de Queiroz. É assim. Mas custa.

segunda-feira, outubro 21, 2002

EDUARDO CINTRA TORRES: O nosso melhor (único?) crítico de televisão lança um livro reunindo os seus textos sobre reality shows na televisão portuguesa, publicados no PÚBLICO entre 2000 e2002, e aos quais acrescentou um texto novo, que dá o nome ao volume: Reality Shows: Ritos de Passagem da Sociedade do Espectáculo. (Minerva). A apresentação estará a cargo do Professor José Manuel Paquete de Oliveira. O lançamento, juntamente com outros livros da mesma colecção, realiza-se na Livraria Bulhosa do Campo Grande, a Entre Campos, às 18h00 de quinta-feira, 24 de Outubro. Be there.
ABSURDO DA SEMANA: Alberto João Jardim candidato a candidato a comissário europeu. E porque não a Cicciolina?
MISTÉRIOS: Porque é que a ala esquerda do PS não vai para o Bloco? Porque é que os «renovadores» do PC não vão para o PS? Porque é que os liberais do PS não trocam de lugar com os sociais-democratas do PSD? Porque é que o PP não faz parte de um PSD realinhado?

domingo, outubro 20, 2002

A CÉSAR O QUE É DE CÉSAR: Aconteceu: sexta-feira, a RTP exibiu o filme Branca de Neve, de João César Monteiro. Foi um acto corajoso, não só porque desafiou uma das regras da televisão e do cinema - a constância de imagens - como também porque deu a ver (e não uso a palavra ironicamente) um dos filmes recentes mais vilipendiados por todos os filisteus que nos rodeiam. Trata-se, assumidamente, de uma experiência radical, aliás não inédita (pense-se em Derek Jarman, com o seu Blue); mas uma experiência que não é de modo nenhuma gratuita ou ofensiva, como julgam os que vêem o cinema ao nível da pipoca. O texto, do malogrado Robert Walser, é belíssimo, uma espécie de conto cínico sobre um mito fundador, e em última análise sobre a trajectória dos afectos e a sua negociação e perversão. E as imagens são as necessárias, e suficientemente fortes para assombrar todo o filme (as nuvens, o corpo morto de Walser, caído na neve). Quem acompanhou o ciclo que a RTP2 passou, pôde comprovar como JCM tem filmes bem menos interessantes (O Último Mergulho, Le Bassin de J.W.), mas que, claro, têm imagem, e por isso não geraram a mesma histeria de imbecis.

Hoje sabemos, de fonte oficial, como o dinheiro excessivo atribuído ao projecto inicial de «Branca de Neve» (com imagem) face ao produto final tem sido reembolsado, de modo que o alarme de todos os que vêem sempre na cultura dinheiro mal gasto pode cessar de uma vez por todas. JCM é o mais brilhante dos nossos cineastas, mesmo nesse filme, austero e rigoroso, que sendo um caso limite, não é de todo um produto inane e vergonhoso. Vejam-no com olhos de ver, e se virem apenas um ecrã negro (cinzento), façam como os cegos, usem os sentidos todos, porque o cinema é uma arte total.

E já agora, com exemplos destes, vale a pena perguntar: porque não acabar com a RTP1, com os seus futebóis, concursos, novelas, e outros produtos que os privados gostosamente transmitirão? Uma RTP2 que nos mostre assim obras sérias, difíceis e exigentes é que é o verdadeiro serviço público.





BYE BYE ALVARENGA: Sejamos sérios: o General Alvarenga Sousa Santos fez uma declaração política grave ao referir-se à posição de Portas no processo Moderna (o tal acto anterior ao início das funções do ministro). Qualquer pessoa sensata compreende que o General ultrapassou o razoável, referindo-se a um caso que nem sequer lhe deveria merecer uma palavra. Os militares têm destas coisas: não percebem que a importância das Forças Armadas não está na política. Umas Forças Armadas fortes não são umas Forças Armadas políticas. Pelo contrário, a modernização das Forças Armadas impõe-lhes ordem, disciplina e bom-senso. Sobretudo, uma saudável distância da política. E, no entanto, o nosso alvacento Alvarenga resolveu expressar ao mundo a sua opinião sobre os efeitos do caso Moderna no Ministro da Defesa. Disse que, por causa daquele caso, o Ministro da Defesa não governa nem conseguirá governar. O resultado foi o que se viu. Generais inoportunos, com mais opinião do que razão, que, ainda por cima, chefiam as Forças Armadas, devem ser evidentemente removidos. Enquanto isto acontecer, estamos certos de que o Estado não cai na rua. Nem nos quartéis. Alvarenga, foi um prazer.